Era uma vez um bom homem,
que apesar do seu tamanho pequeno, era anão, tinha um coração muito bondoso, do
tamanho da floresta onde vivia. Todos gostavam muito dele, um senhor que sabia
muito sobre muitas coisas, adorava ler.
Lia no jardim, quando estava
bom tempo, à sombra de uma árvore, ou debaixo de uma flor, encostado numa
cadeira ou a um cogumelo. Quando estava frio ou chuva, tinha um lugar num sótão
com um pequeno sofá onde se sentava com as pernas esticadas, e costas bem encostadas,
junto de uma janela por onde via tudo o que acontecia lá fora, e levantava os
olhos das letras para meditar.
Tinha prateleiras cheias de
livros de todos os assuntos, enciclopédias, dicionários, livros de Historia,
cultura, teatro, música, pintura, desenho, matemática, português, línguas
estrangeiras, infância, adolescência, idade adulta, ciências, natureza, astrologia,
astronomia, até medicina, jardinagem, tudo.
Quando alguém queria saber
alguma coisa, ia ter com o Mestre sábio, que se chamava Luzinhas. Um dia,
Luzinhas estava sentado no jardim à noite, encostado ao tronco de uma árvore,
com uma luz fraquinha de uma lâmpada que tinha lá posto, mas estava quase a
fundir.
- Óh, com esta luz não consigo ler. Está tão
agradável cá fora, que não gostaria de ter de ir ler lá para dentro! Mas acho
que não tenho escolha. Agora não tenho lâmpada para substituir esta. Não contava
com esta.
E dezenas de pirilampos sobrevoam a área,
ouvem a lamentação do Mestre, e decidem oferecer a sua ajuda:
- Olá mestre! – Dizem todos
- Nós temos a solução para ti. – Despacha outro
pirilampo
- Olá! Hummm…qual? Têm alguma lâmpada para
substituir esta?
- Temos! – Respondem todos
Põe-se a toda a volta do
mestre, e próximo das folhas, e a luz de todos brilha mais que uma lâmpada.
- Está bem assim? – Pergunta outro pirilampo
- Áh! Mas que maravilhosa luz. Mas, deixem
lá, eu agradeço-vos muito, mas é muito cansativo para vocês! Sabem, eu adoro
ler, e como está bom tempo, vim ler cá para fora. Pensei que a lâmpada que
tinha aqui estava a dar uma boa luz, mas parece-me que vai fundir em breve. Está
muito fraquinha. Os nossos olhos precisam de uma boa luz, por isso, é sempre
importante lermos com luz! Como a lâmpada está fraquinha, e eu não tenho outra
para trocar, vou ler lá para dentro, não faz mal. Lá dentro tenho uma boa luz.
- Não!
- Fica cá fora!
- Nós iluminamos-te.
- Não precisam de fazer esse sacrifício! –
Diz o Mestre
- Para nós não é sacrifício nenhum!
- É o nosso trabalho de todos os dias.
- Ficamos muito contentes quando a nossa luz
é útil para alguém.
- E vocês são úteis para alguém? – Pergunta o
Mestre
- Sim!
- Alguns de nós fazemos companhia a pessoas
mais crescidas…maduras…que vivem sozinhas, a crianças que têm medo do escuro, a
animais de rua, e os que vivem nos jardins, convivemos com seres que vivem nas
fontes e nos rios.
- Áh! Que bonitos esses vossos gestos. Realmente,
nunca sabemos tudo, eu não sabia que vocês tinham essa função. – Diz o Mestre
- Temos!
- Com muito orgulho.
- Adormecemos sempre preenchidos!
- Imagino! Bom, se fazem tanta questão de me
iluminar, estejam à vontade. Quando estiverem cansados, podem ser sinceros, e
dizer-me, ok?
- Ok!
- Assim também aprendemos alguma coisa
contigo.
- Quer dizer…aprendemos se não te importares
de ler para nós, ou de nos dizeres o que está aí!
- Claro que não me importo. – Diz o Mestre
O Mestre começa a folhear
devagar, mostra as imagens, e começa a dar uma aula, uma longa explicação sobre
cada uma delas. Os pirilampos iluminam, e todos juntos parecem uma grande
lâmpada.
Eles ficam fascinados com a
explicação e as imagens do livro. Suspiram, soltam longas exclamações de
espanto, e surpresa, fazem perguntas, e quase nem piscam com tanta atenção.
Umas borboletas veem tanta
luz, e ouvem o Mestre a falar. Aproximam-se e ficam também a ouvir. Umas
corujas e uns mochos das árvores ouvem interessados e atentos. O Mestre vibra a
falar sobre aquele livro e aquelas imagens, e todos ficam encantados. Ele
sorri, e diz:
- Meus queridos ouvintes, peço-vos imensa desculpa,
mas vou ter de me ir deitar. O sono está a chegar.
- Obrigado, Mestre! – Dizem todos
Aplaudem.
- De nada, ora essa. Foi um gosto! Obrigada eu,
pela vossa companhia, atenção, interesse e luz!
- Adoramos tudo o que ouvimos, Mestre!
- Obrigado. Desejo-vos uma boa noite, durmam
bem, descansem e amanhã há mais. Não me posso esquecer de trocar a lâmpada!
- Boa Noite, Mestre!
- Boa noite! Até amanhã.
E o Mestre recolhe-se em
casa. Os pirilampos ficam a conversar entre eles, sobre o que ouviram. No dia
seguinte, o Mestre ficou tão entretido com as leituras que não se lembrou mais
da lâmpada, porque não precisou dela, de dia esteve a ler no jardim. Mas à
noite, ligou o interrutor e a lâmpada não acendeu!
- Óh, não posso acreditar. Esqueci-me de
trocar a lâmpada. Fundiu mesmo! Bom…fico dentro de casa hoje.
- Não, mestre, pode ficar cá fora.
- Nós iluminamo-lo.
- O que trouxe hoje para nós?
- Podemos ficar a ouvi-lo?
- Olá! Claro que podem ficar a ouvir-me. Já viram
que maçada? Eu tinha intenção de arranjar uma nova lâmpada, e acabei por me
esquecer.
- Acontece, Mestre!
- Mas tem a nossa luz.
- Está bem. Hoje trouxe outro tema. Ciências…
O Mestre instala-se, e
começa a falar sobre o livro, folheia, mostra imagens, diz o que vê, e os
pirilampos ouvem atentamente, encantados, iluminam e fazem perguntas, até o
Mestre ficar outra vez com sono.
Mas no dia seguinte o Mestre
já se lembrou de mudar a lâmpada. Mesmo assim, lá estavam os seus espectadores:
os pirilampos, as borboletas, os mochos, as corujas e gatos vadios que também
quiseram conhecer o Mestre de que toda a gente falava. Até os gatos ficaram
maravilhados com o que ouviram do Mestre.
Nos dias seguintes, os gatos
foram ter com o Mestre de dia, e este lia-lhes, falava com eles sobre os
assuntos dos livros, era todos os dias um livro diferente. À noite, os seus
ouvintes eram os pirilampos, as corujas e os mochos, as borboletas e outros
gatos.
No Outono que chegou
rapidamente, o Mestre foi convidado para ir às escolas e colégios ler os seus
livros, pois tinham todos muito a aprender com ele. Ele aceitou o convite, no início
as crianças, jovens e até adultos, riram e gozaram, comentaram e brincaram com
o seu tamanho, mas ele não se importava com isso.
Quando começava a falar
todos se calavam, e quase nem pestanejava. Gostavam tanto de o ouvir, dos temas
que ele falava, da forma como passava os assuntos, e era um senhor que
cativava. Recebia imensos aplausos e era muito acarinhado.
À noite, lá voltava ele para
os cantinhos, com os seus livros e partilhava as histórias que lia com os seus
ouvintes assíduos: os pirilampos, os gatos vadios de toda a cidade, que se sentavam
e deitavam nos muros para o ouvir, outros no chão, os mochos, as corujas, e as
borboletas.
Onde quer que fosse, e com
quer que estivesse, o Mestre adorava partilhar as suas histórias, experiências,
conhecimentos e descobertas. O frio chegou e os seus ouvintes ficaram muito
tristes, porque o Mestre não ia para o jardim.
O Mestre perguntou-lhe
porque estavam triste, e eles responderam:
- É Inverno! – Diz um
- Sim, é uma estação do ano como as outras! Mas
não é preciso ficar triste. – Explica o Mestre
- Os dias são muito pequenos. – Diz outro
- Sim, mas não é preciso ficar triste por isso.
Temos luz, e podemos aproveitar enquanto é dia, como podemos fazer coisas à
noite. – Explica o Mestre
- Está frio! – Comenta outra
- Está, é verdade, mas temos lareira,
cobertores, roupas quentes, bebidas quentes! Não é preciso ficar tristes por
isso.
- Chove muito… - Comenta outro
- Chove, é verdade, mas é altura dela, e é
precisa para a terra. Tem na mesma a sua beleza e utilidade.
- E o mestre não pode ir lá para fora, para
ouvirmos tanta coisa que tem para nos ensinar.
- Óh, isso também não é motivo. Posso receber-vos
na minha casa, se quiserem ouvir-me!
Ele abre a porta, e todos entram com um
grande sorriso.
- Muito obrigado, mestre! – Dizem todos
- Cabemos todos?
- Cabem! Até cabiam mais. Bem-vindos à minha
casa.
- Áh! Que maravilha! Uau! É linda…
O Mestre faz uma visita
guiada pela casa, e chega à biblioteca onde está uma pequenina lareira acesa,
tal como na sala e na cozinha. Pega num dos seus muitos livros que fala sobre
as estações do ano.
- Instalem-se, aqui está quentinho não está?
- Maravilhoso! – Dizem todos
Espalham-se pela sala, perto
do Mestre, e muito confortáveis. O Mestre diz:
- Já venho!
Vai à cozinha buscar um
grande bule de água quente, copos e pacotes de chá, e biscoitos. Volta para o sótão,
e oferece aos convidados, que se servem, saboreiam o chá que cheira bem, e os
biscoitos que são deliciosos. Ele diz-lhes quem fez os biscoitos e fala sobre o
chá.
Depois começa a falar sobre
o livro. Os convidados ouvem-no encantados, e quando todos começam a ficar com
sono, vão para casa, muito agradecidos ao Mestre.
Para os gatos vadios, o
Mestre ofereceu abrigo, num anexo à casa que era coberto, pôs lá cobertores,
uns para baixo outros para cima, os gatos instalaram-se enroscadinhos e muito
confortáveis, deixou-lhes também um jarro com água quente, mais biscoitos, e
deu alguns mimos.
Os gatos nem sabiam como
agradecer, e o mestre estava feliz por ter acolhido os bichos. Deixou a porta
ligeiramente aberta, para o caso de eles quererem sair, e foi-se deitar. Os gatos
não saíram mais de lá, e o Mestre cuidava muito bem deles.
Mas todos os dias, o Mestre
continuou a partilhar as suas histórias e leituras, conhecimentos, com todos os
que adoravam ouvi-lo. Ele deitava-se sempre feliz, com um grande sorriso, de
coração cheio, orgulhos por ser útil e por ter tanta a gente a querer acolher
tudo o que ele tinha aprendido nos livros.
Tinha a sensação de dever
cumprido, de orgulho e felicidade, por ser quem era, e levantava-se sempre com
um sorriso, ao pensar que estava a fazer o que gostava realmente.
Era realmente um pequeno,
enorme Mestre, um Mestre de conhecimentos e leitura, e um mestre em bondade,
não acham?
FIM
Lálá
5/Julho/2017
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