Os
habitantes nunca tinham saído de lá porque tinham tudo muito perto, até centro
de saúde, um mini hospital e supermercado. Eram felizes e tinham boa saúde.
As
crianças só não iam à escola porque nenhum professor concorria para lá, por ser
longe e isolada. Por isso nem os pais, nem avós e as crianças, sabiam ler nem
escrever. Brincavam e ajudavam os pais e avós nos campos e em casa.
Catarina
tomava conta das ovelhas. Levava-as bem cedo, antes dos primeiros raios de sol
aparecerem, na companhia dos grandes cães pastores da serra, enchouriçada de
roupa porque de manhã e à noite estava um frio cortante, mas à medida que o dia
ia avançando e ficava calor, ela tirava roupa
Além da roupa,
Catarina levava o almoço e pequenas delícias para comer sempre que tivesse
fome! Sopa, broa, pão e chá feitos em casa com todo o carinho pela mãe, e os
outros petiscos era a Avó que os fazia.
A
menina falava com todas as ovelhas, e dava nome a cada uma delas. Elas já a
conheciam e já estavam habituadas a ouvi-la, porque Catarina tinha longas
conversas com elas. Ela cantava, ria, saltava, corria, às vezes adormecia,
apreciava a paisagem e sonhava acordada.
Num amanhecer aparentemente igual
aos outros, de um dia de sol, aconteceu uma coisa muito especial.
-
Sabem uma coisa, meninas…eu quando durmo sonho com umas folhas cheias de
desenhos, riscos, mas não percebo nada do que está lá. O que será isso?
As ovelhas bramem, e ela boceja.
-
Também não sabem? Eu nunca vi aquilo. A quem é que eu poderei perguntar? Os
meus pais e os meus avós não sabem! Bem, enquanto não encontro a resposta…se
não se importam, vou dormir um bocadinho. Se houver alguma coisa acordem-me. Já
viram…? Já está um bocadinho claro, mas ainda há estrelas no céu. Que lindas.
Parece que hoje vai estar sol, só espero que não esteja muito calor. Até já.
As
ovelhas bramem, e vão ao pasto dela. Catarina deita-se encostada ao cão,
debaixo de uma enorme árvore, cheia de troncos e folhas.
As suas raízes eram
tão grandes que estavam à superfície, e serviam de banco, mesa e cama para a
pastorinha. Era aqui que ela se protegia do frio, da chuva e do calor.
Esta árvore era
mesmo muito especial para ela, quase parecia uma pessoa a tomar conta dela.
Catarina sabia que estava segura e podia ficar descansada. Como era ainda muito
cedo, a menina dorme mais um bocado
De
repente, as ovelhas e os cães ficam muito nervosos e agitados: os cães ladram e
uivam, as ovelhas bramem e juntam-se, andam de um lado para o outro.
Estão a sentir
uma presença, e a ver duas pequeninas luzes brilhantes e lindas, a andar
devagar. Catarina acorda sobressaltada!
-
O que foi? Porque é que estão tão agitadas e nervosas?
E aproximam-se dela duas luzes:
lindas, leves e brilhantes. Uma é a fada das letras, e a outra é a fada dos
livros.
-
Bom dia! – Dizem as fadas em coro
-
Bom dia! Uau. Que lindas! Quem são vocês? – Responde e pergunta Catarina a
sorrir.
-
Eu sou a fada das letras!
-
E eu sou a fada dos livros.
-
Se calhar nunca te falaram de nós, porque andamos mais pelos livros, e sabemos
que tu não conheces os livros. – Acrescenta a fada dos livros
-
Pois é. O que é isso? – Pergunta Catarina
As fadas explicam. Catarina fica
maravilhada, principalmente, quando as fadas mostram um livro e as palavras.
-
Áh! Eu sonho muito com isto! – Diz Catarina
-
Com livros? – Pergunta a fada dos livros
-
Sim…eu não sabia o que era, mas agora, quando me mostraram este, percebo que
sonho com…livros.
-
Que bom! – Dizem as fadas a sorrir
-
E gostas de sonhar com livros? – Pergunta a fada dos livros
-
Gosto…acho que gosto. Mas não o que diz lá.
-
Tu gostavas de saber ler e escrever? – Pergunta a Fada dos livros
-
Sim! Gostava muito…mas os professores não chegam aqui. Temos uma escola, mas
nunca vamos para lá porque não há professores.
-
Pois! – Dizem as fadas.
-
Mas a partir de hoje, haverá escola, livros e letras para todos os meninos que
quiserem. – Diz a fada dos livros
-
E nós seremos as professoras! Eu ensinarei as letras, e ela vai-vos dar os
textos e livros. – Explica a fada das letras
-
Eu quero muito aprender letras e ver livros. Quando começa? – Pergunta Catarina
-
Pode começar hoje mesmo! – Diz a fada das letras
-
Boa! Posso ir chamar os meninos? – Pergunta Catarina
-
Claro que sim. Encontramo-nos na escola. – Diz a fada dos livros.
-
Muito obrigada! – Diz Catarina
E
Catarina vai de porta em porta, onde há crianças, e leva-as para a escola. Num
instante, ela aparece na escola com mais 12 crianças da idade dela, com quem
brinca muito. Estão todas muito curiosas e entusiasmadas.
As
fadas apresentam-se, e as crianças também. Estão todos encantados com as
professoras. E a fada das letras começa a ensinar a primeira letra. Põe a letra
no quadro, em material e mostra desenhos da letra, com imagens de palavras
começadas por essa letra.
Os meninos conhecem todos os objectos que ela mostra,
mas não sabiam que começavam por essa letra, e que se escrevia assim.
Depois,
aprendem outra letra, e mais outra…todos os dias aprendem letras diferentes, e
rapidamente sabem desenhá-las e identificar.
Nas
semanas seguintes, depois das principais letras estarem sabidas, a fada dos
livros dá às crianças pequeninas e simples frases, e a fada das letras ensina a
juntar as palavras e as letras.
Aprendem a ler, primeiro as frases, depois
pequeninos textos, até grandes textos, e ouvem todos os dias lindas histórias
contadas pelas fadas. Estão todos tão
felizes, e os pais orgulhosos.
A pequenina vila fica cheia de
livros que as fadas oferecem, e ganha uma nova vida, uma nova alegria, com as
crianças na escola. São alunos muito interessados e aplicados, que adoram
aprender.
Mesmo assim, não deixam de ajudar os pais e os avós, só que agora são
cabecinhas mais abertas, que querem aprender mais e mais, e conseguem levar os
pais e os avós também para a escola, aprender a ler e a escrever.
Nas noites de Verão, as crianças
juntavam-se com os adultos, para lerem histórias e ouvirem outras histórias
verdadeiras, que depois escreviam.
É muito bom ler, escrever e
aprender.
E vocês? Também gostam de ler e de
escrever?
FIM
Lálá
(6/Agosto/2014)
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