Era uma vez uma gatinha ainda jovem
que se chamava ESTRELA. Saiu de casa bem cedo, e foi passear. Vivia sozinha num
tronco de uma árvore, na mesma floresta que os seus pais, uns troncos mais à
frente. Antes de sair, passou na casa dos pais e disse-lhes que ia estar todo o
dia fora, porque ia dar um passeio.
Seguiu pela floresta, a cantarolar, e na fonte amarela
estava uma amiga sua, outra gatinha, que se chamava MIZA e era uma excelente
cozinheira. Estava a encher uma garrafa de água. As duas cumprimentaram-se:
- Olá MIZA! Queres ajuda?
- Olá ESTRELA, não obrigada.
Estou a encher água para os meus cozinhados. Mas já tenho mais água lá.
- Áh! Está bem. Eu vou passear.
- Fazes muito bem. Aproveita
porque não falta muito para vir a chuva!
- A sério?
- Sim. Ouvi a Dona Mariana a
dizer.
- Bem, então se foi a Dona Mariana
a dizer, acredito!
- Pois.
- E quando é que ela se
queixou?
- Já ontem se queixou!
- Áh…então vem já amanhã.
- Sim, é o mais certo.
- Até logo, então!
- Até logo. Bom passeio.
- Obrigada.
A ESTRELA segue o seu passeio, e a
MIZA vai para o seu restaurante. A gata Mariana é uma gata velhinha que sente
nas suas patas as mudanças de tempo. Quando lhe doem, já todos ficam a saber
que vai haver chuva ou frio. E nunca falha, é mais certo do que um boletim meteorológico.
Nem de propósito, quando
a ESTRELA passa, estava a gata Mariana estava ao sol, com a cabeça coberta, a
gemer um pouco.
- Bom Dia, Dona Mariana.
- Bom Dia, filha. Estás boa?
- Sim, obrigada, e a Dona Mariana?
- Ai, eu estou cheia de dores
nas minhas patas. É por isso que estou a apanhar sol, porque faz-me muito bem.
- Alivia as dores?
- Sim, bastante. Mas prepara-te,
porque vem aí uma mudança daquelas que está capaz de nos levar pelos ares.
- Ui…vento?
- Vento, frio e chuva. E olha
que pela minha experiência de vida, que já é muita, será já amanhã.
- Que medo! Então vou mesmo
aproveitar hoje.
- Isso mesmo. E queres um
conselho? Não te afastes muito, porque vai piorar ainda hoje.
- Onde ouviu isso?
- Os meus ossos disseram-me.
- Áh! Realmente, já está mais
fresco…
- Está. Vai, filha, não percas
mais tempo.
- Não precisa de nada?
- Não, muito obrigada.
- Até logo, então.
- Até logo.
A gata Mariana fica a apanhar sol, e a gata ESTRELA segue
caminho, pensativa.
- Está um sol tão bom, que até
custa a acreditar que vai piorar.
Encontra três gatinhas: a DÁRA, a
CLARA e a LUA. Amigas desde a infância. Abraçam-se alegremente, e vão passear
as quatro juntas. Pelo caminho apanham flores, conversam, riem, brincam, e nem
se apercebem que está uma armadilha montada no chão. Tem um buraco não muito
fundo, tapado com folhas. Lá dentro está um lobo.
Elas caem ao buraco, a gritar, e gritam ainda mais quando
vêem o lobo. O lobo grita com elas, porque também se assustou. Elas pensaram
que o lobo lhes ia fazer mal. Mas estavam enganadas.
Depois do primeiro susto, o lobo pergunta:
- Estão bem? Magoaram-se?
Elas ficam muito surpresas com aquela pergunta.
- Vais-nos comer? – Pergunta a
gata Clara
- Óh não! – Dizem todas.
- Não! – Diz o lobo.
- É por isso que estás a
fazer-te de preocupado? – Pergunta a gata Dára
- Não! Calma…peço desculpa. –
Diz o lobo
- Ãh? – Exclamam todas
- Um lobo a pedir desculpa…? –
Pergunta a gata Lua
- Muito estranho! – Diz a gata Estrela
- Posso explicar, por favor? –
Pede o lobo
- Foste que fizeste esta
armadilha? – Pergunta a gata Dára
- Para nos caçares? –
Acrescenta a gata Lua
- Não! Não é uma armadilha,
muito menos para vos caçar. – Garante o lobo
- Não? – Perguntam todas
- Não. Eu é que tive de me
esconder aqui, de um maldito cão. – Disse o lobo
- O quê? – Perguntam todas
- Sim! Isso mesmo. Eu estava
muito sossegado, a dar o meu passeio, e esse cão, deve ter pensado que eu ia
comer as ovelhas, começou a correr atrás de mim, a ladrar, e a mostrar os
dentes…que medo! Comecei a correr, e vi este buraco aqui, que já é desviado do
campo, para me esconder daquele cão maluco. Pus as folhas por cima. Ia sair
daqui a bocado, mas fiquei cansado do medo. Eu ai ser comido! – Conta o lobo
- Ááááááhhhh…!
- Mas dizem que os lobos é que
comem outros animais. – Diz a Lua
- Sim, isso é fantasia dos
homens. Quer dizer…pode haver alguns da minha espécie, que com a fome, não
tendo mais nada atacam…mas a maior parte, agora, já não tem de fazer isso. Felizmente!
Eu…sempre tive que comer, nunca precisei de atacar…só para me defender. E mesmo
assim, antes de atacar, tento conversar. Quando vêem um lobo, acham logo que é
mau. Os lobos também têm medo de outros animais, principalmente daquele de duas
patas. – Explica o lobo
- Duas patas? – Perguntam as
gatinhas
- Sim…o homem! – Diz o lobo
- Áh! – Respondem em coro
- Então és um lobo bom. – Diz a
Lua
- Sim. – Garante o lobo
- Será que podemos confiar
nessa tua bondade? – Pergunta a Clara
- Podem. Não acreditem em tudo
o que vos dizem, principalmente sobre nós. – Garante o lobo
- Podes ajudar-nos a sair
daqui? – Pede a Estrela
- Claro que sim. Subam para as
minhas costas. – Diz o lobo
Elas sobem para as costas do lobo, e ele sai do buraco
com elas, num salto. Já em terra firme, fora do buraco, respiram todos de
alívio.
- Obrigada! – Sorriem as
gatinhas
- De nada…foi um gosto. – Diz o
lobo
- E agora, vais embora? –
Pergunta a Dára
- Sim. Vou para casa. – Diz o
lobo
- Queres fazer-nos companhia? –
Pergunta a Estrela
- Por onde vão? – Pergunta o
lobo
- Por aqui…sem nenhum sítio
específico. – Diz Estrela
- Está bem. Posso levar-vos a
sítios fantásticos que tenho a certeza que não conhecem. – Sugere o lobo
E o lobo acompanha as gatinhas, numa
conversa muito animada. Afinal este lobo é mesmo bom, simpático, e brincalhão. Elas
riem muito e brincam com ele. Ele leva-as a cantinhos da floresta que as
gatinhas nem faziam ideia que existiam.
Passam por cascatas entre rochas, campos muito verdes cheios
de cavalos a correr livremente, pequenas praias selvagens de areias brancas, e
águas muito limpas, cheias de pássaros raros, coloridos.
Provam algumas frutas que cheiram bem e sabem ainda melhor,
e elas nem sabiam que existiam, almoçam juntos num restaurante de sonho que o
lobo conhecia muito bem, e comem maravilhosamente.
De tarde, visitam umas grutas com candeeiros feitos de
estalactites brilhantes, e luzes de várias cores, lagos com cristais e pedras
preciosas, e uma feira com divertimentos para gatos.
Na feira, elas experimentam todos os brinquedos, e jogos,
felizes, riem, e fazem novas amizades com novos gatos e gatas. Trocam contactos
uns com os outros, e prometeram voltar a encontrar-se em breve, porque adoraram
conhecer-se e brincar juntos.
Quando saem, de repente,
olham para o céu, e reparam que está cheio de nuvens carregadas, escuras.
- Ááááááhhhh… - Exclamam todos
surpresos
- Olha que escuro que está! –
Repara o lobo
- Ainda de manhã estava sol… -
Diz a Lua
- Pois estava. Mas a Dona
Mariana bem tinha dito que ia haver uma mudança daquelas de nos levar pelo ar…
- Lembra a Estrela
- A sério? – Perguntam todas
- Sim.
- Acho melhor voltarmos para
casa…não? – Sugere o lobo
- Claro que sim.
- Óh…eu estava a gostar tanto
de estar aqui… - Diz Lua
- Eu também! – Acrescentam todas
E voltam para casa, com o lobo. Afinal
não se desviaram muito, só que nunca tinham andado por aqueles lados. Conversam
alegremente, e riem bastante.
Mas que sorte…quando elas iam quase
a chegar a casa, começam a cair as primeiras pingas. O lobo fica com o contacto
delas, para se encontrarem outra vez, e segue para a sua toca, e as gatinhas
para as suas casas.
Desata a chover
torrencialmente, com um forte vento. Felizmente estão todos recolhidos. A gata
estrela liga aos pais, para ficarem descansados que já está em casa, e que
passou um dia fantástico, conheceu novos amigos, e viu sítios mais que bonitos…prometeu
levá-los lá quando estivesse bom tempo.
Este foi o passeio da gatinha Estrela, das suas amigas, e
do lobo bom.
FIM
Lálá
(30/Janeiro/2015)