Era uma vez um grande pássaro de belas e compridas penas, cheias de cor, que voava por cima de um deserto. Era um pássaro muito especial, que levava num saquinho delicadamente bordado por uma senhora velhinha, umas sementes…muitas, de flores.
O pássaro já vinha a voar há muitas horas, e
ao passar pelo deserto com tanto calor começou a fraquejar, a ficar muito
cansado e desidratado, sem forças. Deixou-se cair sem se esforçar para se
segurar, e aterrou na areia escaldante.
Mesmo como estava, conseguiu arrastar-se pela
areia até uma gruta, que pensou que ficava logo ali, do sítio onde estava, e pensou
que talvez fosse mais fresco. Ao arrastar-se, o saquinho abriu ligeiramente e caíram
algumas sementes de flores, que ele nem se apercebeu.
Ele entrou na gruta, e levantou-se uma valente
tempestade de areia que tapou as sementes, e o pássaro nem percebeu. Para sua sorte
entrou nessa gruta, um viajante que já estava habituado a passar por esse
caminho quando saia da sua casa para o trabalho, e do trabalho para casa, trazia
água e estava preparado para tempestades de areia que eram muito frequentes.
Quando viu
o pássaro percebeu logo que estava a precisar de água e de descanso. Ele trazia
vários barris cheios de água para aguentar até casa, embora fosse um caminho
curto, era muito calor, e tinha de beber. Abriu um dos barris e ofereceu água
ao pássaro.
O pássaro nem queria acreditar…ficou tão feliz
por estar a beber, e por sentir água…! Bebeu sofregamente, era uma água leve e
estava fresca. O rapaz molhou as penas e a cabeça do pássaro que estremeceu e
sentiu-se renovado. Fartou-se de agradecer ao rapaz.
Os dois conversaram um bom bocado, e o pássaro
sentiu-se mais forte, por isso preparou-se para voar outra vez, mas o rapaz
sugeriu-o e aconselhou-o a voar só de noite, porque aquela zona era demasiado
quente, e se voasse poderia voltar a ficar desidratado. Ainda lhe deu um barril
mais pequeno que levava ao pescoço, para que fosse bebendo.
O pássaro assim fez. O rapaz foi para a sua
casa, e o pássaro ficou na gruta a descansar. À noite, quando estava bem mais
fresco, o pássaro voltou a voar, e de vez em quando, pelo caminho bebia. As sementes
ficaram na areia.
O rapaz passou várias vezes pelo mesmo caminho
onde estavam as sementes, e não as viu, mas um mocho que voou numa noite sentiu
que algo havia debaixo daquela areia. Pousou, cheirou e não se enganou. Cheirava-lhe
a flores. Mas como iriam nascer flores naquele sítio?
Lembrou-se das fadas que costumavam andar de
noite, na cidade que ele vigiava. Foi ter com elas, contou-lhes, e elas
trataram logo de ir ver o que se passava. Confirmou-se…cheirava mesmo a flores…e
estavam debaixo da areia.
As fadas molharam todo aquele espaço de areia,
regaram as sementes, puseram uns pedaços de relva fresca em cima da areia, e
alimento natural para que as sementes crescessem.
Todos os dias, durante algumas semanas as
fadas precisavam de ver como estavam as sementes, e a terra, e passaram a
visitar aquele espaço, regavam e faziam festas, danças, convívios…porque
achavam que a felicidade delas ajudava as sementes a crescer.
E tinham razão. Passado algumas semanas, de
dedicação e carinho, o pezinho, as folhinhas e o botãozinho começaram a sair da
terra. Elas festejaram, e aplaudiram, dançaram á volta das novas plantinhas e
continuaram a cuidar delas.
As plantinhas foram crescendo, crescendo,
crescendo, e quando os botõezinhos abriram…Ááááááhhhh….que surpresa tão
agradável!
De uns botões apareceram uns enormes e lindos
girassóis, de outros botões umas rosas brancas, vermelhas, amarelas, e rosas, e
outras com cores misturadas, de outros nasceram margaridas, de outros uns
fantásticos amores-perfeitos, e de outros, vários ramalhetes de hidrângeas
brancas, rosadas, azuis e roxas. Tão grandes…
Mesmo sendo um deserto, esse recanto com
flores maravilhosamente cuidadas pelas fadas passou a ser um lugar muito frequentado,
por fadas, elfos, unicórnios, pássaros, borboletas e outros animais que se
reuniam para estar em família, com amigos, festejar, relaxar, procurar
inspiração para poetas e pintores, fotógrafos, e caminhantes.
Muitos abrigavam-se do calor debaixo das
flores, que por serem tão grandes faziam sombra. As fadas gostaram tanto da
surpresa que quiseram pôr lá mais flores que elas mais gostavam, árvores e
fontes de água, lagos, repuxos e cascatas para beberem, refrescarem-se, regarem
as flores e fazerem lindos espetáculos que toda a gente ficava encantada.
Muita gente foi para lá de manhã bem cedo,
aproveitar a fresca e ver o belo nascer do sol, ao fim da tarde iam ver o
mágico pôr-do-sol, e à noite viam o imenso céu cheio de estrelas.
Em noites de lua cheia gigante as pessoas da
cidade iam para o jardim em que foi transformada essa parte do deserto e faziam
bailados, festas à luz da lua.
Estas sementes mudaram o deserto, e a vida das
pessoas da cidade, que ganharam um pequeno e maravilhoso jardim, um recanto
refrescante, inspirador e relaxante. Tudo ficou diferente a partir daí…
Uns meses mais tarde, o pássaro voltou lá, e
nem queria acreditar no que estava a ver. Parece que ficou hipnotizado, e
encantado. Nessa noite, o mocho contou-lhe que não sabia de onde tinham vindo
aquelas sementes de flores, mas elas nasceram e deram aquelas belezas.
O pássaro ficou pensativo, passeou por todo o
jardim, saboreou cada pedacinho, cheirou cada flor, sentiu a frescura e os
perfumes, ouviu a água a cair, e a borbulhar…e lembrou-se que poderiam ser as
que ele tinha levado, daquela vez que as transportou e que caiu naquele sítio
com o calor… não disse nada, sorriu apenas e agradeceu.
Também ele, sem querer…tornou-se outro atractivo
do jardim, porque era de uma espécie desconhecida, mas muito bonito, e toda a
gente se aproximava, olhava e elogiava as suas penas, pediam-lhe para lhes
tocar e ele deixava, era muito fotografado, desenhado, pintado. Passou a fazer
parte das festas que as fadas e os habitantes faziam. Todos adoravam aquele
lugar mágico.
Ainda bem
que as sementes caíram nesse sítio e que alguém reparou nelas, cuidou delas,
regou-as, e juntou outras tantas. Talvez por isso é que elas tenham resistido
no meio de tanto calor…onde todos as tratavam bem, com respeito, sem estragar
nem poluir, apenas…olhar para elas, e deliciar-se com cada pormenor que
ofereciam.
FIM
Lálá
(19/Julho/2016)
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