desenhada por Lara Rocha
Era uma vez uma
menina que pediu um desejo muito diferente às estrelas, porque o que todos os
outros meninos, e ela própria, já tinham pedido muitos desejos.
- Olá estrelas...eu
sei que estou sempre a pedir-vos desejos, e todos os outros meninos…às vezes
pedem ainda muito mais que eu! Hoje, peço-vos uma coisa diferente! Quero que me
mandem meia-lua para eu estar sempre com ela. Quero uma amiga feita de
meia-lua. É que eu peço à minha mãe para brincar comigo, e ao meu pai, estão
sempre na porcaria daquela máquina, cheia de botões, e esquecem-se que têm
filhos. Os manos não querem brincar comigo, têm os brinquedos deles…são
grandes, e muito estranhos…até penso que não ouvem nem falam…são mesmo tolinhos
estes grandes! E eu sinto-me sempre muito sozinha. Se soubesse que os meus pais
não me iam ligar nenhuma, eu tinha pedido à cegonha para me deixar lá naquele
sítio, sossegada! Grandes palermas! Não são vocês, estrelas, são eles…os
grandes que não querem saber de mim…! Perceberam? Obrigada.
As estrelas estão às gargalhadas lá
em cima. Nunca ouviram um pedido como este e tanta reclamação vinda de um ser
tão pequeno, como gente grande! A menina tinha razão.
Ela tinha muitos brinquedos, mas não tinha o que
mais queria…os pais estavam sempre muito ocupados, os irmãos mais velhos tinham
outros interesses, e a menina estava muito tempo sozinha.
As estrelas
percebiam isso, e comunicaram o desejo da menina à Lua grande. Ela desata às
gargalhadas:
- Ai, estas
crianças são de rir…! Ela quer o quê? – Pergunta a Grande Lua
- Coitadinha é
mesmo inocente… - Diz uma estrela
- Acha que o mundo
é mágico, e que tudo acontece só com o querer, e a vontade…só porque deseja, e
pede às estrelas, já acha que vai ter. – Acrescenta outra estrela
- Era bom que assim
fosse! – Suspira outra estrela
- Pois era! – Diz a
Lua
- Onde vamos
arranjar isso? Nunca outra tinha ouvido. Acham que é possível? – Pergunta a Lua
- Sim! – Dizem as
estrelas em coro
- São tão inocentes
como elas! – Diz a Lua a rir
- Para nós não há
impossível, quando se trata de desejos de crianças. – Diz outra estrela
As estrelas fazem uma pequenina
magia, e criam um pedaço de meia-lua, feito de esponja, com um belo cabelo
escuro, liso, comprido, brilhante, olhos azuis, nariz, boca, orelhas, braços,
mãos, pernas, pés e umas lindas meias calças, às riscas, todas coloridas.
- Áh! Que linda
obra! – Diz a Lua a sorrir
- Eu disse que para
nós, não havia coisas impossíveis quando se trata de crianças! – Reforça a
estrela
- Tens toda a
razão! Muito bem! – Diz a Lua
As estrelas agradecem e enviam a
meia-lua para o quarto da menina. A menina primeiro assusta-se, encolhe-se, mas
reconhece a Lua.
- Áh! És a meia-lua
que pedi às estrelas?
- Boa noite…sim,
isso mesmo! Foste tu que me pediste?
- Fui. Vou mostrar-te
a minha casa toda!
A menina dá a mão à meia-lua, e
mostra-lhe a casa toda, os pais, os irmãos, os animais. As duas têm longas
conversas, dão belos passeios, partilham segredos, brincam juntas, cantam e
dançam, riem, e tornam-se grandes amigas.
O cãozinho dela é que não acha piada
nenhuma, ter de dividir a atenção e o carinho da dona, com outro ser…que ele
nem sabia muito bem quem era, nem o que estava lá a fazer. Ficou muito
ciumento.
Um dia, o cão perseguiu a meia-lua,
ladrou-lhe, rosnou-lhe, correu atrás dela, saltou-lhe, tentou mordê-la mas não
conseguiu atacá-la, ela fugiu a tempo muito assustada.
Quando estava a salvo outra vez no
espaço, a meia-lua muito triste, envia as suas meias calças às riscas, todas
coloridas para a menina com um bilhetinho a dizer: «quando quiseres que vá ter
contigo, ou brincar contigo, calça estas meias, e prende o malvado do teu cão».
A menina chega ao quarto e não vê a
sua amiga meia-lua. O cão estava comprometido. A menina chama:
- Meia-lua…meia-lua…onde
estás? Foste dar uma volta?
Ela olha para o cão, e este está a
tremer, encolhido e a ganir.
- Tu sabes de
alguma coisa…!
Olha para cima da sua cama, e vê as
meias da meia-lua.
- Estão aqui as
meias da meia-lua, e a meia-lua, onde está?
Ela lê o bilhete que está escrito
com estrelas brilhantes. Fica muito zangada, e começa aos gritos com o cão, a
ralhar, pois está-lhe com muita raiva, de ter assustado a sua amiga. O cão fica
envergonhado, encolhe-se e gane.
- Cão palerma! –
Grita a menina – Vou chamá-la e vais pedir-lhe desculpa, ouviste? Ou ponho-te
fora de casa.
O cão fica triste e encolhido. A menina
calça as meias calças coloridas da meia-lua, e a meia-lua aparece. Ela grita
nervosa e assustada:
- Outra vez, este? Tira-mo
da frente, se não vou ficar muito zangada contigo e não venho mais brincar
contigo. Foi ele que me tirou daqui. Quase de desfazia toda…não faltava muito
para eu ficar em pedaços. – Diz a meia-lua assustada
- Tens toda a
razão, meia-lua. Desculpa! Este palerma já teve o castigo, e já ouviu um
ralhete. Quer dizer-te uma coisa.
O cão pede desculpa e lambe a
menina.
- Não é a mim que
tens de me dar beijos. Estou muito zangada contigo! – Acrescenta a menina
- Ele não fez por
mal…deve ter ficado com ciúmes. Até o percebo. – Diz a meia-lua.
O cão ladra, abana o rabo,
enrosca-se à volta da meia-lua, e á volta da menina. A menina faz festas ao
cão.
- Podes fazer-lhe
festas…ele é meigo! – Garante a menina
A meia-lua faz festas ao cão, ri-se,
e ele brinca com as duas. Desse dia em diante, a menina e a meia-lua não
voltaram a separar-se, e muitas vezes a menina até vestia as lindas
meias-calças da meia-lua. A menina levava a meia-lua para todo o lado, e as
duas divertiam-se muito…ela nunca mais se sentiu sozinha.
E vocês? Gostavam de ter uma amiga
feita de meia-lua? E umas meias tão bonitas como as da meia-lua?
FIM
Lálá
(16/Dezembro/2014)