Era
uma vez duas barquinhas que navegavam num rio, de uma ponte chamada nuvem.
Ficava num fundão de montanhas, com caminhos de cabras e em terra. Não passavam
carros, só pessoas.
Era um sítio muito sossegado e
fresco, onde aparecia muitas vezes nevoeiro. Quando isso acontecia, essa
montanha e o rio ficavam com um ar ainda mais misterioso. Muita gente
deslocava-se para lá, para respirar, descansar, e relaxar…outros…meditavam, e
os artistas pintavam ou escreviam.
Nesse rio calmo estavam paradas muitas barcas e barquinhos,
que às vezes baloiçavam com o vento, outros navegavam sozinhos pelas águas. Um
dia, duas raparigas jovens amigas foram até esse sítio. Ficaram encantadas com
a paisagem e os seus olhos ficaram presos em duas barquinhas, entre muitas.
- Olha aquelas barquinhas! –
Diz uma para a outra
- O que é que tem? São com as
outras!
- Não! Olha bem…uma tem
nevoeiro à volta…a outra tem um arco-íris.
- Áh! Não tinha reparado! Que
lindo!
- É! Parecem duas barquinhas
misteriosas.
As duas barquinhas olham para as meninas.
- Olha, olha…estou a sentir-me
observada!
- Claro que estamos a ser
observadas!
- Isso não te deixa feliz?
- Sim, embora já esteja
habituada a ser apreciada!
- Convencida!
- Olha quem fala!
- Elas estão a reparar em mim…
- Ora essa…também, estão a
reparar em mim!
- É. Estamos no mesmo sítio,
mas eu sou muito mais bonita!
- Claro que não! Eu é que sou!
Tu só tens fumo à tua volta, eu tenho cores. Muitas cores!
- Não é fumo…são nuvens! E tu,
não tens assim tantas cores…só são sete! E há milhares delas.
- Só são sete, mas são todas
bonitas! Ainda bem que não tenho mais de sete, se não, ainda ficava mais
irresistível!
- Até parece!
- É verdade! Toda a gente me
tira fotos, por causa das minhas cores.
- Mas a ti só te tiram
fotos…aqueles artistas malucos!
- Como é que sabes que eles são
malucos? Nunca conheceste nenhum.
- É o que todos dizem. E basta
olhar para eles…aqueles cabelos esguedelhados, aqueles olhos bugalhos…para mim,
só olham os sonhadores, os apaixonados, os sensíveis, os românticos…
- Como é que sabes? Podem ser
pessoas comuns.
- Para ti, só os melancólicos e
os deprimidos é que olham…tu trazes tudo isso às cabeças deles.
- Achas que conheces as pessoas
só de olhar para elas, não? olha que podes estar muito enganada.
- Tenho a certeza.
- Tens a mania que sabes muito.
- Aprendo com alguém.
- Com quem?
- Contigo, é claro.
- Mas que grande lata! Vou
considerar isso um elogio…sou boa professora.
- Olha, estão a aproximar-se de
nós!
- Boa! Acho que vamos ter
trabalho hoje.
- Espero bem que sim…já estou a
ficar murcha.
As duas amigas aproximam-se das barcas, e saltam para
dentro delas…uma para cada. As barquinhas sorriem.
- Olá! – Respondem as duas
barquinhas.
- Olá! – Retribuem as jovens.
- Querem navegar? – Pergunta
uma barquinha
- Sim! – Respondem as duas
- Se puder ser! – Diz uma
rapariga
- Claro que pode. – Respondem
as barquinhas
- Algum destino em particular?
– Pergunta a outra barquinha
- Não! – Respondem as duas
- Estamos nas vossas mãos. –
Diz uma rapariga
- Levem-nos para onde quiserem.
– Diz outra rapariga
- Não conhecemos este sítio.
- Deixem connosco! – Dizem as
duas barquinhas em coro
As duas barquinhas navegam sem pressa para que as
raparigas possam apreciar a linda paisagem. Chegam a um local do rio, que tem
dois caminhos para duas grutas. As barquinhas param.
- Meninas…agora para onde? –
Pergunta a barca com nevoeiro
- Onde estamos? – Perguntam as duas
meninas
- Agora temos dois sítios para
visitar – Diz a outra barquinha
- Huumm… - Pensam as raparigas
- Ambos são bonitos. – Diz a
barca nevoeiro
- Mas sinceramente, o sítio
onde vos vou levar primeiro, é mais bonito! – Diz a barca arco-íris.
- Desculpem…acho que devem vir
antes para o meu sítio! – Insiste a barca nevoeiro
- Pára, chata! Elas é que
decidem. – Resmunga a barca arco-íris
- É uma escolha difícil! –
Suspira uma rapariga
- Porque não vamos uma para
cada lado e depois trocamos? – Sugere a barca arco-íris
- Áh! Boa ideia! – Diz uma
rapariga
E assim fazem…a barquinha nevoeiro leva a rapariga para
uma gruta, e a barquinha arco-íris leva a outra menina para a outra gruta.
A menina que entra na gruta nevoeiro, vê coisas bonitas,
mas quando sai, sente-se triste, melancólica e pesada. A menina que entra na
gruta arco-íris vê coisas ainda mais bonitas, coloridas, claras, finas,
delicadas, e brilhantes. Sente-se feliz e quando sai vem cheia de luz.
- Então? – Pergunta a menina
que foi à gruta arco-íris
- Olha…não vás àquela gruta.
- Porquê?
- Não vale a pena. É fria, e
sais de lá triste, melancólica e pesada…
- Menina, porque estás a dizer
isso à tua amiga? É uma pena que não tenhas gostado, mas não devias influenciar
a tua amiga, com o teu desagrado! – Diz a barca nevoeiro.
- Sim, isso é verdade! Tu podes
não ter gostado, mas eu até posso gostar! – Concorda a outra rapariga
As duas trocam de barca e de gruta. Por muito que a amiga
não quisesse influenciar com o seu agrado, a segunda que entrou na gruta do
nevoeiro sentiu-se como a primeira que entrou. A que entrou na gruta arco-íris,
estava triste e melancólica, e ficou feliz, livre, viu coisas maravilhosas,
lindas, coloridas.
Quando voltaram a encontrar-se…
- Tinhas razão, amiga! Aquele
sítio não é nada agradável! – Diz a segunda que entrou na gruta nevoeiro.
- A tua é mesmo linda! – Diz a
que entrou na gruta arco-íris
- Senti-me muito triste
naquela, mas muito feliz, nesta.
- Eu também.
- Querem entrar as duas na
gruta? – Pergunta a barquinha arco-íris
- Sim! Por favor! – Pedem as
duas
- Não estão a ser nada
simpáticas! – Resmunga a barca nevoeiro
- Desculpa! – Dizem as duas
- Não faz parte de nós…dizermos
mentiras só para sermos simpáticas! – Elucida uma rapariga
- Se não gostamos, não vamos
dizer que gostamos só para ficares feliz! – Diz a outra rapariga
- Eu sei que te dói, amiga, mas
tens de respeitar os gostos deles. – Diz a barca arco-íris
- Eu gostei das coisas que vi
na tua gruta, eram misteriosas, mas ao mesmo tempo fizeram-me ter saudades, e
ficar triste! – Esclarece uma rapariga
- As pessoas só me enchem de
coisas más, feias, tristes, pesadas… - Diz a barca nevoeiro, triste.
- As pessoas enchem-me com
sonhos, coisas boas e felizes…não admira que gostem mais de mim! – Diz a barca
arco-íris.
- Ninguém gosta de ficar
triste, ou de ter saudades! – Diz uma rapariga
- Claro que não! – Responde a
outra rapariga
- Mas também não tens que ficar
com as coisas más e tristes que as pessoas te metem aí. – Diz uma rapariga
- Pois não! – Diz a outra
- Devias despejar essas coisas
más. – Sugere uma rapariga
- Como? – Pergunta a barquinha
nevoeiro
- Enche-te de coisas boas!
Olha, por exemplo, podes visitar a gruta arco-íris. – Sugere uma rapariga
- Muito bem lembrado, meninas. –
Diz a barca arco-íris
- Quando entrares lá, vais sair
como nova! – Garante uma rapariga
- É verdade! – Confirma a outra
rapariga
- E nós podemos encher-te de
coisas boas. – Sugere uma rapariga
- À vontade! – Diz a barca
nevoeiro
As duas raparigas enchem a barca nevoeiro, com bons
pensamentos, pintam-na de cores vivas, e em vez de nevoeiro, aparece um lindo
sol à sua volta.
- Áh! Que linda que estás! –
Elogia a barca arco-íris
- Estás mesmo. – Dizem as duas
raparigas orgulhosas, com um grande sorriso
A barca nevoeiro vê a sua imagem reflectida na água,
sorri vaidosa e diz:
- Óh! Mas que grande transformação.
Estou mesmo linda! Uau! Muito obrigada, meninas.
- Agora não precisas de ter
mais inveja de mim! – Diz a barca arco-íris
- Óh! A minha inveja não era
por mal! – Suspira a barca nevoeiro
- Eu sei! Compreendo-te…! Vias-me
feliz, e linda, e tu não conseguias ser feliz. - Sorri a barca arco-íris
- Mesmo que haja nevoeiro, as
pessoas verão sempre luz e muitas coisas bonitas! – Garante a barca nevoeiro
- Claro que sim! – Respondem as
duas raparigas
E foi mesmo isso que aconteceu, a
partir deste dia! Tanto uma barca como outra tornaram-se o centro de todas as
atenções daquele espaço, e quem lá ia triste, saía feliz, cheio de cor e de
luz.
Para nós humanos, também existem várias barcas bonitas e
escuras ou enevoadas. Umas vezes navegamos na barca arco-íris, outras vezes, na
barca nevoeiro. Ambas fazem parte do nosso dia-a-dia e da nossa vida, mas o
melhor é preferirmos navegar na gruta arco-íris, pois, se navegamos muitas
vezes na barca nevoeiro, podemos afundar-nos.
FIM
Lálá
(20/Junho/2014)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras