Era uma vez um grande gato, branco, peludo, de olhos amarelos, que vivia com a família numa toca, adorava desfilar, com o seu ar vaidoso, sentar-se em cima de um cogumelo atraente, vermelho, com pintas brancas.
Andava pelo chão, sempre a cheiricar tudo, passeava sem pressa pelo espaço, a olhar para todos com ar que parecia de superior, mas era timidez.
O gato empoleirava-se num cogumelo, de cano alto, cabeça larga, via a linda paisagem gelada nas montanhas ao fundo, o verde dos campos, e as várias cores das folhas das árvores, que tentava trepar muitas vezes, mas não conseguia.
Ficava irritadíssimo, e a observar atentamente como é que outros animais conseguiam trepar às árvores. Via uma grande cascata, mas não sabia como chegar lá o amarelo dos girassóis e das espigas, o castanho dos troncos das árvores.
Pensava e olhava atentamente, encantado com as cores das roupas das pessoas que trabalhavam nos campos, via o azul do céu, outras vezes, o cinzento, o roxo, o vermelho, o laranja, o amarelo, o cor-de-rosa.
Adorava cheirar tudo, provava pedacinhos de fruta, e recebia mimos, comida, bebida, para ele e para a família, dos habitantes, mas não percebiam porque é que ele se sentava no cogumelo.
O cogumelo sentia medo do gato, mas não se mexia. Um dia perguntou ao gato:
- Óhhh…qualquer coisa, que está aí em cima...eu não sou uma casa, nem uma toca, nem uma árvore, porque é que vens sentar-se sempre aqui, com tanto espaço livre?
- Primeiro, não sou qualquer coisa, sou um gato! Depois, eu também tenho casa, família, e ando por aí, mas tu tens qualquer coisa que eu adoro.
- Áh! És um gato...e então, o que adoras tanto em mim, para não saíres? Eu sou um cogumelo, e dizem que sou venenoso!
- Sim, já ouvi falar de ti. Porque é que és venenoso?
- Não sei.
- Para te defenderes, porque és muito bonito, e muitas pessoas querem provar-te, ou comer-te!
- Como tu?
- Eu não te quero provar, nem comer-te. Só venho para aqui, para ver a paisagem, e porque o teu chapéu é largo, confortável, dá para ver bem a paisagem!
- Que paisagem?
- Ora...a que tu vês daí.
- Tu deves ver mais do que eu, estás mais alto!
- Pois, tens razão!
- Mas porque é que vens para aqui?
- Para ver a paisagem, como já disse.
- Desculpa...acho que é mais alguma coisa!
- Bem...porque...eu sou um gato solitário.
- Solitário?
- É. Quase não tenho amigos.
- Porquê?
- Não sei. Ouvi dizer que sou...tímido, mas acham que sou arrogante, ou vaidoso.
- Hummm…também já ouvi dizer isso.
- Mas estas pessoas comentam tudo!
- Nem imaginas quanto.
- De ti também?
- Claro!
- E o que dizem?
- Que pareço um cogumelo de um filme. Não sei o que é isso. Sei que fazem todos uma festa, parece que sou uma estrela, depois lembram-se que sou venenoso.
- Pois, acho que estou a ver.
- Também viste esse filme?
- Acho que sim.
- E também era venenoso?
- Era.
- Áh. Está bem, mas agora importas-te de sair de cima, por favor?
- Claro.
O gato dá um salto, e parece que tem quilómetros. O cogumelo assusta-se:
- Que grande que tu és. Como é que cabias ali em cima?
- Sim, eu arranjava a caber. Desculpa a minha ousadia. Fico contente por teres falado comigo!
- És bonito! Branco, com esses olhos...
- Obrigado.
- Como te chamas?
- Neve!
- Neve? Que nome...raro!
- É por ter o pelo tão branco como a neve, aquela das montanhas, e a que cai aqui no tal Inverno.
- Áh sei. Sim, realmente pareces.
- Já viste como tudo à nossa volta é bonito?
- Sim. Mas em cima de mim, vês alguma coisa de especial?
- Sim, muita coisa.
O gato descreve tudo o que vê. O cogumelo fica encantado, e com muita curiosidade em conhecer essa paisagem que nunca vira. O gato convidou-o a irem para um local onde conseguissem ver. O cogumelo conhece, e os dois ficam em silêncio a contemplar a paisagem.
- Que bonito! - suspira o cogumelo
- É mesmo. - concorda o gato
- Nunca tinha visto como hoje! Obrigado, Neve, por este passeio.
- De nada! Também estou a adorar, e descubro sempre alguma coisa nova, quando vejo a paisagem.
- Hoje descobriste?
- Sim.
- Que interessante!
Os dois conversam alegremente, e passeiam por outros sítios. Ao fim do dia, cada um volta para a sua casa.
- Desculpa, Neve, eu estava errado a teu respeito! Sentia medo de ti, e não sabia que eras um gato, como eras, se me fazias mal...- diz o cogumelo
- Não faz mal! Compreendo! Eu acho que faria o mesmo. Desculpa eu sentar-me no teu chapéu, sem pedir autorização, não sabia que falavas. - diz o gato
- Claro, não faz mal. Gostei de ti.
- Eu também gostei de ti.
- Vamo-nos encontrar mais vezes, e passear por aí?
- Com certeza! Estou sempre por aqui.
- Boa. Eu também.
- Até amanhã.
- Até amanhã.
O gato vai feliz para casa porque alguém conversou com ele, e o cogumelo, feliz porque alguém o levou a ver uma paisagem que ele não conhecia.
No dia seguinte, encontram-se alegremente, e encontram uma ave. Perguntam se ela sabe onde fica a cascata. A Ave conhece bem aquele caminho, e leva-os até lá.
A cascata é maravilhosa, com uma água limpa, cai com pressão, o barulho dela é relaxante, e os dois quase adormecem. Para acordar, entram na água do lago, mas está tão gelada, que dão um grande salto, mal se molham e um sonoro grito.
Vão para a margem, e dão umas valentes gargalhadas:
- Que água tão gelada. - comenta o gato
- Pois é! Parece que está cheia de neve.
- É mesmo.
Levanta-se um vento cortante, e o céu fica escuro:
- Óh não...vai chover? - pergunta o cogumelo
- Vai.
- Acho que vamos ter de ir embora!
- Pois é.
Os dois regressam, e começam a cair flocos de neve, os dois amigos ficam numa alegria, como se fosse a primeira vez que viam neve.
Brincam um com o outro, pelo caminho, apanham flocos, rebolam na neve que se acumula rapidamente, e o gato ouve os pais a chamá-lo muito aflitos, ao longe:
- Neve...Neve...onde estás? - grita a mãe
- Neve...Neve...anda para casa, que está a nevar! - grita o pai
Os dois amigos correm, e os pais respiram de alívio.
- Onde estavas, Neve? - pergunta a mãe
- Fomos ver a cascata! - diz o gato
- Pensamos que não ia nevar! - diz o cogumelo
- Quem vos levou à cascata? - pergunta a mãe
- A águia. - diz o gato
- É tão bonito! - suspira o cogumelo
- Havemos de ir lá, mas agora, vai para casa, cogumelo, que os teus pais também estão preocupados. A Neve vai ser dura.
- Pois vai. Sim, vou já para casa. Obrigado. Até amanhã, Neve. Se precisarem de alguma coisa, estamos aqui ao lado. - diz o cogumelo
- Obrigado! - dizem os pais
- Vocês também. - diz a mãe
- Boa noite.
- Boa noite.
O cogumelo vai para casa dele, ao lado da casa do gato Neve. A neve cai a noite toda, e de manhã continua.
Fica uma camada espessa no chão, e de manhã, o gato Neve, quase se confunde com a neve. Toda a floresta e os habitantes vão brincar com a neve, de vez em quando, o gato Neve, esconde-se na neve para brincar, mas rapidamente descobrem-no, pelos olhos.
Há muitas gargalhadas, muitas escorregadelas, cambalhotas, bonecos de neve, mergulhos na neve, roupas molhadas, sapatos ensopados, fazem um almoço com todos, e o gato Neve faz novos amigos.
Os pais estão surpresos com a mudança do filho, e agradecem ao cogumelo. O cogumelo sorri orgulhoso, torna-se um grande amigo do gato Neve, apresenta-o a outros amigos.
Até os adultos e outros animais, divertem-se na neve, brincam com o gato Neve. Para aquecer, fazem um belo almoço, saboroso, cheiroso, passam o dia a conviver na neve.
Ao lanche um chazinho e biscoitos, muita gargalhada, muita animação, danças, brincadeiras, jogos, como já era costume nessa aldeia, quando começava a nevar.
FIM
Lara Rocha
19/Novembro/2024
Gostavam de ter um amigo como o gato Neve, e o cogumelo?
Brincariam com eles, na neve? A que jogos?
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