Era uma vez um
prédio, feito numa enorme árvore, onde viviam muitas famílias de joaninhas de
muitas cores. Uma joaninha aproximou-se de outra que estava a sair do prédio e
pergunta:
- Olá! Estou á
procura de uma casa…sabes onde posso encontrar?
A outra joaninha responde
sorridente:
- Aqui neste
prédio, ainda há apartamentos vagos. Fala aí com a porteira… desculpa não ir
contigo, mas tenho de ir para a escola.
- Claro. Obrigada,
e bom dia de escola.
- Obrigada. E se
ficares aqui…até logo!
- Até logo.
A joaninha vai ter com a porteira do
prédio. Conversam uma com a outra, e a simpática porteira leva-a a ver os
apartamentos disponíveis. Escolheu o que ficava no último andar, porque adorou
a paisagem que via da janela, a luz de toda a casa, o conforto e o terraço que
tinha.
A porteira volta ao seu trabalho. A joaninha
instala-se, muda de roupa, põe óculos de sol, e vai para o terraço dançar e
cantar, com a música muito alta. Toda a gente que passa, fica a olhar. Ela é
artista, e ensaia de dia e de noite.
As outras famílias de joaninhas começaram a ir
à noite bater-lhe à porta, e pedir-lhe para fazer pouco barulho. Resmungavam porque
tinham crianças a dormir. A joaninha pedia desculpa e parava.
Entretanto, começou a ficar triste porque se
sentia muito sozinha. Os vizinhos não queriam estar com ela, porque ela fazia
muito barulho, e como todos os casais andavam de um lado para o outro, numa
enorme correria, para os seus trabalhos, não havia tempo para se encontrarem e
conhecerem.
A joaninha
ficou tão triste que durante várias noites, só chorou…não saiu de casa, nem
cantou, nem dançou!
Embora os
vizinhos estivessem contentes por ela estar calada, mesmo não a conhecendo bem,
começaram a estranhar tanto silêncio da vizinha do último andar. Uma joaninha
de pintas pretas e pele amarela perguntou à porteira:
- Olá Daniela, tem
visto a vizinha do último andar?
- Qual? Aquela que
chegou há pouco tempo e que fazia muito barulho?
- Sim!
- Eu até tenho
medo dela…! Não, não a tenho visto…nem ouvido! Mas parece estar em casa.
- Será que está
doente?
- Não…deve estar
cansada de tanto abanicar a cabeça, e de ouvir a música tão alta. Mas pode ser…fica
doente como os outros, lá porque canta e dança, ou lá o que aquilo é…diz ela,
porque para mim, aquilo não é cantoria nem dançaria… é…barulho!
- Não será melhor
ir lá cima saber dela?
- Olhe, eu não
vou! Deixe-a estar…e se eu fosse a si, também não ia. Estes artistas são
malucos! Veja lá!
- Está bem…até
logo.
- Até logo.
Mas a joaninha não ficou convencida
nem sossegada. Então, decidiu ir ao andar da joaninha artista. Bateu à porta. A
joaninha dá um salto, assustada, limpa as lágrimas…
- Quem é?
- É a vizinha!
A joaninha abre a porta:
- Olá. O que foi
agora? Vão-me expulsar, é?
- Não! Desculpa incomodar…mas…só
vim saber se estás bem, ou se estás doente! Fiquei preocupada com tanto silêncio,
e nunca mais te vi!
- Ááááhhh…entra.
As duas entram. A joaninha fecha a
porta.
- Senta-te…não
tenhas vergonha.
As duas sentam-se.
- Queres tomar
alguma coisa, ou comer?
- Não, obrigada! Só
vim mesmo saber de ti!
A joaninha abre um grande sorriso, abraça
a outra joaninha e dá-lhe um beijo na cara, todo repenicado.
- Óh! Muito obrigada,
querida! Ficaste mesmo preocupada?
- Sim, claro!
- Óh! Tão linda…
(Ela sorri)
- Estás bem?
- Eu estava muito
triste, mas agora que tu apareceste, estou feliz!
- Ainda bem…
(sorri) Mas estavas triste, porquê?
- Porque sentia-me
muito sozinha…sabes, eu vim de um sítio onde os vizinhos eram muito simpáticos,
chego aqui para trabalhar, os meus pais ficaram lá na minha casa com os meus
irmãos e irmãs. Pensei que estes vizinhos iam ser como os meus. Todos simpáticos,
todos amigos, mas não! São todos carrancudos, só andam a correr, não olham para
ninguém, não cumprimentam ninguém…e só vem cá acima reclamar de barulho!
- Pois! Aqui é uma
cidade…! Não há tempo para nada.
- Pois eu acho
isso muito mal…vocês devem estar sempre doentes…não fazem mais nada a não ser
trabalhar?
- Não.
Infelizmente tens razão…não fazemos mesmo mais nada. Mas já estamos habituados!
- Mas isto é horrível.
- Pois é.
- Deviam parar um
bocado…fazer coisas que gostam!
- É! Mas não temos
tempo.
- Que tristeza! Não
gosto de ouvir isso.
- Tu não
trabalhas?
- Trabalho! Canto e
danço! Ensino a cantar e dançar…foi para isso que vim para aqui! Foi o que me calhou
no concurso.
- Áh!
- Tu gostas de
dançar?
- Eu…acho que
nunca dancei!
- Nunca dançaste,
como?
- É. Sou estudante!
É só livros e escola.
- Que horror…! E olha,
estes dias fiquei tão triste, que não cantei, nem dancei…só chorei!
- Podes ensinar-me
a tua dança?
A joaninha artista abre um grande
sorriso:
- Tu queres
aprender a minha dança?
- Quero! Achas que
me podes ensinar?
- Claro que sim…é
já!
- Achas que
consigo aprender?
- Mas que pergunta…claro
que consegues aprender. Toda a gente aprende!
As duas levantam-se.
- És feliz?
- Muito!
- Eu quero ser tão
feliz como tu…
- E serás! A dançar
e a cantar.
A joaninha
começa a dar as primeiras explicações, a outra segue tudo. Depois põe música e
dançam ao som e ao ritmo da música. As duas ficam muito felizes.
- É mesmo gira
esta dança.
- É! Estás feliz
não estás?
- Muito…é mesmo
bom.
- É. Eu disse-te
que ias adorar. E aprendeste muito rápido.
- Eu quero
aprender todas!
- E vais aprender…
As duas riem, a porteira vai para
ralhar, mas fica contagiada pela música e pelas danças das joaninhas tão bonitas,
e dança também, toda feliz. E mais nada foi igual nesse prédio, e nessa cidade.
Nessa mesma noite, a joaninha artista, sai do prédio e convida todos a dançar
com ela.
Primeiro, os vizinhos não acham graça,
resmungam um pouco, mas vão ver. Pouco depois, quando a joaninha começa a dançar
e a cantar…todos são levados pela alegria dela, pela música, e juntam-se
centenas ou milhares de joaninhas, todos dançam e cantam com ela numa grande
alegria. Aplaudem, saltam, abanam o corpo todo, felizes e leves.
A cidade
ganha uma nova vida, e todos passam a adorar a joaninha artista que dá muitos
espectáculos e ensina todos os que querem aprender a cantar e a dançar como
ela. É lindo de ver. Todos andam muito mais simpáticos e risonhos. A joaninha
nunca mais ficou triste, nem se sentiu sozinha, e de dia para dia, teve cada
vez mais alunos para ser tão felizes como ela.
FIM
Lálá
(31/Agosto/ 2014)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras