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segunda-feira, 23 de julho de 2012

O que viste Bola de Sabão?

Era uma vez um grupo de meninos e meninas que estavam juntos a brincar e a fazer bolas de sabão. Fizeram uma competição a ver quem lançava e quem fazia mais e as maiores bolas de sabão. As bolas de sabão eram de vários tamanhos, cores e formatos. Umas rebentavam quase logo depois de saírem dos frascos, outras voavam mais alto, outras ficavam pousadas em ramos de árvores, folhas, bancos, telhados…e ainda outras que rebentavam depois de pousarem. 
Uma menina fez uma bola de sabão enorme. Os amigos dizem que ela vai rebentar, mas ela voa e não rebenta. Vai dar uma volta. A menina segue-a com os olhos.
Menina 1 – Óóóhhhh…fugiu.
Menina 2 – Vai rebentar lá em cima…
Menina 3 – Ou então vai pousar aí em qualquer sítio!
Menina 1 – Eu queria ir com ela!
Menina 2 – Eu também, mas isso não é possível.
Menina 3 – Porquê?
Menina 1 e 2 – Que burra…!
Menina 1 – Não vês que a bola de sabão…é de sabão…?
Menina 3 – Sim, é de sabão…e depois?
Menina 2 – E depois…uma bola de sabão não aguenta o nosso peso…é tão levezinha!
Menina 1 – Rebentava antes que subisses para cima dela!
Menina 2 – Só se subisses com ela num balão…
Menina 1 – Sim, ou nas asas de uma pássaro…ou num avião.
Menina 2 – Num avião também não dava porque não conseguias vê-las com a luz.
Menina 1 – Ou então…se te transformasses também numa bola de sabão.
Menina 3 – Mas eu queria ir com ela. Não queria que ela se desfizesse…porque…nunca fiz uma bola de sabão tão… grande…!
Menina 1 – E para que querias ir com ela…?
Menina 3 – Para ver o que ela via…lá de cima deve ver as coisas diferentes de nós!
Todos – Ela não vê nada…
Menino 1 – É só uma bola de sabão…não tem olhos sequer. Nem fala.
Menina 3 – Claro que tem olhos e fala.
Todos – Não tem nada!
Menina 3 – Tem, tem.
Menino 2 – Isso só acontece na televisão. O meu pai e a minha mãe e o meu avô já me disseram que nos bonecos que mostra na televisão, é tudo inventado…é como nas histórias que nos leem.
        Os meninos continuam a falar uns com os outros, a fazer bolas de sabão, e a ver quem ganha, batem palmas, seguem os movimentos das bolas de sabão e brincam com outras coisas. A bola de sabão volta, no fim de passear, triste. A menina (3) que a fez, vê-a pousada numa flor, mesmo à frente dela…e ela está sozinha.
Menina 3 (surpresa) – Óhhh…ficou aqui uma bola de sabão!
Bola de sabão – Não…não fiquei aqui! Tu libertaste-me do frasco… eu fui dar uma volta, e já voltei!
Menina 3 (sorri) – A sério?! Ááááááhhhh…! Todos os meus amigos pensavam que ias rebentar lá por cima, ou quando pousasses em alguma coisa!
Bola de sabão (sorri) – Sim, toda a gente pensa isso…e é o que acontece quase sempre com todas as bolas de sabão. Umas rebentam logo, outras…como eu…são mais resistentes e aguentam. Tu fizeste-me com tanto carinho…sopraste-me devagarinho…que eu não rebentei…e fui dar uma volta.
Menina 3 (sorri) – Eu queria ter ido contigo…andar lá por cima e ver o que tu viste! (p.c) Mas só podia ir contigo se fosse uma bola de sabão igual a ti, ou se fosse nas asas de um pássaro, ou podia acompanhar-te num balão mágico.
(A bola de sabão ri).
Bola de sabão (sorri) – Ai sim? Que engraçado!
Menina 3 (sorri) – Sim. Tu és muito levezinha…eu sou mais pesada. Mas conta-me…o que viste lá de cima?
Bola de sabão – Olha, vi muitas coisas.
Menina 3 – A paisagem é bonita?
Bola de sabão – Sim, é muito bonito…e o ar é fresco nuns sítios, noutros sítios sufoca-se.
Menina 3 – Apanhaste vento?
Bola de sabão – Felizmente havia uma aragem, porque se houvesse muito vento não conseguia ver nada. Também havia sol, num céu muito azul.
Menina 3 – Então devias ter levado um casaco e uns óculos de sol.
Bola de sabão (a rir) – Eu não preciso disso…lembra-te que sou apenas uma bola de sabão! Não sou de carne e osso como tu…!
Menina 3 (sorri) – Sim, eu sei…mas…se não és de carne e osso como eu, como é que viste alguma coisa?
Bola de sabão – Não sou de carne e osso, mas tenho olhos…não uns olhos como os teus…mas são olhos! Tu é que não os vês.
Menina 3 – E o que viste?
Bola de sabão – Vi…montanha…com uma paisagem indescritível…muito verde…os animais a pastar…felizes…livres e soltos…os passarinhos a cantar muito bem…pessoas a trabalhar a terra, a cultivar e a apanhar coisas da terra…vi…crianças felizes, a brincar com os pais que as amam de verdade…outras crianças a brincar juntas…felizes e bem dispostas, amigas…e a ajudar os pais…(p.c) vi…águas puras em lindas cascatinhas, ribeirinhos…vi…flores, viçosas e frescas, lindas…vi…árvores…praias…casas…tudo o que está no solo.
Menina 3 (sorri) – Áh…sim! Tudo isso é muito bonito…e visto de cima deve ser diferente. E que mais?
Bola de sabão – Também vi coisas más…feias…que me deixaram triste.
Menina 3 (pensativa e séria) – Foi? Coisas tristes…e…más…feias…hummm…o que foi?
Bola de sabão  Sítios muito poluídos, o mar…cheio de porcarias…gaivotas aflitas por isso, umas quase a sufocar com sacos plásticos à sua volta que apanharam no mar…lixo por todo o lado…em vez de estarem nos caixotes, estavam no chão…na areia…onde toda a gente pisava e acrescentava mais lixo…pessoas com caras compridas…sem sorrir…tristes…(p.c) que visão aterradora.
Menina 3 – Porque é que anda tanta gente triste…? Não é bom rir? É pecado rir? Não…os meus pais e os meus avós dizem que devemos rir muito.
Bola de sabão – E eles têm toda a razão, mas nem sempre as pessoas têm vontade de rir. Há coisas que nos deixam tristes o dia todo.
Menina – Sim, é verdade! Essas coisas que viste, são mesmo feias, menos as paisagens…mas também já estamos habituados a isso, também não gostamos nada. A minha mãe diz que as pessoas andam tristes porque estão pobres.
Bola de sabão – Ora, querida, mas isso não pode funcionar como justificação, porque não vi pobres…só os meninos de rua, e esses não estavam assim tão tristes.
Menina 3 – Pois, os meus avós já foram pobres, mas nunca foram tristes. Porque eles dizem que a sua maior riqueza são os filhos, os netos, a saúde e a comida.
Bola de sabão – Claro! Mas essa não foi a pior coisa que vi.
Menina 3 (assustada) – Ui…o que foi pior do que isso?
Bola de sabão – Mulheres a apanhar dos maridos…!
Menina 3 – O quê? Mas…a minha mamã disse que isso acontece, mas é muito mau.
Bola de sabão – Pois é! Muito mau mesmo! Infelizmente pararam na idade da pedra. Mas ninguém faz nada…que estranho!
Menina 3 – O que podemos fazer…? Toda a gente diz que entre marido e mulher ninguém mete a colher.
Bola de sabão – Francamente…não pode ser assim. Eu se fosse pessoa e se visse…fazia queixa…ou eu mesma fazia justiça pelas próprias mãos. Não nos podemos calar com uma coisa destas.
Narradora – As duas têm uma longa conversa, riem…e vocês? O que viriam se fossem uma bola de sabão? Imaginem o que quiserem…e podem dramatizar ou escrever.

Fim!
Lálá
(1/Maio/2011)


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