Era uma vez uma menina muito especial, que vivia
com a sua família numa toca num tronco de árvore, com musgo, folhas, cascas de
árvores, bolotas, e pedacinhos de algodão. Dormiam numas verdadeiras camas
macias e quentes, feitas com pétalas de flores e edredões cheios de dentes de
leão. A casinha tinha tudo!
A
menina andava entre as pessoas, mas nem toda a gente via, porque ela era feita
gotas de água, em forma de cristais que brilhavam quando o sol lhe dava, e apareciam
arco-íris.
Ao longo do dia, e à noite
um conjunto de nuvens descia para o jardim da casa da menina, pousavam entre as
duas árvores e formavam um baloiço grande, leve, para onde todos adoravam ir.
A menina sentava-se e dava
lanço, outras vezes instalava-se confortavelmente nas nuvens e deixava que o
vento tratasse do assunto. Quando ia para o baloiço, conseguia ver muito longe,
estava atenta a tudo o que via, via pessoas e natureza.
Era nesses passeios de baloiço
que alguns a conseguiam ver, ficam encantados com aqueles pequeninos arco-íris
e brilho de cristais que dançavam de um lado para o outro, só as crianças mais
pequenas algumas pessoas mais atentas, viam essa beleza.
As crianças mostravam aos
pais e a toda a família, mas estes não a viam, achavam que era imaginação dos
pequenos. Ela sorria, e acenava a quem a via, e retribuíam. Um dia uma senhora
solitária estava à janela e viu a menina a brilhar. Primeiro assustou-se,
pensou que estava a ver coisas, olhou, e voltou a olhar, e viu a menina.
- Áh! O que é isto? Que coisa tão bonita.
Parece que de repente anda aqui uma estrela! Áh! Ou será que é mesmo uma
estrela que caiu? Não…não caiu, ela continua ali…! Será que sou eu que estou a
ver coisa? Óh, valham-me todos…será que estou a perder o meu juízo? Será que
mais alguém vê? Vou perguntar. Ou, se calhar é melhor não! Não…é melhor não, as
minhas amigas e família podem pensar que estou a ficar tolinha! Mas o que será
aquilo? Será que é dos meus olhos? Ou será mesmo real? Em criança é que eu
costumava ver estas coisas, de fadas, e estrelas, eu não…a minha imaginação, a
inocência da criança. Mas acho que as crianças de agora são muito diferentes,
talvez elas não vejam! Óh! É lindo. Parecem cristais encadeados em forma de
gente, como acontece às vezes nas formas das nuvens, com arco-íris.
A
menina pede às nuvens para a deixarem ir à janela da senhora.
- Olha, agora estão cristais aqui na minha
janela?
Abre
a janela, e a menina brilhante com os raios de sol a bater-lhe, sorri à
senhora:
- Olá! Sim, estás a ver-me!
- Áh! Como é que sabes?
- Eu vi o teu brilho nos olhos. Deixa-me
adivinhar…tu achas que eu não existo, não é? Achas que é tudo da tua imaginação,
ou que estás a ver coisas!
- Como é que sabes?
- Eu percebi! Sim, existo. Nem todos me
conseguem ver, mas existo!
- Porque é que nem todos te conseguem ver?
- A isso não sei responder, sei que
acontece!
- Mas tu és uma estrela lá do imenso
Universo?
- Não!
- És um astro? Um meteorito? Um cometa?
- Também não!
- Mas então…
- Sou como tu me vês! Feita de gotas de
água, brilho e crio arco-íris quando o sol me bate.
- Sim, é mesmo assim que te vejo! Que linda
que és! Entra, vamos conversar um pouco…podes fazer-me companhia?
- Claro!
A
menina entra, a senhora oferece-lhe um chá. As duas conversam, riem e chegam à
conclusão que afinal já se conhecem desde há muitos anos, desde que a senhora
era bebé.
- Acho que já percebi porque é que nem todos
te veem! – Diz a senhora pensativa
- Porquê?
- Porque andam muito distraídos, ou porque a
alma deles está velha! Não admira, andam sempre a correr, quase nem falam uns
com os outros, é só aquelas porcarias daquelas maquinetas, as crianças de agora
nem brincam!
- És capaz de ter razão! Também já percebi
isso. Andam sempre a correr, muito irritados, com caras compridas, sempre com
os telefones nas orelhas, e aquelas coisas com rodas a fazer barulho, e a
deitar fumo.
- Os carros…! Sim, é verdade.
- Mas onde é que eles vão com tanta pressa? –
pergunta a menina
- Dizem que vão para o emprego, o que lhes
dá dinheiro, é certo, mas também é o que dá cabo deles. Sim, estão sempre
irritados com tudo, só gritam, não veem nada do que se passa à volta deles, só
quando lhes toca!
- Pois é! Então também andam muito distraídos!
– Diz a menina
- Andam!
- Isso é triste. Perdem tanta coisa boa e
bonita à volta deles!
- Tens toda a razão! A ti incluída! Não te
veem…e és tão bonita! Também és tu que apareces nos campos, por cima da relva,
não és? – pergunta a senhora
- Sim, sou eu! Adoro andar pelos campos de
manhã, principalmente quando o sol amanhece.
- És o orvalho?! Aquele brilho fantástico
das gotinhas de orvalho no frio do Inverno! A geada…
- Sim. É tão bonito de ver! Também és tu,
que pousas nas pétalas das flores?
- Sou! Vou muitas vezes cumprimentar e
abraçar as minhas amigas flores, por isso que ficam lá os meus passos, tenho de
subir pelas suas folhas, e depois gosto de lhes deixar lá uns beijinhos e
mimos.
- É um regalo para os meus olhos! E és tu
que andas por cima dos poços, às vezes congelados?
- Sim, eu e a minha família, fazemos muitas
festas nessa altura, para celebrar aniversários e o Inverno, conviver… então
escolhemos sítios onde possamos dançar, claro, que tenha água. Gostamos tanto
de estar juntos que até congelamos poços! As nossas festas duram a noite toda,
e somos uma família gigante, entre tios, tias, primos, primas, avós, bisavós...
- Então também são vocês que enchem os
vidros de gotas, quando nós dizemos que estão embaciados?
- Isso mesmo! Nós andamos por todo o lado.
- As crianças também te devem ver!
- Sim, mas elas não sabem quem sou. Talvez
me vejam assim, mas não sabem o que faço, e os adultos acham que sou um ser
imaginário dos pequenos!
- Pois, é verdade! Para eles és como as
fadas e outras personagens encantadas, mas és muito mais bonita do que elas! As
fadas vi-as em criança, mas depois cresci nunca mais as vi, estou agora a ver-te!
Estou tão feliz de te ver! Como não tenho o que fazer para já, e adoro ver a
natureza, consigo ver-te…
- Claro! Não estás distraída. Ainda bem!
As
duas sorriem. Chegam os filhos e os netos da senhora, e não veem a menina,
chegam agarrados aos telemóveis e jogos eletrónicos, cumprimentam a Avó. Ela resmunga-lhes:
- Lá estão vocês com essa porcaria. Não veem
nada à vossa volta, com tanta coisa bonita, só veem isso que não tem interesse
nenhum. Não está aqui mais ninguém?
A
menina ri, eles respondem:
- Estás tu, Avó!
- Que distraídos…arrumem lá essas coisas, e
vão mas é para o campo ver as maravilhas da Natureza!
- Já vimos! – Respondem todos
- Veem agora lá alguma coisa…? Só tendes
vento nessas cabeças, não sai nada daí.
Os
netos continuam alheados a tudo. Os filhos, pais dos netos também entram,
cumprimentam a senhora, falam a correr, e saem.
- Lá vão eles com o fogo todo no rabo. Que tristeza
de mundo. Não têm tempo para nada! Não sei onde vão parar, não veem nada…
A
menina ri-se.
- Nem te viram.
- Não faz mal! Olha, vou ter de te deixar,
daqui a pouco são horas de lanchar com a minha família.
- Óh, já?
- Sim, mas volto noutro dia. Agora que me
vês, estarei aqui mais vezes, prometo!
- Combinado. Muito obrigada!
- Obrigada eu! Foi um gosto este bocadinho…
- Volta sempre que quiseres.
- Voltarei. Até já!
- Até já.
A
menina deixa uma gotinha no pires da chávena de chá e outra na janela. A senhora
sorri encantada. A menina voltou no baloiço de nuvens para a sua casa, e contou
o que aconteceu. Os pais e os irmãos ficaram encantados, e quiseram conhecer a
senhora. No dia seguinte, foram todos juntos, e encheram a janela da senhora de
gotas. Quando a senhora acordou, olhou para a janela, e disse:
- Olá, bom dia! Chegaste cedo, hoje!
- Bom dia! Trouxe os meus pais, os meus
irmãos, irmãs e avós que te queriam conhecer!
- Áh! Olá a todos… bem-vindos. Tomem o
pequeno-almoço comigo!
Todos
entram em forma de gotinhas, como a menina, e tomam o chá, enquanto conversam
com a senhora, muito animados. Depois desse dia, foram visitar mais vezes a
senhora, e ela ficava sempre tão feliz, de cada vez que via aquela família de
gotas, através das diferentes formas que apareciam.
Umas vezes em forma de
orvalho, outras vezes em forma de chuva, outras em forma de geada, ou poços
congelados, e pousavam muitas vezes na janela da senhora, onde deixavam sempre
um beijinho em forma de gotinha. E muitas outras vezes, entravam na casa da senhora para lhe fazer companhia, conversar, rir, e beber chá.
Nem toda a gente via a menina, e a sua família. Andavam todos com muita pressa, muito distraídos, e não reparavam nas coisas que havia à sua volta, tão bonitas, tão especiais como o orvalho em cima da relva, as gotinhas nas flores e nas folhas, as gotinhas nos vidros, os poços congelados e o brilho do sol nas gotas que faz aparecer pequenino arco-íris.
E vocês, conseguem ver esta
menina, com a família dela? Ela também anda entre nós. Procurem-na! E digam aos
vossos pais para fazerem o mesmo. Vale a pena parar uns minutos para ver a menina
de água, e a sua família. Os vossos pais conseguem vê-la? Onde?
Onde podem encontra-la
mais?
Podem fazer um desenho da
menina gotinha.
FIM
Lálá
24/Janeiro/2018
história para todas as idades; natureza; orvalho; geada; chuva; gotinhas; cristais; sol; menina; beleza,
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