Era uma vez uma menina muito especial, bonita, que vivia numa cidade chamada As Quatro Estações. Nessa aldeia, existiam centenas de meninos e meninas, crianças, adultos, e pessoas com mais idade, que tinham uma missão muito especial: ir pelas grandes cidades anunciar a chegada de cada estação do ano.
Quem olhava para eles e elas, pareciam pessoas iguais, mas na verdade, eles e elas não precisavam de transportes para chegar às cidades que lhes estavam destinadas, iam e voltavam para a sua terra no mesmo dia, e sem que as pessoas das cidades dessem por isso, transformavam toda a paisagem de acordo com cada estação do ano.
Levavam tudo o que faz parte de cada uma delas: enchiam as cidades de flores na Primavera, sol e chuva, cores, pássaros e outras aves, vento. Levavam o Verão com Sol escaldante, o Outono com toda a sua beleza, e instabilidade do tempo, os dias mais pequenos, mais ventosos, mais chuvosos, mais cinzentos, ou mais solarengos, e o Inverno, com neve, onde ela existe, frio, chuva, nuvens carregadas, trovoada, gelo, mas também roupa quente, lareiras, e o Natal.
Dependia do que houvesse nessas cidades, nesses países, porque as estações do ano são diferentes, em várias partes do mundo, mas cada uma com as coisas bonitas, e cada menino, cada menina sabia muito bem o que levar a cada um, vestidos e calçados de acordo com as características de cada lugar, nas diferentes estações.
Desta vez tocou à menina Folha Castanha, era assim que se chamava, juntamente com o vento, anunciar a sua estação. Com um vestido castanho escuro, casaco comprido, castanho de vários tons, longos cabelos ondulados em tons amarelos, castanhos, verdes, roxos, salpicos de várias cores, que voavam com o vento, botas castanhas, e lá vai ela toda vaidosa da sua missão.
Os pais e os avós, orgulhosos da menina, até deixaram escapar umas lagriminhas, com um grande sorriso. Estala os dedos e chega à primeira cidade, um trânsito infernal, carros e mais carros, buzinas, pessoas a correr, com caras sem sorrisos, irritadas, ao telefone, aos gritos umas com as outras, a mexer nos telefones, nem repararam na chegada dela. A Folha Castanha fica triste:
- Apetecia-me cobrir esta cidade e esta gente toda de folhas que batessem na cara deles, ou que os colassem ao chão, para ver se paravam um minuto e reparavam na minha chegada!
O vento dá uma gargalhada:
- Achas mesmo que iam reparar em ti? Santa inocência de criança! Não reparam em quem vai à frente do nariz deles, quanto mais...
- Onde é que eles deixaram o sorriso?
- Não sei, em casa...! Se lhes desses dinheiro ias ver.
- Não tenho nada a ver com dinheiro. Essa não é a minha missão.
- Filha, esquece lá essas coisas boas, e faz o teu papel. Não te chateies com isso, eles não vão mudar.
A menina fica triste, todos passam indiferentes por ela. Ela fica irritada.
- Vento, sopra aí bem forte, para ver se acordam.
- Olha que eles vão ficar ainda mais irritados!
- Problema deles, eu também estou irritada por terem passado indiferentes.
- Achas que eles sabem quem tu és? Claro que não.
- Sopra aí rajadas de vento, por favor.
- Está bem!
O vento sopra forte, e a menina caminha pelas ruas. Quando passa por árvores, cai uma chuva de folhas em cima das pessoas que passam, e ela sorri. As pessoas encolhem-se com o vento gelado, e assustam-se com as folhas que caem, fazem redemoinho à volta delas, e sobem do chão para a cabeça, como se estivessem a enrolá-las. As pessoas gritam, assustadas, sacodem-se, abanam-se, para tentar livrar-se das folhas.
- É para ver se param 1 minutos, e veem que eu cheguei! Outro minuto para pôr um sorriso na cara. - comenta a menina a rir
A menina ri à gargalhada, ninguém repara nela, ela manda nuvens carregadas, escuras, que tapam o sol, o vento fortíssimo, que quase as empurra para trás, a menina aplaude o vento:
- Boa, vento! Isso mesmo.
É folhas a rodopiar por todo o lado, a cair em cima das pessoas, umas já secas, outras frescas, que vão ficar molhadas com a chuvada que a menina manda. Aí sim, todos procuram abrigos debaixo das portas dos prédios, fogem, tentam abrigar-se debaixo das árvores, em cafés, nas paragens de autocarro, onde podem.
Como todos pararam, ela desfila sem se molhar, a sorrir para todos, que ficam espantados. Uma senhora com alguma idade, da aldeia da menina Folha Castanha, comenta:
- Chegou o Outono!
- Começa hoje? - pergunta jovem
- Começa! E veio carregado de vento, chuva...promete! O Outono é mesmo assim, mas tem a sua beleza. Todos deveriam parar uns minutos por dia e apreciá-lo! Devia ser obrigatório. - diz a senhora
- O Outono é triste! - comenta outra jovem
- Não é nada! Isso são ideias da vossa cabeça que só vê computadores e correria à frente. - comenta a senhora
- Pois é! Tem razão, andamos sempre a correr, nem reparamos no que há de bonito à nossa volta! - concorda outra jovem
- Mas hoje é apenas o primeiro dia, ainda têm muitos dias de Outono pela frente, que devem apreciar. E andar com guarda chuva, algum agasalho porque o tempo é instável. - diz a senhora
- Pois é!
A menina ri-se e aplaude. Para compensar, por terem parado algum tempo para se abrigar, todos olham para ela, ela transforma folhas que estão a cair em borboletas, que beijam as caras das pessoas, e estas sorriam, parece que ficam hipnotizadas por aquela beleza que nunca tinham visto.
- Áh! Que lindo, pareciam folhas, afinal são borboletas... - suspira uma jovem a sorrir
- E dão beijinhos quando batem na nossa cara! - diz outra a sorrir
- Nunca tinha visto nada assim, mas é maravilhoso! Se acontecer outra vez este fenómeno, vou ver e fotografar. - comenta outra
- Realmente, acho que nunca aconteceu! - comenta outra pensativa
- Ou se calhar já aconteceu, mas vocês é que nunca viram. - diz a senhora
A menina ri à gargalhada, e sopra as nuvens para o sol aparecer outra vez. As pessoas olham com mais atenção para as árvores, deliciadas com o bailado das folhas que caem, e outras que se transformam em borboletas.
A menina vai para outra cidade, acontece o mesmo, ninguém repara nela, e ela faz o mesmo, até que se lembram que chegou o Outono. Percorre várias cidades, e deixa a sua presença bem marcada, mas nessas, alguém a reconhece, as pessoas com mais idade, com o seu andar vagaroso, os olhos a apreciar a Natureza, que lhe sorriem e dizem:
- Bem vinda, Outono!
Ela sorri, e envia as folhas em forma de borboletas, que voam e dão beijinhos. Essas pessoas riem, e ficam maravilhadas.
Esta era a missão da menina diferente!
FIM
Lara Rocha
24/Setembro/2023
E vocês apreciam o Outono?
Como sentem a sua chegada?
O que veem de diferente?
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