Era uma vez um ser muito pequenino, muito simples, feito de paus e folhas. Um dia, os seus pais fizeram uma grande festa em casa, com muita gente de família, que durou até de manhã, mas os pequenitos, ele e os primos, quiseram experimentar dormir no terraço da casa, que era um lugar sossegado.
Esse pequenino e os primos, acomodaram-se como puderam, instalaram-se confortavelmente em cascas de bolotas, espalhadas por todo o terraço, pelo vento, que levantava e arrastava as folhas, as bolotas e tudo o que apanhasse.
Cabiam na perfeição, era um lugar aconchegante! Cobriram-se com uns trapinhos do pequenino ser, e ficaram em silêncio, naquela noite, protegidos do vento, mesmo assim, ouviram sons desconhecidos de todos, só o pequenino é que já conhecia.
Ouviram vento a mexer com as folhos no solo, e o vento entre as árvores.
- Ai, o que é isto, primo? - perguntou um pequenino assustado
- Não precisam de ter medo, é o vento a embalar as folhas no chão para elas dormiram. - disse o pequenino da casa
- E as folhas dormem?
- Dormem!
- Acho que deve ser algum monstro debaixo das folhas. - diz outro pequeno
- Qual monstro, qual quê? Nunca vi nenhum monstro aqui! É o vento!
Passado um bocadinho, ouvem o barulho dos mochos e das corujas a piar. Ficam todos estáticos.
- O que é isto, primo?
- São os mochos e as corujas a piar.
- Já costumas ouvi-los?
- Já.
- Fazem mal?
- Não!
Tentam adormecer, mas não há maneira. Ouvem outro barulho:
- Primo, o que é isto?
- São cigarras e grilos a cantar!
- Já conheces?
- Já. Durmam, estamos num lugar seguro!
- É que estes barulhos são muito esquisitos.
- Não são nada. Ouçam, como é bonito o cantar deles e delas.
- São perigosos?
- Não. Nem se veem.
Distraem-se com os barulhos, e como não conhecem o lugar, tudo os assusta. Passam uma águia a voar baixinho.
- Primooo... - gritam todos
- O que foi? Durmam! - resmunga o pequeno
- Quem é este aqui por cima?
- É uma águia. - estremece - não se mexam.
- É perigosa?
- Esta pode ser.
A águia paira:
- Olá, boa noite... aqui fora, hoje? - pergunta a águia, simpática
O pequenino ser, tenta disfarçar o medo, mas responde:
- É! Hoje houve festa cá em casa, ainda está a haver, e nós, mais pequenos viemos dormir para aqui, mas os meus primos estão tão assustados que não me deixam dormir, nem dormem.
- Áh! Estão com medo, e tu também! Não, não fiques envergonhado, nem precisas de disfarçar, eu sei que todos têm medo de mim, e dos meus, mas somos vítimas de discriminação, pelo nosso aspeto! Só que, nem sempre é verdade, o que dizem por aí de nós. - diz a águia
- A...A sério...?
- Sim!
- Como não estão com sono, querem ouvir a minha história? - pergunta a Águia
- Sim! Por favor... - respondem todos
A águia chama-os, para se aproximarem mais. Todos se chegam mais para a beira do primo, sentam-se nas caminhas e olham para a águia. Como ela é gigantesca, e no escuro ainda parece maior e mais assustadora.
- Sei que vos pareço agora, ainda mais assustadora em tamanho, e porque o escuro desperta a nossa imaginação! Porque é que dizem que somos tão perigosas... - a águia conta pacientemente a história da evolução da sua espécie, fala sobre a forma como vivem, e o que se diz delas. Às vezes dá mais intensidade às palavras que diz, e os pequeninos estremecem, quase com os olhos a saltar de órbita, desde que a Águia contou a sua história. Quando eles estremecem, ela ri-se e diz:
- Desculpem, não vos quero assustar... é só o meu entusiasmo! Continuando...
Os pequenos riem, ouvem atentamente, e como ainda estão muito despertos, a Águia convida-os para dar uma pequenina volta, nas suas asas, só naquele espaço, para conhecerem os barulhos e dormirem descansados.
Eles aceitam, adoram sentir a maciez e o calor das penas da águia, ela voa devagar, e baixinho, mostra cada milímetro daquele espaço, quem vive nesse lugar, põe-nos a ouvir os sons e explica o que são, quem os faz, e garante que não são perigosos.
Põe-nos a ouvir barulhos mais distantes, e fala sobre eles. Os pequeninos começam a ficar mais calmos, e com sono. A águia devolve-os ao terraço, deita-os nas caminhas, cobre-os, e levanta voo. Eles dormem até de manhã, quando os pais vão buscá-los.
A partir dessa noite, os pequeninos seres não tiveram mais medo de barulhos, porque quando voltaram para as suas casas, pediram aos pais, e aos avós que lhes apresentassem o espaço onde estão, ficaram muito atentos aos barulhos que os cercavam, dentro e fora de casa, com luz acesa, luz apagada, de dia e de noite, com escuro e claridade, aprenderam a distingui-los, e a saber que estavam num lugar seguro.
Sempre que iam para casas de familiares ou amiguinhos, lembravam-se que podiam ouvir barulhos diferentes, mas estavam com pessoas que conheciam, e que não faziam mal, por isso, dormiam descansados.
E vocês, pequeninos leitores, conhecem os barulhos que há fora e dentro do vosso quarto? Quais são? Podem pedir aos vossos papás para os desenhar, ou escrever aqui no blog.
Fim
Lara Rocha
24/Outubro/2020
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