Era uma vez uma jovem rapariga que se chamava Rubi, e vivia num acampamento de índios com uma grande família, numa montanha mais ou menos perto da cidade, onde às vezes também precisavam de ir trabalhar.
A
vida era muito diferente no acampamento e na cidade! Um dia, Rosa, uma amiga da
Rubi, que vivia na cidade, quis ir com ela para conhecer o seu espaço e a
montanha. A Rubi também já tinha ido muitas vezes para a sua casa.
Foi
muito bem recebida, no início achou tudo muito estranho, mas ao mesmo tempo
engraçado e muito especial. Conheceu os muitos rituais de agradecimento, as
danças diárias, as refeições, as roupas, as tendas, os objetos…ficou surpresa e
assustada mas explicaram-lhe tudo com orgulho, e ela aprendeu encantada.
Teve
a possibilidade de ver a maravilhosa princesa de vestido preto com estrelas,
que ela pensava ser uma pessoa e afinal era a noite! Era muito mais bonita do
que se fosse realmente uma pessoa como elas, pelo menos todos diziam isso e ela
concordou.
Tanta
estrela! Uau! De perder de vista. Deitados no chão…lindo! Diziam que a princesa
de vestido preto era leve e bailava como uma pena, com o vento. Realmente parecia
que todo o céu que estava por cima deles se mexia. A cama era muito confortável.
No
dia seguinte, assistiu ao nascer do sol, e ao ritual que faziam para o
cumprimentar e agradecer o terem acordado, e o que estavam a ver. Rosa
arrepiou-se com a energia que se formou nesse momento.
De tarde a Rubi levou a sua amiga Rosa a um
pequenino vale muito perto do acampamento, e disse-lhe para não falar! Ia conhecer
dois amigos seus…esperam em silêncio até que chegaram os dois amigos…o vento
que nunca vinha sozinho, trazia sempre o seu inseparável companheiro, de nome
silêncio.
- Olha Rosa, chegaram! Olá! – Diz Rubi a sorrir
- Quem? – Pergunta Rosa
- Os meus amigos!
- Onde estão? Não vejo ninguém.
- Estão aqui. Amigos, apresento-vos a minha amiga da
cidade. Chama-se Rosa.
- Mas tu falas sozinha?
- Não! Falo com os meus amigos!
- Amigos imaginários? Desculpa, acho que já somos muito
crescidinhas para falar com amigos imaginários…isso são coisas de crianças
pequenas…
- Não! Eles são reais.
- Mas não vejo aqui ninguém. A não ser…nós as duas!
- Fecha os olhos e ouve-os! Eles vão falar contigo. Não digas
nada, para já. Primeiro ouve. O meu amigo silêncio acabou de te dar um abraço,
e o meu amigo vento está a fazer-te carinhos! Estão a dar-te as boas vindas.
- Não senti nada…nem um nem outro. Nem os vejo! Os nomes
dos teus amigos são esses? Vento? E silêncio?
- São.
- Nunca outra ouvi.
- Fica em silêncio.
- Mas eles falaram? Não ouvi nada…? Porque é que não
aparecem? São envergonhados?
A Rubi ficou em silêncio e pediu à amiga
para fazer o mesmo. Rosa ficou muito surpresa, ficou calada, mesmo sem perceber
o que estava a acontecer, e porque tinha de ficar calada, porque é que os tais
amigos não aparecem, nem ela conseguia ouvir…
- Rosinha…por favor…manda calar um bocadinho as vozes
que estão a falar na tua cabeça.
- O quê? Estás a ouvir vozes na minha cabeça…? Ai…!
- Sim! São os teus pensamentos. Estás a pensar não
estás?
- Estou…
- Sei que queres saber o que está a acontecer, que não
estás a perceber nada, e que queres ver e ouvir os meus amigos…queres saber
porque é que eles não falam, nem aparecem…mas…espera! Fica só em silêncio.
- Tu consegues ler os meus pensamentos?
- Consigo. É o vento que me está a dizer. Não te
assustes. Fica descansada…sem falar, e aproveita esta companhia do meu amigo
silêncio.
- Está bem…
- Sossega. Daqui a pouco vais saber todas as respostas.
E passado um bocado Rubi ri-se e fala com o
vento.
- Estás a falar comigo? – Pergunta Rosa
- Não. Desculpa. Estou a falar com o meu amigo vento!
- Mas eu só te ouço a ti, e só te vejo a ti. Tu deves
ter uns parafusos a menos…desculpa! É que não estou habituada a estas coisas…
- Não te preocupes. (sorri) Tu também podes ouvir o meu
amigo vento, e o meu amigo silêncio! O meu amigo silêncio está aí ao teu lado. O
meu amigo vento está a falar…fica em silêncio, fecha os olhos e ouve o que a
brisa que sentes te diz. Não é uma pessoa, mas ele fala. E como vem com o seu
amigo podemos ouvi-lo, perceber o que diz quando toca nas folhas, nas flores,
no chão, na erva, na água, nas folhas dos pinheiros, entre os troncos, nas
penas dos pássaros, no pelo dos animais, nas árvores e em nós…ele também canta
e fala de sentimentos. Sente…ri…chora…revolta-se…os dois também vão à cidade,
mas nunca ninguém os ouve, ou entende. Se o nosso amigo silêncio não andasse
com ele, nunca conseguiríamos ouvir o vento, nem percebê-lo, tal como acontece
entre nós pessoas…também não nos conseguimos ouvir uns aos outros, se falarmos
ao mesmo tempo, ou se estivermos distraídos a pensar noutras coisas, enquanto
falamos com alguém. Na cidade há muito barulho, e movimento, não conseguimos
senti-lo…passa-nos despercebido com tanta correria. Na cidade, o vento não é
bem recebido, a não ser quando está calor. Mas ele gosta de conversar. Aqui aprendemos
a ouvi-lo, e é muito bom! Experimenta. Só tens de fechar os olhos…estar em
silêncio, e ouvi-lo!
Rosa
ouviu a Rubi atentamente, e sorriu com a beleza da explicação. Nunca tinha
pensado em nada disto. Nunca outra tinha ouvido, e nunca tinha falado com o
vento, nem achou que fosse possível…pensou que essas coisas eram ideias de
pessoas misteriosas, com poderes, ou com algum problema mental, pois era o que
lhe diziam na cidade.
Rubi
ensinou-a, e vários fins-de-semana seguidos, a Rosa acompanhou Rubi ao
pequenino vale onde as duas se encontravam com o vento e com o silêncio, e
aprendeu também a ouvir o vento, a compreendê-lo, a interpretá-lo, a falar com
ele!
Com
o silêncio, ela sentia uma grande paz, alguma coisa que ela não conseguia dizer
por palavras, tal como a Rubi, arrepiava-se, ria e chorava com a Rubi e com os
dois amigos. Depois de aprender, as duas tinham longas conversas com o vento, e
Rosa ficou muito diferente!
Até
na cidade ela sentia a presença do seu amigo silêncio e do vento, às vezes
chamava-os, quando precisava de relaxar e tomar decisões ou fazer escolhas difíceis,
pedia conselhos e ouvia-os.
Com a Rubi e os seus dois amigos: o vento e
o silêncio, Rosa descobriu todo um mundo novo que estava diante de si, mas que
lhe era totalmente desconhecido pelo barulho e agitação da cidade.
Fim
Lálá
(30/Julho/2016)
DESAFIO:
E vocês? Conseguem estar em silêncio e ouvir o vento? Já
imaginaram que o vento fala? O que acham que ele diz ou pode dizer? O que ouvem
no silêncio? Imaginem, experimentem e escrevam alguma coisa que o vento vos
tenha dito.