Era uma vez um grupo de crianças que foi para o ar livre passear, apanhar sol, brincar, e viram uma casca de caracol.
- Está aqui um caracol. - grita uma educadora
Todos os meninos começam a gritar numa grande alegria. O caracol dentro da sua casa resmunga:
- Estavas melhor a dormir um sono, em vez de chamar essa gente toda. Devem ser milhares deles, com esta gritaria. Até a minha casa abana. O que teremos nós, caracóis, demais para fazerem tanto escândalo?
- Vamos cantar a ver se ele aparece! - sugere a educadora
- Não acredito na ideia tão idiota que tiveste agora...podias estar a brincar com essa gente toda! - murmura o caracol dentro da sua casa
Cantam todos em coro, numa grande gritaria:
- Caracol, caracol, põe os corninhos ao sol.
Gritam tanto que a casa do caracol vira de lado.
- Mas o que é que aconteceu aqui? - pergunta o caracol ao sentir virar-se.
Todas as crianças riem.
- Olha, virou…! - diz a educadora
Todas as crianças riem.
- Qual é a piada ter a casa virada? E se fosse a tua, ou se fosses tu ou a tua casa viradas ao contrário? Tinha muita piada, não tinha? És pior do que eles todos juntos. - resmunga o caracol
- Aparece caracol! - pede a educadora
- Caracol, caracol, põe os corninhos ao sol! - cantam todos outra vez a gritar
- Era só o que faltava. Depois destes gritos todos, se eu saio, até me comem. Não me apetece sair.
- Vá lá, caracol, caracoleta, caracolinho, sai lá da tua conchinha… - pede docemente uma menina
- Olha-me esta, acha que me convence com esta vozinha, sim, sim, vais ter sorte! - resmunga o caracol
- Sim, aparece caracol, caracoleta, caracolinho. - diz outro menino
- Insultam-me, gritam, até viram a minha concha, e ainda querem que eu saio. Saio nada. Portem-se como gente, comigo, e vou pensar, depois, se vou sair ou não. - resmunga o caracol
- Parece que o caracol está a dormir... - diz a educadora
- Vamos cantar mais baixinho, a música do caracol a ver se desta vez ele sai. - sugere outra educadora
A outra educadora endireita-lhe a casa, e cantam mais baixinho, em coro:
- Caracol, caracol, põe os corninhos ao sol!
- Mas para que estes querem ver os meus corninhos…? Que chatos! Pelo menos agora não gritaram, mesmo assim, não vou sair agora com este calor.
- Olhem, vamos voltar mais tarde, para ver se ele está acordado da próxima vez.
Eles vão brincar outra vez, e o caracol respira de alívio, mais descansado, põe a cabecita de fora.
- Tanta gente! - repara o caracol
E quando um menino repara, está o caracol com os corninhos ao sol, que grita aos outros:
- Olhem, olhem, o caracol está ali com os corninhos ao sol.
- Óh, não...apanharam-me distraído. E agora? Estavas tão bem a brincar.
Vão todos a correr aos gritos, a cantar a canção do caracol, este tenta esconder-se, mas as crianças foram mais rápidas, e o caracol tenta fugir.
As crianças ficam a apreciar.
- Ei, vai mesmo devagar. - observa uma criança
- Ao contrário de vocês que andam sempre a correr por tudo e por nada! - responde o caracol
- Porque é que tu andas sempre tão devagar? - pergunta uma menina
- Se andasses com a casa às costas, queria ver se conseguias andar depressa, ou se fosses caracol, que remédio tinhas, andar devagar. E vocês porque é que andam sempre a correr? - responde e pergunta o caracol
- Não sei! - respondem todos
- Somos diferentes! - responde uma educadora
- Eu falo e vocês gritam, porquê? - pergunta o caracol?
- Excelente pergunta, caracol! Nós perguntamos isso muitas vezes aos meninos, dizemos que eles não precisam de estar aos gritos uns com os outros. - comenta uma educadora
- Pois não. Eu odeio gritos! É por isso que nem saio quando se põem aos gritos comigo. Não sei quem teve essa ideia infeliz de inventar a chamada de caracóis dessa maneira! É ofensivo!
- Estão a ouvir meninos e meninas? O caracol tem toda a razão, também não gosta de gritos.
- comenta outra educadora
- E disse uma coisa muito importante: não precisamos de gritar, para conversarmos, não é, caracol? - pergunta outra educadora
- Pois claro! - confirma o caracol
- Devíamos aprender com o caracol. A não falar aos gritos, e aprender a andar mais devagar. - sugere uma educadora
- Boa ideia. - diz o caracol e todas as educadoras
- Vão ver coisas muito bonitas, e ouvir sons ainda mais bonitos, se deixarem de correr e de gritar. Experimentem!- convida o caracol
- Obrigado, caracol, com o que acabaste de nos ensinar! - diz uma educadora a sorrir
- Áh! Que lindo sorriso. Ensinei? - elogia o caracol e pergunta surpreso
- Sim, foi muito bom teres aparecido, e o que nos ensinaste. Vamos experimentar! Até logo...meninos, digam obrigado ao caracol, e noutro dia, vimos aqui contar como foi o que ele nos ensinou.
Mesmo sem perceberem o que é que o caracol tinha ensinado, agradeceram, e foram com as educadoras fazer o jogo do silêncio.
O caracol estava deliciado a apanhar sol fora da sua casca e a ouvir os pequenos em silêncio.
Depois, fizeram o jogo de andar muito devagar e em silêncio, e quando chegaram à sala, estavam todos calmos, cansados.
Aprenderam a falar mais baixo, e as educadoras escrevem o que cada um viu e ouviu. Quando voltaram a encontrar-se com o caracol contaram-lhe tudo o que viram e ouviram, sem gritar.
O caracol ouviu-os com um doce sorriso, e partilhou com eles, tudo o que ouvia, tudo o que via por andar devagar.
Os meninos quiseram levá-lo para o jardim da sala, até construíram uma casinha abrigo para ele se refugiar do calor, do frio e da chuva.
O caracol aceitou, adorou aquele lugar com erva fresca e macia, ouvia as crianças, mas já não os gritos delas, entrava e saía da casa sempre que queria, alimentava-se, os meninos e as educadoras, iam todos os dias dar-lhe os bons dias, sem gritar, e ele respondia com um grande sorriso.
O caracol ensinou coisas muito importantes, e tornou-se um grande amigo, companheiro de brincadeiras das crianças, de conversas, mimos, e risos.
Todos os dias poderíamos ser como os caracóis, para andarmos devagar como eles, sentir o sol, a chuva, o vento.
Ver tudo o que temos de delicioso à nossa frente, à nossa volta, e ouvir sons que nem fazemos ideia existirem, quando só se ouvem gritos, buzinas, carros, sirenes, e outros barulhos irritantes.
Nem que fosse só por alguns momentos!
Já fizeram os jogos do silêncio, e do andar devagar? Registem tudo o que veem e ouvem, andando devagar, e estando em silêncio.
Áh: e não precisamos de estar todos aos gritos dentro do mesmo espaço.
Então, o que ensinou o caracol? Podem deixar nos comentários :)
Fim
Lara Rocha
11/Outubro/2022
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