Era
uma vez uma rapariga jovem e bonita, que estava longe da família para estudar.
Apesar de estar feliz, às vezes sentia-se triste, quando as saudades apertavam.
Nessas alturas, ela libertava-se da tristeza, passeando pela praia e olhando
para o mar.
Muitas vezes nesses passeios, ela
levava a viola, e tocava. As lágrimas dos seus olhos caiam nas cordas à medida
que os seus dedos acariciavam as cordas.
As
lágrimas que caiam, transformavam-se em gaivota de penas escuras, que iam
voando, deixavam cair as lágrimas na areia da praia e as ondas do mar pegavam
nelas ao colo, carinhosamente e embalavam-nas…levavam-nas para longe, e as
gaivotas ficavam com as penas brancas.
Umas
fundiam-se nas nuvens e desapareciam, outras voavam sem rumo, leves e por onde
lhes apetecesse, empurradas pelo vento.
Um
dia, ela tocou tanto, que no céu da praia apareceu uma nuvem escura com
centenas de pássaros que voavam juntos. Quem estava na praia ficou muito
assustado.
- Uma
nuvem negra! O que é isto?
- Uma
tempestade?
- Um furacão?
- Acho
que é melhor fugirmos.
No meio do pânico havia um rapaz que
adorava meditar e era muito sensível. Ficou a olhar para a nuvem preta.
- Uma
nuvem preta? Que se move? Isso não é bom sinal.
Levantou-se e caminhou pela praia.
Sem dar por isso encontra-se com a rapariga da viola.
- És tu!
– Comenta o rapaz
- Eu o
quê? – Pergunta ela
- Que
fizeste aparecer aquela nuvem preta?
- Não
vejo nenhuma preta…
- Já se
mexeu para outro lado.
- Áh,
sim. Viste-a?
- Vi! Por
isso é que vim ver o que se passava.
- O que
se passa…não se passa nada! É só uma nuvem de pássaros negros…e não devem ser a
primeira que aparecem.
- Pois
não. Aparecem centenas aqui, todos os dias.
- A
sério?
- Sim!
- Como é
que sabes?
- Venho
aqui todos os dias e vejo.
- Vens
aqui todos os dias?
- Venho.
- Moras
na praia?
- Não.
Moro perto.
- Então
não deves ter mais nada que fazer.
- Venho
meditar e ajudar quem precisa.
- Ninguém
te pediu ajuda. Pelo menos eu não pedi.
- Porque
é que formaste essa nuvem?
- Porque
são as melodias que estou a tocar hoje.
- Porque
não fazes nuvens com pássaros às cores? São mais bonitas e agradáveis.
- Eu não
faço estas nuvens…nem sei de onde vem.
- Não?
Mas eu vejo-as.
- É sinal
que tens olhos! Elas é que se constroem assim.
- Claro.
São as notas das melodias. Mas porque são pretas?
- Porque
estou triste.
- Pois.
Foi o que eu pensei…e porque é que estás triste?
- Ora…não
tenho nada que te dizer…não nos conhecemos.
- Ninguém
se conhece assim…! Mudos.
- Isso é
verdade.
- Mas
conhecemo-nos mais do que tu possas pensar!
- Como
assim? Andas a espiar-me é?
- Claro
que não.
- Vocês
acham todos que nos conhecem, mas nada sabem sobre nós. E quantas mais conhecem
menos sabem!
- É.
Deves ter toda a razão. Respeito a tua opinião e as tuas ideias.
- Tens
alguma bola de cristal ?
- Não!
Isso era bom, mas não tenho.
- Então
porque dizes que me conheces? Ainda por cima, muito mais do que eu imagino?
- Recebo
sinais, e sigo-os! Eu posso ajudar-te!
- Não,
não podes.
- Porque
é que estás a fechar a porta?
- Que
porta? Estamos na praia…aqui não há portas.
- A porta
do teu coração.
- Áh!
Porque não a abro.
- Até aí,
já percebi, por isso é que estou a perguntar.
-
Tranquei-a e perdi o cadeado e as chaves!
- Eu
ajudo-te a procurar.
- Não
podes.
- Porque
não?
- Porque
nem eu sei onde, nem quando as perdi.
- Isso
não é problema.
-
Achas-te o máximo…! Porque é que me estás a fazer tantas perguntas?
- Porque
quero ajudar-te!
- Mas não
há nada que possas fazer por mim.
- Porque
é que os pássaros são pretos?
- Outra
vez? Já respondi a essa pergunta.
-
Sei…porque estás triste. Mas porque é que estás triste?
- Olha,
porque estou.
- Está
bem…estás! Mas tem de haver algum motivo para essa tristeza.
- Há. Mas
acho que não tens de saber!
- Está
bem, não queres dizer, não diga. Os meus pais também estão longe! E eu também
fico triste muitas vezes.
(A
rapariga olha para ele assustada)
- Lês os
pensamentos?
- Não!
Leio os pássaros, e outros sinais.
- Que
pássaros?
- Os que
saíram da tua viola! Foram eles que formatam aquela nuvem negra!
- E eles
falaram contigo?
- Não.
Não disseram uma palavra!
- Então
como é que sabes que eles saíram da minha viola?
- Eles
tinham a cor da tristeza!
- Isso
não quer dizer que esteja triste por causa de estar longe.
- Podes
arranjar as desculpas todas que quiseres, mas não vale a pena…os pássaros
pretos disseram!
-
Disseram o quê?
- Que o
motivo da tua tristeza é estar longe dos teus pais!
- E como
é que sabes que eles saíram da minha viola?
- Foi o
sinal que recebi.
- Sinal?
- Sim!
Sempre que vejo um sinal na natureza de perigo, vou procurar o que é! A forma
como eles voaram, disseram-me que a tristeza tinha a ver com a distância, e os
teus pais.
(Os dois
olham-se)
- Está
bem…sim! É mesmo isso! Estou triste porque estou longe dos meus pais, e às
vezes tenho muitas saudades!
- Eu sei
o que sentes! Sabes, eu sinto o mesmo, e também crio pássaros negros quando
toco com tristeza.
- Tu
também tocas?
- Toco.
- Viola?
- Sim.
- E estás
longe dos teus pais?
- Estou.
- Posso
saber porquê?
- Podes!
Vivem num local longe! Pobre! Eu vim estudar e trabalhar para aqui, para os
ajudar a ter melhores condições!
- Uau!
Isso é muito bonito.
- Sim,
mas dói muito.
- E tens
conseguido, alguma coisa?
- Sim!
Ainda há gente boa que vai dando umas ajudas.
- Que
bom!
- É.
-
Sentes-te melhor, depois de tocar?
- Muito
melhor! É libertador, ver a tristeza a voar para fora de nós, em forma de
pássaros.
- Pois é!
Ficamos aliviados. Mas os teus pássaros também são pretos?
-
Também…quando toco a saudade! Mas tenho melodias com pássaros de muitas cores,
quando toco a alegria e a felicidade.
- Eu
também.
- Posso
tocar um bocadinho, para tu veres!
- Sim!
Toca à vontade.
A rapariga empresta a viola ao rapaz
e o rapaz toca uma melodia feliz. à medida que ele dedilha, voam pássaros
lindos, enormes, cheios de cor brilhantes, que voam muito leves e bailam no ar.
A rapariga sorri maravilhada.
- ÁH! Que
lindos! Essa música é fantástica.
- É!
(sorri) Estou feliz.
- (sorri)
Eu agora também me sinto mais feliz.
- Vês a
diferença?
- É
verdade!
- Vamos
tocar os dois…ao mesmo tempo, para ver o que sai!
- Está
bem.
- Eu toco
uma nota, e tu tocas outra.
- Começa!
O rapaz começa, e a rapariga
continua. De cada nota musical sai um belo pássaro leve e colorido. Como estão
os dois felizes, em vez de se formar uma grande nuvem de pássaros negros,
forma-se uma enorme nuvem de pássaros coloridos.
Os dois ficam encantados. Desde este
dia, ele e ela tornaram-se grandes amigos, trabalharam e encantaram em
conjunto, ganharam fama e muito dinheiro.
Depois de tanto trabalho e
dedicação, os dois conseguem juntar dinheiro para ajudar os seus pais.
Constroem-lhes casas novas, com excelentes condições. De toda esta bondade, partilha
e amizade, nasceu uns anos mais tarde, um grande e verdadeiro amor entre os
dois.
Muitas
vezes para concretizarmos os nossos sonhos, precisamos de trabalhar muito, e em
conjunto com amigos ou pessoas de bem que nos amam.
Até
essa concretização há muitas batalhas que se perdem, e que se ganham. Às vezes,
as que se perdem, não são para ser choradas, ou lamentadas pois podem ser sinais
de que aquilo que tínhamos planeado e perdemos afinal não servia, e que melhor
virá.
O
importante é continuarmos sempre a lutar, a suportar as derrotas e a festejar
as vitórias…e mudar o que for preciso, quantas vezes forem necessárias.
Sempre
a acreditar que venceremos, e que depois das derrotas, virá algo bom.
Quanto
aos pássaros…devemos deixar todos voar para fora de nós…os negros e os
coloridos; porque tal como os pássaros…os nossos sentimentos gostam de
liberdade! Não gostam de ficar aprisionados.
FIM
Lálá
(19/Junho/2014)
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