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domingo, 20 de abril de 2025

As luzes do descampado

     Era uma vez um descampado numa floresta, onde viviam muitos animais. Nesse descampado, existia uma árvore gigante, de tronco muito largo, muito antiga, com muitos ramos em todas as direções e diferentes grossuras. 

    Havia uma porta redonda, aberturas no tronco mais para cima, que pareciam janelas, mas quando se espreitava estava sempre tudo fechado. Mas de noite viam-se luzes a sair por essa porta, muitos metros de altura, aparentemente não se ouvia barulho, só no local. 

    Ninguém sabia o que era, sentiam medo de ir lá ver, mas numa noite, uma coruja quis ir ver, ela também andava por cima desse descampado, via as luzes e ouvia música. 

    Sobrevoou a zona, e quando pousou em frente à porta, no solo, uma lebre elegante, delicada, olhou - a de cima a baixo, com uns olhos que pareciam saltar de órbita, a coruja até ficou intimidada, cheirou-a.

- Porque estás a olhar para mim com esses olhos e a cheirar-me? - pergunta a coruja 

- Estava a ver se eras boa criatura! 

- Essa agora! Não posso andar por aqui, livremente? Quem és tu para mandar em mim, ou dizer se posso ou não andar por aqui? 

- Sou a lebre porteira. 

- A lebre porteira? 

- Sim. Aqui dentro é um bar, com música, espetáculos de canto e dança, teatro, ginástica, às vezes, relaxamento, declamação de poesias, apreciação de artes, onde dezenas ou centenas de coelhos convivem. Todas as noites, há aqui atividades! 

- Áh! Então é por esse que vemos estas luzes? 

- Sim. 

- Só aqui à beira é que ouvimos mais barulho. 

- Claro, por respeito aos outros animais, viemos para este descampado, para não perturbar o descanso. 

- Áh! Boa ideia. Obrigada. 

- Já estão aqui há muito tempo, não? 

- Sim. Às vezes os coelhos saem e vem cá para fora. 

- Então também há atividades cá fora? 

- Há! Mas são mais silenciosas, por respeito aos habitantes. 

- Que tipo de atividades? 

- Mais sossegadas! 

- Tudo acontece neste tronco? 

- Sim. 

- Tem espaço para tanta gente? 

- Tem. Tem 4 andares! 

- Áh! Então são nestas janelas? 

- São. 

- Nós realmente só vemos as luzes, e os barulhos só se ouvem aqui. Não sabíamos o que era. 

- Pois! De dia, está fechado. E tu vens de onde? 

- Aqui da floresta! 

- És uma coruja, não és?

- Sou. 

- Querias entrar, não era? 

- Era… 

- Hummm…não sei se podes! 

- Como assim? 

- Vou perguntar. Espera aqui, por favor. 

- Porque é que eu não posso entrar? É exclusivo para coelhos? 

- É. 

- Áh…! Mas eu só queria ver o que era e como era! 

- Vou perguntar. Espera aqui. 

    A coruja espera à porta, a apreciar o espaço, regressa a lebre pouco depois, com um coelho vestido de fato: 

- Boa noite! Quer entrar? 

- Boa noite, sim, quer dizer...gostaria! 

- Para que quer entrar - pergunta o coelho 

- Para ver como é. 

- Não nos vem fazer mal? 

- Claro que não! Não tenho nada contra coelhos, sou a guardiã da noite. Ando por aqui, pela floresta. 

- Promete que não vai chamar os outros para virem para aqui...? 

- Prometo! 

- É que nós gostamos de ser discretos, ter o nosso próprio espaço, estar uns com os outros, conviver. 

- Claro, compreendo. 

- Bom...entre, mas lá fora, não conte como é, certo? 

- Certo! Obrigado. 

    A coruja entra, olha para todo o lado, todos os coelhos olham para ela, sorriem, cumprimentam, ela retribui, fica encantada com a decoração e a quantidade de coelhos que estão nesse espaço, a rir à gargalhada, a comer, a beber, a dançar, a ouvir musica, a fotografar, a conversar. 

- Nunca vi tanto coelho no mesmo espaço! Tão diferentes na cor do pelo, nos tamanhos...muito bonitos. - comenta a coruja com a lebre porteira 

    A lebre porteira ri: 

- É verdade! Imagino que sim, e hoje não é dos dias em que está mais cheia. 

- O espaço é muito agradável, nunca imaginei que isto fosse assim. Por fora nada indica como é assim. 

- É verdade! 

- Muito bonito!

- Obrigado. Quer subir para ver o resto? 

- Sim. 

- Boa noite! - dizem os coelhos a sorrir 

- Boa noite, divirtam-se! - diz a coruja 

- Já fazemos isso, obrigado.

- Boa! 

    Percorre todos os andares, admira o espaço, a decoração, vê a paisagem entre as janelas. 

- Que paisagem maravilhosa! - murmura e suspira a coruja 

    Voltam a descer. 

- Já vai embora? - pergunta o coelho chefe

- Sim! 

- Está bem! 

- Gostei muito do espaço. Parabéns! 

- Obrigado. Não quer ficar mais um pouco? 

- Não...só queria ver mesmo o que eram aquelas luzes que víamos. 

- Entendo! Por favor, não conte aos outros. 

- Está prometido! - diz a coruja 

- Sabe que na floresta existem muitos perigos para nós, coelhos... 

- Sim, compreendo! O que precisarem, eu ando todas as noites, aqui, e por toda a floresta, é só chamar. 

- Muito obrigado, confiamos em si, e de nossa parte, também. Apareça quando quiser. 

- Obrigado. 

- Passe uma boa noite! 

- Obrigada, divirtam-se.

- Sempre! - diz o coelho chefe a rir 

- Até à próxima. 

- Até à próxima. 

    E a coruja regressa a casa, satisfeita por ter descoberto de onde vinham as luzes altas da floresta. Como prometeu não contar, quando os outros animais lhe perguntavam curiosos, o que eram aquelas luzes, ela dizia que não sabia: 

- Não sei...possivelmente da cidade! 

- Na cidade há estas luzes? 

- Sim, e muitas mais. 

- Áh! Está bem, mas o que será? 

- Isso não sei. Só vejo as luzes. 

    A coruja passava por lá de vez em quando, sobrevoava muitas vezes a zona para apreciar a paisagem e ver as luzes, cumprimentava a lebre, e perguntava se estava tudo bem, se não precisavam de nada. 

    A lebre porteira agradecia, conversavam um pouco, riam, e alguns coelhos saiam para as atividades mais livres e calmas, ela assistiu, aplaudiu. Outros coelhos apareciam nas janelas, cumprimentavam-na, sorriam e brincavam com ela. 

    Aquele espaço passou a ser um refúgio e de diversão para a coruja, porque convidavam-na para entrar, ver alguns espetáculos, quando perceberam que ela era de confiança, confirmada pela lebre porteira. 

    Era a única a quem permitiam entrada, e ela respeitava. Fez grandes amigos, estava sempre atenta, para os proteger se fosse preciso, e divertia-se muito com eles. 

    Afinal as misteriosas luzes que se viam em toda a floresta e pensavam que era da cidade, vinham do descampado, do tronco enorme de uma árvore antiga, transformada num lugar reservado, discreto e silencioso para os outros animais, cheio de diversão e amizade. 

    Os outros animais nunca souberam o que existia no descampado, sentiam medo do espaço, e pensavam que as luzes vinham da cidade. 

    E vocês, visitavam esse descampado? 

    Acham que a lebre porteira vos deixava entrar? Porquê? 

    Como imaginam esse espaço? 

    O que existiria nele para vocês? 

    Quem deixavam entrar? 

Podem deixar as respostas nos comentários. 

                                                                FIM 

                                                          Lara Rocha 

                                                        20/Abril/2025 

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