Era uma vez um jovem que estava desempregado, era músico, e saia de casa todos os dias, com um instrumento musical diferente para conhecer outros lugares, em busca de inspiração.
Numa tarde entrou numa estufa que estava com a porta aberta. Não havia ninguém, mas também se aparecesse alguém, ele explicaria que não ia fazer mal às plantas, e o que estava lá a fazer.
A estufa não parecia abandonada, mas as plantas quase não se viam. Talvez tivessem sido lançadas à terra há pouco tempo.
Sentou-se numa cadeira de ferro, bonita, cheia de rendilhados, e ficou em silêncio a observar, à espera de algum som. Nada. Nem um gemido do vento, nem um olá de um raio de sol. Estava tudo silencioso.
Hoje tinha saído com uma flauta e um violino. Começa a tocar a flauta, uns sons soltos, esperou por algum som de volta, mas nem um.
Tocou mais umas notas soltas, e...surpresa...recebeu de volta um passarinho pequenino, com penas muito coloridas, e um piar tão doce que ele quase não o via.
- Olá! - diz o jovem
- Olá. - diz o passarinho
- Esta estufa é tua? - pergunta o jovem
- Não...venho só aqui de vez em quando, porquê? És o novo dono? - responde e pergunta o passarinho
- Não. Tem dono?
- Tem.
- Eu só vim à procura de inspiração, estou sem trabalho, aproveito para passear, e trago alguns instrumentos.
- Ins...quê? O que é isso? Estás doente? - pergunta o passarinho
- Não… felizmente não! - ri o jovem - desempregado. Quer dizer que como não tenho trabalho, saio de casa e venho à procura de coisas que me façam criar ideias para músicas.
- E o que fazes com esses…?
- Instrumentos?
- Sim, isso.
- Fazem parte do meu trabalho.
- Áh! E o que é que eles fazem?
- Música. Não conheces?
- Não.
O passarinho voa para a mesa, e olha para o jovem. Este sorri.
- Que bonito que tu és!
- Obrigado.
- Queres ver como toca?
- Sim…
O jovem toca uma música inteira, que o passarinho, sem saber, conhecia, e acompanhou com o seu canto. No fim da música, o rapaz aplaude o passarinho, e o passarinho aplaude o rapaz.
- Que momento tão bonito! Obrigado, passarinho. Adorei. - diz o rapaz a sorrir
- Obrigado, eu. Também gostei muito. Eu já conhecia essa música, mas não sabia que a tocavas.
- Bem, não sou só eu que toca. Muita gente, que gosta desta música, toca-a.
- Áh! E como se chama esse instrumento?
- Flauta.
- E este?
- Violino!
- Qual é o som dele?
O rapaz exemplifica. O passarinho arrepia-se.
- Uau! É forte. Mas parece bonito. Fiquei com as penas todas arrepiadas.
O rapaz ri.
- É porque gostaste.
O rapaz toca uma música completa com o violino, e o passarinho dança, canta com ele. O passarinho quer experimentar a flauta.
O músico explica-lhe, como se faz, e diz-lhe para tapar os buraquinhos com as patinhas conforme ele aponte. Os dois divertem-se tanto, riem tanto, que nem se aperceberam das cabecinhas de plantas que se tornaram visíveis.
Quando olham para o chão:
- Ei, o que é que aconteceu aqui?
- Não sei.
- Isto não estava aqui.
- Pois não.
Entra uma senhora com mais idade, e dá um grito:
- Áhhhh… mas o que é isto? Quem és tu? Como é que entraste aqui…? Para roubar ou destruir a estufa, não?
- Óh, não, querida Senhora. É a dona da estufa?
- Sim.
- Mil perdões, não queria assustá-la.
O jovem dá-lhe o lugar da cadeira, e conta-lhe a sua história. A senhora sorri aliviada, e diz:
- Olha que engraçado, as cabecinhas estão a aparecer… será que foi com a tua música? Que lindo passarinho. É teu?
- Não, entrou aqui há bocadinho, já nos rimos muitos, conversamos, tocamos… será que acordei as sementes?
Os dois conversam mais um pouco, e ficou prometido voltar no dia seguinte. O rapaz é muito delicado, e no dia seguinte, a senhora gostou tanto dele, que o esperava na estufa.
Abriu um grande sorriso quando o viu.
- Olá. Já está aqui? - diz o rapaz
- Sim, eu sabia que estavas para chegar. O teu amigo avisou-me.
- Olá. - diz o passarinho
- Olá, também já estás aqui? Boa!
- O que vais tocar hoje? - pergunta a senhora
- O que quiser...tem assim alguma música que goste mesmo?
A senhora identifica uma música de que sempre gostou, e o músico toca, acompanhado por instrumentos, com o passarinho. A senhora canta, com um sorriso luminoso e brilho nos olhos.
O músico fica deliciado. As cabecinhas crescem mais uns quantos centímetros. A senhora aplaude no final.
- Obrigado por este momento. Que lindo que é o seu sorriso, e o brilho dos seus olhos! - diz o jovem feliz por ver a Sra. a brilhar com a sua música
- Obrigada eu. A tua música deixa-me muito feliz, e tu tens uma luz muito bonita, és um ser especial.
- Acha? Hummm… não sei.
- Claro que sim! Não é qualquer um que me põe com um sorriso e um brilho nos olhos de felicidade.
- A sério?
- Sim.
- Que maravilha! Então venho cá mais vezes, só para ver a sua felicidade, de ouvir a minha música.
- Óh, filho, mas claro que sim, tenho todo o gosto que venhas. Vem sim, por favor.
- Sem favor!
- Olha como estão a crescer as minhas plantas, e flores. A tua música é especial, até as plantas gostam. Que lindo!
O jovem sorri, os dois decidem ir passear pelo resto do quintal e da casa, ele de braço dado com a senhora, e ela a contar histórias sobre os espaços, as árvores, a casa, a família.
Ela convida-o para lanchar, e conhecer a família. É muito bem recebido, e toca algumas músicas, que todos conhecem, acompanham alegremente, a cantar e a dançar.
Nos dias seguintes, o jovem lá estava, numa conversa animada com a senhora, com instrumentos diferentes, a tocar e a divertir toda a família. Todas as plantas cresceram de forma gigante e rápida.
- Que bonitas! - diz o rapaz
- Olha como cresceram. Foi a tua música! - diz a senhora surpresa
- Eu acho que foi mais o seu sorriso, e o que tem de bom como pessoa. - diz o jovem
A senhora ri.
- Obrigada, filho, és um amor. Mas eu acho que foi a tua música, porque elas também são sensíveis à música, e à voz, ao carinho humano.
- Com certeza, não tenho dúvidas disso!
Todas as histórias que o jovem ouviu da senhora, inspiraram-no para criar músicas, e todos os dias ele tocava para ele, dizendo que foi inspirada na história de uma árvore, ou na história sobre o que aconteceu à volta de outra, na história do convívio à luz da lua, na eira.
A senhora e a família adoravam todas as músicas novas que ele trazia. Sempre que o rapaz vai lá tocar, e cantam, as plantas e as flores crescem mais um bocado, ficam tão grandes que o rapaz não pôde entrar mais na estufa.
Mesmo assim, continuou a visitar a senhora todos os dias, a tocar para ela, todos se deliciavam com o tamanho das flores, até no exterior.
Flores, e não só, porque tudo o que foi plantado, legumes, cresceu para surpresa de todos. Tornaram-se uma verdadeira segunda família para o músico, que até arranjou emprego, graças à senhora que divulgou o trabalho do jovem, e este começou a dar aulas de música, a ensinar todos os que queriam aprender a tocar muitos instrumentos diferentes.
Mas só alguns conseguiam fazer as plantas e legumes crescer como ele. Muitas pessoas acreditavam que fossem aqueles que tinham um bom coração, mais puros, ou os que faziam os outros felizes, como o jovem fazia a senhora.
FIM
Lara Rocha
(12/Abril/2022)
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