Pintado por Lara Rocha no livro de terapia para adultos
Era uma vez um dia muito cinzento, com nuvens pesadas, escuras, e pingas sempre a cair. Estava prometida uma tempestade.
A Nicas, estava deitada com uma carantonha que chegava quase à porta do quarto, de tanta tristeza, porque já chovia há vários dias, e ela tinha-se zangado com a sua melhor amiga por causa de um motivo sem importância, apenas birra e casmurrice das duas.
Andava sonolenta, e cinzenta como o tempo. Estava ainda enrolada nas toneladas de roupa da sua cama, quando de repente ouviu qualquer coisa a bater na janela.
- O que é isto? Não deve ser nada de especial.
Outra vez.
- Outra vez? Parecem pedrinhas? Mas não está a saraivar. Será alguém a atirar pedrinhas para ver se eu abro? Mas não vou abrir. Nem vou ver quem é. Não me apetece ver gente, nem sair da cama.
Mais batidinhas.
- Que coisa chata!
Levanta-se toda nervosa, pronta a gritar, espernear ou o que fosse preciso para despejar toda a sua raiva. Começa a abrir um bocadinho a persiana do quarto, e quando ia começar a disparar palavras agressivas, viu um passarinho a dar bicadinhas no vidro, ficou sem palavras.
Era tão bonito, ela nunca o tinha vista. As penas tinham uma variedade de cores que nem era possível contar, cada qual a mais bonita. O passarinho parecia que estava a falar com ela.
Ao ver aquele ser que parecia frágil, passou-lhe logo o mau humor, abriu a janela, o passarinho tremia como uma vara verde, estava cheio de frio, com medo e encharcado, piava muito baixinho, quase não se ouvia. Sentiu pena dele, tocou-lhe a medo, mas o passarinho caiu de barriga para cima.
- Óh, coitadinho...deve estar doente.
Pega nele, delicadamente, o coraçãozinho dele saltita, parece estar com falta de ar. Ela enrola-o numa toalha, dá-lhe um bocadinho de água, liga para um veterinário, e leva-o. O veterinário seca-o, limpa-o, examina-o, dá-lhe uns medicamentos, e diz à Nicas o que tem de fazer, se quiser ficar com o passarinho.
A Nicas, segui e cumpriu tudo o que o veterinário indicou. O passarinho foi melhorando, a Nicas alimentava-o, dava-lhe de beber, fazia-lhe mimos, falava com ele, agasalhava-o, e ao fim de alguns dias, o passarinho estava novo.
Nicas deliciava-se com as cores das suas penas, ele cresceu e as penas ainda ficaram mais vistosas.
Arranjou-lhe uma gaiola no seu quarto, confortável, sem portas, larga, arejada, com uma cama confortável, cobertores, almofadas de bonecos, e cobria-o carinhosamente, fazendo-lhe mimos, dando-lhe beijinhos, pondo-o a ouvir a mesma música que ela ouvia, e a luzinha de presença não podia faltar.
O passarinha estava eternamente grato à sua amiga, e para a compensar, numa manhã, quando o sol entrou pela persiana do quarto, o doce passarinho começou a piar, a cantar melodiosamente, de uma forma tão suave para não assustar a Nicas, e ela foi acordando devagarinho, a sorrir, pensando que estava a sonhar com essa melodia.
- Áh, de onde vem esta melodia? Dos meus sonhos...? Não..., não pode ser...já estou acordada....(ela vê o passarinho com a cabecinha fora da gaiola) Áh, és tu que estás a cantar? Que delícia, uau...
Aproxima-se, faz-lhe os mimos matinais, ele encosta a cabecinha às mãos dela, ela sorri:
- Estás a agradecer-me, é, fofinho? Não tens de agradecer. Só fiz o que achei que devia fazer. Não podia deixar-te assim, naquele estado, nem pensar, Só se fosse um cubo de gelo, Aqui em casa todos gostamos muito de ti.
Ela abre mais a persiana.
- Olha, hoje temos sol! Olha que bonito, aquelas gostas da chuva da noite penduradas...e aquelas nas pétalas...com o sol a dar, parecem brilhantes! Já tinhas visto muitas vezes, não? Vamos tomar o pequeno almoço, e passear, que dizes?
Ela tem longas conversas com o passarinho, e este responde com o seu chilrear. Os dois vão passear, e o passarinho mostra-lhe coisas que ela nunca tinha visto, dá espetáculos de dança em voo com outros passarinhos.
Nicas segue os seus bailados, com os olhos e com a cabeça, parece que hipnotizada com tanta beleza, aplaude, sorri, ri, tanta cor, tanto movimento, tanto chilrear. Que lindo! Depois do passeio, voltam para casa, e Nicas arranjou um grande amigo! Para ela e para toda a família que também acha o passarinho muito bonito, e ajudam-na a cuidar dele.
Para retribuir o cuidado, o passarinho dá concertos, e espetáculos de canto com outros pássaros, a cantar e a dançar, os da casa aplaudem, fotografam, e ao ver aquelas belezas, descansam os olhos, a mente de tanto stress do dia a dia.
O passarinho passa a ser um membro da família, e o despertador melodioso, relaxante, suave de toda a família, pois ia de quarto em quarto, chilrear delicadamente, aumentando de tom mas sempre bonito.
Todos acordavam relaxados, bem dispostos e com um sorriso, prontos para lidar com o dia, que quando terminava lá estava o passarinho e os amigos para o presente...do bailado e dos cantos.
E vocês?
Já foram acordados por passarinhos? Gostaram?
Como imaginam este passarinho?
FIM
Lara Rocha
10/Outubro/2021
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