Era uma vez uma princesa,
mas não era de carne e osso, como nós. Era uma princesa muito especial, que nem
todos a viam, só algumas pessoas, aquelas mais antigas que viviam nas montanhas
e que amavam a natureza. Conheciam-na desde crianças e tratavam muito bem dela.
Ela era feita de folhas das
árvores, como aquelas folhas que caem no Outono, linda, leve, com muitas cores.
Fazia grandes caminhadas pela cidade e pelas montanhas, o ano quase todo, por
muitos países, até que a partir de 21 de Setembro ela repousava para descansar.
O seu sítio preferido para o fazer era em cima de relva, macia, fofa, grande,
ou aparada, isso tanto lhe fazia.
Uma vez deitou-se no jardim
da cidade onde viviam muitas crianças, e pessoas mais velhas, ocupou um espaço
muito grande que ficou coberto de folhas.
As crianças iam a passear
com os seus avós e preparavam-se para saltar em cima das folhas, mas os avós
gritaram-lhes que parassem imediatamente.
- Parem! – Gritam os avós em coro
- Essas folhas não são para pisar. –
Recomenda uma avó
- São só para ser apreciadas. – Diz outra
avó
- Porquê? – Perguntam as crianças
- Se elas estão no chão podem ser pisadas. –
Insiste uma das crianças
- Não! – Gritam os avós em coro
- Porquê? – Voltam a perguntar as crianças
- Porque vão pisar a princesa. – Diz uma
avó.
- O quê? – Perguntam as crianças em coro
- Que princesa? – Pergunta uma menina
- Eu não estou a ver aqui ninguém! – Diz outra
menina
- Nem eu! – Dizem todos
- A princesa está deitada. – Repara outra
avó
- Xiu! – Dizem todos os avós
- Não façam barulho. – Diz outra avó.
- Acho que a minha avó está a perder o
juizinho… - Diz um menino muito chocado
- Também acho! – Concordam todos
- A minha também… - Comenta outra criança
- A minha mãe tem razão. A minha avó está a
ficar tolinha com a idade. – Diz outro menino
- O quê? – Perguntam os avós
- Eu não estou a ver nenhuma princesa… só
vejo folhas. – Repara uma criança
- Mas está aí! A princesa é feita de folhas…
- Diz outra Avó
- Como ela está linda! – Diz um Avô a sorrir
- Ela sempre foi linda. – Corrige a sua
esposa
- Áh…eu acho que vocês não estão bem, Avós! –
Diz outra menina
- Mas que atrevida! – Ralha a sua avó
zangada
- Estejam calados…- Recomenda outra avó
- E quietos! – Diz outro avô.
A princesa mexe-se, e
algumas folhas do seu vestido levantam, mexem e voltam a pousar. Todos sorriem.
- Ela mexeu-se! – Diz uma avó
- Quem? – Perguntam as crianças
- A tal princesa que os avós estão a ver. –
Comenta outra menina
- Não a acordem…deixem-na descansar. –
Recomenda outra avó
- Acho que vou avisar a minha mãe… - Comenta
outra menina
- Eu também. – Diz outra menina
- A tua mãe também conhece a princesa. –
Responde a Avó, ofendida
- Ela também a vê? – Pergunta a menina
- Vê. – Garante a avó
- E porque é que eu não a vejo? Será que ela
é um… - comenta a menina
- Cala-te! Não é nada disso.
- Ela existe. Está a descansar…viram-na a
mexer?
- Não façam barulho. – Resmungam todos os
avós
- Eu só vi folhas a levantar e a pousar. –
Recorda outro menino
- Pois…ela mexeu-se. – Diz a sua avó
A princesa mexe-se mais um
pouco e algumas folhas rodopiam e levantam outra vez. As crianças não estão a
perceber nada, e até estão assustadas. Vão para casa e contam aos pais. As mães
confirmam, os pais quase quebram a magia, mas as mães cortam-lhes a palavra, e
eles acabam por confirmar também.
No dia seguinte, as
crianças voltam a sair com os avós, e à espera de ver se a tal princesa vai
aparecer. Aparece mesmo, aliás continua lá, a descansar…as crianças preparam-se
para pisá-las, escorregar em cima delas, fazem uma gritaria tão grande e
correm, os avós não conseguem pará-los.
A princesa acorda muito
assustada, levanta-se e foge, esconde-se atrás de uma árvore a quem se abraça. Formam-se
uma grande ventania e as folhas levantam todas, voam, rodopiam, amontoa-se aos
pés e à volta do tronco da árvore, no chão.
As crianças adoraram ver
aquelas folhas todas pelo ar, a rodar e a esvoaçar de um lado para o outro,
muito rápido…adoraram ver aquele espetáculo de cores. Os avós ficam muito
irritados, e ordenaram que parassem. Puseram-nos de castigo, e levaram-nos de
volta para casa. Nos dias seguintes não foram.
A princesa voltou a dormir,
mais uns dias, até ao dia 22 de Setembro. Muitos avós sabiam que ela ia acordar
nesse dia, e foram ter com ela. O seu despertar era sempre um momento de paz, e
especialmente bonito para eles.
Nesse dia, o sol deu um
beijinho à princesa, e ela acordou devagar, levantou-se a sorrir, os avós
sorriram com ela, sacudiu-se e as folhas abanaram suavemente. Sentou-se, e
levantou-se.
O sol ficou mais quente,
mas pouco depois, quando ela se cruzou com a princesa Verona, que estava de saída
para outros sítios, deixou cair algumas lágrimas em cima da princesa quando
trocaram um abraço de amizade, e o céu ficou mais carregado. Os avós
agradeceram à princesa Verona e desejaram-lhe boa viagem.
O vento tornou-se mais
forte, e o seu vestido esvoaçou por onde passou. A princesa para anunciar a sua
chegada espalhou folhas de árvores de muitas cores e tamanhos por todo o lado,
cumprimentou toda a gente que passava, espalhou ouriços, castanhas, uvas,
espigas de milho, bolotas e outros mimos, como amoras e flores silvestres.
Salpicou as árvores com as
cores do seu vestido, borrifou folhas de cores diferentes, e o sol brilhou mais
forte outra vez, para tornar as cores mais visíveis.
- Olá princesa! – Dizem todos
- Olá! – Responde ela a sorrir
Nesse dia, as crianças
perceberam de quem se tratava…viram a princesa que os Avós e os pais lhes
falavam…e que já não estava deitada na relva…andava por lá, a espalhar a sua beleza.
Era a princesa Outonia…mais
conhecida por Outono…a estação do ano em que estavam a entrar! Desse dia em
diante, até ao Inverno, as paisagens mudaram, houve muitas festas, como
magustos, desfiles de cores e folhas, colheitas, e muitas coisas boas.
Esta princesa já chegou à vossa cidade? Já a
viram deitada na relva? O que é que ela espalhou na vossa cidade?
FIM
Lálá
(10/Setembro/2016)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras