NARRADORA - Era uma vez uma estrela que vivia numa galáxia, que se
sentia incompleta, e muito sozinha, apesar de viver com a família e ter muitos
amigos. Como já estava crescida, queria encontrar alguém especial, que a
completasse, e que a fizesse sentir-se especial. Já há muito tempo que ela
esperava, mas não encontrava…ela não queria um qualquer igual a si…isso tinha
lá, na sua galáxia, milhões deles, amigos dela, com quem ela era muito feliz, e
às vezes até namorava, mas não a preenchiam, porque queriam tudo muito rápido,
e ela achava que o amor não era para pressas, nem tinha prazo de começar, muito
menos de acabar. Era muito romântica, e sonhadora, como as meninas da sua
idade. De há uns tempos para cá, ela sentia-se estranha, sentia qualquer coisa
de estranho à sua volta. Andava muito pensativa, e tinha voltado a sonhar com
alguém que ela conheceu, e que amou de verdade…não era bem uma estrela, o seu
verdadeiro amor…era…um homem, do planeta terra. Esse rapaz com quem ela
sonhava, existia mesmo, mas ela ainda não se tinha encontrado com ele. Apenas
andava a sentir a sua presença, mas não sabia que era ele, com quem sonhava
todas as noites, com quem imaginava de dia e de noite, momentos românticos, com
alguém que a completasse. Andava sempre atenta, a olhar para o espaço, à
procura dele. Ele não aparecia. Ela esperava, esperava, esperava…suspirava,
sonhava, imaginava…e nada…tudo não passava de sonhos, desejos que ela tinha,
como tem qualquer outra jovem da sua idade, com um príncipe. Um dia, perdida
nos seus sonhos, de olhos abertos, sentiu uma vibração estranha, e assustou-se.
Estremeceu e ao seu lado estava um planeta.
PLANETA - Ei…acorda!
ESTRELA - Olá… (sorri) Desculpa…estavas aqui há muito tempo?
PLANETA - Eu estava. Tu é que não!
ESTRELA - Eu também já estou há muito.
PLANETA - A tua mente anda por aí…a vaguear, tipo alma
penada…estrela sem rumo…por onde andas…?
ESTRELA - Por aqui mesmo! – Responde um pouco embasbacada.
PLANETA - Pois, claro…já percebi que não me queres contar. Está
bem, não faz mal.
ESTRELA – Desculpa…mas há coisas que só a cada um de nós diz
respeito.
PLANETA – Não sabia que tínhamos segredo, mas está bem…passamos
a ter.
ESTRELA – É…só um sonho…mais nada.
PLANETA – Está bem…então não contes.
ESTRELA – Óh, não fiques chateado comigo.
PLANETA – Eu não estou chateado. Também não te conto os meus
sonhos, pelo menos, aqueles mais… especiais.
ESTRELA (sorri) – Vês…? É isso mesmo, não te posso contar, porque é um
sonho muito especial.
PLANETA – Sim, sim…e queres que ele se realize…já conheço essas
coisas todas. Está bem, respeito-te! Espero, do fundo do meu núcleo que se
realize. É um bom sonho, de certeza, para ficares com esse brilho! (Ela sorri
embaraçada) Escusas de te denunciar tanto, eu já percebi tudo…ai, ai…!
ESTRELA – Olha…vamos mas é ter com eles…!
NARRADORA – O Planeta sorri, e os dois juntam-se aos amigos. A
estrela continua a sentir uma presença…forte. Ela procura, e à noite, quando
olha para a Terra murmura…
ESTRELA – Sinto que estás perto…muito perto! Não sei quem és…não
conheço o teu rosto, nem sei nada de ti, mas sei que existes…e que…estás perto.
Como saberei quem és, se um dia nos encontrarmos?
NARRADORA – Em baixo, no planeta terra está um rapaz jovem a olhar
para as estrelas, deitado no solo num descampado.
RAPAZ – Quem me dera que aparecesses! Só te sinto…nos meus
sonhos…sei que não existes…ou…talvez existas noutra cidade…não conheço o teu
rosto, sei apenas o teu brilho, e sinto apenas a tua presença! Será que um dia
nos vamos encontrar…? Ou…estarás entre a multidão de raparigas?
NARRADORA – A estrela fica estarrecida, e brilha intensamente, com
o seu coração a bater muito depressa, a olhar para o jovem depois de o ter
ouvido.
ESTRELA – És tu…? Serás…?
NARRADORA – O rapaz fixa-se na estrela, maravilhado.
RAPAZ (sorridente)
– Áhhh…que linda estrela! Uau!
Brilhante…
ESTRELA – Preciso de ter a certeza se és mesmo tu…!
NARRADORA – Enquanto o rapaz fica a olhar para a estrela,
encantado, a estrela transforma-se numa mulher linda, e atravessa a atmosfera
para a Terra, em forma de estrela cadente. O rapaz sorri e quando fecha os
olhos para pedir o desejo, a estrela para em frente a ele, transparente. Ele
sente a sua presença.
RAPAZ – Uau, até a pedir o desejo sinto a tua presença.
Mas…que coisa estranha…Óóóhhh…acho que tudo não passa da minha imaginação…!
(A Estrela sorri, e o jovem vê um lindo brilho à sua
frente, a piscar)
RAPAZ – O que é isto? Estou a delirar…?
ESTRELA – Olá…boa noite!
RAPAZ – Ai…estou mesmo a imaginar coisas…lá está a presença forte,
e especial…misteriosa…outra vez…mas onde…? Eu ia pedir-te às estrelas, mas não
cheguei a fazê-lo…óhhh, é mesmo só a minha vontade de te ter…mas que brilho
lindo é este?
ESTRELA – Estou aqui…
RAPAZ – Espera…eu conheço este brilho…e…a presença está à minha
frente…és tu…? Sim…és tu…! És tu… (ri) aparece…! És rapariga?
ESTRELA (sorri) – Sim, és tu…a presença que eu sentia…muito perto!
RAPAZ (feliz) – És tu, a rapariga dos meus sonhos…! Eu sentia esta
presença…esta energia…eu não via o teu rosto, mas via este brilho…sim, és tu…és
tu…! Tu existes mesmo…!
ESTRELA
(sorridente) – Sim, és tu…! Sim, sou eu!
Mas sou uma estrela.
RAPAZ – Uma estrela…?
ESTRELA – Sim, era por isso que não vias o meu rosto, e eu não
via o teu, mas sentia a tua presença!
RAPAZ – Tu…também sonhaste comigo?
ESTRELA (sorri) – Sim, muitas vezes…mas não te via…assim, como és!
RAPAZ – Óh…não posso acreditar…! Eu só me apaixono por pessoas
impossíveis…! Até nos sonhos, e dos sonhos para a realidade…são amores
impossíveis…!
ESTRELA – Porquê?
RAPAZ – Porque…eu sou homem, e tu…não existes…quer
dizer…existes…em forma de…presença…de luz…!
ESTRELA – Estás a dizer que eu não existo…? Existo, sim…tu
viste-me, e tu sentiste-me…tu vês-me, e eu vejo-te…!
RAPAZ – Mas…um homem não pode namorar com uma estrela.
ESTRELA – Ei, que pressa…sentimos a presença um do outro,
sonhamos um com o outro, mas não quer dizer que seja para sermos o que chamas
de namorados…! A nossa energia cruzou-se, gostamos um do outro, mas só porque
nos encontramos, não quer dizer necessariamente que sejamos já namorados…!
RAPAZ – Como assim?
ESTRELA – Então…eu sou estrela, não sou mulher…o amor não nasce
assim de um segundo para o outro…de um encontro de energias…! O amor não tem
data para começar nem para acabar… começa naturalmente, e não acaba…aliás…foi o
que aconteceu comigo e contigo…num tempo indeterminado…apaixonamo-nos,
amamo-nos…desaparecemos, mas a energia do nosso amor, não desapareceu! Voltou a
encontrar-se…! Vamos deixá-la livre, por favor…como foi o nosso amor…! Assim
seremos mais felizes.
RAPAZ – Como é que sabes isso?
ESTRELA – Não sei explicar! Apenas…sinto que foi isso que
aconteceu.
RAPAZ – Mas isso não faz sentido nenhum.
ESTRELA – Então como é que tu sonhaste comigo, e não me vias,
mas identificaste-me pelo meu brilho, disseste que conhecias o meu brilho, e
que era eu…sim, sou eu, aquela com quem sonhaste sem ver o rosto, mas viste e
sentiste a minha presença e a minha luz.
RAPAZ – Que mistério…mas assim, eu nunca vou ser feliz no
amor…não me correspondes…
ESTRELA – Só queres o amor carnal…! Enquanto quiseres apenas o
amor carnal…o desejo…o sentir a pele…não nos encontraremos mais, e é claro que
não serás feliz.
RAPAZ – Porquê?
ESTRELA – Porque o amor é luz, é energia, não é só carne, como
toda a gente pensa…! Claro que o carinho faz parte, e o contacto físico, mas
não é por si só, o amor…! O amor que procuras existe, tens de o conquistar sem
pressa. Sem ansiedade…!
RAPAZ – O quê?
ESTRELA – Sim, foi isso mesmo que ouviste…enquanto não te
entregares à minha luz, à minha presença, e enquanto tiveres pressa no prazer,
na carne…no desejo ardente…não apareço em forma de gente.
RAPAZ – Mas…
ESTRELA – Sim, vou aparecer em forma de gente, mas não é já…
RAPAZ (impaciente)
– Mas o que é que eu tenho de fazer…?
ESTRELA – Tens de me conquistar sem pressa…! Tens de me
descobrir aos bocadinhos…! Saborear a minha alma…
RAPAZ – Isso não é justo! Andei tanto tempo a desejar
conhecer-te, à tua procura…agora…quase te encontro…ou…acho que te encontrei…e
tu, já estás a fugir…?
ESTRELA – Eu não estou a fugir…só estou a ajudar-te…!
RAPAZ – Não acredito!
ESTRELA – Se acreditas neste amor…luta por ele…conquista com
calma, sem pressa…com delicadeza…explora aos bocadinhos…sente a minha luz, a
minha presença…conquista-me…entrega-te…mas é o amor que tens de conquistar…a
minha energia… a minha luz…!
RAPAZ – Não sei se vou aguentar…
ESTRELA – Claro que vais…! Eu acredito que sim.
RAPAZ – Estou farto de esperar…! É só esperar, esperar,
esperar…
ESTRELA – Vais desistir?
RAPAZ – Acho que sim.
ESTRELA – A escolha é tua…é pena que assim seja, mas se é isso
que queres, não posso fazer nada. Quando quiseres, ou se mudares de
ideias…basta olhares para lá para cima…
RAPAZ – Mas…espera…
ESTRELA – Sim…?
RAPAZ – Eu…preciso de pensar um bocadinho.
ESTRELA – Faz o que quiseres…! Até breve…!
NARRADORA – A estrela volta triste para a Galáxia, e o rapaz não
prega olho nessa noite, a pensar e a olhar para a estrela. Na noite seguinte, e
depois de andar todo o dia pela cidade, o rapaz decidiu-se…
RAPAZ – Estrela…vou lutar por ti…vou conquistar a tua luz…ou…o
teu amor…como lhe quiseres chamar!
NARRADORA – A estrela desce, feliz, e vai ter com o rapaz,
sorridente, brilhante.
ESTRELA
(sorridente) – Podes repetir o que
disseste…?
(O rapaz pega na mão da estrela, e diz, a olhá-la nos
olhos)
RAPAZ – Eu vou lutar pelo teu amor, conquistar a tua luz…
ESTRELA (sorri) – Sem tempo…?
RAPAZ – Sem tempo! Vou deixar que as coisas aconteçam, quando
tiverem de acontecer…!
ESTRELA (sorri) – Muito bem! Não imaginas como fico feliz!
RAPAZ (sorri) – Dá para ver pelo teu brilho…mais intenso…e…sinto!
ESTRELA (sorri) – Boa! Também sentirás a minha luz…para me conquistar.
RAPAZ (sorri) – Acredita que sim!
NARRADORA – Nessa noite, os dois tem uma longa e agradável conversa.
Desde esse dia, o rapaz torna-se um verdadeiro cavalheiro, muito romântico,
sensível, paciente, meigo, educado…oferece pequenas lembranças à estrela…dão
longos passeios, e têm longas conversas, riem muito juntos, brincam…ao fim de
algum tempo, tornam-se verdadeiros amigos, a estrela aparece em forma de
rapariga, que deixa o rapaz completamente apaixonado, e encantado, mas não
força nada, nem pressiona, nem obriga a nada…e trocam carinhos… adoram estar
juntos, e ao fim de bastante tempo, nasce a paixão, namoro, que rapidamente se
transforma em amor. Ambos sentem isso…um no outro, e um pelo outro. A estrela
corresponde ao seu amor, e decide viver o seu amor com o rapaz, deixando o
espaço, mas os dois vão lá muitas vezes, pois o rapaz também ganha poderes. Numa
noite de Lua Cheia, os dois olham para o outro, no local onde se encontraram a
primeira vez.
ESTRELA – Estou muito orgulhosa de ti.
RAPAZ (sorri) – Eu, nunca pensei que seria capaz de esperar…mas o meu
amor era mais forte que a impaciência, e que a vontade carnal.
ESTRELA (sorri) – Sim, soubeste esperar, e conquistaste-me devagarinho…!
Conquistaste o meu amor…a minha luz…
RAPAZ (sorridente)
– E tu, conquistaste a minha luz…!
ESTRELA
(sorridente) – As nossas luzes…foram
mais fortes, encontraram-se, e encantaram-se…!
RAPAZ (sorridente)
– Sim, é verdade…Foi difícil…mas valeu
a pena, porque estou muito feliz contigo…
ESTRELA
(sorridente) – Eu também!
RAPAZ (sorridente)
– O amor…faz mesmo milagres! Eu
transformei-me numa pessoa muito melhor do que era, depois de te ter conhecido.
ESTRELA (sorri) – A sério…?
RAPAZ (sorridente)
– Sim.
ESTRELA
(sorridente) – Isso foi porque
absorveste a minha luz…conquistaste-a…e deixaste-te conquistar por ela, não
tiveste pressa…!
RAPAZ (sorri) – Sim, é verdade! És a minha luz…!
ESTRELA
(sorridente) – Tu também és a minha luz.
(Uma voz do céu)
LUA (sorridente, e
maravilhada, sorri) – Ai, que lindo…quem
me dera ver todos os casais assim…! Com um amor tão sincero entre eles…As
vossas luzes encontraram-se, viram-se, e fundiram-se, criando uma só luz! Tão linda
como a nossa via láctea…o vosso brilho mostra o vosso amor.
OS DOIS (sorriem) –
Madrinha…!
LUA (feliz) – Sim, sou uma madrinha orgulhosa…olhem que estou de
olho…!
NARRADORA – E os dois falam alegremente com a Lua que foi a
madrinha deles. O amor é mesmo isso…é saber esperar, ser paciente, conquistar
sem pressa…respeitar, rir, trocar carinhos, oferecer pequenos carinhos,
demonstrar esse amor…ver a luz um do outro, e fundir-se nela.
FIM
Lálá
(29/Agosto/2013)