Reflexão sobre sexualidade
O ser humano é um corpo, tem um corpo, mas é muito mais do que isso, é um todo, construído desde a conceção, influenciado pela genética, ambiente, relação de vinculação, estímulos internos e externos.
Possui um espírito, uma mente, uma alma, uma personalidade e uma sexualidade, seja ela qual for. É uma energia que faz parte de nós, desenvolve-se e adapta-se, manifesta-se com recurso ao corpo.
O corpo mantém-nos em contacto com o outro, aproxima e afasta, embora todos tenhamos o desejo e a necessidade de ternura, de amor nas suas diferentes formas. Homem e mulher, são diferentes nos carateres que definem o seu género biologicamente determinado no que se refere a anatomia, fisiologia e emocionalidade.
Apesar das diferenças, os dois géneros complementam-se, e partilham em comum o aspeto social, a necessidade de partilhar experiências, afetos, sentimentos, ternuras, carinhos, gestos de amor e contacto íntimo com alguém.
A sexualidade humana, abarca várias dimensões: biológica, psicológica, social e moral. A dimensão biológica (as diferenças físicas; mecanismos de reprodução, as alterações físicas que o corpo vai conhecendo).
A dimensão psicológica composta por emoções e sentimentos que vão mudando ao longo do desenvolvimento, logo, opiniões relativas à própria imagem (maior ou menor apreciação e valorização do corpo).
A dimensão social, que se reflete nos contactos sociais, nas relações bem e, ou mal sucedidas, os comportamentos esperados pela sociedade e atribuídos por esta a cada género.
Não menos importante é a vertente espiritual que de certa forma, molda a forma como cada um de nós vai assumir os seus compromissos, e as consequências que advirão das suas escolhas feitas livremente, o valor que dará a rituais religiosos, de união, ou a interpretação que fazem do divórcio, do casamento, das uniões, das relações com os outros, com responsabilidade por si e pelos outros.
Somos seres em constante construção, pois confrontamo-nos a todo o momento com um conjunto de escolhas livres para fazermos, decisões para tomarmos e assumirmos a responsabilidade por todas as consequências, às quais respondemos mais ou menos fácil, a par da nossa personalidade e em conjunto com os valores éticos, morais, sociais e culturais que cada família transmite aos seus elementos.
Homens e mulheres têm direito e liberdade de escolha quanto à sua orientação sexual, independentemente do sentido da reprodução, esta deve ser vivida de forma respeitosa, segura, baseada em valores como o dar e receber amor, tendo em conta a dignidade da pessoa.
Este respeito e dignidade, inclui o saber estar na relação com o outro, conhecer-se bem e conhecer o outro através do diálogo assertivo, sincero, aberto, sobre o que cada um gosta, e o que não gosta, encontrando juntos alternativas para que seja do agrado do casal e proporcione, tanto satisfação, realização, como felicidade.
Apesar de sermos livres nas escolhas, é esperado e desejável que não nos esqueçamos de respeitar as escolhas do outro, mesmo que vão contra as nossas, ou que nos desiludam, provoquem dor.
Só assim estaremos a respeitar quer a nossa, quer a dignidade do outro, um fator crucial para a harmonia e felicidade do casal, no sentido de construir um «nós», composto por dois «eus» diferentes, que partilham os mesmos sentimentos, e procuram complementar-se.
Para haver sexualidade tem de haver mútua vontade, mútuo desejo, mútua satisfação. Disponibilidade, por parte dos dois, imaginação, fantasia, cumplicidade, amizade, companheirismo, respeito.
Para haver sexualidade, é essencial a valorização e apreciação do corpo que se tem, sentir prazer na exploração sensorial e emocional, com todos os órgãos dos sentidos disponíveis.
A sexualidade é uma descoberta constante, um conhecimento contínuo (do próprio e do outro), uma (re) descoberta e um (re) apaixonar, brincar, aprender e apoiar. A sexualidade é rir, proteger, chorar, discutir, fazer as pazes, pedir desculpa, dialogar, compreender, e se necessário, deixar estar sossegado/a um pouco.
A sexualidade é também estar em silêncio, no mesmo espaço, lado a lado, a fazer coisas diferentes, e ou estar, simplesmente a contemplar-se, a deixar que os olhos se toquem e conversem entre si, com sorrisos sem sentido, que só os olhos sabem.
A sexualidade está nos momentos em que os corpos relaxam, simplesmente envolvidos nos abraços um do outro, debaixo da manta, no sofá, ou de mãos dadas, ver o outro feliz, com pequenos mimos, abraçar, tocar, beijar, fazer arrepiar, acariciar, segredar, e tudo o que for da vontade conjunta.
Não é sexualidade, as situações em que uma relação é forçada, não é consentida, nem desejada, quando decorre em contexto de violência no qual não existe respeito, nem dignidade.
Não é sexualidade quando a pessoa usa o corpo do outro para satisfação machista, egocêntrica, muito menos quando se expõem momentos íntimos, humilham ou envergonham.
O amor e a sexualidade não são a mesma coisa que posse, nem ciúmes cegos, quando provocam dor, e quando não existe liberdade para cada um ser como é, o que é, consigo, e com os outros.
Lara Rocha
20/Fevereiro/2021
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