Era
uma vez uma senhora já com alguma idade que tinha umas mãos mágicas para a
costura. Era muito querida na aldeia, e conhecida por todos, pelas coisas tão
bonitas que ela costurava, e diziam que fazia magia.
Além
de roupa, ela costurava letrinhas em pano, com desenhos mimosos, carinhosos,
delicados, preenchia as letrinhas com pedacinhos de lã que sobravam das suas
malhas, algodão, e outros tecidos, para ficarem almofadadas, coloridas.
Diziam
na aldeia que as letrinhas dela faziam bem às crianças: faziam-nas gostar de
ler, de escrever, de falar, e tornava-as mais felizes. A Avó Mar era tão
simples, que não acreditava que as suas letrinhas fizessem isso, mesmo assim,
fingia que acreditava e mostrava um sorriso luminoso, isso deixava-a feliz, e
com mais vontade de construir as suas letras.
Um dia, a aldeia foi visitada por
muitas pessoas da cidade, crianças que não conheciam a aldeia, e viram entre
muitas outras coisas, muitas letrinhas da Avó Mar a secar, penduradas nos
estendais, cada qual a mais bonita.
- Bom dia, Avó! – Gritaram todos
A senhora aparece à janela, sorri e
retribui o Bom dia. O seu ar era tão meigo que as crianças e as educadoras, e
os pais ficaram encantados com ela.
- O que está ali pendurado? – Pergunta uma criança
- São letras! – Responde a senhora
- Vocês já as conhecem, não já? – Pergunta a
educadora
- Sim! – Gritam todos
E as crianças começam a dizer cada
letra. A Avó Mar aplaude, e outra educadora comenta:
- Que letras tão bonitas. Como as faz?
- Obrigada, filha. Faço-as como faço outra roupa
qualquer.
- Essas são especiais, não são?
- Não! São letras, apenas.
- Elas transmitem-nos alguma coisa…
- Talvez…o carinho com que as fiz.
- Deve ser mesmo isso. – Dizem as educadoras a sorrir
- Dá para ver que as faz com muito carinho.
- Sim!
- Estão para vender? – Pergunta outra educadora
- Estão, se quiserem comprá-las.
- Sim.
- Meninos...cada um pega na letra inicial do seu
nome. – Sugere a senhora
E as crianças desatam a correr,
desobedecendo á educadora, enquanto outra educadora trata de acertar as contas
com a senhora. Cada criança puxa a letra.
- Não puxem, meus anjos. Eu tiro…esperem aí… - pede a
senhora
Ela tira uma por uma, desprende-as
das molas, e cada criança dá-lhe um abraço e um beijinho, diz obrigada, e
abraçam a letra que lhes calhou. Todos vão embora mais felizes, mais calmos, sorridentes
e de forma ordenada. A Avó pega noutras letras e põe a secar. Passa outro grupo
de crianças que ficam a olhar maravilhados para as letras, e repetem-nas. A senhora
sorri.
- Que lindas letras. – Comentam as educadoras
- Querem levá-las? – Pergunta a senhora
- Estão à venda? – Pergunta outra educadora
- Estão.
- Então vamos levá-las.
E antes que as crianças puxassem as
letras, como as anteriores, a senhora desprende uma por uma, e dá a cada
criança. Elas retribuem com sorrisos, beijos e abraços.
- Como consegue fazer umas letras tão bonitas? –
Pergunta outra educadora
- Em cada letra ponho muito amor, carinho, paciência,
paixão, cor, sonho, fantasia, magia…
- Que lindas! Muito obrigada. – Sorriem todas
Elas
pagam e seguem caminho. A Avó Mar põe outras letras a secar, e é visitada por
crianças mudas, que quando vêem as letras, sorriem, querem tocar nas letras,
mas não as arrancar, apenas sentem as letras e repetem-nas. A senhora oferece
uma letra a cada menino, que se juntam por ordem e escrevem a palavra
«obrigada!» e um grande sorriso.
A
Avó Mar retribui um sorriso, e deixa escapar umas discretas lágrimas, onde as
crianças mudas vêem o arco-íris, elas organizam-se e escrevem a frase: «É a
nossa Avó do coração!». Abraçam-na e beijam-na, e ela oferece-lhes chá,
biscoitos e mais letras. Elas brincam com as letras, e a Avó convida-as a
aprender a construir as letras como ela.
Nesse mesmo dia, todas aprenderam a
construir as letras, e todas conseguiram umas letras tão bonitas como as dela. Ela
pergunta-lhes:
- Como fizeram essas letras tão bonitas?
Elas pegaram nas letras, encostaram
aos rostos, sorriram, fecharam os olhos, e abriram com um brilho especial. A Avó
percebeu:
- Tal como eu…fizeram-nas com muito carinho, muito amor,
paciência, paixão, cor, sonho, fantasia, magia…
Todas dizem que sim.
- Estas foram as letras mais bonitas que eu já vi até
hoje, aquelas que vocês fizeram! Obrigada! – Diz a senhora
Elas organizam-se e escrevem:
«obrigada, Avó! Estamos muito felizes. Adoramos-te!»
Ela sorri e exclama:
- Obrigada, meus amores…eu também vos adoro, e também
estou muito feliz. Falta só um ingrediente para tornar as letras completas…
(Todos ficam surpresos a olhar para as letras) pô-las ao sol. (Todos sorriem, e
cada um pendura a sua letra na estendal) No fim do dia levam-nas, combinado?
(Todos acenam com a cabeça a dizer que «sim») Vão dar uma volta pelo resto da
aldeia, e no fim do dia, vão buscar as suas letras. Enquanto isso, a Avó já
tinha feito outras tantas, diferentes de todas as outras, que mostravam muito
bem a felicidade que ela sentia.
E as crianças mudas não deixaram
mais a Avó Mar…todos os dias foram vê-la, conversar com ela, buscar os sorrisos
dela, os arco-íris das suas lágrimas, os biscoitos, os chás, os carinhos e
ajudavam-na a construir mais letras que penduravam ao sol no seu estendal, e
todo o dinheiro das vendas, foi para ajudar a escola desses meninos, e outras
necessidades delas.
A Avó Mar era um ser realmente muito especial não
era?
FIM
Lara Rocha
25/Janeiro/2017
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