Era uma vez um lindo girassol que vivia num campo abandonado. Ninguém sabia como é que aqueles girassóis tinham aparecido lá, e sobreviviam. Talvez só sobrevivessem porque havia sol, e porque estavam na companhia uns dos outros…ou então…por magia.
Um dia, um girassol pediu um desejo às estrelas: ele
queria transformar-se numa princesa, e passear até deixar de haver sol. Ele queria
sentir a temperatura e de que era feito o chão por onde andavam muitas pessoas.
Queria
saber se as pessoas sentiam o mesmo calor do sol, no corpo, como ele e a sua família
sentiam nas suas pétalas, e se elas ouviam da mesma maneira o canto dos
pássaros, como eles, se sentiam o vento da mesma maneira que eles, e a chuva…
As
estrelas fizeram-lhe a vontade, e transformaram o girassol, numa menina, linda,
elegante, com o corpo humano completo, e uns maravilhosos cabelos da cor dos
girassóis. A sua roupa também era da cor deles.
O
girassol que era agora uma menina saiu silenciosamente da terra onde estava. Quando
sentiu a terra parou, ajoelhou-se, tocou nela, mexeu-lhe e cheirou-a. Nunca lhe
tinha acontecido tal coisa.
Ficou
tão feliz que para experimentar as pernas, começou a tentar andar. Viu que se
conseguia mexer, e saltitou, depois correu pelo campo. Sentiu o coração a bater
forte, e sorriu, mesmo sem saber o que era. Ela sentia-se tão bem, tão livre, e
tão feliz que não parou mais.
Pousou
os pés no caminho de pedra, e sentiu frio. Estremeceu, e pôs outra vez os pés
na terra para perceber a diferença. A terra era muito macia, e estava fria, a
pedra do passeio estava fria, mas era áspera. Como não magoava os pés,
continuou.
Sentiu
um cheiro muito agradável no ar, que vinham das flores… cumprimentou e tocou em
todas as flores por onde passava, e ficou deliciada com a sua maciez e delicadeza.
Tocou
no tronco das árvores e sentiu que eram ásperos, cheios de altos e baixos,
abraçou alguns troncos fininhos, os mais largos, ela não conseguiu.
Parou,
e sentiu o vento. Uau. Percebeu que não conseguia voar como as flores, e que os
humanos não sentiam o vento da mesma maneira que elas. Mesmo assim gostou
muito, principalmente, porque os seus cabelos voavam leves, e riu muito com as cócegas
do vento.
Entrou
na cidade. Pisou um chão diferente…era de pedra, mas um pouco escorregadio. O vento
era muito mais forte, e as pessoas andavam todas encasacadas. Aqui, não conseguiu
ouvir o vento, só ouvia buzinas, barulhos de carros irritantes, música aos
gritos, muitas luzes…ela ficou tonta.
Felizmente, desorientou-se para fugir daquele sítio
rapidamente, e foi ter à praia da cidade. Que diferença! Deitou-se na areia
para descansar e respirar.
-
Áh! Que diferença! – Suspira a menina – Que loucura, aquele sítio por onde
passei…como é possível? É muito diferente do sítio onde estou a viver, e do
sítio onde estou agora.
Ela passa as mãos na areia fofa.
-
Está tão escuro…não sei o que é isto, mas não me parece terra.
Uma luz vira-se para ela.
-
Boa noite! Uma menina por aqui, a esta hora? – Soa uma voz com corpo.
Ela fica muito assustada.
-
Onde estou?
-
Na praia!
-
De onde vim?
-
Não sabes?
-
Não.
-
Estás perdida?
-
Estou.
-
Quem te mandou sair de onde estavas?
-
Vim ver como era a vida fora do sítio onde vivo.
-
Áh! E então?
-
Sim, é mesmo muito diferente.
-
Imagino.
-
Sou um girassol transformado numa menina.
-
A sério?
-
Sim.
-
Como foi isso?
-
Eu pedi às estrelas para me transformar numa menina, porque queria ver como
eram as coisas.
-
Áh! Estou a perceber.
-
Assustei-me com aquela confusão toda. Fugi e vim ter aqui.
-
Deves ter vindo da cidade.
-
Sim…deve ser isso. E tu, quem és?
-
Sou o farol.
-
Vives aqui?
-
Vivo.
-
Isto não é terra, pois não?
-
Não. É areia.
-
Areia…! E este barulho que se ouve?
-
É o mar.
-
O mar?
-
Sim.
-
Nunca vi o mar, nem ouvi falar dele.
Os dois têm uma longa e divertida conversa. O farol fala
da cidade à menina, e a menina fala do campo ao farol. Realmente, as diferenças
entre um sítio e o outro, nunca mais acabam! O farol fica com muita curiosidade
em conhecer o sítio onde vive o girassol. Não sentiu tudo, nem descobriu tudo o
que queria da cidade, mas porque não se proporcionou. Não estava a chover, e
queria ter visto, sentido outras coisas, mas não foi possível, por um lado, ele
teve muito medo da cidade, e quis fugir o quanto antes.
No dia seguinte, com os primeiros
raios de sol, o girassol adormece na praia, enquanto o sol não lhe dá. Já não é
uma menina, agora, é outra vez uma flor girassol. O vento vai à praia buscar o
girassol, por ordem das estrelas. Levanta-o carinhosamente, e devagar, e leva o
girassol baixinho até ao seu campo. Quando chega ao campo, uma fada volta a pôr
o pé do girassol na terra, e este acorda quando os primeiros raios de sol lhe
batem nas pétalas.
-
Áh! Que sonho tão engraçado que tive esta noite!
-
Conta! – Dizem todos os outros girassóis
E o girassol conta todo o passeio
aos seus familiares, achando que foi um sonho que teve.
-
Mesmo assim, eu prefiro viver aqui! – Diz o girassol sorridente
-
Eu também. – Dizem todos
E tudo volta a ser como era antes.
FIM
Lálá
(20/Dezembro/2014)
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