Dois amigos têm uma conversa de reflexão sobre os abraços:
- De que são feitos os abraços?
- Sei lá, nunca fiz nenhum.
- Já viste alguém fazer abraços?
- Não!
- Nem eu!
- Então se calhar não devem ser feitos de nada, nem sequer devem ser fabricados!
- Nunca os vi.
- Nem eu.
- Acho que não tem forma.
- Não, pelo menos de gente não tem forma, se não, conseguíamos vê-los.
- Acho que eles disfarçam-se...
- De quê?
- De invisíveis.
- E alguma vez isso foi possível? Se são invisíveis não se podem disfarçar de invisíveis.
- Já viste algum invisível?
- Não!
- Nem eu!
- Então porque é que dizes que eles se disfarçam de invisíveis?
- Porque...nunca os vi.
- Nem eu, mas não sei para que é que se disfarçam de invisíveis.
- Para não serem vistos, ora!
- E porque é que eles não querem ser vistos?
- Não sei...pergunta-lhes.
- Tens o contacto deles?
- Claro que não.
- Então também não lhes posso perguntar.
- Porquê?
- Se não tens o contacto deles, nem eu...nada feito, não temos como falar com eles.
- E para que é que tu querias falar com eles?
- Eu já tentei falar com eles, mas eles não me responderam.
- Se calhar não foste muito simpática com eles.
- Fui, fui...eles é que são mal-educados.
- Não, podem ser envergonhados.
- Ou ficaram chateados.
- Pois, podem não gostar de ser incomodados.
- Mas tu achas que eles têm forma, e podem ser como nós?
- Acho que sim.
- Como é que sabes?
- Se calhar quando somos abraçados por alguém...são eles...
- Hummm.... bem pensado! És capaz de ter razão. Mas eles quem?
- Os abraços.
- Áh, pois.
- Será que se constroem?
- Não sei. Acho que não.
- Também para ti é tudo não.
- Claro, nunca vi a construir abraços. Tu achas que se constroem?
- Eu acho que sim...
- Quem?
- Hum, não sei se se constroem, nem quem os constrói...talvez...sejamos nós que os construímos, com os nossos melhores sentimentos uns pelos outros.
- Nunca vi ninguém a construir abraços. Mas como são bons os abraços!
- Isso é verdade, e eles falam.
- Falam? Já os ouviste falar? O que disseram? Então tens o contacto deles.
- Não, falam, quer dizer...transmitem mensagens a quem os recebe.
- Já experimentaste?
- Já.
- E o que é que eles disseram?
- Não me lembro! Já foi há muito, muito tempo, mas também já não me lembro do que disseram. Sei que foi bom.
- Pois...eu acho que também já me encontrei com eles, foi bom, mas não sei quando foi.
- Será que os abraços se podem cozinhar?
- Claro que não...ou talvez sim, como batatas na fritadeira a saltitar, eu nunca os vi ser cozinhados.
- Se se pudessem cozinhar, eu não saía da cozinha.
- Para os cozinhares ou comeres?
- Os dois.
- Mas daqui a pouco podem inventar um novo prato feito de abraços.
- Quando se puderem cozinhar, eu faço isso, para alimentar corações doridos, solitários, frios, magoados, alimento todos os que andam em guerra.
- Olha, boa! A que sabem os abraços?
- A muita coisa!
- Já provaste?
- Acabei de dizer que sim... mas já foi há tanto tempo que não sei ao que souberam... mas...acho que se me dessem agora um abraço, iam saber-me a... saudade, alegria, carinho...
- Áh! Que lindo! O meu acho que ia saber a tristeza....
- Porquê?
- Porque...olha porque...estou triste.
- Lembro-me que alguns sabiam-me a...amor, outros a...carinho...outros a...estou contigo...outras a...amizade, conforto...outros a...preenchimento...
- Vamos experimentar?
- Agora?
- Sim.
Abraçam-se, e riem.
- Este soube bem!
- Sim, foi bom. Soube a... felicidade!
- A mim também, e a carinho!
- A mim também.
- Óh, agora....soube-me a saudades! E a tristeza.
- Que estranho, a mim também.
- Vamos dar outro a ver se nos sabe melhor!
- Boa!
Abraçam-se outra, e outra vez, e perceberam que realmente cada abraço tem o seu sabor, a sua cor, a sua mensagem, e uma forma, pode ser mais leve e rápido, mais longo e apertado. Mas uma coisa é certa. É muito bom.
E vocês? De que acham que são feitos os abraços?
Se pudessem vê-los, que cor ou cores teriam?
A que saberiam?
Acham que se podiam comer?
Imaginem, e podem escrever nos comentários
Lara Rocha
16/3/2021
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