Era uma vez uma menina
que não falava, e era muito difícil dizer e mostrar o que sentia. Foi rejeitada
pelo pai e vivia com a mãe, numa casa pequenina, simples, mas muito
confortável, não faltava nada na praia, nem precisava de atravessar a rua para
ir para a areia.
A mãe da menina estava já desesperada, porque não
conseguia fazer com que a menina falasse…e às vezes ralhava com ela, obrigava-a
a falar, gritava com ela, sacudia-a…e nada! Chamava-lhe bicho do buraco, até
lhe batia para ver se ela acordava… Obrigavam-na a falar, e mesmo assim, não
falava. Andava por médicos, e nada faziam. Diziam que era preguiça de falar
porque não tinha qualquer problema. Mas era tudo para despachar.
Um dia, a menina saiu de casa sem a mãe reparar, que
tinha adormecido vencida pelo cansaço, e foi para a praia em frente à sua casa,
onde havia golfinhos mas ela nunca os tinha visto.
Os golfinhos sentem uma vibração estranha, e vão à superfície.
Encontram a menina, saltam na água e encostam o focinho à barriga da menina. Querem
cumprimentá-la.
Ela fica
estática, com os olhos muito abertos, e os dois golfinhos sentem que ela ficou
assustada. Voltam a mergulhar, e a saltar. A menina não sabe que são golfinhos.
Vem um
golfinho e pára junto dela. Os dois olham-se fixamente. O golfinho toca-lhe, e
ela encolhe-se, mas o golfinho volta a insistir, e deita o seu focinho nas
pernas da menina.
Pela primeira
vez a menina sorri, e toca a medo no golfinho. Ele solta um guincho doce e
melodioso, e mantém-se com o focinho deitado nas pernas dela. Primeiro assusta-se
com aquela boca, e tantos dentes, mas depois toca-lhe levezinho.
O golfinho
faz-lhe carinhos com o focinho, na cara, dá-lhe beijinhos com o focinho, e ela
ri com as cócegas. Acaricia o golfinho mais à vontade. Ele guincha feliz, e ela
toca-lhe deliciada, o golfinho rebola e guincha docemente.
Há uma
troca mágica entre os dois, e esta ligação desperta na menina emoções…até aí,
não sorria, mas o lindo golfinho fê-la sorrir…não ria…e o carinho do golfinho
fê-la rir com gargalhadas sonoras. O golfinho faz habilidades e a menina manifesta-se
com todo o corpo, agita os braços e as pernas, sacode as mãos, ri e sorri, pelo
encanto e a felicidade de os ver fazer habilidades.
Ela faz com a boca os guinchos dos golfinhos,
mas não sai o som. A mãe acorda e não vê a menina. Procura-a por toda a casa, grita,
chama-a, e sai a correr de casa em pânico.
- Filha…onde estás…? Aparece…Óh…mas porque é que
eu adormeci…onde estás filha…? Ainda se falasses…ai…! E agora…? Vou chamar a
polícia…
Olha para a
sua frente, e no fundo da praia vê golfinhos. Corre louca pela praia, em
pânico, a gritar pela filha. Quando vê que é a filha sentada na areia, respira
de alívio. Abraça-a, e beija-a…
- Ááááhhh…estás aqui nos golfinhos…! Quem é que te mandou
sair de casa…? E quem é que me mandou adormecer…? Como é que vieste aqui parar…?
Que susto! Ai…diz qualquer coisa…! Nem que seja uma asneira…um palavrão…! Fala,
filha…fala…!
A menina olha para a mãe, sem perceber nada do que está a
dizer, inexpressiva, olha a mãe fixamente, e esfrega a sua boca e o seu nariz
na cara da mãe. A mãe fica surpresa com aquela reacção.
- O que é isso, filha? É um beijinho?
A menina olha para a mãe e sorri. A mãe solta uma grande
exclamação, feliz:
- Ááááááhhhh…! Há bocado um beijinho…? Agora…Um sorriso? Não
pode ser…estou a alucinar…? Áhhh…deve ser a minha vontade que fales…! Já estou
a ouvir coisas, e a ver…sim, porque tu nunca sorriste…! Nem sequer isso, minha
querida…nem sequer um sorriso, e nunca me deste beijos, nunca me tocaste…! Será
que ficas tão triste quanto eu, por não falares, e por não te expressares…? Se calhar
nem tens consciência do que se passa à tua volta! Não estás nada assustada…talvez
porque já conheças bem este sítio…! Mas eu já ia chamar a polícia…felizmente
encontrei-te a tempo! Sã e salva! Os golfinhos…são tão lindos, não são? (sorri)
Que delícia de bichos!
A menina
deita-se na areia e a cabeça nas pernas da mãe, tal como o golfinho fez com
ela. A mãe fica gelada para ver o que vai fazer.
- O que foi, filha…?
A filha
olha para ela, fixamente, deitada no seu colo, muito séria e inexpressiva. De repente,
solta uma gargalhada sonora. A mãe muito surpresa, ri, e bate palmas, feliz.
- Ááááááhhhh…que gargalhada tão bonita! Boa, filha…que bom! Que
felicidade ouvir a tua gargalhada, e ver os teus olhos brilhantes, com o
sorriso. Mas…acho que acabou de acontecer um milagre! De repente foste
expressiva…! Que linda! Obrigada, meu amor…obrigada. E tu também não te
deitavas no meu colo, nem sorrias, nem me davas beijos…!
A menina olha para os golfinhos com um grande sorriso, a
mãe deixa escapar algumas lágrimas de felicidade. E de repente…os golfinhos
guincham, e a menina reproduz os guinchos, toda entusiasmada, agitando as mãos
e as pernas e rindo às gargalhadas. Sai do colo da mãe e vai para a beira dos
golfinhos.
A mãe
fica a ver o que ela vai fazer. Eles encostam-se a ela, aos guinchos, ela
acaricia-os, feliz, e às gargalhadas. A mãe ri incrédula, e a menina continua a
guinchar eufórica e a manifestar-se com todo o corpo.
Os golfinhos
dão-lhe beijinhos, e ela retribui neles, e na mãe. A mãe não cabe em si de
felicidade, e aproxima-se dos golfinhos, acaricia-os, e a menina abraça a mãe,
e beija-a.
Depois
deste dia, todos os dias, a mãe levava a menina para a lagoa artificial da
praia, onde estão os golfinhos, e brinca com eles todos os dias. Eles guincham,
ela também. Eles tocam-lhe, ela também, eles beijam-na, ela beija-os e beija a
mãe. Eles guinchavam, ela também.
Nasceu
uma nova menina, que graças à relação que criou com os golfinhos, uns tempos depois,
tornou-se muito mais expressiva, começou a falar a sua língua normal, com a
mãe, familiares e amigos, que lhe ensinavam pacientemente, e de forma
carinhosa, com imagens e brincadeiras…e falava golfinhês, todos os dias, com os
doces e simpáticos golfinhos, durante horas…com guinchos e gargalhadas, risos e
carícias, mergulhos…
Por tudo
isto, todos começaram a chamar este acontecimento de milagre dos golfinhos.
Tudo pode
aprender-se melhor com as vibrações de carinho e dedicação, paciência, simpatia
e elogios, risos, brincadeiras e valorizando cada pequenino passo.
FIM
Lálá
26/Setembro/2013
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