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terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Tudo fechado

    Era uma vez uma aldeia numa montanha muito alta, congelada, cheia de neve, onde se sentia um vento cortante, e os dias pareciam ainda mais pequenos do que são, no Inverno. 

     As pessoas que lá viviam eram tão frias umas com as outras que pareciam não saber sorrir, não viam nada de bonito, mas as estrelas quiseram fazer uma surpresa para ver se essas pessoas saiam daquele gelo. 

  Num dia de sol, quando todos estavam no seu trabalho e em casa, começaram a atirar garrafas de água com arco-íris a girar, rodopiar, fazer redemoinhos. 

    Deixaram uma garrafa à porta de cada um, e espalhadas pelo chão. Outras garrafas tinham plantas com gotinhas de água que brilhavam como diamantes ao sol. 

    Em algumas garrafas havia flores pequeninas, muito mimosas, de muitas cores. Numas garrafas estavam pequeninas luzes, de muitas cores a piscar, noutras lindas borboletas gigantes, de tamanhos variados e cores. 

   Noutras garrafas estavam guardadas palavras bonitas, noutras estrelas, noutras, raios de luz de todas as cores, e noutra, brilhantes. Todas teriam de ser abertas, e tudo o que estava em cada uma delas, queria sair. 

    Quando regressou o primeiro habitante viu as garrafas espalhadas,  muito surpreso, começou a ver o que tinha em cada uma delas. Ficou maravilhado, nunca tinha visto tanta coisa nova e bonita. 

- Quem pôs isto aqui? Que coisas tão bonitas…! - diz com um sorriso aberto 

    Ainda ficou mais surpreso, quando viu na sua porta uma garrafa, com um bilhete: «Abre a garrafa, ou as garrafas, que tocarem mais o teu coração, e que te tenham feito sorrir». 

- Mas… 

    Volta a olhar para todas as garrafas, e a que tinha as florinhas pequeninas mimosinhas, foi a que tocou o coração dele, e fez abrir um sorriso luminoso. 

  Abriu a garrafa e as florinhas saltam felizes da garrafa para o chão, dançam e dão risadinhas. 

- Obrigada! - dizem todos 

   O Sr. ri à gargalhada, deliciado ao ver flores tão pequeninas a dançar, a cantar de forma tão diferente da dele, mas tão encantadora. Chega outro e pergunta o que o amigo estava a ver e a rir à gargalhada. 

   Ele responde que encontrou todas aquelas garrafas no chão, cheias de coisas tão bonitas, que o fizeram sorrir, e tinha um bilhete à sua porta, a dizer para abrir aquela, ou aquelas garrafa (s), que tocasse (m) o seu coração, e o tivessem feito sorrir. 

    O amigo riu, e ficou a apreciar juntamente com ele, as florinhas a dançar, a ouvir as risadinhas que depois se separaram e foram parara em vários sítios, espalhadas pela neve. 

    Esse amigo, também tinha o mesmo bilhete à porta da sua casa, tal como todos os outros que foram chegando. Cada um abriu uma garrafa diferente, os outros dois ainda estavam com um sorriso aberto, e maravilhados. 

    Uma senhora abriu a garrafa das plantas com as gotinhas de chuva que brilhavam como diamantes. Mal saíram da garrafa começaram a cantar em forma de agradecimento, umas vozes fininhas, que parecia o som do vento, a passar pelos pinheiros. A Sra. riu à gargalhada. 

- Obrigada. - disseram elas no fim, e espalharam-se pelo espaço 

    Outra senhora, viu o bilhete e o que mais tocou o seu coração, foi a garrafa de água com arco-íris a girar, rodopiar, e fazer redemoinho. 

- Ááááhhh…que coisa tão bonita! - diz a senhora com um sorriso de orelha a orelha. 

    Quando abre essa garrafa, os arco-íris espalham-se pelo ar, em forma de grandes e leves bolas de sabão, onde se veem todas as suas lindas cores. Todos suspiram de espanto e de encanto, seguindo as bolas de sabão com os olhos e com sorrisos abertos. 

   Os habitantes ficam deliciados com o que veem. Outro casal abriu a garrafa das borboletas gigantes de todas as cores. Todos pareciam hipnotizados com tantas, e tão bonitas, tão grandes a esvoaçar levemente à sua frente. 

    Algumas borboletas pousaram nos cabelos, outras nas bochechas, outras nas mãos, como se estivessem a fazer carinho. Abriram sorrisos como nunca antes visto, e soltaram gargalhadas, palmas, exclamações de encanto. 

    As borboletas ficam por ali, escolhem lugares diferentes para se instalar. Outro casal com  filhos, abriu a garrafa das estrelas, que sopraram e espalharam-se por todo o lado, deixando tudo brilhante e luminoso, todos aplaudem. 

    O outro casal com filhos, abre a garrafa dos raios de luz, de todas as cores, que se tornam enormes, e iluminam todo o espaço, como holofotes que giravam, mudavam de direções, escondiam-se nas nuvens e voltavam a aparecer, todos riram com vontade. 

  Os habitantes nem querem acreditar, nunca tinham visto tanta coisa bonita. A garrafa das palavras bonitas, quase era esquecida, foi ignorada, mas um pequeno cãozinho deu sinal: ladrou sem parar à beira da garrafa, depois de a cheirar. 

  Ficaram todos preocupados, com aquele nervosismo do cão. Quando se aproximaram, perceberam que estava lá uma garrafa e dizia: «palavras bonitas», abram por favor e leiam-nas uns aos outros. 

    Como não estavam habituados a dizer e a usar palavras bonitas, sentiram medo, e ficaram quase congelados sem mexer na garrafa, a olhar uns para os outros. 

  Juntam-se vários cães, dos habitantes, cheiram a garrafa, ladram em coro, sem parar, lambem a garrafa, põem as patas em cima, e tentam abrir. 

- Os cães gostaram dela! 

- Se calhar podemos abrir, e ver o que há. 

- É. Deve ser isso que os cães estão a dizer. 

    Os cães ladram como que a confirmar que é seguro abrir. 

- Quem abre primeiro? - pergunta uma senhora

- Posso abrir eu! - diz outra 

    Ficam todos na expectativa, a ver o que sairia da garrafa. O que estaria escrito? Além de palavras bonitas, dizia: Leiam com o coração, sinceridade, e um sorriso na cara. 

- Que coisa estranha! Vamos tentar. 

    Cada um tira um papel com uma palavra bonita, lê em voz alta, com um sorriso, uns deixam escapar umas lagriminhas de alegria, ternura e gratidão, outros distribuem abraços que se tornam longos, outros elogiam, outros dão as mãos, outros procuram pequeninos mimos e oferecem.

    Outros fazem mimos aos animais. No final combinam uma festa à noite, ao ar livre, onde viram as estrelas, como nunca antes tinham visto, as luzinhas pequeninas por todo o lado, os raios de luz que pareciam auroras boreais a dançar, os arco-íris em forma de milhares de bolas de sabão, que se juntaram à festa, esvoaçando por todo o lado. 

    Gostaram tanto das palavras bonitas, que leram, e transformaram num jogo coletivo, onde baralhavam as palavras na garrafa e cada um tirava uma diferente, e as estrelas enviavam todos os dias, palavras bonitas diferentes, e os próprios procuraram. 

    Aprenderam a sorrir com o coração, a elogiar com sinceridade e a abraçar com muito carinho, a conversar muito mais uns com os outros e a ajudar. Aprenderam a apreciar em conjunto e sozinhos as maravilhas da Natureza, que os fazia conversar uns com os outros sobre isso, iam investigar quando não conheciam o que viam, e adoravam ver as lindas borboletas. 

  À noite, juntavam-se para tomar chá, apreciar as estrelas, a lua, e conviver. Tornaram-se uma grande família, onde havia muita amizade, brincadeiras, festas, respeito, felicidade e apesar do gelo da noite, do frio do vento, havia sol, no céu, calor humano, nos abraços, nos elogios, nos sorrisos abertos, nas mãos dadas, nos carinhos que davam aos animais, e uns aos outros, no amor à Natureza, na beleza que aprenderam a ver em tudo o que até aí parecia não existir. 

   As estrelas não podiam estar mais orgulhosas! 

E vocês? Que palavras bonitas acham que estavam na garrafa que dizia «palavras bonitas»? 

Qual ou quais a (as) garrafa (s) que podem vocês escolheriam? 

Porquê? 

Podem deixar as vossas respostas nos comentários, se quiserem. 

                                                                               Fim 

                                                                        Lara Rocha 

                                                                         31/12/2024   


domingo, 15 de dezembro de 2024

Os espirros misteriosos

      Era uma vez um parque no deserto, só com areia ardente, de cor barrenta, o chão cor de laranja, em alguns pontos, a areia parecia Terra, e algumas rochas, dunas. Com tanto calor, onde quase não se respirava, não havia sinais de vida. 

      Mas um dia, algo misterioso aconteceu! A areia espirrou, ecoando por todo o terreno, todo o chão tremeu, e levantou, formando redemoinhos gigantes. As aldeias vizinhas, onde viviam pessoas, sentiram, ficaram muito assustadas a pensar que seria um tremor de terra. Saíram das suas casas, vieram para a rua, e conversaram umas com as outras; todas tinham sentido. 

    Com muito medo, esperaram para ver se acontecia outro. E aconteceu. Mas desta vez foi um som diferente. Um redemoinho, que se tinha levantado com o espirro da areia, ficou sem força, com aquele calor deitou-se, outro redemoinho foi ter com ele, ajudou-o a levantar-se, deu-lhe a mão, o outro voltou a ganhar força. 

    Os dois espirraram estrondosamente, parecia um trovão. Desapareceram rapidamente, e no seu lugar a terra começou a ganhar relva, numa grande extensão. 

    Outros redemoinhos de areia, espirraram em cima dessa relva, apareceram pezinhos de futuras flores e foram largadas sementes ainda por abrir. 

    Formaram-se ventos muito fortes, ciclónicos, que rodaram, rodaram, rodaram, o céu ficou escuro, parecia quase noite, cheio de nuvens. 

    Uns ventos espirraram, e com os espirros formaram-se árvores enormes no espaço onde havia relva e flores, mas também noutros espaços, que faziam sombra. 

    E para que as flores nascessem, outros ventos ciclónicos espirraram. Dos seus espirros surgiu uma chuva torrencial, que regou toda aquela terra deserta e seca. 

    Mas aquele espaço não podia ficar só assim. Então, da água que ficou acumulada na areia, pela chuva torrencial, a areia à volta espirrou outra vez, e formou-se um lago maravilhoso, grande, com margens de rochas, que espirraram e brotam água das suas fendas , para cair no lago, a formar pequeninas cascatinhas. 

    O lago ia ficar só com água? Não! A água queria companhia, então, deu vários espirros! De uns espirros saíram dezenas de peixes de todas as cores, tamanhos, espécies, formas. 

    Os peixes espirram, e aparecem lindos patos, cisnes, gansos, e pedras no fundo do lago. Outro tornado, quando espirra, traz consigo aves de todo o tipo: gaivotas, papagaios, araras, falcões, melros, pardais do deserto, toutinegras do deserto, verdilhões do deserto, corvos, flamingos. 

    Hipopótamos com um lago só para eles, crocodilos noutro lago só para eles. Outro tufão de areia, espirra e espalha animais que vivem na terra, como camelos, cavalos, coelhos, ouriços cacheiros, gatos, cães, ovelhas, burros, galos, galinhas, pintainhos, joaninhas, borboletas, vacas, bois, veados, lobos, raposas, linces, leopardos, panteras, chitas, macacos, elefantes, javalis, e muitos outros. 

    Além dos animais, cada um tinha a sua toca, e num cantinho do deserto, com outro espirro da areia, havia um lago gelado, com gelo à volta, que começava dentro de uma gruta, para pinguins, focas, ursos, leões marinhos. 

    Este lago gelado deu um valente espirro, e formou-se um lago só para golfinhos. Mas ainda sobrava espaço com areia, e na realidade havia pouca água, pouca vegetação. 

    Para resolver essa falta, ouvem-se mais espirros estrondosos, que fazem  tremer o chão, e levantar areia. Desses espirros e com essa areia pelo ar, nasce uma pequena ilha paradisíaca feita de areias brancas, pinheiros, árvores tropicais, palmeiras, e de diferentes espécies, com um pedaço de praia e um pedaço de mar calmo, quente, transparente. 

    Que coisa tão bonita! As pessoas que viviam nas ilhas e praias vizinhas nunca imaginaram o que tinha acontecido naquele espaço inabitável, onde quase não se respirava. 

    Ficaram muito intrigados, e alguém, decidiu passar próximo daquele sítio, pensou que ia transpirar, mas para sua surpresa, vinha das redondezas, um ar muito mais fresco, com cheiro a maresia, a mentol e eucalipto. 

    Ouvia o som do mar, e dos animais. Foi ver...quando chegou, o lugar não era o mesmo que conhecera desde sempre! O que teria acontecido? Como é que tinha acontecido aquela mudança, quem tinha feito aquilo? 

    Estava boquiaberto, chamou os outros, aos gritos, para perceber se estaria a ver bem, ou se estava a imaginar com o calor...Todos viram o mesmo que ele, todos ficaram muito surpresos, a perguntar-se o que tinha acontecido, quem tinha feito aquela maravilha! 

    Gostaram tanto do espaço e do que viram, que aquele sítio passou a ser um refúgio para relaxar, ver as flores, cada qual a mais bonita, cuidar delas, ver os animais, dar-lhes carinho e alimentá-los, meditar, ler, passear, ir para a praia, refrescar-se, e apreciar toda aquela beleza! 

    O mistério de toda aquela transformação continuou por desvendar, mas estavam muito felizes. 

                                                    Fim 

                                               Lara Rocha 

                                           15/Dezembro/2024