Era uma vez uma menina que viu uma gotinha de água pousada na pétala de uma flor. A gotinha brilhava ao sol, podia ver-se o arco iris a sorrir-lhe. A menina observa-a.
- Olá. - diz a gotinha
- Olá! És nova por aqui não és? - pergunta a menina
- Não.
- Mas eu nunca te vi aqui.
- Eu ando por muitos lados, mas volto sempre para este jardim que é a minha casa.
- Áh, que giro. E por onde já andaste?
- Por muitos sítios. Queres conhecer alguns?
- Tu consegues levar-me?
- Consigo.
- E trazes-me de volta?
- Trago.
- Está bem.
A gotinha transforma-se numa pequena bolha transparente, convida a menina a entrar, fecha a cápsula e a viagem começa.
- Ai que altura! - diz a menina um bocadinho assustada
- Não tem problema. Eu desço mais um bocadinho. Esta é a tua cidade vista de cima. Aprecia à vontade.
A menina olha através das janelas, e vê um molho de prédios, uns mais pequenos, outros mais altos, e torres. Não vê pessoas, nem animais. Só vê estradas, rotundas, carros que mal se percebem, árvores, alguns pequenos espaços verdes, umas casas com piscina.
- Como é grande a minha cidade. Não sei onde está a minha casa...
- Pois, talvez não a vejas daqui, mas quando voltarmos, deves conseguir vê-la, se moras perto do jardim onde estavas.
- Sim.
- Olha ali um espaço que adoro...
O espaço que a gotinha fala é a montanha, que fica num ponto muito alto da cidade, uma estrada cheia de curvas, mas uma paisagem muito bonita. Vê árvores, de diferentes tamanhos e espécies, espaços onde dá muito sol e outros muito sombrios, alguns carros parados, a torre de uma igreja, alguns jardins, e ao longe a praia.
- Áh que giro!
A gotinha leva a menina à praia. Pelo caminho conversam alegremente, a gotinha mostra muitas coisas bonitas, que a menina nem fazia ideia que pertenciam à sua cidade.
A menina vê o mar de cima:
- Ai, que coisa tão grande. É um lago gigante com ondas ali na ponta?
- Não. Não é um lago, é o mar da praia.
- Áh. Tanta água.
- Pois é. Nem se vê o fundo.
- Olha barcos ali, mas são pequenos.
- Daqui são pequenos, mas quando chegarmos eu baixo e vais ver como são enormes.
- Já passaste aqui?
- Já.
As gaivotas cruzam-se com elas, desviam-se, aos guinchos irritadas. As duas riem com vontade:
- Olha, olha....ficaram com inveja.
- É, não gostam de ver o espaço delas invadido.
- O céu não é só delas.
- Pois não.
- Deixa-as para lá.
As duas riem, e uma gaivota pousa mesmo em cima da cobertura.
- Que atrevida... xooooo... - diz a gotinha
Bate no vidro e ela voa. Sobrevoam alguns campos de girassóis gigantes e milho alto, campos muito verdes, com outras plantações, pinhais com sombra e sol.
Chegam à praia, vê-se a areia de cima, a gotinha baixa devagar e os barcos que pareciam tão pequeninos, tornam-se realmente gigantes.
Veem crude a boiar na água, uma coisa que reluz com o sol.
- O que é aquilo? Que nojo! - pergunta a menina
- Infelizmente é poluição. Crude, petróleo ou outros produtos assim.
- Isso não é bom, pois não?
- Não.
Veem na areia algumas aves com ar de doentes, crude nas penas, e elas aflitas para respirar. A menina grita:
- Estão doentes... podemos baixar até à areia?
- Sim.
Pousam na areia, a gotinha volta a ser gotinha, olham para as aves e sentem pena delas.
- Estão bem? - pergunta a gotinha
- Acho que comemos uma coisa envenenada. - diz uma ave
- Olha para esta porcaria... - lamenta outra ave
- O que é isso que tem nas penas? - pergunta a menina
- Não sei. Parece cola.
- Não nos conseguimos mexer.
- Que nojo!
A menina e a gotinha levam as aves ao mar, ajudam-nas a lavar, a gotinha dá-lhes água limpa para beberem. Era mesmo crude, pois algumas penas tiveram de ser arrancadas porque não saía. A areia também está cheia de lixo.
- Como é que isto veio parar aqui? - pergunta a gotinha
- Não sei. - dizem todas
- Vocês correm perigo. Deviam ir para outra praia!
- Que água deliciosa, a tua. - diz uma ave
- Muito obrigada pela vossa ajuda. - dizem todas
- De nada. Voltarei em breve para vos trazer água saudável.
- Muito obrigada. Bem precisamos.
- Até já.
- Está na hora de voltar... - diz a gotinha
Elas voltam para o jardim, pelo caminho veem mais paisagens bonitas. Sentem-se felizes e tristes. Felizes porque ajudaram as pobres aves que estavam doentes e intoxicadas com a poluição, mas essa parte foi a que as deixou mais tristes.
A menina agradece à gotinha o passeio, e a gotinha, como prometido vai à praia onde estiveram deixar água limpa para as aves beberem e tomarem banho. Para isso encheu vários buraquinhos nas rochas com a sua água onde costumavam pousar.
Era um sítio seguro que escapava à poluição.
FIM
Lara Rocha
18/ Junho/ 2022