Era uma vez
um violino que vivia sozinho num campo abandonado. Quer dizer, ele nunca estava
verdadeiramente sozinho, durante muito tempo, porque havia pessoas que passavam
por esse campo para pensar, meditar e desabafar. Era um campo de solitários. E as
pessoas raramente se cruzavam por lá. Iam sempre a horas diferentes.
O violino foi deixado nesse campo
que pertencia a uma casa, agora quase só tinha as paredes. O filho dos donos da
casa teve muita pena, mas foi obrigado a deixar o seu violino de quem tanto
gostava, porque os pais não gostavam de o ouvir.
Mudaram de casa, e o violino ali
ficou. Debaixo de uma árvore, para não se estragar. A árvore tornou-se a casa
dele, e a sua mãe, que o protegia numa abertura do seu tronco, quando estava a
chover ou frio.
Além
disso, este violino era muito especial: tocava sozinho, não precisava de dedos
para tocar nas cordas. Sempre que ia alguém a esse campo, ele tocava melodias
de acordo com os sentimentos da pessoa.
Umas
músicas eram alegres, outras tristes, outras muito tristes, e outras muito
alegres. Ninguém percebia de onde vinha o som, mas gostavam muito. Até pensavam
que estavam a sonhar. Ele já tinha aprendido a identificar o que sentiam as
pessoas.
Mas o violino também não estava
sempre feliz. Muitas noites, o pobre chorava e suspirava de tristeza e de
solidão. Pensava no seu amigo humano, e como ele estaria, se sentiria falta
dele, se estava a dormir, ou se já o tinha trocado por outro. As melodias que
saíam das suas cordas eram tristes, vagarosas, soltas, arrepiantes.
A árvore ouvia o som das lágrimas do
violino dentro dela, e ficava com pena dele. Um dia perguntou-lhe:
- Óh violino: que barulho é este?
- Qual barulho?
- Este de água a cair…
- Áh! Desculpa, são as minhas lágrimas. Estou a
incomodar-te?
- Não, não! Fica à vontade. Só queria saber o
que era…mas…estás triste?
- Sim…
- Posso saber porquê?
- Claro, acho que até tu já sabes…
- Tens saudades?
- Sim, muitas saudades do meu amigo.
A
árvore vê o filho dos donos da casa, mas não diz nada.
- Ele também deve ter saudades tuas.
- Achas?
- Claro.
- Mas nunca mais me veio ver…
- Sabes que agora foi viver para mais longe.
Mesmo assim, ele não te esqueceu!
- Não?
- Não.
O
rapaz aproxima-se da árvore, e espreita. Grita:
- Estás aqui, amigo?
O
violino estremece, a árvore sorri. Os dois olham-se, dão uma gargalhada e um
abraço longo e apertado.
- Óh…que bom ver-te outra vez! – Diz o rapaz
sorridente e feliz
- Eu também…já tinha tantas saudades…estava
mesmo a pensar em ti.
- Vou mudar-me para aqui.
- Mas…
- É. Não consigo viver longe de ti…como não te
posso levar para a minha casa, venho eu para aqui.
- Mas…
- É isso mesmo!
- A casa dele, é a tua casa, sempre que
precisares…rapaz! – Diz a árvore
- Muito obrigado! – Diz o rapaz a sorrir
- Entra…está frio. – Diz o violino
Os dois abraçam-se outra vez, e
trocam carinhos. Têm uma longa conversa, choram e riem, tomam chá quente, e
adormecem quase de manhã. O rapaz deita-se no saco cama e dorme abraçado ao seu
amigo violino.
No
dia seguinte, o rapaz toca o dia todo, e chama muita gente para lá, porque de
noite, enquanto o rapaz dormia, ou ia trabalhar para a cidade, o violino tocava
sozinho, ao sabor do vento a passar, das penas das aves que caiam e roçavam nas
suas cordas, e mesmo ele sozinho, de acordo com o que as pessoas sentiam.
Os
pais do rapaz imploraram que ele voltasse para casa, mas ele disse-lhes que não
voltaria sem o seu amigo violino. Então, os pais autorizaram o regresso do
violino a casa, e graças a esse regresso, ganharam o filho de volta, e muito
dinheiro, com os espectáculos do misterioso violino que tocava sozinho pelas
ruas.
Todos o adoravam, e realmente, ele
tocava maravilhosamente bem! Mesmo sozinho. O rapaz nunca mais se separou dele,
e os pais passaram a adorá-lo, porque as músicas que ele tocava, eram
melodiosas, transmitiam paz, e alegria.
FIM
Lálá
(20/AGOSTO/2014)
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