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terça-feira, 19 de novembro de 2024

O gato Neve


    
Era uma vez um grande gato, branco, peludo, de olhos amarelos, que vivia com a família numa toca, adorava desfilar, com o seu ar vaidoso, sentar-se em cima de um cogumelo atraente, vermelho, com pintas brancas. 

    Andava pelo chão, sempre a cheiricar tudo, passeava sem pressa pelo espaço, a olhar para todos com ar que parecia de superior, mas era timidez. 

    O gato empoleirava-se num cogumelo, de cano alto, cabeça larga, via a linda paisagem gelada nas montanhas ao fundo, o verde dos campos, e as várias cores das folhas das árvores, que tentava trepar muitas vezes, mas não conseguia. 

    Ficava irritadíssimo, e a observar atentamente como é que outros animais conseguiam trepar às árvores. Via uma grande cascata, mas não sabia como chegar lá o amarelo dos girassóis e das espigas, o castanho dos troncos das árvores.

    Pensava e olhava atentamente, encantado com as cores das roupas das pessoas que trabalhavam nos campos, via o azul do céu, outras vezes, o cinzento, o roxo, o vermelho, o laranja, o amarelo, o cor-de-rosa. 

    Adorava cheirar tudo, provava pedacinhos de fruta, e recebia mimos, comida, bebida, para ele e para a família, dos habitantes, mas não percebiam porque é que ele se sentava no cogumelo. 

    O cogumelo sentia medo do gato, mas não se mexia. Um dia perguntou ao gato: 

- Óhhh…qualquer coisa, que está aí em cima...eu não sou uma casa, nem uma toca, nem uma árvore, porque é que vens sentar-se sempre aqui, com tanto espaço livre? 

- Primeiro, não sou qualquer coisa, sou um gato! Depois, eu também  tenho casa, família, e ando por aí, mas tu tens qualquer coisa que eu adoro. 

- Áh! És um gato...e então, o que adoras tanto em mim, para não saíres? Eu sou um cogumelo, e dizem que sou venenoso! 

- Sim, já ouvi falar de ti. Porque é que és venenoso? 

- Não sei. 

- Para te defenderes, porque és muito bonito, e muitas pessoas querem provar-te, ou comer-te! 

- Como tu? 

- Eu não te quero provar, nem comer-te. Só venho para aqui, para ver a paisagem, e porque o teu chapéu é largo, confortável, dá para ver bem a paisagem! 

- Que paisagem? 

- Ora...a que tu vês daí. 

- Tu deves ver mais do que eu, estás mais alto! 

- Pois, tens razão! 

- Mas porque é que vens para aqui? 

- Para ver a paisagem, como já disse.

- Desculpa...acho que é mais alguma coisa! 

- Bem...porque...eu sou um gato solitário. 

- Solitário? 

- É. Quase não tenho amigos. 

- Porquê? 

- Não sei. Ouvi dizer que sou...tímido, mas acham que sou arrogante, ou vaidoso. 

- Hummm…também já ouvi dizer isso. 

- Mas estas pessoas comentam tudo! 

- Nem imaginas quanto. 

- De ti também? 

- Claro! 

- E o que dizem? 

- Que pareço um cogumelo de um filme. Não sei o que é isso. Sei que fazem todos uma festa, parece que sou uma estrela, depois lembram-se que sou venenoso. 

- Pois, acho que estou a ver. 

- Também viste esse filme? 

- Acho que sim. 

- E também era venenoso?

- Era. 

- Áh. Está bem, mas agora importas-te de sair de cima, por favor? 

- Claro. 

    O gato dá um salto, e parece que tem quilómetros. O cogumelo assusta-se: 

- Que grande que tu és. Como é que cabias ali em cima? 

- Sim, eu arranjava a caber. Desculpa a minha ousadia. Fico contente por teres falado comigo! 

- És bonito! Branco, com esses olhos...

- Obrigado. 

- Como te chamas? 

- Neve! 

- Neve? Que nome...raro! 

- É por ter o pelo tão branco como a neve, aquela das montanhas, e a que cai aqui no tal Inverno. 

- Áh sei. Sim, realmente pareces. 

- Já viste como tudo à nossa volta é bonito? 

- Sim. Mas em cima de mim, vês alguma coisa de especial? 

- Sim, muita coisa. 

    O gato descreve tudo o que vê. O cogumelo fica encantado, e com muita curiosidade em conhecer essa paisagem que nunca vira. O gato convidou-o a irem para um local onde conseguissem ver. O cogumelo conhece, e os dois ficam em silêncio a contemplar a paisagem. 

- Que bonito! - suspira o cogumelo 

- É mesmo. - concorda o gato 

- Nunca tinha visto como hoje! Obrigado, Neve, por este passeio.

- De nada! Também estou a adorar, e descubro sempre alguma coisa nova, quando vejo a paisagem. 

- Hoje descobriste? 

- Sim. 

- Que interessante! 

    Os dois conversam alegremente, e passeiam por outros sítios. Ao fim do dia, cada um volta para a sua casa. 

- Desculpa, Neve, eu estava errado a teu respeito! Sentia medo de ti, e não sabia que eras um gato, como eras, se me fazias mal...- diz o cogumelo  

- Não faz mal! Compreendo! Eu acho que faria o mesmo. Desculpa eu sentar-me no teu chapéu, sem pedir autorização, não sabia que falavas. - diz o gato 

- Claro, não faz mal. Gostei de ti. 

- Eu também gostei de ti. 

- Vamo-nos encontrar mais vezes, e passear por aí? 

- Com certeza! Estou sempre por aqui.

- Boa. Eu também. 

- Até amanhã. 

- Até amanhã. 

    O gato vai feliz para casa porque alguém conversou com ele, e o cogumelo, feliz porque alguém o levou a ver uma paisagem que ele não conhecia. 

    No dia seguinte, encontram-se alegremente, e encontram uma ave. Perguntam se ela sabe onde fica a cascata. A Ave conhece bem aquele caminho, e leva-os até lá. 

    A cascata é maravilhosa, com uma água limpa, cai com pressão, o barulho dela é relaxante, e os dois quase adormecem. Para acordar, entram na água do lago, mas está tão gelada, que dão um grande salto, mal se molham e um sonoro grito. 

    Vão para a margem, e dão umas valentes gargalhadas: 

- Que água tão gelada. - comenta o gato 

- Pois é! Parece que está cheia de neve. 

- É mesmo. 

    Levanta-se um vento cortante, e o céu fica escuro: 

- Óh não...vai chover? - pergunta o cogumelo 

- Vai. 

- Acho que vamos ter de ir embora! 

- Pois é. 

    Os dois regressam, e começam a cair flocos de neve, os dois amigos ficam numa alegria, como se fosse a primeira vez que viam neve. 

    Brincam um com o outro, pelo caminho, apanham flocos, rebolam na neve que se acumula rapidamente, e o gato ouve os pais a chamá-lo muito aflitos, ao longe: 

- Neve...Neve...onde estás? - grita a mãe 

- Neve...Neve...anda para casa, que está a nevar! - grita o pai 

    Os dois amigos correm, e os pais respiram de alívio. 

- Onde estavas, Neve? - pergunta a mãe 

- Fomos ver a cascata! - diz o gato 

- Pensamos que não ia nevar! - diz o cogumelo

- Quem vos levou à cascata? - pergunta a mãe 

- A águia. - diz o gato 

- É tão bonito! - suspira o cogumelo

- Havemos de ir lá, mas agora, vai para casa, cogumelo, que os teus pais também estão preocupados. A Neve vai ser dura. 

- Pois vai. Sim, vou já para casa. Obrigado. Até amanhã, Neve. Se precisarem de alguma coisa, estamos aqui ao lado. - diz o cogumelo

- Obrigado! - dizem os pais 

- Vocês também. - diz a mãe

- Boa noite. 

- Boa noite. 

    O cogumelo vai para casa dele, ao lado da casa do gato Neve. A neve cai a noite toda, e de manhã continua. 

    Fica uma camada espessa no chão, e de manhã, o gato Neve, quase se confunde com a neve. Toda a floresta e os habitantes vão brincar com a neve, de vez em quando, o gato Neve, esconde-se na neve para brincar, mas rapidamente descobrem-no, pelos olhos.

    Há muitas gargalhadas, muitas escorregadelas, cambalhotas, bonecos de neve, mergulhos na neve, roupas molhadas, sapatos ensopados, fazem um almoço com todos, e o gato Neve faz novos amigos. 

    Os pais estão surpresos com a mudança do filho, e agradecem ao cogumelo. O cogumelo sorri orgulhoso, torna-se um grande amigo do gato Neve, apresenta-o a outros amigos.

    Até os adultos e outros animais, divertem-se na neve, brincam com o gato Neve. Para aquecer, fazem um belo almoço, saboroso, cheiroso, passam o dia a conviver na neve. 

    Ao lanche um chazinho e biscoitos, muita gargalhada, muita animação, danças, brincadeiras, jogos, como já era costume nessa aldeia, quando começava a nevar.  

                                    FIM 

                               Lara Rocha 

                            19/Novembro/2024 

    Gostavam de ter um amigo como o gato Neve, e o cogumelo? 

    Brincariam com eles, na neve? A que jogos? 

Podem deixar nos comentários. 


    

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