Era uma vez uma menina que se chamava Rubi, pelo seu cabelo ruivo. Um dia de Verão foi passear com a sua amiga Mara, e o seu cão, pela montanha.
As duas seguiam muito animadas, tão distraídas a cantarolar, felizes, que nem se aperceberam da falta do chapéu da Rubi.
Só quando o cão, que também ía distraído, parou a olhar para elas, é que olharam uma para a outra.
- Porque é que ele parou a olhar para nós? - pergunta Rubi
- Não sei. Será que ele está a querer dizer-nos alguma coisa? - pergunta Mara
O cão ladra. As duas estremecem e olham-se:
- Espera aí...acho que te falta qualquer coisa!
- O quê?
O cão ladra outra vez.
- O teu chapéu? - pergunta Mara
- Chapéu? Está...na minha cabeça!
- Não está não!
- Como não está? Claro que está! Eu sei que o... (põe a mão na cabeça) ahhhhh...eu trouxe-o.
- Mas não está na tua cabeça!
- Pois não!
- Acho que o perdeste...
Elas veem qualquer coisa a voar, mais longe de onde estão. O cão ladra e desata a correr.
- É o meu chapéu! - grita Rubi
- Apanha-o, manchinhas...- grita Mara para o cão
Mas nada feito. Mesmo depois de muito correrem, o chapéu vai mais rápido que elas.
O chapéu e os malandrecos dos pequeninos passarinhos que tiraram o chapéu da cabeça da menina,
mandados por um grupo de anões levezinhos, malendrecos, mas com bom coração.
Usaram o chapéu tirado da menina pelos passarinhos, para chegar mais rápido a um lugar
onde tinha acabado de nascer um bebé nas suas famílias.
Claro que não deviam ter feito isso, mas chegaram e pousaram o chapéu, no tronco da árvore em frente à
casinha. Entraram para ver o novo ser.
O vento ajudou-os, mas depois ficou envergonhado e triste.
Sentiu-se arrependido, quando se lembrou que o chapéu tinha sido roubado à menina.
Decidiu devolver o chapéu, ainda mais porque viu que a Rubi corria de um lado para o outro, à procura dele.
Como estava envergonhado, soprou o chapéu para uma fonte, para a menina o ver,
e ele ficou no mesmo sítio.
Os três, veem o chapéu na fonte, e tentam agarrá-lo. O cão saltou para a fonte, e trouxe-o, todo encharcado.
Ficaram contentes, mas a Rubi também ficou triste por não poder pôr o chapéu na cabeça.
Decidiram pô-lo a secar, pousado na berma do lago, onde dava sol.
Estenderam-se, para descansar e apanhar sol, mas acabaram por adormecer.
Os malandrecos dos anõezinhos levezinhos, saem passado um bom bocado, e procuram o chapéu.
O vento queria mostrar à menina quem roubou o chapéu, e os anões tinham que pedir desculpa.
Soprou o chapéu para a água do lago, os anões correm numa grande gritaria, acordam as meninas e o cão desata a ladrar.
As meninas gritam:
- O que foi?
- O chapéu está na água outra vez! - repara Mara
- Óh, não! - Diz Rubi desolada
- Adormecemos e ele voou. E agora? - pergunta Mara
- Quem são estes? - perguntam as duas
Os anões ficam muito nervosos, gritam e saltitam.
Eles não podem ir buscar o chapéu, mas dizem à menina que o chapéu é deles.
- Não, não! O chapéu é meu!
- Vocês roubaram o chapéu dela? - pergunta Mara
- O chapéu não é dela! Nós fomos nele ver um bebé de família. - explica um anão
- Mas o chapéu é meu, e não é para transportar anões ladrões! - resmunga a Rubi
- Nós não roubamos nada! - defende o outro anão
- É claro que roubaram!
- Que coisa mais feia. Ele estava na minha cabeça, não estava em qualquer outro sítio. - justifica Rubi
- Pois, e ela nem sentiu que o tiraram. - acrescenta Mara
- Isso foram os passarinhos que o tiraram, não fomos nós. - diz outro anão
- Os passarinhos, claro...! E vocês acham que nós acreditamos nessa... - diz Rubi irónica
Os passarinhos que já se preparavam para pegar outra vez no chapéu, pararam e ficaram a ouvir.
Ficaram irritados, e começam numa grande chilreada.
O cão também fica nervoso, ladra e rosna, tentando apanhar os passarinhos.
- Ladrões! - gritam as duas
- O chapéu apareceu na fonte, e agora está aqui no lago. - relembra Mara
- Voou! Não fomos nós. - reforçam os anões
- Foram eles. - Acusa outro anão
Os passarinhos ficam irritados e tentam puxar os cabelos aos anões por os estarem a acusar.
Os anões sacodem-nos, o cão ladra, e salta.
- Parem quietos...! - grita Rubi
- Se os passarinhos ajudaram também são ladrões. - diz Mara
- Não chegavam estes, ainda tinham que vir reforços... atrevidos! - ralha Rubi
- Estão todos metidos...não têm vergonha? - ralha Mara
Os anões ficam em silêncio e envergonhados, como os passarinhos.
- Gostavam que nós vos tirássemos os carapuços, as calças, os sapatos ou as camisolas?
E que disséssemos que não fomos nós? Ou se depenássemos os passarinhos?
- Não! - respondem os anões, e os passarinhos abanam-se.
- Vão ali buscar o chapéu, e devolvam-me. - grita Rubi
- Não podemos ir. - dizem os anões
- Porquê? - pergunta Mara
- Porque não sabemos nadar! - explicam os anões
- Não sabem nadar...? Que espertinhos! Estão a ver se nos enganam. Arranjem-se.
- Óh! Estamos a dizer a verdade. - diz outro anão
- Isso é desculpa vossa. - dizem as meninas
O vento sorri e dá uma ajudinha, quando o cão se preparava para levantar e ir buscar o chapéu.
O vento pousa o chapéu na berma.
- Áh! Veio sozinho? - pergunta Rubi muito surpresa
- Não. Foi o vento que nos trouxe, que o soprou, porque não sabemos nadar. - diz um anão
- E o lago pode ser perigoso para vocês! - explica outro anão
- Áh! Então o vento também estava feito convosco! - constata Rubi
- Foi só para nos ajudar. Desculpa! - diz um anão envergonhado
- É! Desculpem, não devíamos ter tirado o teu chapéu! - diz outro anão arrependido
- É! Não! Estávamos tão felizes que queríamos chegar mais rápido.
- Mas isso não é justificação...pois...nós...não roubamos, mas...roubamos! - reconhece outro
- Desculpem! - dizem os anões
- Está bem...eu já percebi que não fizeram por mal! - diz a Rubi
- Não! - respondem os anões
- O que podemos fazer para vos compensar? - pergunta um anão ´
- Que tal se formos lanchar convosco, enquanto o chapéu seca? - sugere outro anão
- Olha! Boa! Enquanto lanchamos, conversamos e secamos o chapéu no nosso secador de roupa.
Aceitam? - sugere ainda outro
As duas meninas olham-se, sorriem:
- Aceitamos!
- Vocês moram longe daqui? - pergunta Rubi
- Não!
- Tu já passaste à porta da nossa casa, onde te roubamos o chapéu.
- Áh! Nós íamos tão distraídas que nem sentimos que tiraram o chapéu!
Mas o mais importante é que vocês perceberam que fizeram mal.
O que fizeram não se faz, mas devolveram o chapéu! - Diz a menina
- Nós... não sabíamos o que é isso de...roubar. - diz um anão
- Roubar, é ficar com coisas que não são nossas, que tiramos de outras pessoas sem elas deixarem, ou sem saberem.
São as coisas que levamos sem nos oferecerem, e sem deixarem que levemos.
- Áh! Já percebi. - diz o outro
- Então nós roubamos mesmo. - diz outro anão
- Sim, roubaram, mas já devolveram! - relembra Mara com um sorriso
- Vocês não ficam zangadas connosco? - pergunta um anão
- Não! - dizem as duas
- Há bocado ficamos muito zangadas, mas o chapéu apareceu, e já não estamos zangadas. - confirma Rubi
- Boa! Então vamos à nossa casa. Passarinhos, venham também.
- Afinal fomos maus convosco, por isso temos de vos recompensar. - diz outro
Os passarinhos cantam docemente, muito surpresos com o que acabaram de ouvir.
Todos se levantam, e os anões conversam pelo caminho.
Mostram às meninas coisas que elas nunca tinham visto, nem nessa tarde, porque andavam à procura do chapéu.
O cão acompanha-os, cheira tudo, ladra, corre, salta.
As meninas dançam, cantam com os anões, riem, oferecem flores, colhem alguns frutos preferidos delas.
Chegam à sua casa.
- Áh! Pois já tínhamos passado aqui, já! - lembra Mara
- Sim, claro! Olha a nossa casa. - aponta Rubi
- Vê-se daqui? - perguntam os anões
- Sim! Ali. - dizem as duas
- Áh. Que casas tão grandes! - comenta um anão
- São mesmo. - respondem as duas
Outro anão assovia, os vizinhos aparecem com as suas famílias, muito simpáticos.
- Amigos, apresento-vos duas amigas novas, mais um cão... - diz um anão
O cão ladra. As meninas sorriem:
- Olá! - respondem as duas
- Olá! - respondem todos e todas
- Vamos fazer um lanche...venham. - diz o anão dono da casa
- Entrem, meninas... fiquem à vontade. Vou pôr o chapéu a secar, e já volto.
- Muito obrigada. - dizem as duas
As meninas instalam-se, visitam a casa toda, conversam animadas com os anões.
Ficam encantadas com a decoração da casinha.
Alguns anões preparam um lanche delicioso, com a ajuda das esposas.
Provam coisas novas, muito boas, outras que já conheciam.
Bebem chás perfumados que nem faziam ideia que existiam.
Enquanto conversam alegremente uns com os outros, riem e brincam, o chapéu seca.
Depois da tarde bem passada, cheia de novos amigos, as meninas têm de regressar a casa,
com a promessa de voltarem a encontrar-se em breve, trocas de abraços, beijinhos e sorrisos.
O vento está orgulhoso e feliz da ajuda que deu.
Principalmente porque os anões aprenderam uma coisa nova,
reconheceram que a sua traquinice é uma asneira e não se faz,
mesmo não sendo com maldade, porque não sabiam.
Foi bom, eles terem devolvido o chapéu à menina. e pedirem desculpa. É assim que se faz! Podemos partilhar e ficar com o que nos emprestarem, mas devolvemos.
Ou então, se nos derem, mas não devemos ficar com o que não é nosso, porque isso, é roubar. Roubar deixa as pessoas tristes porque ficam sem as coisas. E quem rouba, pode ficar sem amigos.
FIM
Lara Rocha
19/Dezembro/2020