Era uma vez uma lagarta magra,
e cheia de fome e sede. A pobre lagarta voltava de uma grande caminhada e
estava muito cansada, fraca, já quase não se segurava de pé. Era Inverno, e na
Terra onde ela tinha estado, o lugar que inicialmente tinha ver de e comida e
bebida à farta, agora só se via neve! Por causa de tanta neve, a lagarta ficou
sem alimento e desceu a montanha pelo riacho, aos trambolhões à procura de
algum sítio onde houvesse o que comer.
- Pobre lagarta…! Vais chegar
lá abaixo? – Pergunta um passarinho
- Vou…tenho de conseguir! –
Responde a lagarta quase sem força
- Acho que nem a meio chegarás…pobre
bicha. – Diz um peixinho do riacho
- Obrigada pelo apoio. Verás! –
Diz a lagarta
- Boa sorte! – Dizem os
passarinhos
- O que é que lhe terá dado na
cabeça para fazer esta caminhada toda? É louca! – Comenta outro peixinho
- A fome! A necessidade…a luta
pela sobrevivência! – Diz a lagarta
- Desculpa…acho que essa tua
luta não vai valer de nada… - Diz um peixe grande do riacho
- Obrigada… - Diz a lagarta
- Não lhe dês ouvidos, lagarta…segue
a tua força! – Incentiva outro peixe grande
- Será que ela quer um
empurrãozinho? – Pergunta o peixinho pequenino
- Não. Obrigada. – Responde a
lagarta
- Deixa-te ir ao sabor da água…
- Diz outro peixinho
- Força! – Diz o peixinho
pequenino
- Tu consegues! – Acrescenta o
outro peixinho pequenino
- Sim, consigo! – Garante a
lagarta
- Boa viagem! – Gritam todos
E a lagarta lá segue o seu caminho, a suspirar e quase
sem forças. Não encontrou nada. Ela bem olhava para todo o lado, mas só via
branco…e gelo! Até o riacho tinha bolas de gelo e partes congeladas.
- Que pena o gelo não se poder
comer. Espera…não serve para comer, mas serve para me transportar.
E salta para cima de uma bola de gelo, até chegar ao
término do riacho. A lagarta nem queria acreditar no que os seus olhos inchados
e quase a sair de órbita, estavam a ver.
- Áh…será que…estou mesmo a ver
isto? Ou será que…estou a…delirar e a sonhar acordada…com tanta fome?
Os sapos e as rãs que viviam na margem do riacho olham
para ela.
- Que nojo! – Diz um sapinho
pequeno
- Ele está a falar de mim? –
Pergunta a lagarta para si mesma
- O quê? – Perguntam os pais
- Aquilo que está ali na água!
- Sim…é mesmo de mim…olhem-me o
pirralho! Se não estivesse tão cansada, ele ia ver o que era o nojo! – Comenta a
lagarta
- Óh! É uma lagarta…onde está o
nojo? – Explica a mãe rã
- Nele mesmo, é claro. Nunca
deve ter olhado para ele! Coitadito… - Murmura a lagarta
- Filho, respeita a diferença…não
é nojo…é um animal…um ser vivo, inofensivo! Ele pode dizer o mesmo de nós. –
Explica o pai sapo
- Com certeza! – Diz a lagarta
para si mesma. Pega que já almoçaste…pirralho metido a grande… (suspira) Ai,
até eu já almoçava mas era comida a sério. – Murmura a lagarta
- Não quero saber o que ele
pensa de mim…eu sou muito mais bonito.
- Éh lá…a parvalheira começa
cedo, nestes animais…! Pobre mãe! – Murmura a lagarta
- Mas que grande convencido! –
Diz outro sapinho pequeno
- Também acho! – Concorda a
lagarta
- É verdade! – Diz o sapinho
- Nunca vi nenhuma coisa destas
por aqui, mamã… - Diz uma rã pequenina
- O quê? Estás a precisar de
óculos…diz outra rã pequenina
- Não estou nada.
- Elas vêem-se bem!
- Andas sempre com a cabeça na
luz, não vês nada, mas elas existem aqui mesmo ao nosso lado. – Diz a rã
- São de comer? – Pergunta a rã
pequenina
- Que disparate! – Comenta a
lagarta para si mesma
- Não! – Respondem os pais
sapos
- Até o mais burro dos burros
sabe que não somos de comer. – Comenta a lagarta
- São para deixar em paz. – Diz
outro sapo
- Sim…claro que são para deixar
em paz! Ai…quero comer. – Diz a lagarta
- Ela não me parece muito bem-disposta.
– Comenta uma rã
- Pois não! – Respondem todos
- Ei…- Diz um sapo
A pobre lagarta quase cai na água. Os sapos e as rãs
ficam muito preocupados e ajudam-na a sair da água.
- Coitadinha! – Dizem em coro
- Parece estar doente! –
Comenta uma rã
- Amiga…estás bem? – Pergunta outra
rã
- Ai…! – Suspira a lagarta
- Não te preocupes! Estás a
salvo. – Diz o sapo
- Vão-me comer? Quero… - Diz a
lagarta
- O quê? – Perguntam em coro
- Não! não te vamos comer…fica
descansada. – Assegura outro sapo
- Acho que ela é que quer
comer! – Diz uma rã pequenina
- Sim! – Responde a lagarta –
Muito fraca…fome…comida! – Responde a lagarta
- Áh! Queres comer? – Perguntam
em coro
- Sim, por favor! – Pede a
lagarta
Os sapos e as rãs juntam logo muita comida para a
lagarta, que come deliciada, cresce e ganha força. Ainda tem fome. Come mais, e
ganha barriga.
- Hum…que delícia! – Exclama a
lagarta – Boa! Afinal os meus olhos estavam mesmo a ver, o que eu achei que
tinham visto.
- O quê? – Perguntam todos
- Eu vim pelo riacho abaixo. Só
via gelo…mas…quando parei, achei que vi belas folhas verdes, mas depois pensei
que tudo era imaginação minha…mas não! era tudo verdade! Óh! Muito obrigada. –
Explica a lagarta.
- E porque é que estavas assim
com tanta fome? – Pergunta um sapo pequenino
- Já venho a andar há muito tempo.
- De onde vens? – Pergunta outra
rã
- Venho da montanha muito alta,
onde estava tudo congelado. Não havia nada para comer! – Diz a lagarta
- Aqui não te falta comida! –
Diz uma outra rã
- Parece que não! – Diz a
lagarta
- Deves estar muito cansada,
não? – Pergunta outro sapo
- Sim! Muito cansada. Posso ficar
por aqui? – Pergunta a lagarta
- Claro que sim! À vontade! –
Respondem em coro
- Se quiseres comer mais…serve-te
à vontade! – Informa outro sapo
- Mais tarde! – Responde a
lagarta
A lagarta boceja e deita-se ao sol, em cima de uma grande
folha. Dorme um belo sono, e acorda outra vez cheia de fome. Vai à horta, e
come uma série de molhos de folhas…até que ficam com uma barriga tão grande…mas
tão grande…gorda…que quase não se consegue mexer. Os sapos e as rãs ficam muito
assustados com o seu tamanho.
- Isto não é uma lagarta…! –
Comenta uma rã assustada
- Gente…acho que acabamos de
alimentar um monstro! – Comenta um sapo
- É no que dá sermos bons. Não sabemos
quem nos bate à porta! – Diz um sapo
- Confiamos nas aparências… -
Acrescenta uma rã
- É por isso que eu sou má e
antipática, com quem não conheço! É por medo. – Revela outra rã
- Que medo! – Dizem os
pequenos.
- Os donos da casa não vão
gostar nada disto! – Comenta outro sapo
- Como é que ela conseguiu
comer tanto? – Pergunta um outro sapinho pequenino
- Será que ela tinha mesmo
assim tanta fome? – Pergunta uma rã pequenina
- Já não devia comer há meses! –
Diz outro sapinho pequenino
- Deve ter a bicha solitária… -
Comenta uma rã
- Acho que ela vai estourar! –
Diz outra rã
Os donos da casa nem querem acreditar na destruição.
- Mas o que é isto? – Pergunta a
senhora chocada
- Não posso acreditar! – Diz o
senhor
- Anda aqui toupeira…! Raios…! –
Diz a senhora
- Malditas! – Gritam os dois
A lagarta encolhe-se toda, e tenta enrolar-se sobre si
mesma para não ser apanhada, mas não consegue, com tanto que comeu, e de tão
gorda e grande que está. A pobre lagarta treme muito, cheia de medo
- Óh, não…porque é que eu comi
tanto…porque é que eu sai da montanha…óhhh…que sorte a minha! Agora não me
consigo mexer…estou uma bola…ai…que vou ser esmagada! Ai…ai…ai…! Alguém me
ajuda! Óh não…! – Lamenta a lagarta
A senhora olha para o chão.
- Não é toupeira…é uma…cooooooooooooobbbbrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaa…ááááááááááááááhhhh….que
nojooooooooooo!
- Para de gritar…estás louca…! Uma
cobra o quê? É uma lagarta. Foi ela que comeu isto tudo, olha como ela está.
- Uma lagarta? Cruzes…que coisa
mais monstruosa…como é que isto apareceu aqui? Claro…só pode ter sido ela que
comeu isto…mas como é possível?! Nunca vi. Desgraçada…atrevida…
- Mata-a!
- Não é preciso.
- Eu não quero essa porcaria
aqui.
- Ela vai já desaparecer.
Ele pega na lagarta e atira-a para um lameiro. A lagarta
grita e cai numa poça onde estão muitas outras lagartas.
- Visitas? – Pergunta uma
lagarta
- Olá! – Gritam todas
sorridentes
- Bem-vinda! – Diz a rainha
- Não fechamos a porta a
ninguém! – Acrescenta outra lagarta
- (sorri) Olá! Que simpáticas.
- Gostamos de receber bem quem
nos visita. – Diz a rainha lagarta
- Eu…acho que vou ficar aqui
para sempre…! Posso? – Pergunta a lagarta
- Claro que sim…! Aqui não te
faltará nada! – Diz a rainha
- Gosto deste sítio, e ainda
agora cheguei. – Comenta a lagarta
- Mas de onde vens? – Pergunta outra
lagarta
- Vim da montanha gelada! – A lagarta
conta a sua história, todas ouvem, ficam comovidas e cada uma conta a sua
história.
- Aqui serás muito feliz, podes
ter a certeza! – Diz outra lagarta
- Não falta nada…nem comida. E somos
uma verdadeira família.
E desde esse dia, a grande lagarta continuou a crescer e
a engordar com as outras. As outras tinham toda a razão…a lagarta passou a
fazer parte de uma verdadeira família, com comida à farta, sem precisar de ir
para as hortas destruir as couves. Juntas fizeram muitas festas, brincadeiras e
banquetes.
FIM
Lálá
(5/Março/2014)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras