Era uma vez um jardim com bancos, solitários, tristes que viviam num silêncio também ele triste e solitário. Um dia conversam uns com os outros, cansados dos silêncio:
- Desculpem... - tosse um banco
- O que fizeste para pedir desculpa?
- Nada!
- Então não tens que pedir desculpa.
- Tenho, porque fui interromper o vosso silêncio!
- O nosso silêncio é o mesmo que o teu silêncio, estamos no mesmo sítio! - comenta outro banco
Todos riem
- Essa está bem vista! - ri outro banco
- Estou farto deste silêncio! - suspira outro banco
- Eu também. - dizem todos
- É um silêncio tão assustador, às vezes! - suspira um banco
- Assustador? - perguntam todos
- Sim, este silêncio todo faz-me pensar em...coisas...más!
- Áh! Sim, a mim faz-me pensar em coisas tristes! - comenta outro banco
- Antes este parque era uma festa! - acrescenta outro banco
- Tens toda a razão! - dizem todos
- Pois era. - dizem outros bancos
- Como eu era feliz! - suspira um banco
- Eu também. - dizem todos
- Nós éramos tão visitados, sentavam-se, pedia-se em namoro, dava-se a mãozinha, metia-se anéis nos dedos, cantava-se, juntamente com beijinhos e risinhos!
- Era tão bonito!
- Porque será que isso deixou de acontecer? - pergunta outro banco
- Não sei! - Dizem todos
- Parece que andam todos fugidos.
- É verdade.
- Até gatos se esbarrigavam em cima de nós...
- Artistas pitavam-nos, e sentam-se horas a apreciar a paisagem. Tenho saudades deles.
- E do riso das crianças, das mamãs que lhes cantavam e que os embalavam.
- Era tão bonito de ver.
- Agora não passa ninguém! Nem gaivotas!
- Esperem...estou a ouvir alguma coisa... - repara um banco que ouve passos
Passa um senhor com alguma idade, para e olha para os bancos. Senta-se num dos bancos, que abrem um sorriso de orelha a orelha.
- Finalmente alguém! - grita um banco feliz
- Desculpe, senhor...quem é? - pergunta o banco onde o senhor está sentado
- Sou um velho solitário.
- Óh! - dizem todos
- Nós também somos solitários. - comenta um banco
- O que espera daqui? - pergunta outro banco
- Espero...alguém! - responde o senhor
- Desculpe, não sei se vai encontrar alguém aqui! - diz outro banco
- Vou sim...nem que seja...um gato. - diz o senhor
E aparece um gatinho vadio. Os bancos ficam arrepiados e em silêncio. O senhor, chama o gato, carinhosamente, pega nele ao colo, faz mimos, o gatinho mia, lambe-o.
- Conhece esse gato? - pergunta outro banco
- Conheci agora! Mas vou levá-lo comigo se ele quiser vir. - responde o senhor
Levanta-se com o gato, a fazer festas e a conversar com ele, e sai do parque.
- Viram isto? - pergunta um banco assustado
- O senhor deve ter poderes! - comenta outro banco
- Ou então estava mesmo à procura do gato!
- Mas ele diz que só o conheceu aqui.
- Pois.
- E lá voltamos nós ao silêncio.
Ouvem-se novamente passos.
- Vem aí outra vez, querem ver? Se calhar vem buscar outro gato.
- Não. Não é o mesmo.
- Este deve vir buscar uma namorada.
Todos riem. O rapaz senta-se noutro banco.
- Rapaz, o que fazes aqui neste parque tão silencioso? - pergunta um banco
- Vens buscar uma menina?
- Lamento, mas acho que aqui não vaias conseguir.
- Vim...buscar o sol, para reforçar a minha luz interior. - responde o rapaz
- Mas que língua é que ele fala? - pergunta um banco
Todos riem
- Como vais fazer isso, amigo?
- Apenas...olhar para o...horizonte...deixar que os meus olhos absorvam aquelas cores maravilhosas do sol, na água! Áh! Que coisa tão bonita. - diz o rapaz a sorrir
- Mas, ele está com algum problema, não? - pergunta outro banco
- Não, sou poeta. - responde o rapaz
- Áh! - suspiram todos surpresos
- Então isso consegues.
Aproxima-se uma menina, e senta-se noutro banco. Fecha os olhos.
- Éh lá...- diz um banco entusiasmado
- Vamos voltar ao antigamente? - comenta outro a rir
Os dois olham-se, sorriem.
- Olá! - diz ele
- Olá! - responde ela
Os bancos ficam com risinhos nervosos
- Posso perguntar-te o que fazes aqui? - diz ele
- Vim sentir o vento, deixar que ele leve os meus maus pensamentos, e deixar que esta luz do sol, estas cores me renovem! - diz ela
- Áh...não posso crer... eu vim atrás do sol, das cores. És poetiza?
- Também. E tu?
- Sou!
Os bancos sorriem, os jovens aproximam-se, e o rapaz declama uma poesia inspirada pelo momento. A rapariga sorri, ouve encantada, aplaude, e responde com outra poesia. Os bancos assobiam e aplaudem, encantados, com umas lagriminhas e sorrisos. Os dois levantam-se e vão conversar para outro sítio.
- Ai, como eu gostei do que ouvi! - suspira um banco a sorrir
- Eu também. - respondem todos
- Acho que acabei de ver nascer uma linda amizade, ou.., algo mais! - dizem os bancos a sorrir
- Quem sabe! - dizem todos
- Mas tinham muito jeito.
Chega uma jovem muito chorosa, triste, senta-se num banco, e os bancos ficam com pena dela.
- Então, menina, porque choras tanto?
- O meu namorado acabou comigo.
- Óh! - dizem todos
- Deixa lá, é porque vem aí algum melhor.
- O que vens aqui fazer?
- Vim secar as minhas lágrimas, curar a minha dor.
- Desculpa, acho que não vai ser possível.
- Sim, vou abraçar uma árvore!
Todos sorriem, e a jovem fica abraçada a uma árvore como se fosse uma pessoa, a chorar.
- Coitadinha! Estou com pena dela. - diz um banco
- Aquilo deve passar.
- Claro.
- Está a ficar movimentado.
- Quem vem lá?
- Um casal de Avós...
- Será que se vão sentar aqui?
E sentam-se, abraçados, a conversar alegremente, a ver a paisagem e a relembrar tempos em que eram mais novos, naquele parque, com muita gargalhada pelo meio.
- Foi aqui que me pediste em casamento! - diz ela
- Pois foi! - diz ele
- Acho que me lembro deles...estão fisicamente um bocadinho diferentes, mas dá para ver que o amor ainda está lá. - diz o banco que assistiu na altura.
- Estes vieram atrás das memórias felizes! Que bonitos que estão! - comenta o banco a sorrir
O casal foi embora, a menina também. E o parque voltou a ficar silencioso e triste. Ao fim de alguns dias, num dia cinzento, ventoso e chuvoso, o parque é invadido por muitos jovens vestidos de maneiras diferentes, com música alta, bebidas, a cantar, e instalam-se no parque. Ligam a música alta, começam a dançar, a rir, a cantar, a bater palmas, a beber, e começa uma chuva torrencial. Os bancos deixam-se contagiar pela alegria deles.
- O que vieram à procura no parque? - pergunta um banco
- Da chuva! - diz uma
- Do vento! - diz outro
- Da trovoada! - diz outra
- Da liberdade! - diz outro
- De nós! - diz outra
- Da amizade! - dizem todos
- Da natureza! - diz uma
- Da música! - diz outra
- Viemos fazer-vos companhia. - dizem todos
- Achamos que estão muito isolados, solitários.
- Podemos ficar?
- Claro que sim!
- Trouxemos tendas impermeáveis, cobertores, almofadões...
Os bancos dançam com eles, riem com eles, noite dentro, mesmo com uma sonora e valente tempestade, muita música, alegria, brincadeira, e de manhã, os jovens vão dormir nas tendas, os bancos fazem um círculo, juntam-se, para que as tendas fiquem protegidas, e eles fiquem todos juntos, cada um na sua tenda, dormem até tarde.
Aqueles bancos nunca mais voltaram a sentir solidão, nem tristeza. Cada pessoa que lá ia, procurava o que mais gostava, o que mais precisava ou preenchia, mas os bancos eram sempre amigos e acolhedores.
Os bancos daquele parque voltaram a assistir a pedidos de namoro, e de casamento, a poetas que procuravam inspiração, a pintores que aproveitavam as imagens e passavam várias horas a pintar, a desenhar, a fotógrafos, e até cantores, dançarinos, artistas de circo e casais a passear os filhotes.
Rapidamente encheram-se de companhias diferentes com quem falavam e também eram ótimas companhias.
FIM
Lara Rocha
19/Outubro/2021
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