foto de Lara Rocha
Era uma vez, na chegada
do Outono, uma linda borboleta, chamada Mára, que se esqueceu desta chegada! O dia
estava cinzento, sentia-se cheiro a fumo das chaminés, e das castanhas assadas,
e a lareiras.
O
vento estava muito zangado com alguma coisa…! Se calhar tinha dormido mal, ou
estava mal disposto, porque era um bocadinho frio mas forte, pois por onde
passava arrancava sem dó nem piedade as folhas das árvores. Sacudia-as e
batia-lhes, e era só folhas pelo ar, a rodar e a cair no chão. Elas gritavam e
tentavam agarrar-se, mas não conseguiam!
Umas
caiam sobre a terra, outras na erva, não se magoavam muito, mesmo assim, não
gostavam das grandes cambalhotas que davam pelo caminho até aterrar, e das
cabeçadas nas janelas, nos telhados, nas portas, nos vidros, na parede e em
cima de carros.
Outras
folhas, não tinham a mesma sorte: umas caiam em cima de troncos e raminhos que
estavam no chão, outras caiam nos bancos duros de pedra e de madeira do jardim,
e outras caiam directamente no chão duro das ruas, dos pátios.
Mára
ainda não se tinha apercebido da ventania, porque quando começou…a borboleta
ainda passeava pelo mundo dos sonhos, e nem ouviu, ou se ouviu não ligou.
Devia
ter tanto sono, que não quis perder tempo a ver o que era, mas de certeza que
fazia barulho, a não ser que a sua casa fosse à prova de som, o que não
acontecia.
Quando
abriu os olhos, pensou que ainda podia dormir mais…embora tivesse acordado
muito cedo, como quase sempre fazia, espreguiçou-se, bocejou, e viu muito
escuro.
- Ááááhhh… (boceja) Acho que ainda é muito cedo, vou dormir
mais um bocadinho…ainda está a amanhecer, de certeza, pela cor que estou a ver
ali nas frinchas!
Vira para
um lado e para o outro, na sua cama fofa, mas ouve muita agitação.
- Estes vizinhos acordaram muito cedo hoje…! Onde irão com
tanta pressa…? Hoje não é dia de trabalho! Ou será que estou confusa? Não…não é
mesmo! Bem…estou cheia de sono, vou dormir mais um bocadinho.
A borboleta
Mára queria dormir, mas a sua amiga Jú, já estava acordada e cheia de energia,
com muita vontade de passear, e não queria ir sozinha! Bate na janela de casa
da amiga Mára, e grita:
- Bom Dia, amiga…!
Ela salta
da cama, abre as persianas da sua casa. Mára e Jú conversam da janela. Mára
está um pouco confusa.
- Olá, bom dia…! Caíste da cama? – Pergunta Mára.
- Eu não…felizmente não…também se caísse, a queda era
pequena! Já aconteceu de acordar no chão, mas porque rebolei…nem me magoei…mas
porquê? Tu caíste?
- (sorri) Não! Também não caí abaixo da cama… só estou a
dizer isto, porque ainda é muito cedo! – Diz a borboleta Mára.
- Cedo? Não! Já é tarde…já amanheceu há muito, tu é que
dormiste demais. – Responde Jú a rir.
- Ai…! Não pode ser!
- Mas é!
- Está tão escuro! O sol já nasceu?
- Claro que já nasceu…! Está escuro, porque o céu está cheio
de nuvens. É que hoje começa o Outono.
- Ááááhhh…! É?
- É!
- Nem me lembrei disso…! Vi tão escuro, pelas frinchas das
persianas que pensei que ainda estava a amanhecer.
- Não. Já são horas de estar fora da cama…!
- Já tomaste o pequeno-almoço?
- Já, claro! Nunca sairia de casa sem tomar o
pequeno-almoço. Se não tomasse, nem conseguia voar.
- Pois! Nem eu. Entra!
- Está bem. Vamos dar uma volta?
- Sim, pode ser…só espero é que não chova!
Jú entra, e
Mára toma o pequeno-almoço enquanto conversam e riem alegremente uma com a
outra. Veste-se, e as duas amigas saem. Estão com muita dificuldade em voar.
- Acho que não foi grande ideia termos vindo passear, hoje! –
Diz Mára.
- Pois…! Acho que tens razão…eu é que pensei que não ia
estar tão mau! Muitas vezes está um céu cheio de nuvens e conseguimos voar…! Hoje…estou
muito presa! – Diz Jú.
- Eu também! Isto hoje não está fácil…! – Diz Mára a arfar.
- Pois não! O céu está cheio de nuvens e humidade.
- Acho que é melhor voltarmos para trás, não? – Sugere Mára.
- Não…vamos continuar…não vai chover, tenho a certeza! –
Assegura Jú.
E nesse
mesmo instante, começam a cair as primeiras pingas de chuva, e o vento a soprar
mais forte.
- Ui…vou-me embora! – Diz Mára.
- Sim, acho que também vou! – Diz Jú.
E as duas borboletas tentam a muito custo voar mais
depressa, para um sítio abrigado, mas não encontram, e o vento brinca com elas…sem
elas quererem.
Elas gritam, mas o vento empurra-as, vira-as no
ar, sopra tão forte que vira as suas asas ao contrário. Coitadinhas. Ficam muito
cansadas, e o vento atira-as para o chão. Arrastam-se rasteiras ao chão, e o
vento empurra-as para trás, quando elas tentam ir para a frente. Quase não conseguem
respirar, mas fazem de tudo para escapar à chuva que agora é mais forte.
- Vento…pára! Por favor! – Gritam as duas.
O vento
ri-se, e sopra ainda mais forte.
- Porque é que estás a fazer isto connosco? – Pergunta Jú.
- Deixa-nos chegar a casa…vá lá! – Implora Mára.
- Só estou a fazer o que me mandam…lembrem-se que hoje
começa o Outono…devem estar a contar com vários dias de chuva e vento, e não
arriscar, como fizeram hoje! O céu escuro e cheio de nuvens indica que vai
chover. – Explica o vento.
- Nem sempre! Há dias que apenas estão cheios de nuvens, mas
não chove! – Defende Mára.
O vento
leva-as a casa. Pelo caminho, as duas apanham uma grande chuvada, fria, com
gotas pesadas. As suas asinhas ficam ensopadas…e as duas desatam a espirrar, a
tossir e a tremer. Ao chegar a casa, ansiosas por entrar, torcem as asas, e
molham os cogumelos que estão em baixo do tronco ao lado.
- Ei, está a chover tanto que até chega aqui! – Comenta um
cogumelo.
- Não…esta água vem das asas delas…olha para aquilo…! – Diz o
outro cogumelo.
- Desculpem! – Dizem as duas borboletas.
- Abriguem-se! Está a carregar… - Grita um passarinho,
também já com as penas todas coladas.
- Queres abrigar-te na minha casa? – Pergunta Mára.
- Não…tenho os meus filhos à espera… - Responde o
passarinho.
- Trá-los também! – Sugere Mára.
- Não…obrigado, nós temos o nosso tronco! – Diz o passarinho
sorridente.
- E a nós quem nos abriga? – Pergunta um cogumelo.
- Nós! – Grita um casal de folhas gigantes que acabam de ser
atiradas da árvore.
As duas
folhas abraçam-se e protegem os cogumelos.
- Muito obrigado! – Respondem os cogumelos em coro.
- Mas e a vocês quem vos abriga? – Pergunta a borboleta Jú,
preocupada.
- Nós somos impermeáveis. – Responde uma folha.
- Entrem meninas, não apanhem mais frio…não se preocupem
mais connosco. – Diz a outra folha.
As duas
grandes folhas abrigam também as flores, e chove cada vez mais, com cada vez
mais vento. As borboletas entram, completamente encharcadas, e secam-se, a
espirrar, a tossir e a tremer.
- Mas que grande chuvada! – Suspira Mára, a tremer.
- Que horror! Nunca apanhei uma assim! – Diz Jú, a espirrar
e a tremer.
- Pensei que ia ficar sem asas. – Lamenta Mára.
- Eu também! – Diz Jú, a tremer e a tossir.
- Ai! Acho que vou ficar doente. – Diz Jú.
- Eu também! – Diz Mára.
- Vou para a minha casa! – Diz Jú.
- Espera que a chuva pare, se não ainda ficas pior. – Diz Mára
preocupada.
- Quem vai cuidar de nós? – Pergunta Mára.
- Cuidamos nós uma da outra! – Sugere Jú.
- Mas estamos as duas doentes! – Suspira Mára.
- Sim, por isso mesmo…temos de estar mais unidas que nunca…lembras-te
do juramento que fizemos uma à outra quando nos conhecemos? – Lembra Jú.
- Sim, claro que me lembro! Tens razão…nunca rompemos esse
juramento…e não vai ser hoje! – Sorri.
- Pois não! Vamos mas é tomar já um chá…
- Boa!
Mára faz um
chá, e as duas quase fazem a sinfonia das constipações…espirros, tosse,
tremores…tomam um belo chá quente, e de repente batem à porta. É um gatinho,
que está doente, e quase não consegue falar, com o pêlo todo colado. Mára abre
a porta.
- Óóóhhh…! Coitadinho…! – Dizem as duas.
- Entra, bichaninho.
- Boa! E agora…ele também está doente…?
- Não…pode ser que esteja só com frio.
Secam-no,
mas o bicho está mesmo doente. Dão-lhe também um chá, e como estão os três
doentes, assim que passa a chuva, cada um vai para a sua casa, com a promessa
de se falarem ao telefone, se precisarem. Que grande chuvada! Mas essa tempestade
foi boa porque regou a terra que estava muito seca, e juntou os animais, que se
tornaram grandes amigos. Todos ficaram doentes, mas conseguiram ajudar-se uns
aos outros, à medida que iam melhorando.
Com a chuva
não se brinca, e no Outono/Inverno é preciso protegermo-nos, estarmos
preparados para mudanças rápidas de tempo…pois de repente, pode começar a
chover.
E vocês já
apanharam uma grande chuvada? Como ficou o vosso corpo? Seriam capazes de
abrigar um amigo vosso, que estivesse à chuva? Já o fizeram? Ficaram felizes de
o fazer? E o vosso amigo como se sentiu?
FIM.
Lálá
(19/ Setembro/ 2013)
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