Os seres humanos corriam-na com paus, vassouras e braços logo que a viam aproximar-se, porque já conheciam a sua obsessão pelas sementes e raízes.
Mas a expulsão durava poucos segundos, porque a gaivota ia para outros locais, e voltava silenciosa quando percebia que estavam distraídos.
Pousava na Terra acabada de plantar, porque sentia um cheiro diferente a sementes novas e raízes.
Debicava e retirava-as da terra, escondia-as no seu ninho feito de nuvem, onde dormia abrigada do calor, do frio, num tronco de árvore já muito velha.
Para ela era o lugar perfeito. A sorte dele é que muitas vezes os lavradores, não se apercebiam da falta de uma semente ou outra, porque a gaivota tinha cuidado de juntar a terra outra vez com as patas.
No seu ninho deliciava-se a olhar, a cheirar e a comer algumas raízes, sementes, guardava outras.
Um dia, o vento perguntou à gaivota porque é que ela fazia aquilo, e se já tinha pensado que aquelas sementes poderiam fazer falta aos agricultores.
Ela respondeu que tinha a certeza que aquelas sementes e raízes não faziam qualquer falta aos agricultores dos campos onde ela ia debicar.
Todos tinham direito a comer, ela incluída, e ainda por cima era sempre corrida dos campos sem se poder aproximar.
Além disso adorava sementes e raízes, aqueles cheirinhos da terra acabada de semear, as sementes e as raízes frescas, por isso levava-as e não havia qualquer problema nisso.
O vento não concordou e disse para ela devolver essas sementes e raízes.
- Mas nem pensar. Depois o que vou comer? - pergunta a gaivota
- Ora...peixe...e não te falta o que comer.
- Não!
- Sim. Eu arranjo-te o que comer.
- Mas eu quero estas, e já não sei onde as fui buscar! Passei por tantos sítios.
- Que malvada! Não voltes a fazer isso. Eu dou-te nas mesma comida, mas não tires mais sementes, nem raízes dos campos cultivados.
- O que é que me vais trazer? Eu só gosto destas sementes.
- Porque nunca provaste outras, mas conheço outras e tenho a certeza que vais gostar delas. Não demoro.
A gaivota fica irritada, esconde as sementes e as raízes noutro sítio mais seguro, para o vento não as levar.
Promessa cumprida! O vento dá-se ao trabalho de percorrer campos abandonados, onde existe raízes secas, forma redemoinho, varre as terras e recolhe muitas sementes que nem sabia o que era, mas estavam secas, não tinham vingado.
- Aquela atrevida já tem raízes e sementes para dois anos. Assim, deixa os lavradores em paz, que tanto trabalho tem a semear e a regrar, para comer e vem esta gulosa, leva tudo o que quer. Egoísta. Com tanto que comer.
Põe toda a colheita numa nuvem gigante, e deixa à porta da gaivota. Bate à porta:
- A esta hora? - pergunta a gaivota
- Venho trazer-te comida para dois anos ou mais!
A gaivota vê aquela nuvem.
- Eu vou comer essa nuvem? O que é que ela tem?
- Tem o que tu mais gostas.
- Foste à pesca?
- Fui...não, não é peixe! Cheira.
A gaivota cheira a nuvem. Abre-a com o bico e as patas.
- Sementes e raízes? Óóóóhhh…mas...estas devem ser falsas! Não cheiram a nada.
- Prova-as! Tenho a certeza que vais adorá-las. Não comes o cheiro, pois não?
- Não. Como o sabor. Mas eu quero aquelas que têm cheiro.
- Come e cala-te.
- Onde foste buscar isto tudo?
- Não interessa. Elas estão aqui e não as roubei dos campos cultivados.
A gaivota prova e saboreia vagarosamente:
- Hummm….realmente, isto é muito diferente! Não tem cheiro...mas...até são saborosas.
- Eu disse-te! Agora já não precisas de destruir os campos e os trabalhos dos agricultores. Não voltes a fazer isso, combinado? Sempre que precisares de comer e já não tiveres, avisa-me e eu vou buscar-te.
- Estás a ser injusto? - resmunga a gaivota
- Ora...tu é que estás a ser injusta, ao roubar as produções. Tu só te alimentas a ti, não precisas da quantidade nem da qualidade das sementes e raízes que eles plantam.
- Óh! Eu não roubo nada! Só luto pela sobrevivência como eles!
- Tens mais o que comer.
O vento conta à gaivota o que vê nas casas e nos campos cultivados, o quanto eles trabalham, os sacrifícios que passam, a quantidade de horas que trabalham com bom e mau tempo, como é difícil cultivar, enquanto ela come confortavelmente sentada.
Até a desafia para ir dar uma volta com ele e ver como é difícil, como ela está a fazer mal e a ser egoísta.
Uma senhora que trabalhava na terra, viu a gaivota e ralha com ela:
- Ou vens para me ajudar, ou vai-te embora, antes que eu dê cabo de ti, como tu e as da tua espécie dão cabo das minhas plantações.
- Experimenta. - diz o vento
A gaivota diz à Sra. Que quer experimentar, e ajuda a senhora, abrindo buraquinhos na terra com as patas, a sra coloca as sementes, ela tapa, sempre cheia de vontade de abocanhar aquelas deliciosas sementes.
Rapidamente, a gaivota percebeu o que custava, o cansaço no rosto da senhora, nas suas rugas, no seu corpo arqueado, e ficou a apreciar a dedicação da sra.
A gaivota chorou, sentiu pena da sra. Ajudou-a, e no fim, como recompensa, a boa senhora ainda lhe deu meia dúzia de sementes umas secas, outras mais frescas.
A gaivota não cabe nela de felicidade com aquelas sementes cheirosas.
- Muito obrigada pela tua ajuda, gaivota. A tua ajuda foi preciosa!
- De nada, boa senhora. Foi um gosto. Obrigada eu, pelas sementes.
- Ora...foi só um carinho, a recompensa e o meu agradecimento pela tua ajuda e por não me teres comido, nem estragado as novas plantações. Volta sempre que quiseres...principalmente para me ajudares!
- Claro que sim! Voltarei com muito gosto.
- Vou descansar! - diz a senhora
- À vontade.
- Até já.
- Até já.
A sra. Vai descansar e a gaivota sente-se orgulhosa, agradecida ao vento e à senhora.
O vento também está feliz e os dois conversam pelo caminho. Quando che4ga ao seu ninho, guarda as sementes no seu lugar seguro, juntamente com as outras.
Agradeceu ao vento, deitou-se a sorrir e adormeceu rapidamente de tão cansada que estava, mas a pensar do que viu, no que experimentou.
Desde esse dia, a gaivota comeu as sementes e as raízes da nuvem que o vento encheu, e deixa as outras na coleção.
Percebeu que realmente estava errada, a roubar mesmo que fosse para se alimentar, e decidiu oferecer a sua ajuda a todos os lavradores que via.
Estes aceitaram de imediato, e a tentação de comer as sementes frescas, provocada por aquele cheirinho, deixa-a quase em êxtase, mas conseguia resistir.
Os lavradores, em vez de a correrem à vassourada, ofereciam-lhe algumas sementes de vez em quando, e ela comia deliciada.
Agradecia e continuava a trabalhar. Quando outras da sua espécie se aproximava, ela própria corria-as, em conjunto com os lavradores.
Elas não gostavam, e achavam estranho. O vento explicava-lhes o que ensinou à gaivota, e isso fez com que algumas quisessem também ajudar, para ganharem sementes frescas. Que belas aliadas ganharam os lavradores.
E vocês? Acham que o vento e a gaivota fizeram bem? Se fossem esta gaivota faziam o mesmo que ela? Podem deixar as vossas respostas nos comentários.
FIM
Lara Rocha
5/Junho/2023
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