Era uma vez um elefante enorme, muito pesado, de andar vagaroso que vivia numa savana, mas um dia quis experimentar passear pela cidade. Saiu da savana sem pressa, a apreciar a paisagem, e viu uma borboleta tão bonita a esvoaçar rapidamente à frente dos seus olhos.
Ele seguiu-a atentamente com os seus olhos enormes, enquanto a borboleta estava cheia de medo do elefante, e voava aos solavancos, como se estivesse a tremer. Pousou muito próximo dos olhos do elefante, e viu o seu reflexo. O elefante parece que ficou congelado, não se mexeu e ficou a ver o que é que a borboleta ia fazer.
- Áh...! Já percebi. Olá elefante! - diz a simpática borboleta
- Olá! - diz o elefante
- O que fazes por aqui?
- Vou visitar a cidade!
- Mas tu és gigante, toda a gente da cidade vai assustar-se contigo.
- Óh, a sério...? O que estavas a ver em mim?
- É que...eu também tinha muito medo de elefantes, mas quando olhei para os teus olhos, vi que não és mau, como eu pensava.
- Achas que não?
- Não. Só és... gigante, mas eu sou pequena, e daí...? Podemos ser amigos na mesma, certo?
- Áhhhh....ahhh... acho que sim!
- Mas vejo que estás triste, o que se passa?
- Óh...deixa lá, não te preocupes comigo.
- Está bem, não queres partilhar comigo, não faz mal. Anda, vamos passear, queres vir?
- Sim, vamos.
Pelo caminho, os dois conversam, até à cidade. Quando chegam à cidade, o elefante torna-se o centro das atenções de toda a gente, gritam, fogem, fotografam, tentam prendê-lo, ele fica tão nervoso que corre desorientado.
A borboleta transforma-o num elefante muito leve, tão leve como se fosse um balão, e voa com a borboleta para se livrar da perseguição das pessoas da cidade.
- Áaaahhhhh... estou a voar! Não acredito...Mas como é possível? Se sou tão grande, tão pesado...- suspira o elefante
- Eu soprei-te uma magia, que te pôs muito leve, tão leve como um balão, para poderes sair dali de baixo. Viste como eles são...? Aproveita agora para ver a cidade em segurança.
- Eles são...muito... estranhos.
- São, mas já estás a salvo. Agora, olha para ali que bonito..
A borboleta mostra a cidade toda ao elefante, do ar, que fica encantado, enquanto conversa com a sua nova amiga.
Depois de ver toda a cidade, o elefante vê na sua savana, uma enorme correria, gritos, guinchos, saltos.
Todos os animais parecem muito agitados. Muito assustado, pediu à borboleta que o pusesse outra vez como elefante,
e que o deixasse no solo. A borboleta assim fez, e ele aterra no solo. Ao ver todos agitados pergunta:
- O que se passa?
- Áh! Estás aqui!? - diz outro elefante aliviado
- Que susto que nos pregaste... - acrescenta a sua mãe
- Onde estavas? - ralha o pai
- Ficamos muito preocupados contigo, andamos à tua procura. - acrescenta uma tia elefante
- Óh, desculpem. É que fui passear pela cidade! - explica o elefante
- Pela cidade...? Seu irresponsável. - ralha um macaco aos saltinhos, nervoso
- Filho, mas que teimoso. Sempre te dissemos que o nosso lugar não é na cidade, é aqui, na savana.
- A cidade é um perigo para nós.
- Eu sei, desculpem, Pensei que não era assim tão perigosa!
Os seus pais e outros animais ralham com o elefante, ele soluça, e fica triste. Olhou para cima, e em volta, à procura da sua amiga borboleta. Ela estava a olhar para ele, pousada numa flor bem à frente da sua pata. Ele não a viu. Quando todos os animais voltaram aos seus lugares, e o elefante deitou-se à sombra, olhou para a flor onde estava a borboleta.
- Áh, estás aqui. - abre um grande sorriso
- Sim, estou.
- Pensei que não ia voltar a ver-te. Obrigada, por tudo de há bocado! Como és bonita... que pena não seres um elefante!
- Áh! Pena porquê? Cada um é como é.
- Se fosses como eu, poderia casar contigo, ter uma segunda família contigo.
- Talvez...(ri) se eu fosse um elefante fêmea nem reparasses em mim.
- Claro que ia reparar...és tão bonita.
- Sou bonita como borboleta, mas há tantos iguais a ti, e iguais a mim...que...seria igual a ti.
- Pois...e agora o que vou fazer?
- Ora... tu ficas aqui, com os teus, e eu vou para os meus.
- Mas já vais deixar-me?
- Não...só vou para a minha casa. Mas volto, se quiseres.
- Claro que quero. Da próxima vez que vieres, vou mostrar-te as coisas bonitas que há aqui. Tu és leve, podes ir a qualquer sítio.
- Não gostas de ser como és?
- Não. E sinto-me muito sozinho. Sou um bocado envergonhado, acho que é por isso que não gostam de mim. Eu tento falar com os da minha espécie, mas parece que não me ligam nenhuma. Fico triste, e só me apetece desaparecer.
- Então foi por causa disso que foste para a cidade?
- Queria conhecer a cidade, mas sim, também foi para ver se davam pela minha ausência.
- Óh! Entendo, mas não devias ter feito isso!
- Achas que fiz mal?
- Acho! Principalmente porque deixaste os teus pais e todos os teus amigos, muito preocupados. Tenta abrir-te mais um bocadinho, aprende a gostar deles. Talvez eles gostem de ti, mas como és envergonhado, não te obrigam a falar. Se calhar achas que por não gostares de ti, eles também não gostam, mas não é isso. Os teus pais e familiares fizeram-te com amor, tu és parte deles. Eu sou borboleta, mas podia ser outro animal qualquer. É melhor gostares de ti assim como és, porque se não, vais ficar triste. Eu gosto de ti, como elefante, vi nos teus olhos que posso confiar em ti, e que és generoso, posso ser tua amiga.
- Como viste isso?
- Vi. Eu tenho amigos de muitas espécies, e diferentes de mim, por isso, eu e tu podemos ser amigos, é muito divertido, e podemos brincar, aprender um com o outro, sorrir, e quando estiveres triste, eu trago outros amigos para brincarmos todos. Agora, tenho de voltar para a minha casa. Em breve voltamos a ver-nos, está bem?
- Está bem! Obrigada.
- Até já.
A borboleta pousa na bochecha do elefante e dá uns sonoros e repenicados beijos no elefante. O elefante ri, com vontade, e fica tão feliz que até salta, dança sem ter música, corre até ao lago, refresca-se, e convive alegremente com os outros, contando a sua aventura pela cidade com a borboleta.
Todos ficaram muito surpresos com aquela mudança no comportamento do elefante, mas ao mesmo tempo, muito felizes. Foi uma tarde muito divertida, passada com os amigos. A borboleta ri às gargalhadas, e voa para casa.
No dia seguinte, foi à savana com mais amigas borboletas, e o elefante sentiu-se tão feliz que aprendeu a gostar dele como era, grande, pesado. Mostra os lugares e recantos mais bonitos às borboletas que gostam tanto e prometeram voltar.
O elefante percebeu que não era pelo seu tamanho e por ser de uma espécie diferente, que não tinha amigos e que na realidade os outros até gostavam da sua companhia. Viu como os da sua espécie adoravam ser como eram, e os seus amiguinhos sentiam orgulho na espécie, neles próprios. Nunca mais se separou das borboletas.
FIM
Lara Rocha
29/Janeiro/2021
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