Era uma vez um piano abandonado num sótão de uma casa antiga e em ruínas que ficava numa praia. A casa já quase não tinha mais nada além das paredes de pedra, mas o piano ainda lá estava intacto.
Os
habitantes da casa tinham saído há muito tempo para outra cidade, e como não
podiam transportar o piano deixaram-no ficar, servindo de abrigo para gaivotas,
gatos e cães abandonados.
Um
dia, a casa foi invadida por centenas de borboletas grandes e pequenas, com
asas de cores muito diferentes, e lindas, que vinham de muito longe, e
precisavam de repousar.
Entraram
e como estavam no limite das suas forças caíram levemente sobre o piano: umas
aterraram nas teclas, outras na tampa que estava meia levantada, mas essas
escorregaram e caíram na relva, nem sentiram a queda, e outras caíram dentro do
piano.
Dormiram um longo sono, e nem
perceberam a entrada e a saída dos habitantes habituais, mas estes repararam
logo a cheirá-las, a soprar-lhes, mas elas não deram de si.
- O que é isto? – Pergunta uma gata surpresa
- De onde veio esta bicharada toda? – Pergunta
um cão
- Agora em vez de chuva cai isto lá de cima,
é? – Pergunta uma gaivota
- Será que já cá estavam e nem demos por elas?
– Pergunta outra gata
- Não. Tenho a certeza que não estavam antes. –
Diz outra gata
- E agora o que fazemos com elas? – Pergunta outra
gaivota
- Vamos deixá-las aqui. – Diz uma cadela
- Elas estão a dormir um sono tão pesado que
nem sentem que lhes sopramos. – Repara outra gata
- Devem estar mesmo muito cansadas! – Diz outra
cadela
- Esperem…há aqui mais! – Anuncia outra
gaivota que pousa no chão
- Mais? – Perguntam todos
- Sim, mais…estes bichos… - Responde a gaivota
Todos
olham para o chão, e as borboletas continuam a dormir. Os outros animais
deixam-nas estar e vão dar uma volta. No dia seguinte, as borboletas começam a acordar
aos bocadinhos, e a voar muito devagar, com voos muito pequeninos, olham para todo
o lado, e todas escorregaram.
As
das teclas do piano levantam-se e caem, as da cobertura escorregam e caem á
beira das outras que estavam no chão. Como eram muito leves, o piano continuava
silencioso, e elas passeavam pelas teclas, deixavam desenhos no pó.
De
repente, assustam-se com os outros animais e começam a tentar fugir, a correr
em cima das teclas e da tampa, os gatos, os cães e as gaivotas divertem-se e
dão grandes gargalhadas ao soprar e ver as borboletas desnorteadas, perdidas,
assustadas a tentar fugir e a cair.
As
gaivotas que pousam nas teclas fazem-nas tocar, e as borboletas que estavam
dentro do piano saem disparadas às dezenas, com voos tremidos, algumas sem
voar, parecem pregos e todas voam desajeitadas, as que estavam pousadas no chão
acordam sobressaltadas e voam como fusos, tão rápido que quase não se vêem as
cores das suas asas.
As
gaivotas caminham pelas teclas e quanto mais as fazem tocar, mais borboletas
saem. Os animais assistem encantados àquele espetáculo de cores e tamanhos em
voo. Nunca tinham visto nada assim.
Primeiro
riram muito, depois até ficaram com pena delas, pediram desculpa, e perguntaram
se precisavam de alguma coisa. Como os animais conheciam bem a praia, levaram
as borboletas a dar uma volta para se alimentarem e conhecerem o espaço.
No
caminho, as borboletas contaram-lhes a sua fuga e descreveram o sítio de onde
vinham…os animais ficaram comovidos e tornaram-se grandes amigos delas, brincaram
juntos, riram, conheceram outros animais, sentiram a areia e os salpicos do mar,
arrepiaram-se e voaram ao sabor do vento, deixando os outros animais
maravilhados com os bailados, que seguiram todos os movimentos e até aplaudiram.
As
gaivotas apresentaram-lhes outros amigos e ao fim da tarde as centenas de
borboletas assistiram ao mágico pôr-do-sol e participaram no fantástico bailado
dos pássaros da cidade mais próxima, e de praias vizinhas que acontecia todos
os dias e tinha sempre muitas pessoas a ver e a fotografar.
Foi
uma grande surpresa para todos os que viam, pois entre os pássaros perceberam
que havia uns voos mais pequeninos e diferentes, mas tão bonitos e harmoniosos
como os outros. Ficaram ainda mais encantados quando repararam que se tratava
de borboletas…
Uns
dias mais tarde, uns jovens foram buscar o piano, eram netos de um dos
habitantes da casa, e levaram-no para um apartamento da cidade mais próxima.
Todos
os animais ficaram em pânico, e correram atrás do camião que carregou o piano, a
ladrar, a miar, a tentar chegar às portas, porque pensavam que as suas amigas
borboletas também lá iam.
Quando
o camião parou, e tiraram o piano, perceberam que as borboletas não estavam.
Cheiraram o piano e das amigas, nem sinais. Ficaram aliviados, mas ao mesmo
tempo preocupados…onde estariam então?
Voltaram para a praia
apreensivos, e a olhar para todo o lado, e quando lá chegaram viram as
borboletas nas ruínas da casa, pousadas em dezenas de flores lindas, viçosas,
coloridas, umas grandes, outras enormes que tinham nascido inesperadamente numa
varanda, de um piso onde os seus amigos nunca tinham ido.
Umas
borboletas dançavam e balançavam vagarosamente em algumas das flores, ao sabor
do vento que em algumas zonas era mais forte, noutras, uma pequena brisa. Outras
borboletas estavam apenas deitadas nas pétalas a sentir as carícias do vento
das suas asas, e o sol com um grande sorriso.
Os outros animais fizeram uma
grande festa ao reencontrar as amigas borboletas
- Áhhhh…estão aqui! – Dizem todos felizes
- Que susto! – Diz uma gata aliviada
- Porquê? – Perguntam as borboletas
- Pensávamos que tinham ido naquele piano. –
Diz uma gaivota
- Áh! – Dizem todas as borboletas
- O piano foi embora? – Pergunta uma borboleta
- Foi! – Respondem todos os animais
- Não viram? – Pergunta uma cadela
- Não! – Respondem todas as borboletas
- Como não? – Perguntam os outros animais
- Estávamos aqui. – Respondem todas as
borboletas
- Fomos dar uma volta pela casa e encontramos
estas maravilhosas flores! – Explica outra borboleta
- São enormes… - Dizem todas as borboletas
- Lindas. – Dizem os animais
- Macias. – Acrescenta outra borboleta
- Cheiram maravilhosamente bem! – Dizem as
gatas a cheirar
- Toquem nas pétalas… - Sugere outra borboleta
Todos tocam, e sorriem.
- Fantásticas! – Dizem todos os animais
- Nem sabíamos que elas existiam aqui. – Diz uma
cadela
- Não? – Perguntam todas as borboletas
- Não! – Respondem todos os animais
- Esta casa está cheia de mistérios… - Diz
outra gata
- Parece que sim. – Dizem as borboletas
- E se formos por aí, ainda encontraremos mais.
– Diz outra borboleta
- Não tenho muitas dúvidas. – Diz outra gata
- Mas para onde foi o piano? – Pergunta outra
borboleta
- Para uma casa da cidade próxima daqui. – Conta
um cão
- Quem veio buscar? – Pergunta outra borboleta
- Uns jovens. – Diz uma gaivota
- Seria o dono do piano? – Pergunta outra
borboleta
- Talvez. – Respondem todos os animais
- E porque é que o vieram buscar? – Pergunta
outra borboleta
- Não sei. – Respondem todos
De repente, o vento traz
consigo uma melodia…parece de um piano. Os animais reconhecem o som, e vão com
as borboletas atrás dele. O som vem da cidade…da casa para onde foi o piano, e
pousam na varanda da sala, onde está um senhor de pele enrugada, e cabelos
brancos, a tocar o piano, com uma velocidade de dedos que parece um jovem, e um
grande sorriso. Os animais ficam embalados, e no fim aplaudem. O senhor ri, e
agradece, mesmo sem saber quem são.
- Então é aqui que está o piano! – Comenta uma
borboleta
- Ainda bem que foram buscá-lo… - Comentam
todos
- Olhem que feliz que ele está! – Repara uma
cadela sorridente
- Que lindo! Até brilha… - Comenta outra
cadela
- Aqui faz falta, para nós não. – Comenta outra
borboleta
Os
animais voltam para a praia, e ao fim da tarde, nesse dia, o senhor toca outra
música, feliz, tão bem, e tão bonita que contagia os pássaros e as borboletas,
que fizeram o seu bailado em frente á casa do senhor que tocava, e ao som da
música.
Para
eles foi ainda mais especial e para o senhor e para quem viu foi mágico. Desde
esse dia, nasceu uma linda amizade entre os pássaros e as borboletas, e o senhor
que tocava piano todos os dias àquela hora, músicas diferentes para se deliciar
com o bailado.
Quem passava na rua a pé,
parava. Uns sentavam-se nos jardins, nos bancos, para ver essa maravilha,
outros fechavam os olhos para sentir a música, outros deitavam-se na relva ou
encostavam-se às árvores dos jardins, viam o bailado e ouviam a música. Era um
momento de paz que levavam para casa, e adoravam.
Fim
Lálá
(1/Maio/2016)
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