Era uma vez
uma menina pequenina, que se chamava Luísa, e tinha um cabelo enorme, preto. Tão
enorme que quase arrastava no chão. Muitas vezes ela usava-o preso, com um rabo-de-cavalo,
uma trança ou dois totós.
Sempre que lhe tentavam cortar o enorme
cabelo, ela gritava muito, chorava e fugia, dava pontapés a quem a segurasse e
agarrava nos cabelos. Ninguém percebia porque fazia isso, nem conseguiam
convencê-la a cortar o cabelo.
Um dia, a menina deitou-se a descansar
à sombra de uma árvore, e os seus enormes cabelos ficaram pousados no chão. Enquanto
ela adormeceu, uns gatinhos pequeninos e uns passarinhos resolveram brincar em
cima dos cabelos da menina, sem saber que eram cabelos.
Correram
alegremente, saltaram e como escorregavam, prendiam as garras nos cabelos e
enrodilharam-nos todos. O cabelo ficou cheio de nós, todo despenteado e
entrelaçado, com lixo e paus espetados entre cabelos.
Quando
a menina acordou, brincou com os gatinhos e com os passarinhos, sem ver como
estava o seu cabelo. Chegou a casa, e todos os seus familiares gritaram com o
susto, ao ver o seu cabelo.
- Ááááááááhhhhhh…!
- O que foi? –
Perguntou a menina espantada.
- O que
aconteceu aos teus cabelos, Luísa? – Perguntou a irmã mais velha, Sara.
- O que é que
têm os meus cabelos? – Pergunta Luísa.
- Parecem
ninhos de ratos – Responde o pai de Luísa.
Luísa olha-se ao espelho e quando vê o
seu cabelo, grita.
-
Nããããããããooooooo! Não pode ser!
- Onde
estiveste? – Pergunta a mãe
- Estive a
dormir debaixo de uma árvore.
- E como é que
o teu cabelo ficou assim? – Pergunta a irmã Daniela
- Não sei!
- Queres ver
que foi a árvore que esteve a brincar com os teus cabelos…? – Diz a outra irmã
a seguir a ela.
- Não pode
ser.
- Porque não? –
Pergunta a irmã Rafaela
- Porque as
árvores não têm mãos para mexer nos cabelos! – Responde Luísa.
- Não sei como
ficou assim. Agora vais ter de o lavar…está com um cheiro…a… - Diz a Mãe
- Chichi de
gato! – Diz o irmão Gabriel que é veterinário.
- Gato? –
Perguntam todos.
- Sim! Gato.
- Óh, não…será
que foram aqueles gatinhos que brincaram comigo? – Pergunta Luísa
- Estiveste a
brincar com gatos? – Pergunta o pai
- Estive! Uns gatinhos
bebés e uns passarinhos.
- Fizeram
ninhos nos teus cabelos! – Responde Sara
- Se ficasses
lá fora, eles até dormiam nos teus cabelos. – Acrescenta Daniela.
- Óh não…como
é que eles fizeram isto?
- Com as
garras…com o que seria mais? – Diz a mãe
- Que porcaria!
– Diz Luísa.
- Vamos ao
banho imediatamente. – Ordena a mãe
A menina vai ao banho, e grita, porque
a mãe tenta desfazer os nós dos seus cabelos para lavar, mas não consegue.
- Vou ter que
te cortar o cabelo! – Diz a mãe.
- Não…! –
Grita Luísa a chorar.
- Tem de ser…!
- Não…! Eu não
quero cortar o cabelo.
- Mas não tens
outra solução…ou queres andar assim com o cabelo um ninho de ratos, e toda a
gente te gozar, ou chamar nomes feios…? – Pergunta a mãe
- Não! –
Responde a menina a chorar
- Não, o quê? Não
queres cortar, ou não queres andar com ele assim, para não te gozarem?
- Não quero
cortar, nem quero andar com ele assim!
- Mas não
temos outra solução…eles deram nós cegos…não desatam! Só cortando!
- Malditos
gatos… - Grita Luísa a chorar
- Finalmente
vais cortar esse maldito cabelo.
- Não! Eu não
quero cortar o cabelo… - Grita Luísa
- Mas porque é
que toda a gente aqui em casa, e fora de casa corta o cabelo, menos tu?
- Porque não
quero ir para o hospital.
- E quem é que
te disse que vais para o hospital?
- Se me cortam
o cabelo eu vou para o hospital.
- Porquê?
- Porque
cortar, faz feridas.
- O quê? Que disparate!
- Sim…
- As facas
podem cortar sem querer, mas ninguém corta o cabelo de faca!
- Mas cortar o
cabelo dói.
- O quê?
- Sim!
- Onde é que
dói?
- Na cabeça.
- Quem é que
disse isso?
- Digo eu.
- Mas todos
nós cortamos o cabelo e não dói a ninguém, como é que a ti, que nunca deixas
cortar, dói?
- Dói…é com
tesoura e pente.
- E por acaso
isso dói?
- Dói. As tesouras
magoam.
- Não magoam
nada. As tesouras servem para cortar papéis e o cabelo, mas não dói nada.
- Dói…! Ao cortar
o cabelo estão-me a cortar a mim também.
- Que patetice…!
Nunca deixaste cortar…como podes dizer que dói? Todos cortamos, e ninguém se
queixa. Só tu é que te queixas, sem cortar.
- Não vos dói?
- Claro que
não. Devemos cortar muitas vezes o cabelo…! Principalmente para andarmos
limpinhos, bem cheirosos, e arejados.
- Ai é?
- É. Claro. Se
não cortamos o cabelo podemos ganhar comichões e bichinhos na cabeça que nos
fazem muita comichão!
- Bichinhos…?
- Sim. Parecidos
com os dos animais.
- Que nojo!
- Pois é! Devemos
cortar o cabelo, e mantê-lo sempre limpo…! Não dói absolutamente nada, e ele
volta a crescer.
- É?
- Claro…não
vês os nossos cabelos…? Cortamos muitas vezes.
- Sim, mas
vocês são grandes!
- E as
crianças também cortam.
- Cortam?
- Claro…meninos
e meninas até muito mais pequeninos que tu.
- Ai é?
- É! Os teus
priminhos cortam muitas vezes.
- E não lhes
dói?
- Claro que
não. Queres ver…?
- Ai…
- Anda lá! Vamos
cortar esse cabelo.
- Óh!
- Não tens
outra solução, filha. Vais ver como vai ser bom cortares. Confias na mãe?
- Confio.
- Então, deixa
cortar.
- Ai…não
quero.
- Vá lá…! Vais
ficar na mesma muito linda.
- Vou?
- Vais.
- Como é que
sabes?
- Eu sei a
filha que tenho…esta boneca. E uma fadinha disse-me que tu ias ficar ainda mais
bonita com o cabelo mais curto.
- (sorri) Encontraste
uma Fada?
- Encontrei.
- Áh! Que lindo.
(sorri) E ela disse-te isso?
- Disse!
- E como é que
ela era?
- Era linda…! Tinha
um vestido cor-de-rosa bebé…cabelos pretos e encaracolados.
- Áh! Devia ser
mesmo bonita.
- Mas ela não
corta o cabelo.
- Corta sim
senhora. Até as fadas cortam os cabelos.
- As fadas
cortam o cabelo?
- Sim!
- A sério?
- A sério! E ficam
na mesma lindas…!
- Ááááhhh…e
achas que é isso que vai acontecer comigo?
- Tenho a
certeza! Tu já és linda…ainda vais ficar mais.
- Está bem
(sorri) Corta lá…!
- Boa! (sorri)
E finalmente, a menina Luísa deixa
cortar o cabelo. A mãe conta-lhe a história da Fada, enquanto corta carinhosamente
o cabelo da filha, sorri, as duas riem, e a menina entra na história. A mãe
corta um bom bocado ao tamanho do cabelo da menina porque estava mesmo cheio de
nós por todo o lado.
- Já está! –
Diz a mãe.
A menina olha para o espelho.
- Olha que
linda que está a minha princesa!
- Óh! Está tão
pequeno.
- Tinha de
ser, filha…tinhas nós por todo o cabelo que só cortando. Ele volta a crescer
rápido. Custou alguma coisa?
- Não!
- Eu disse-te!
E doeu alguma coisa?
- Nada! Não senti
nada.
- Ouviste o
barulhinho da tesoura?
- Sim.
- É o mesmo
que tu fazes àquela tua boneca que tem vários cabelos para cortares e penteares…!
- Áh! Ai é?
- Sim…a ela
fazes o mesmo que eu te fiz.
- Que giro. Não
sabia.
- Agora vou-te
secar o cabelo.
A mãe seca-lhe o cabelo muito mais
curto, mas fica mesmo muito bonita. No fim, a menina fica toda vaidosa,
sorridente e feliz.
Desde este
dia, Luisinha nunca mais teve medo de cortar o cabelo, e gostou muito do seu
novo penteado.
Das
vezes seguintes, até era Luísa que pedia à mãe para cortar, antes que os gatos transformassem
outra vez os seus cabelos em ninhos. É muito bom cortarmos os cabelos, e tê-los
sempre bem limpinhos…! Não dói e ficamos muito bonitos…eles voltam a crescer,
como acontece com os nossos ossos e as nossa unhas…!
FIM
Lálá
(15/Novembro/2013)
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