Era uma vez um ouriço-do-mar que fugiu do oceano onde vivia com a sua família, de muito longe por causa da poluição. Percorreram longos quilómetros à procura de uma casa onde não houvesse lixo. Estava difícil de encontrar, mas finalmente, passaram por uma montanha aquática onde a água era transparente, morna e bem salgada como eles gostavam! Cheirava bem a algas.
Estavam muito cansados, por isso instalaram-se no primeiro sítio que viram, e caíram num sono como já não se lembravam de ter. Tudo parecia calmo, outros animais que passavam, olhavam para eles, mas não lhes tocavam.
Mas um acontecimento inesperado, despertou-os de repente, e assustou-os muito. Um violento tremor de terra! Instalou-se a agitação e o terror debaixo de água. Não sabiam bem o que estava a acontecer, mesmo assim, viam todos a correr de um lado para o outro, e um peixinho gritou-lhes:
- Saiam daí. Estão num sítio muito perigoso.
- O que é que está a acontecer, pergunta um ouriço-do-mar.
- Não temos tempo de explicar, agora. Venham atrás de nós! Rápido.
Os ouriços-do-mar seguem-nos, assustados. Levanta-se um monte de areia que se move a uma velocidade arrepiante, e corre debaixo da água, formam-se centenas de bolhas de água que sobem em redemoinho para a superfície, e quase arrasta tudo o que é animal, mas eles já sabem que quando isso acontece, juntam-se e escondem-se num abrigo que construíram no casco de um navio afundado há muitos anos.
O caos vai para a superfície, e as água nas profundezas acalmam. Todos respiram de alívio.
- Passou! - suspiram todos
Um peixe matreiro, muito bonito, mas perigoso, grita:
- Intrusos!
Estava a falar dos ouriços-do-mar. Como eram todos muito unidos, e todos obedeciam às ordens desse peixe, porque tinham medo dele, o que ele dissesse, tinham de fazer, se não, eram castigados. Na verdade não gostavam de muitas coisas que ele fazia ou dizia, mas ninguém tinha coragem de o desafiar.
- Óh, não...nós viemos na paz, à procura de um lugar para viver, porque o nosso estava cheio de lixo! Quase não conseguíamos respirar! - explica um deles
- Eu não perguntei nada! - exclama o peixe arrogante
- Ele odeia perguntas... - diz outro peixe
- Fora daqui. - Grita o peixe
- Mas nós... - tenta outro ouriço-do-mar
- Não quero saber de explicações! Fora... - Grita o peixe
Os ouriços-do-mar afastam-se tristes. O peixe malvado vai passear todo emperuado e de repente algo se enrola nas suas barbatanas. Não consegue nadar, nem sair do mesmo sítio, e quanto mais tenta libertar-se, mais atado fica.
Os ouriços-do-mar vêem a aflição do peixe, vão ter com ele, e ele escorraça-os, grita com eles, chama-lhes nomes feios, mas eles não se deixam intimidar.
- Vão-se embora...eu não vos quero aqui. - Grita o peixe
- Para de te mexer e de gritar! - recomenda um ouriço
- Olha que porcaria que ele tem aqui à volta...
- Como vamos tirar daqui isto?
Os ouriços-do-mar agem rapidamente, juntam-se e quando encontram uma possível saída do lixo, uns puxam dum lado, outros doutro, cortam com os seus picos partes dos fios, passa um peixe espada e ajuda a cortar os fios, e aos bocadinhos vão libertando o peixe.
No fim estavam todos completamente exaustos. Respiram fundo, e caem na areia lentamente.Os ouriços agradecem ao peixe espada. O peixe está ofegante e muito nervoso, mas ao mesmo tempo envergonhado, por isso, depois de estar um pouco em silêncio, começa a soluçar e a chorar. Os ouriços-do-mar aproximam-se, olham-no, a medo, recuam.
- Estás bem? - pergunta um ouriço
- Ele odeia perguntas, lembras-te? - relembra o ouriço
- Vamos... - diz um ouriço com medo
- Óh... esperem! - Diz o peixe a chorar
Eles param, e olham para o peixe
- Estou muito envergonhado! Desculpem... muito obrigado por me terem tirado aquela porcaria! Ai, quase me acontecia alguma coisa má! Não sei de onde veio aquilo.
- Nós tínhamos toneladas...talvez... dessa porcaria na nossa zona!
- E o que é?
- É lixo... coisas que os humanos já não precisam...
- É que... não devem ter onde pôr.
- Parece que é o que dizem!
- Malditos! - Grita o peixe zangado
- Nós? - perguntam os ouriços assustados
- Não! Aqueles...
- Áh, sim! Tens razão...
- Eu fui muito bruto convosco. Escorracei-vos e vocês ainda me libertaram do lixo! Desculpem.
- Na hora de precisar...
- Pois, eu sei! Não merecia.
- Não foi isso que quisemos dizer!
- Na hora de alguém precisar não pensamos muito. Respondemos!
- Mas eu fui tão estúpido, que vocês deviam deixar-me ali enrolado naquela coisa.
- Porquê?
- Isso ia tirar-te a brutidade?
- Tu realmente não és nada simpático, és arrogante e bruto, mas talvez também tenhas as tuas razões para ser assim!
- Sim, têm razão!
- Toda a gente tem medo de ti.
- Medo de mim? Acham?
- Claro que sim!
- Óh, também não queria isso... é que eu acho que se não for mau, ninguém vai gostar de mim.
- Que disparate!
- Acham?
- Claro. Eles e toda a gente gostam de amigos bons.
- Que vergonha... sou um monstro!
- Não... és bonito, mas podes ser mais suave a falar como os outros.
- Como?
- Queres aprender?
- Quero! É uma forma de vos pedir perdão, e de agradecer!
- Podemos ficar?
- Claro que sim! Por favor!
Os ouriços-do-mar dão umas verdadeiras aulas ao peixe, de como ser amigo e generoso com os outros, para gostarem dele, sem ser mau. Mas que grande mudança. O peixe mau passou a ser um verdadeiro doce, cavalheiro, colaborador, educado, delicado, sedutor, brincalhão, divertido... e todos os outros que o rodeavam repararam. Elogiaram-no, chamavam-no sempre que precisavam, ele fazia convívios e divertia-se muito!
Deixou de ser um chefe mau, e tornou-se no que sempre tinha sido: um peixe amigo, como os outros, que precisava dos outros, e que ajudava quem precisava. Desde esse dia, aquele lugar subaquático nunca mais foi o mesmo. Ao primeiro sinal de lixo, instalava-se a confusão, juntavam-se todos, e devolviam o lixo à superfície, na tentativa que os humanos deixassem de fazer lixo nas praias.
Acham que seria uma boa solução para resolver o problema dos lixos nas praias e nos mares?
FIM
Lálá
4/Março/2019
Estavam muito cansados, por isso instalaram-se no primeiro sítio que viram, e caíram num sono como já não se lembravam de ter. Tudo parecia calmo, outros animais que passavam, olhavam para eles, mas não lhes tocavam.
Mas um acontecimento inesperado, despertou-os de repente, e assustou-os muito. Um violento tremor de terra! Instalou-se a agitação e o terror debaixo de água. Não sabiam bem o que estava a acontecer, mesmo assim, viam todos a correr de um lado para o outro, e um peixinho gritou-lhes:
- Saiam daí. Estão num sítio muito perigoso.
- O que é que está a acontecer, pergunta um ouriço-do-mar.
- Não temos tempo de explicar, agora. Venham atrás de nós! Rápido.
Os ouriços-do-mar seguem-nos, assustados. Levanta-se um monte de areia que se move a uma velocidade arrepiante, e corre debaixo da água, formam-se centenas de bolhas de água que sobem em redemoinho para a superfície, e quase arrasta tudo o que é animal, mas eles já sabem que quando isso acontece, juntam-se e escondem-se num abrigo que construíram no casco de um navio afundado há muitos anos.
O caos vai para a superfície, e as água nas profundezas acalmam. Todos respiram de alívio.
- Passou! - suspiram todos
Um peixe matreiro, muito bonito, mas perigoso, grita:
- Intrusos!
Estava a falar dos ouriços-do-mar. Como eram todos muito unidos, e todos obedeciam às ordens desse peixe, porque tinham medo dele, o que ele dissesse, tinham de fazer, se não, eram castigados. Na verdade não gostavam de muitas coisas que ele fazia ou dizia, mas ninguém tinha coragem de o desafiar.
- Óh, não...nós viemos na paz, à procura de um lugar para viver, porque o nosso estava cheio de lixo! Quase não conseguíamos respirar! - explica um deles
- Eu não perguntei nada! - exclama o peixe arrogante
- Ele odeia perguntas... - diz outro peixe
- Fora daqui. - Grita o peixe
- Mas nós... - tenta outro ouriço-do-mar
- Não quero saber de explicações! Fora... - Grita o peixe
Os ouriços-do-mar afastam-se tristes. O peixe malvado vai passear todo emperuado e de repente algo se enrola nas suas barbatanas. Não consegue nadar, nem sair do mesmo sítio, e quanto mais tenta libertar-se, mais atado fica.
Os ouriços-do-mar vêem a aflição do peixe, vão ter com ele, e ele escorraça-os, grita com eles, chama-lhes nomes feios, mas eles não se deixam intimidar.
- Vão-se embora...eu não vos quero aqui. - Grita o peixe
- Para de te mexer e de gritar! - recomenda um ouriço
- Olha que porcaria que ele tem aqui à volta...
- Como vamos tirar daqui isto?
Os ouriços-do-mar agem rapidamente, juntam-se e quando encontram uma possível saída do lixo, uns puxam dum lado, outros doutro, cortam com os seus picos partes dos fios, passa um peixe espada e ajuda a cortar os fios, e aos bocadinhos vão libertando o peixe.
No fim estavam todos completamente exaustos. Respiram fundo, e caem na areia lentamente.Os ouriços agradecem ao peixe espada. O peixe está ofegante e muito nervoso, mas ao mesmo tempo envergonhado, por isso, depois de estar um pouco em silêncio, começa a soluçar e a chorar. Os ouriços-do-mar aproximam-se, olham-no, a medo, recuam.
- Estás bem? - pergunta um ouriço
- Ele odeia perguntas, lembras-te? - relembra o ouriço
- Vamos... - diz um ouriço com medo
- Óh... esperem! - Diz o peixe a chorar
Eles param, e olham para o peixe
- Estou muito envergonhado! Desculpem... muito obrigado por me terem tirado aquela porcaria! Ai, quase me acontecia alguma coisa má! Não sei de onde veio aquilo.
- Nós tínhamos toneladas...talvez... dessa porcaria na nossa zona!
- E o que é?
- É lixo... coisas que os humanos já não precisam...
- É que... não devem ter onde pôr.
- Parece que é o que dizem!
- Malditos! - Grita o peixe zangado
- Nós? - perguntam os ouriços assustados
- Não! Aqueles...
- Áh, sim! Tens razão...
- Eu fui muito bruto convosco. Escorracei-vos e vocês ainda me libertaram do lixo! Desculpem.
- Na hora de precisar...
- Pois, eu sei! Não merecia.
- Não foi isso que quisemos dizer!
- Na hora de alguém precisar não pensamos muito. Respondemos!
- Mas eu fui tão estúpido, que vocês deviam deixar-me ali enrolado naquela coisa.
- Porquê?
- Isso ia tirar-te a brutidade?
- Tu realmente não és nada simpático, és arrogante e bruto, mas talvez também tenhas as tuas razões para ser assim!
- Sim, têm razão!
- Toda a gente tem medo de ti.
- Medo de mim? Acham?
- Claro que sim!
- Óh, também não queria isso... é que eu acho que se não for mau, ninguém vai gostar de mim.
- Que disparate!
- Acham?
- Claro. Eles e toda a gente gostam de amigos bons.
- Que vergonha... sou um monstro!
- Não... és bonito, mas podes ser mais suave a falar como os outros.
- Como?
- Queres aprender?
- Quero! É uma forma de vos pedir perdão, e de agradecer!
- Podemos ficar?
- Claro que sim! Por favor!
Os ouriços-do-mar dão umas verdadeiras aulas ao peixe, de como ser amigo e generoso com os outros, para gostarem dele, sem ser mau. Mas que grande mudança. O peixe mau passou a ser um verdadeiro doce, cavalheiro, colaborador, educado, delicado, sedutor, brincalhão, divertido... e todos os outros que o rodeavam repararam. Elogiaram-no, chamavam-no sempre que precisavam, ele fazia convívios e divertia-se muito!
Deixou de ser um chefe mau, e tornou-se no que sempre tinha sido: um peixe amigo, como os outros, que precisava dos outros, e que ajudava quem precisava. Desde esse dia, aquele lugar subaquático nunca mais foi o mesmo. Ao primeiro sinal de lixo, instalava-se a confusão, juntavam-se todos, e devolviam o lixo à superfície, na tentativa que os humanos deixassem de fazer lixo nas praias.
Acham que seria uma boa solução para resolver o problema dos lixos nas praias e nos mares?
FIM
Lálá
4/Março/2019