Era uma vez uma pequena aldeia, onde viviam muitas famílias enormes de animais. Havia paz enquanto não foi para lá um rapaz que tocava trombone, foi à procura de inspiração. Ainda ninguém o tinha visto, mas sentiam um violento tremor de terra, nas casas, e em toda a floresta, associado a um barulho estrondoso, que ecoava por todo o lado, parecia atravessar todos os seres vivos.
Até as flores se encolhiam, os animais recolhiam às suas tocas com o medo. Andavam todos muito intrigados e assustados, não falavam noutra coisa quando se encontravam, e ninguém sabia explicar. Os mochos e as corujas apercebiam-se de algo estranho, sentiam-se agitadas, mas não viam nada. Passados alguns dias, viram um vulto, a passear-se lentamente, de um lado para o outro, com alguma coisa ao lado.
- Cuidado... temos aqui um intruso. - alerta um urso
- Vamos lá falar com ele, mas devagar... e vamos todos juntos para o caso de ele ser perigoso. - sugere um lobo
- Boa. - apoiam todos
Sorrateiramente, aproximaram-se e como quem não quer a coisa, o mais corajoso, passeou-se devagar a assoviar e a olhar para todo o lado. Tinham combinado esconderem-se, e estarem juntos, caso fosse preciso. Tudo estava silencioso, os animais à escuta muito atentos.
- Boa noite! - diz um urso
- Boa noite, óh, um urso...(disfarça o medo) que surpresa agradável... não me vais comer, pois não?
- Não, não... está descansado, acabei de jantar, e comi muito bem. - diz o urso a sorrir
- Áh!
- Vives aqui? - pergunta o urso
- Não... quer dizer, agora sim. Espero que não me corram daqui, porque já fui corrido do lugar onde vivia. - responde o rapaz
- E porque vieste para aqui? - pergunta o urso
- Porque aqui posso fazer barulho! - responde o rapaz
- E que barulho fazias? - pergunta o urso
- Toco trombone, estudo música, tinha de tocar fora das aulas para ensaiar. Eu sei que faz muito barulho.
- Áh...um trombone...é isso que tens aí ao teu lado?
- Sim.
- Mas aqui já tocaste alguma vez?
- Já.
Os animais saem todos do esconderijo.
- Então o tremor de terra que ouvimos és tu a tocar isso?! - pergunta um lobo com os dentes de fora, a rosnar
- Óh, vocês já ouviram? - pergunta o rapaz assustado
- Claro, era impossível não ouvir. Tudo treme, as flores encolhem-se, vai tudo para casa.
- Andávamos todos muito preocupados.
- Mas como te atreves...? - resmunga uma girafa
- Não podes tocar isso de noite! - alerta um sapo
- Nem imaginas o barulho e os estragos que essa coisa faz.
- A sério? - pergunta o rapaz
- Ora toca só uma vez para tu veres...até lá em baixo sentimos! - sugere uma toupeira
O jovem toca, e tudo abana.
- Estás a ver?
- Óh... desculpem. E de dia, posso tocar?
- Não! - gritam todos
- Isso abana de dia e de noite! - responde uma lebre
- Temos todos, filhos pequenos, precisam de sossego e nós também. - alerta uma cabrinha do monte
- Eles ficam muito nervosos.
- Vais ter de escolher outro sítio.
- Óh, não! Por favor, deixem-me ficar. - implora o rapaz
Olham-se todos, juntam-se, conversam entre eles, quase não se percebe nada, e o urso comunica:
- O que nos dás em troca, se te deixarmos ficar?
- Tudo o que vocês quiserem.
Reúnem-se outra vez, juntam-se, conversam entre eles, quase sem se perceber, e o urso comunica:
- Porque é que escolheste este lugar?
- Porque achei que era um ligar bonito, inspirador, e livre para poder tocar.
- Vamos construir-te uma casa para não fazeres as nossas casas tremerem. Até lá, não faças barulho por favor.
- Óh, muito obrigada. Querem a minha ajuda?
- Está bem.
O jovem tem uma longa conversa com os animais, sobre o trombone, como se toca, e outros instrumentos. fala sobre ele próprio, a família, a cidade, a escola. Os animais estão deliciados a ouvi-los.
Como prometido, no dia seguinte todos os animais e o rapaz constroem uma casa para o jovem tocar, à prova de som, onde ele podia tocar à vontade sem fazer tremer toda a floresta. Não podia estar mais feliz, e tocou para experimentar, que alívio, os animais não sentiram o chão nem as casas a tremer, sorriram, e aplaudiram.
- Muito obrigada, amigos! Obrigada. Está uma casa maravilhosa. Nem tenho palavras para agradecer.
Quando ia para tocar, todos tapam os ouvidos e quando se preparavam para fugir, do trombone não sai o som, mas sim, milhares de bolas de sabão e flores, todas lindas, uma de cada cor e espécie. O rapaz não tinha revelado, mas também era mágico, por isso, para agradecer, ofereceu várias flores a cada animal pela casa.
Os animais pequeninos ficaram loucos de alegria a correr atrás das milhares de bolas de sabão que voavam do trombone, as fêmeas adoraram as flores, que receberam às dezenas, e para os machos não havia nada...? Sim, do trombone saíram os petiscos preferidos deles, que o jovem ficou a conhecer quando conversou com eles. Comeram com satisfação.
Depois desse dia, o jovem tocava na sua casa, construída pelos animais, sem os incomodar, convivia com eles, convidava-os para concertos, na floresta, só para eles, dançavam, cantavam e alguns até quiseram aprender a tocar diferentes instrumentos.
Como era mágico, sempre que os animais precisavam de alguma coisa, o jovem dava. Uns tempos depois, o rapaz levou lá a sua família e apresentou todos os animais que os receberam de forma muito simpática.
Todos o adoravam!
FIM
Lara Rocha
22/Fevereiro/2021