Era
uma vez milhares de grãozinhos de areia, muito finos, de muitas cores
diferentes, que foram apanhados na mesma praia, pintados com as mesmas tintas,
e viviam numa ampulheta que foi levada para um grande palácio onde viviam reis
com as suas princesinhas e príncipes.
Os
pequenos foram ensinados pelos pais a serem muito competitivos, e a lutarem
para serem os melhores que os outros. Esta ideia fixa dos reis deixava as
crianças muito nervosas e insuportáveis quando perdiam, quando se atrasavam,
quando alguém era melhor que eles.
Para
fazer os trabalhos de casa, e qualquer outra pequena tarefa, pegavam nas
ampulhetas, cada um tinha a sua, e corriam como selvagens, faziam tudo a correr,
tudo mal, caiam muitas vezes, gritavam…só para ver as ampulhetas a girar.
Os
grãozinhos andavam sempre a correr de um lado para o outro, centenas de vezes
durante o dia, e de noite até as crianças dormirem. Nos primeiros tempo em que
foram para o palacete ainda achavam engraçado e divertiam-se muito, mas estavam
a ficar cansadas e nervosas como as crianças.
Conversaram a combinaram que
passariam a andar mais devagar para ensinar as crianças a andarem também mais
devagar, e assim fizeram. No dia seguinte, logo de manhã começa a correria das
crianças, e pegam nas ampulhetas.
Os
grãozinhos de areias dão as mãos num grande círculo, cruzam-se uns com os
outros, e deixam-se cair para o outro lado da ampulheta muito devagar.
As
crianças ficam completamente loucas, irritam-se, gritam, abanam as ampulhetas,
e atiram com elas para o chão. As ampulhetas não partem. Todos se encolhem, e
as crianças exigem umas ampulhetas novas, porque acham que elas estão
estragadas…andaram muito devagar.
Os reis fizeram-lhes a vontade.
Levaram essas ampulhetas para o armazém do senhor caracol que recolhe coisas
estragadas, e deixam-nas lá. Na sua lentidão habitual, fica muito surpreso a
olhar para as ampulhetas.
- Mas onde é que isto está estragado? Não vejo
nada.
Experimenta virá-las e elas correm
normalmente.
- Porque é que eles me deixaram aqui isto?
Das areias sai uma borboleta, e atravessa o
vidro de uma ampulheta.
- Áh! Estavas aí? Como é que aguentavas aí
tanto peso? – Pergunta o caracol
A borboleta sorri:
- Fui enviada por elas, e trago a resposta à
tua pergunta.
- Por quem?
- Pelas areias das ampulhetas.
- Porque é que elas foram deixadas aqui? Não
vejo nada estragado.
- Pois, e não estão. Mas fizeram de propósito para
ver se ensinavam os pequenos apressados a andar mais devagar, e a não serem tão
insuportáveis…
- Mas isso era uma excelente ideia.
- Era. Combinaram passar para o outro lado
mais devagar, mas os pequenos não perceberam. Elas estavam cansadas de tanto
andar de um lado para o outro.
- Claro. Coitadas! Vou libertá-las daquele
vidro.
O
caracol abre as ampulhetas e os grãozinhos de areia saem felizes para um lago
sem água, arejado, e conversam alegremente com o caracol. Todos concordam que o
que os reis estavam a fazer com os pequenos era terrível, e mais cedo ou mais
tarde, eles iam parar e andar mais devagar.
Foi mesmo isso…uns dias depois
ficaram doentes, põe serem tão nervosos, a cabecinha começou a funcionar mal, e
tiveram mesmo de começar a andar muito mais devagar porque se andassem
depressa, ou se se enervassem, podia ser muito perigoso para a saúde deles. Até
deixaram de ligar às ampulhetas e aprenderam a ser mais calmos.
Só nessa altura é que se lembraram
da forma como as areias das ampulhetas estavam a andar devagar. A borboleta
entra no quarto dos pequenos e diz-lhes:
- Deviam ter aprendido com as areias das
ampulhetas. Elas estavam a andar devagar, para vos ensinar a fazer o mesmo, mas
vocês deitaram-nas fora. Elas estavam cansadas de andar tão rápido, e vocês
também já deviam estar.
A borboleta e as crianças têm uma
longa conversa, explica a importância de andar mais devagar, para apreciar as
coisas bonitas à nossa volta, para vermos e conhecermos muito bem o nosso
mundo, e toda a natureza, para termos mais saúde, e não ficarmos nervosos… e
realmente…as crianças perceberam que as areias tinham razão. Foi o que fizeram
desde esse dia em diante e melhoraram a sua saúde.
Que grande lição dos grãozinhos de
areia, não foi?
FIM
Lara Rocha
(13/Abril/2016)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras