Vivia numa aldeia pequena, onde todos se conheciam, e a menina também, só ainda não sabiam que ela era tão especial e que fazia tão bem aos outros.
Os pais e os Avós sentem orgulho nela, porque sabem que ela é uma boa menina, porta-se bem, é amiga de todos, simpática e gosta de ajudar.
Mas não sabiam que ela era assim tão sensível ao que os outros diziam sem palavras, às suas energias e expressões faciais, e que ajudava a melhorar. Aos poucos, ela foi mostrando quem era.
Era muito meiga, doce, sensível às energias dos adultos, sorridente, carinhosa, toda a gente repara nela. A sua diferença em relação às outras raparigas ainda mais as da idade dela, é que sentia quando alguém estava solitária, tristonha, vazia, com pensamentos feios, sem sorrisos, oferecia sempre alguma coisa para alegrar e transformar o dia dessas pessoas.
Não tinha dinheiro, mas tinha magia, pureza, inocência, bondade. Passou por um Sr. sentado num banco, carrancudo, parecia falar sozinho. A rapariga para em frente a ele, olha para ele:
- Porque estás com essa cara tão comprida?
- Não tens nada a ver com isso...(grita o sr.)
- Com quem estás a falar?
- O que te interessa?
- Não vejo aí ninguém.
- E depois?
- Porque é que estás tão irritado?
- Como é que sabes que estou irritado? O que sabes dos adultos?
- Sei muita coisa.
- São coisas de adultos.
- Não devias irritar-te, nem falar assim...(atira-lhe uma flor para as pernas)
- O que é isto?
- Não conheces as flores?
- Conheço!
- Se falas assim com ela, como estás a falar comigo, ela vai murchar rápido, mas não faz mal.
O Sr. fica calmo de repente, olha para a flor, sorri.
- Obrigado.
- Trata-a bem. Quero ver o teu sorriso!
- Não tenho sorriso.
- Como não tens sorriso? Claro que tens...eu estou a vê-lo nos teus olhos, porque é que ele não aparece na tua boca onde todos aparecem? Porque estás trombudo. A resmungar...mas eu sei que também sabes sorrir.
O Sr. olha para a rapariga, ela sorri-lhe e ele retribui.
- Não gosto desse sorriso, falso! - diz a rapariga
- Não é falso.
- Mas é triste, eu quero um sorriso feliz, aquele que vejo nos teus olhos e que quer sair.
O Sr. olha para a flor, e para a rapariga, ela sorri-lhe com toda a sua pureza, e ele abre um sorriso gigante, como não acontecia há muitos anos.
- Assim, sim, esse foi um sorriso! - diz a rapariga a sorrir
- Obrigado, realmente já não me sentia assim com tanta vontade de sorrir há muitos anos.
- Pois, escondeste a tua criança.
- Escondi? As minhas crianças já cresceram, já pouco me ligam.
- Os teus filhos ?
- Sim.
- Não estava a falar desses, estava a falar da criança que foste.
- E tu consegues vê-la?
- Consigo! Ela saiu agora, quando sorriste, ela também sorriu. Ela saiu quando olhaste para a flor e disseste obrigado, em vez de resmungares e estares carrancudo! Deixa-a sair. Dá-te saúde...cuida da flor. Volto um dia destes. (e vai ter com uma senhora sentada noutro banco)
- Tão querida...que ser...especial. Será que existe mesmo, ou imaginei…? Não, não imaginei porque a flor está aqui. Não sei o que é que ela tem, mas é especial. - diz o Sr.
- Olá, Sra.
- Olá minha querida!
- O que estás a fazer aí sentada, com esse ar tão triste?
- Estou...a pensar só. Como sabes que estou triste…? Uma rapariga da tua idade...não se preocupa com os velhos. Que bonita que tu és!
- Obrigada. Não conheço essa palavra horrorosa que tu disseste! Mas é claro que já raparigas e rapazes da minha idade que se preocupam com os avós deles, e com outros. - sorri a menina
A rapariga sorri e sopra uma joaninha que pousa na roupa da sra.
- Áh! Que linda, uma joaninha. - diz a Sra. com um sorriso aberto
- Assim está bem. Quero ver-te a sorrir da próxima vez que passar aqui! - diz a rapariga a sorrir
- Combinado! - diz a senhora
- A joaninha vai fazer-te sorrir. Até já.
- E fez mesmo. Obrigada, querida.
- De nada, até já.
A Sra. olha deliciada para a rapariga, que noutro banco estava uma mãe com um bebé ao colo, tristonha, e a menina sopra uma pequena borboleta com uma luzinha que circunda a mãe.
A mãe segue-a com os olhos, abre um grande sorriso de encanto, e vai para o bebé, que também ri à gargalhada, pondo a rapariga e a mãe a rir também à gargalhada, com as brincadeiras e mimos da borboleta com a luzinha.
A rapariga conversa um pouco com essa mãe que ganhou um novo ânimo, uma nova força, um novo sorriso. A mãe agradece. Vai para outro banco onde vê uma rapariga a chorar, encolhida. A rapariga acaricia-lhe os cabelos, estende-lhe a mão, e a jovem para a olhar para ela.
- Quem és tu? Tão linda! (sorri)
- Eu sei porque estás tão triste.
- Sabes? Como?
- Sei. Dá-me a tua mão!
A rapariga senta-se no banco, limpa as lágrimas, dão a mão, e a rapariga deixa-lhe uma flor na mão.
- É para curar o teu coração partido!
- Mas...como é que sabes que foi por causa disso? Está escrito na minha cara? (a rapariga ri-se)
- Não está escrito, mas eu sei.
- Posso dar-te um abraço?
- Mas isso nem se pergunta...claro que sim!
As duas abraçam-se a sorrir.
- Ai, não me apetece largar-te! Tens alguma coisa de muito especial!
- Eu? Não. Sou uma rapariga igual a ti.
- Mas ninguém dá abraços assim tão bons, tão especiais.
- Não sei o que te dizer, mas adoro abraços, deve ser por isso!
- Eu também adoro abraços.
- Também já te partiram o coração?
- Claro que sim! Quantas vezes...sei como dói, mas faz parte, e há que seguir em frente. É porque não tem de ser.
As duas conversam um bocado de mão dada, a rir, e a sorrir.
- Bem, desculpa, tenho de ir.
- Está bem. Mas volta mais vezes! Adorei conhecer-te. E adorei os teus abraços. Obrigada por tudo.
- Foi um gosto! Voltarei sim, até já. Mas amanhã quero ver-te sorrir como agora!
- Prometo que vou tentar.
- Eu sei que vais conseguir.
- Obrigada.
- Até já.
- Até já.
A rapariga continua a percorrer o jardim, soltando flores, borboletas, luzinhas, abraços que todos recebem com agrado, e abrem grandes sorrisos de ternura, joaninhas, balões, sorrisos a caras tristes, a pessoas chorosas, que ela sente que precisam.
Às vezes vai aos hospitais e discretamente sopra luzinhas de melhoras e de cura para quem lá está, e a realidade é que todos apresentavam melhorias.
Vai por casas de pessoas que vivem sozinhas no seu meio, estão à janela ou a trabalhar nas hortinhas, e a menina ajuda-os com alegria. Todas as plantações e regas que a menina faz tornam-se mais bonitas, fortes, saudáveis, crescem, e parecem sorrir.
Passa algum tempo a conversar com elas, a fazê-las rir, lancha com elas, mostra-lhes coisas bonitas, faz companhia, aprende sempre muito com eles.
Na aldeia toda a gente a conhece, e quando perceberam que ela era uma menina jovem, realmente especial, todos começaram a procurá-la, porque fazia muito bem aos outros.
Era realmente uma rapariga muito jovem, que melhorava o dia das pessoas, em especial aquelas que estavam a sofrer, que eram mais solitárias, e tristes, que precisavam de um abraço, de um carinho, de quem as fizesse rir, de palavras simpáticas.
Essa menina conseguia isso!
E vocês têm coisas parecidas com esta menina? O quê?
Gostavam de ser como ela? Ou de ter uma amiga como ela?
Se fossem como ela, o que faziam para alegrar pessoas mais tristes?
FIM
Lara Rocha
6/Julho/2023
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