desenhada por Lara Rocha
Era uma vez uma aldeia pequenina, perdida entre montanhas altas, onde não vivem muitas pessoas, mas todos são amigos e ajudam-se uns aos outros, nos trabalhos da terra, ou noutras coisas necessárias.
Nessa aldeia, as casas são de pedra, vivendas, e todas têm uma horta, jardim, espigueiro, eira, tanque de água e uma corte. A toda a volta há grandes campos, e de dia, todos os animais da quinta andam à vontade, soltos, livres, são respeitados, bem alimentados e tratados com carinho.
Numa bela manhã quente de Verão, bem cedo, os adultos vão trabalhar para os campos, tratar dos animais, e as crianças vão brincar para a eira da casa de uma delas. As meninas: Diana, Filipa, Glória, Isabel, Lúcia, Mára, Márcia e Nára, brincam juntas, sossegadas e alegremente com as bonecas, e os acessórios.
Os meninos: Bruno, Diogo, David, Gabriel, Gonçalo, Hugo, Marco e Nuno brincam com os carrinhos, correm de um lado para o outro, andam de rastos pela relva, gritam, discutem uns com os outros, lutam, jogam à bola…
Duas fadas estão pousadas numa árvore a observá-los.
FADA 1 – Estes meninos não sabem brincar! Olha a diferença para as meninas…!
FADA 2 – Pois é! Acho que eles não vão ser capazes de cuidar do mundo que lhes vamos dar.
FADA 1 – Talvez até seja bom, e isto deve ser o que eles estão a precisar…de alguma coisa para os responsabilizar.
FADA 2 – Bem, vamos tentar.
As duas têm uma bola na mão. Uma fada atira a bola, e esta cai no chão. Os meninos vêm a correr.
GONÇALO – Ei…está aqui uma bola diferente! De quem é?
Põem-se todos à volta da bola, olham-na.
GONÇALO – Não é minha!
TODOS – Nem minha!
NUNO – Mas quem é que a trouxe para aqui?
TODOS – Não sei.
HUGO – Se calhar veio de alguma casa da cidade!
GONÇALO – Claro que não! As casas da cidade ainda ficam longe daqui!
MARCO – Sim, mas podem ter chutado com muita força e veio parar aqui!
BRUNO – Eu acho que foi algum animal que a tirou a algum menino da cidade e trouxe-a para aqui!
TODOS – Sim…!
MARCO – Óh! Deixem lá o sítio de onde ela veio, e vamos mas é jogar com ela.
Eles tentam dar um chuto na bola, mas ela não sai do sítio.
DAVID – Esta bola é estranha! Olhem as cores dela!
TODOS – O que é que tem?
DAVID – Nunca vi uma bola com estas cores!
Eles olham bem para a bola.
TODOS – Áááhh…realmente…! (p.c) Eu também nunca vi.
DIOGO – Ela não se mexeu quando a chutamos!
TODOS – Pois não!
DIOGO – Mas devia ter-se mexido!
Gabriel tenta pegar na bola.
GABRIEL – Uuuiiii…é tão pesada!
TODOS – Pesada?!
GABRIEL – Sim! Peguem nela!
Cada um pega na bola.
BRUNO – Pois é! É mesmo pesada!
DIOGO – Parece…uma pedra!
DAVID – Ou…um ovo…mas também é muito duro para ser um ovo!
NUNO – Nunca vi uma bola tão dura!
GONÇALO – Será que isto veio de algum avião?
HUGO – Acho que não vamos poder jogar com ela…
TODOS – Pois não!
As fadas riem da árvore. Uma fada chama-os:
FADA 1 (a rir) – Isso é uma bola!
NUNO – Estou a ouvir alguma coisa!
FADAS – Aqui…em cima!
MARCO – Quem são vocês?
BRUNO – São umas meninas, não vês?
MARCO – Parecem mais umas borboletas…
FADA 1 – Sim, somos tudo isso.
Elas descem da árvore, eles olham-nas boquiabertos.
BRUNO – De onde são?
DIOGO – São tão pequenas…!
DAVID – Parecem uns E.TS.
HUGO – Estão mascaradas?
GONÇALO – Porquê?
GABRIEL – Porque é que são tão pequenas?
DAVID – Parecem uns ETS.
HUGO – Estão mascaradas?
GONÇALO – Porquê?
MARCO – Como vieram aqui parar?
As Fadas riem.
FADA 1 – Parem de fazer perguntas, e ouçam o que nós temos para dizer!
DAVID – Óh…vamos embora, brincar…de certeza que estas não têm nada de interesse para dizer!
FADAS – Faz como quiseres.
FADA 1 – Mas devias ficar…não é educado de tua parte virar as costas às meninas.
HUGO – As meninas são aquelas, nós não brincamos com elas!
FADA 2 – E se nós quisermos brincar convosco?
MENINOS – Não podes.
DAVID – Nós não gostamos de brincar com meninas.
FADA 1 – Porque é que estás a dizer…nós…? Tu podes não gostar de brincar com meninas, mas os teus amigos podem gostar.
DAVID – Óh…nós somos amigos, sabemos muito bem o que gostamos e o que não gostamos.
NUNO – Pois…gostamos e não gostamos das mesmas coisas.
FADA 2 – Que falta de imaginação.
BRUNO – Mas digam lá o que querem…?
FADA 1 – Muito bem…estejam muito atentos. É muito importante.
Os meninos riem.
FADA 2 – Estão a ver essa bola?
TODOS – Sim.
HUGO – Já tínhamos visto.
MARCO – Vocês são as donas desta bola?
FADAS – Sim.
DIOGO – Então podem levá-la…ela não serve para nada!
MENINOS – Pois não!
GONÇALO – Não sai do sítio!
MARCO – É pesada…!
GABRIEL – De que é feita?
NUNO – E tem umas cores diferentes.
FADA 1 – Essa não é uma bola igual às outras.
FADA 2 – Não é para vocês jogarem com ela.
DAVID – Mas nós só queremos bolas para jogar!
FADA 1 – Essa bola é para vocês.
DAVID – Mas para que é que queremos uma bola que não serve para jogar?
FADA 2 – Vão ter que cuidar dela!
BRUNO – O quê? Nós? Cuidarmos de uma bola…? Cuidar é para meninas.
FADA 1 – Começa cedo, este…com o machismo.
BRUNO – O que é que me chamaste?
FADAS – Machista!
BRUNO – Ãhhh…?
FADA 1 – Um dia vais saber o que é…
FADA 2 – Nesse dia pode ser que metas a cabeça num saco, com a vergonha.
BRUNO – O quê? Que língua é que estão a falar?
DAVID – Óh, burro…elas estão a dizer que nós temos que ser como as meninas pirosas…tomar conta de uma bola…
HUGO – Mas não se toma conta das bolas.
DAVID – Pois não.
DIOGO – As bolas são para jogar, chutar, furar…
Riem.
NUNO – Estas acham que não temos mais nada que fazer…!
MARCO – Tomem vocês conta dela. É para isso que servem!
FADA 1 – Só não damos um estaladão a cada um de vocês, porque não queremos amachucar as nossas belas asas…e as nossas roupas!
FADA 2 (zangada) – Calem-se! (p.c) Seus arrogantes!
FADA 1 – Vão ter que tratar com carinho…esta bola…é uma bola mágica.
FADA 2 – Nela podem pôr tudo o que quiserem…desde que sejam coisas boas! Sempre que colocarem coisas boas, ela ficará iluminada…mais ou menos…conforme o que puserem dentro dela.
TODOS – Como?
FADA 2 – Essa bola é frágil, e ela vai trazer-vos coisas muito boas…ou más…conforme a tratarem.
DAVID – Que seca!
DIOGO – Mas para que é que temos de fazer isso?
GONÇALO – Não sabemos fazer isso.
FADAS – Claro que sabem.
HUGO – Pedimos ajuda às meninas.
FADA 1 – Se vos demos esta bola para cuidar, é porque confiamos em vocês, e porque achamos que vão conseguir fazer isso.
NUNO – E as meninas? Isso é para elas.
FADA 2 – As meninas vão ter outra igual.
FADA 1 – Se vocês sabem tratar dos animais, também vão saber tratar dessa bola!
BRUNO – Mas o que é que uma bola tem a ver com um animal? Um animal é diferente.
FADA 1 – Esta bola também é diferente.
FADA 2 – Olhem, nós não vos obrigamos a participar neste desafio, mas era bom que participassem.
GABRIEL – E como é que metemos aí coisas boas?
GONÇALO – E que coisas boas é que metemos para aí?
FADAS – Tudo o que quiserem.
FADA 1 – Podem escrever em papéis as coisas boas e metem por aqui…! Acontecimentos bons, sentimentos bons, quando se portam bem…quando ajudam alguém…muitas coisas.
MENINOS – Que seca! Escrever…
GABRIEL – Mas que prémio é que recebemos?
FADAS (sorriem) – No fim, vêem.
FADA 1 – Aceitam?
FADA 2 – Podem ser só alguns, não precisam de ser todos…se quiserem todos ainda melhor.
DIOGO – Eu não quero!
DAVID – Eu aceito.
TODOS – Óóóhhhh…!
HUGO – Eu também não quero.
NUNO – Eu muito menos. Fazer coisas de meninas…Óhhh…David…que mariquinhas
FADA 1 – Então, meninos, respeitem o vosso amiguinho.
MARCO – Eu também aceito.
GONÇALO – Eu também aceito.
BRUNO – Eu não quero.
GABRIEL – Eu também aceito.
FADAS (sorriem) – Muito bem.
DIOGO – Mas, olhem uma coisa…vocês…meninas esquisitas…vamos ser castigados por não querermos tomar conta da bola?
FADAS – Não!
FADA 1 – Os meninos que aceitaram…têm agora a responsabilidade e o dever de tratar bem essa bola…vão ver que quantas mais coisas boas meterem nessa bola, mais luzinhas vão acender…mais bonita essa bola vai ficar! (p.c) E vão ser recompensados.
BRUNO – Que burrinhos! (a rir, gozo fininho) Acho que se vão arrepender.
DIOGO (a rir) – Que paneleiros. Podem juntar-se com as meninas chatas para brincarem com bonecas.
NUNO (a rir) – Vão…meninas…mariquinhas…!
FADA 1 – Querem fazer mais alguma pergunta?
TODOS – Não.
FADA 2 – Nós vamos passando por aqui.
FADA 1 – Não se esqueçam da bola.
FADA 2 – Não a abandonem.
FADA 1 – Tratem bem essa bola especial.
FADA 2 – Portem-se bem.
FADAS – Até breve!
Elas afastam-se a voar. Os meninos que aceitaram a bola juntam-se. David, Marco, Gonçalo e Gabriel discutem o melhor sítio para guardar a bola.
DAVID – E agora quem vai ficar com a bola?
GABRIEL – Ficamos à vez…!
DAVID – Sim. Está bem.
MARCO – Vais pô-la na tua casa?
DAVID – Sim, pode começar pela minha casa, depois para a do Gabriel, depois para a tua…e depois para o Gonçalo.
GONÇALO – Está bem.
DAVID – Mas temos que ir às casas uns dos outros para pôr as coisas boas.
MENINOS – Pois.
GONÇALO – Espera…tenho uma ideia melhor: porque não a guardamos no celeiro e vamos lá quando tivermos coisas boas?
MENINOS (sorriem) – Isso, boa!
MARCO – Mas temos que meter aí coisas boas todos os dias?
MENINOS – Não.
GABRIEL – Elas disseram que era para metermos aqui as coisas boas, quando tivéssemos, mas podemos não ter coisas boas todos os dias…!
MENINOS – Pois.
Os amigos riem, e gozam, os meninos vão guardar a bola no celeiro e voltam para jogar à bola com os amigos. As fadas vão ter com as meninas. Pousam em cima da árvore e atiram a bola às meninas. As meninas assustam-se.
DIANA – Ei…o que é isto?
MENINAS – Uma bola.
FILIPA – Os meninos já estão armados em jogadores totós…!
GLÓRIA – Eles não sabem jogar à bola, só sabem correr feitos touros e dar chutos na bola.
ISABEL – Pois, nem olham para onde mandam o raio da bola.
LÚCIA – Até nós jogamos melhor futebol que eles.
MÁRA – Mas olhem…esta bola não deve ser dos meninos…!
NÁRA – Pois…olhando bem, esta é diferente da dos meninos.
MENINAS – Pois é!
MÁRCIA – Onde é que eles terão arranjado esta bola tão…estranha…?
MENINAS – Não sei!
FILIPA – Se calhar alguém lhes emprestou!
GLÓRIA – Ou será que a tiraram a algum menino da cidade?
MENINAS – Humm…!
ISABEL – Ai deles se a roubaram.
LÚCIA – Vai ser uma vergonha para os papás…!
MÁRA – Não…isso acho que eles não eram capazes.
MENINAS – Pois…
As Fadinhas riem, as meninas procuram o som dos risos, até que olham para cima. As Fadinhas descem e sorriem.
FADAS (sorriem) – Olá meninas!
MENINAS (sorriem, surpresas) – Fadas?! Ááááhhh…!
DIANA (surpresa) – Ááááhhh…estou mesmo a ver fadas…?!
MENINAS (sorriem) – Sim! Ááááááhhhh…!
FILIPA (sorridente) – Que lindas!
GLÓRIA (sorridente) – Vocês…saíram das nossas histórias?
FADAS (sorriem) – Sim!
FADA 1 (sorri) – Eu sei que acreditam em nós.
FADA 2 (sorri) – E que gostam de nós!
FADA 1 (sorri) – É por isso que viemos ver-vos!
ISABEL (sorridente) – Que bom que vieram!
LÚCIA (sorridente) – Querem brincar connosco?
FADAS (sorriem) – Está bem.
FADA 1 (sorridente) – Mas primeiro…viemos dizer-vos uma coisa…!
TODAS (surpresas) – O quê?
FADA 1 – Esta bola não é dos meninos!
TODAS – Não?!
MÁRA – E…como é que ela veio aqui parar?
NÁRA – Vocês também jogam à bola?
FADAS (sorriem) – Sim, jogamos.
MÁRCIA – Nós não conhecemos esta bola como dos meninos, mas pensamos que alguém lhes teria emprestado…! Ou estiveram a jogar com eles?
FADAS (sorriem) – Não.
MÁRCIA – Mas…é vossa a bola?
FADAS (sorriem) – Sim.
MENINAS (sorridentes) – É gira!
FADA 1 – Mas não é uma bola qualquer!
MENINAS – Não?
FADA 2 – Peguem nela.
Cada menina pega na bola.
MENINAS – É pesada!
FADAS (sorriem) – Sim.
FADA 2 – Essa não dá para jogar futebol.
MENINAS – Não?
FADAS – Não.
FADA 1 – Esta bola é mágica…especial!
MENINAS (espantadas) – Ááááááhhhh…
FADA 2 – Esta bola é para vocês cuidarem!
MENINAS – Como?
FADA 1 – Devem protegê-la do frio e da chuva, tratá-la com cuidado e carinho.
FADA 2 – E ela dá luz!
MENINAS (surpresas, maravilhadas) - Ááááhhh…
LÚCIA – À noite?
FADA 1 – À noite e de dia!
FADA 2 (sorri) – Ela vai dar luz sempre que lhe meterem coisas boas…! Se aceitarem o desafio, claro!
DIANA – E metemos aí…por onde?
FILIPA – E como é que ela dá luz?
As fadas indicam.
FADA 1 – Podem aqui meter todas as coisas boas que quiserem…que vos aconteçam…coisas boas que sintam, ou que façam por alguém…momentos felizes em que pensem ao longo do dia, ou sonhos bonitos e bons…quantas mais coisas boas meterem aqui…pode ser escrevendo em papéis…mais iluminada e mais bonita ela ficará!
FADA 2 – Aceitam?
FADA 1 – No fim, terão várias recompensas!
FADA 2 – Não são obrigada a participar, se não quiserem, não vão ter nenhum castigo…nem vos vai acontecer nada! (p.c) Mas se quiserem…tem essa responsabilidade de a proteger, de cuidar dela…e de pôr aí coisas boas! Pode não ser todos os dias!
FADA 1 – Perceberam qual é o objectivo?
TODAS (sorriem) – Sim! Eu aceito!
FADAS (sorriem) – Todas aceitam?
TODAS (sorriem) – Sim.
FADAS (sorriem) – Boa!
DIANA (sorridente) – É tão bonita esta bola!
MENINAS (sorridentes) – Pois é!
FILIPA (sorri) – Vamos pô-la num sítio bem seguro, quentinho, protegido.
GLÓRIA – Sim, vamos tratar muito bem dela.
MÁRCIA – Pode ser…ali no Celeiro onde costumamos brincar…não?
MENINAS – Sim…boa…!
MÁRA (sorridente) – Eu acho que ela vai ficar cheia de coisas boas, num instante!
MENINAS (sorriem) – Sim.
FADAS (sorriem) – Com certeza!
FADA 1 (sorridente) – Mais alguma pergunta, queridas?
TODAS (sorriem) – Não, obrigada!
NÁRA – Mas…já se vão embora?
FADAS – Sim.
FADA 1 – Mas nós vamos andar por aqui mais vezes!
MÁRCIA – Não querem brincar connosco?
FADA 1 (sorridente) – Outro dia!
FADA 2 (sorri) – Agora temos que ir a outros sítios.
MENINAS – Óóóhhhh…que pena!
FADA 1 – Voltaremos em breve.
FADA 2 – Qualquer coisa chamem-nos.
MENINAS (sorriem) – Obrigada.
As Fadas levantam voo, e as meninas, levam a bola com cuidado, delicada e carinhosamente para o celeiro. Nára põe um cobertor debaixo da bola.
NÁRA – Ao fim do dia vimos aqui cobri-la.
MENINAS – Sim.
Todas fazem um carinho à bola. A bola muda de cor, fica mais bonita, mais luminosa. Todas olham surpresas e sorriem.
NÁRA (sorri) – Mudou de cor.
MENINAS (sorridentes) – Pois foi!
MÁRCIA – Deu luz.
MENINAS (felizes e surpresas) – Ááááhhh…pois foi!
DIANA (sorri) – Que linda! Parece um candeeiro de um quarto de uma princesa!
MENINAS (sorriem) – Sim…!
FILIPA – Acho que já todas temos uma coisa boa para pôr aqui na bola…!
MENINAS – Sim.
GLÓRIA – Vamos escrever num bloquinho que tenho ali na minha caixa e vimos aqui trazer.
MENINAS (sorriem, contentes) – Boa!
Voltam para os brinquedos, Glória dá uma folha a cada menina e escrevem. Todas escrevem em pedacinhos de papel que depois dobram e metem na bola.
DIANA – Vou escrever… «Acordar»!
MENINAS – Eu também.
FILIPA – Podemos escrever as mesmas coisas?
MENINAS – Sim.
GLÓRIA – Eu vou pôr…o «Sol».
MENINAS (sorriem) – Sim…boa…eu também.
ISABEL – Eu vou pôr… «As coisas boas que comemos às refeições»!
MENINAS (sorriem) – Sim…boa…eu também.
LÚCIA – Eu vou pôr… «Beijinhos de bom dia dos Papás, dos Avós, e dos Manos…
MENINAS (sorridentes) – Sim…isso é muito bom…!
MÁRCIA – Eu vou pôr… «Todos os mimos!»
MENINAS (sorridentes) – Sim, boa!
MÁRA – Eu vou pôr… «As meninas amigas»!
MENINAS (sorriem) – Sim, muito boa!
NÁRA – Eu vou pôr… «Brincar com as bonecas!»
MENINAS (sorriem) – Sim, sim…também…!
DIANA – Tenho outra muito boa… «Partilhar os brinquedos!»
MENINAS (sorriem) – Isso.
FILIPA (sorri) – «As bonecas e os brinquedos».
MENINAS (sorriem) – Sim.
GLÓRIA - «A visita das fadas»!
MENINAS – Olha…boa…!
ISABEL - «Os animais…»
MENINAS (sorriem) – Sim, sim.
LÚCIA - «As árvores que dão sombra e fruta deliciosa…»
MENINAS (sorriem) – Sim, é verdade!
MÁRCIA - «As flores».
MENINAS (sorriem) – Isso.
MÁRA - «Os campos!»
MENINAS (sorriem) – Boa.
NÁRA - «Os legumes».
MENINAS (sorridentes) – Sim, sim…boa!
DIANA - «As nossas roupas»
FILIPA - «Os nossos sapatos»
GLÓRIA - «Os sorrisos»
ISABEL - «A erva»
LÚCIA - «A chuva»
MÁRCIA – «A água»
MÁRA - «As fontes»
NÁRA - «As luzes»
DIANA - «As estrelas»
FILIPA – «A música»
GLÓRIA – «O Verão», «A Primavera», «O Outono» e o «Inverno»
ISABEL – «A neve»
LÚCIA – «O frio»
MÁRCIA – «O calor»
MÁRA – «O vento»
NÁRA - «A trovoada»
DIANA - «As nuvens» …
FILIPA - «O céu azul»
GLÓRIA - «As cores»
ISABEL - «A madeira»
LÚCIA - «O vidro»
MÁRCIA - «Os potes de cozinha»
MÁRA – «A lareira»
NÁRA - «A televisão»…
DIANA - «Ajudar os Pais e os Avós»
FILIPA - «A história contada pela Mamã ou pelos Avós, antes de dormir, e durante o dia»
GLÓRIA – «O bolo de chocolate, as deliciosas sobremesas das mamãs e das Avós»
ISABEL - «Os carinhos recebidos»
LÚCIA - «O mano bebé»
MÁRCIA - «O meu cãozinho pequenino»
MÁRA - «O meu peixinho»
NÁRA - «O milho»
Não se lembram de mais nada, e levam os papéis à bola. Cada uma mete os seus papéis com as coisas boas que escreveram na bola, e esta fica com o fundo todo iluminado.
As meninas soltam uma grande exclamação, sorriem deliciadas e encantadas com a luz da bola, batem palminhas e saltitam de alegria, felizes, com sorrisos de orelha a orelha.
Continuam a brincar alegremente umas com as outras e com as bonecas, e os meninos a jogar à bola, a correr e a brincar com os seus brinquedos, com a bola ainda toda apagada, sem nenhuma coisa boa.
No fim da tarde, as meninas foram cobrir a bola ao celeiro. Parece que os meninos esqueceram a bola. Deixam-na como a puseram, vazia, sem luz…
Nos dias seguintes, as meninas, todos os dias metem papéis com coisas boas escritas…coisas simples às quais elas dão valor. Ao contrário, a bola dos meninos ainda não tinha um único papel, e em consequência disso não dava luz, estava a ficar murcha como um balão a esvaziar aos bocadinhos, meia derretida…a perder as cores…
Numa tarde, os meninos lembraram-se de ir ver a bola, e ficaram muito decepcionados.
DAVID – Mas…o que aconteceu à bola?
GONÇALO – Está tão feia…!
MARCO – Parece…um balão sem ar…!
GABRIEL – Esta bola não era mágica?
MENINOS – Sim.
DAVID – Mas onde está a magia desta bola?
GONÇALO – Fomos enganados.
MARCO – Pois fomos, porque se esta coisa fosse mesmo mágica, não estava assim.
As Fadas estão frustradas, zangadas e aparecem.
FADA 1 – A vossa bola está bonita, está…!
FADA 2 – Olhem para isso…!
FADA 1 – O que é que lhe fizeram?
DAVID – Cala-te palerma…
GONÇALO – Vocês devem ser umas bruxas…!
MARCO – Vocês mentiram-nos.
GABRIEL – Esta coisa não é uma bola…muito menos mágica.
FADA 1 (ralha) – Mas que grande lata!
MENINOS (zangados) – Vocês é que tiveram muita lata!
FADA 2 (ralha) – Isso é maneira de falar connosco?
FADA 1 (ralha) – Ora pensem bem no que poderá ter acontecido à vossa bola…!
DAVID – Vocês deram-nos esta porcaria porque já sabiam que não prestava, e queriam livrar-se disto, não foi? Confessem lá? Suas maldosas…!
FADA 1 (ralha) – O que é que nós dissemos sobre esta bola, quando vos entregamos?
GONÇALO (zangado) – Disseram que esta porcaria que parece um balão furado…era…mágica…!
GABRIEL – Onde é que está a magia dela…?
FADA 2 (ralha) – E além dela ser mágica, o que é que dissemos mais…?
MARCO (zangado) – Puseram-se com aquela treta de que se cuidássemos dela e se metêssemos coisas boas, ela ia dar luz, e que íamos receber um prémio…
FADA 1 – Ora aí está…!
FADA 2 – Vocês…cuidaram dela?
MENINOS – Sim.
FADAS – Ai sim…?
MENINOS – Sim.
DAVID (zangado) – Não a vês aqui metida…? Aqui está protegida…e não a estragamos…
AS fadas riem.
FADA 1 – Isso é cuidar dela, protegê-la…?!
MENINOS – É.
FADA 2 (zangada) – E o resto?
MENINOS (zangados) – Que resto?
FADA 2 – Fizeram tudo o que dissemos?
MENINOS – Sim.
FADA 1 – Meteram aqui alguma coisa…?
MENINOS – O que é que íamos meter aí?
MARCO – Eu metia aqui agora era um explosivo!
DAVID – Eu derretia esta porcaria na lareira.
FADA 1 (zangada) – Tanto disparate.
FADA 2 (zangada) – Têm memória de galos…!
FADA 1 (zangada) – Então não dissemos que além de a protegerem e de cuidarem bem dela, tinham que meter coisas boas…?! Para que ela mostrasse a sua magia…?!
FADA 2 (zangada) – Onde estavam com as cabeças quando falamos nisso?
Os meninos fazem silêncio, amuados. Ficam pensativos.
FADA 1 – Onde estão as coisas boas que dissemos para meterem na bola?
MENINOS – Não pusemos nada!
FADA 2 – Vocês comprometeram-se a cuidar bem da bola, protegê-la, mas esqueceram-na…não puseram nada de bom…foi por isso que ela ficou assim.
FADA 1 – Vocês também se devem sentir assim, quando não recebem carinho, ou quando não são elogiados, ou quando dizem mal de vocês…não é?
Os meninos respondem envergonhados:
MENINOS – Sim…
GABRIEL - Esquecemo-nos da bola.
FADA 2 – Se fosse uma bola de jogar futebol, vocês não se esqueciam dela, com certeza!
MARCO – E não sabíamos que isso também era cuidar da bola.
FADA 1 – Nós confiamos em vocês…! E vocês…abandonaram-na…! Ela precisava da vossa atenção e dedicação.
FADA 2 – Tal como nós, também os objectos têm que ser bem tratados, protegidos, elogiados, acarinhados…e isto é o que vai acontecer com as meninas, se as tratarem desta forma.
Os meninos zangados protestam, resmungam todos ao mesmo tempo, insultam as fadas. Elas riem.
FADA 1 (a rir) – Perderam o desafio!
FADA 2 (a rir) – Vão ficar sem prémio.
DAVID (chateado) – O prémio também devia ser uma porcaria qualquer.
FADA 1 (a rir) – Foi quanto perderam…seus insensíveis.
GONÇALO – Mas…não podemos fazer isso agora?
FADAS – Não.
MARCO – Bruxas…
As Fadas riem.
GONÇALO – E o que fazemos agora com isto?
FADAS – O que quiserem.
FADA 1 – Agora já podem jogar à bola com ela.
GABRIEL – Que injustiça…as meninas vão receber prémios e nós não…!
FADA 1 – Vocês não fizeram nada para merecer.
MARCO – Vamos furar esta porcaria toda.
GONÇALO – Metê-la no lume…
GABRIEL – Ou metê-la na boca dos cães.
DAVID – Estou com uma raiva de vocês…saiam da nossa frente…suas minorcas, mázonas…
GONÇALO – Vão lá para as palermas das meninas…! Patas chocas…!
FADA 1 (a rir) – Apareçam no baile…em breve vão saber em que dia é.
GONÇALO – Temos mais o que fazer, do que aparecer em bailes, para ver um bando de pirosas, a receber prémios.
As fadas riem.
FADA 2 (a rir) – É quanto vão perder…! Há lá meninas muito bonitas…comida boa…música e dança ainda melhor…!
MENINOS – Comam isso tudo.
As Fadinhas riem e saem. Os meninos voltam a brincar. Uns tempos depois, as fadas convidam toda a gente da aldeia a participar no baile de entrega de prémios.
A festa é muito animada, recheada de música, dança, cor, alegria, banquetes e convívio com outros meninos, tiram muitas fotos, riem muito, brincam muito, divertem-se. As meninas são chamadas ao palco onde têm um baú com a bola a estourar de luz.
FADA 1 (sorri) – Meninos…chegou o momento por que tanto esperavam! (p.c) Por favor…abram o baú.
As meninas abrem o baú e sorriem surpresas, a luz da bola espalha-se por todo o palco, e por toda a sala. Toda a gente fica maravilhada.
MENINAS (sorriem) – Este é o nosso mundo! E é lindo!
Todos batem palmas, as meninas, uma por uma, pegam na bola de luz, passa de mão em mão e a última menina entrega na plateia com um sorriso e música de fundo. Estendem a bola, e esta passa também de mão em mão, por cada pessoa (quem quiser).
FIM!
Lálá
(31/Janeiro/2011)
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