Era uma vez uma pequenina aldeia de porquinhos que estavam muitas vezes tristes, porque tinham deixado de trabalhar. Eram animadores de rua, faziam lindos espectáculos pela cidade, recebiam muitas palmas, risos, sorrisos, e fotografias.
Estavam
sempre a brincar, as rir e a provocar gargalhadas, sentiam-se realmente felizes
quando viam todos a rir, até que as pessoas deixaram de reparar neles, ninguém
mais olhou para eles, nem riam, nem aplaudiam. Passavam a correr, indiferentes
aos simpáticos porquinhos, por isso, foram mandados embora, porque achavam que
a culpa era deles.
Os
porquinhos não percebiam porque é que as pessoas corriam tanto, não sabiam onde
iam com tanta pressa, e porque não reparavam neles. Ficaram tão tristes, e
passaram tanta vergonha, que não voltaram a sair da aldeia, preferiram ficar
escondidos.
Os
seus dias eram passados à janela, a olhar para longe, e para perto, perdidos
nas recordações felizes que tinham dos espectáculos que davam na rua, dos
carinhos, dos risos, das palmas e da atenção que recebiam de todos. Mesmo com
essas boas lembranças, as lágrimas não paravam de cair.
Quando
saiam, era só à volta de casa, pelo monte, nos campos, com um andar muito
devagar, a soluçar, à procura de alguma coisa que nunca encontravam, e voltavam
par a casa, para a janela.
Sempre
que se encontravam e cruzavam-se, olhavam uns para os outros, levantavam as patinhas
para cumprimentar, lá apareciam as lágrimas outra vez, e não diziam mais nada. Pensavam
muitas vezes, no que podiam fazer, para não ficar sempre naquela tristeza, mas
não se lembravam de nada, só queriam estar lá.
Um
dia, uma senhora velhinha foi ter ao monte onde viviam os porquinhos, com um
saco na mão, a andar muito devagar, a tossir, e a desequilibrar. Os porquinhos
ficaram muito atentos, esconderam-se e espreitaram dentro das janelas para ver
o que é que a senhora ia fazer.
Até
sentiram medo, mas ao mesmo tempo queriam ir ter com ela para ver se precisava
de alguma coisa. A senhora soava, tremia, tossia…os porquinhos ficaram muito
preocupados, e um deles perdeu a vergonha, esqueceu a tristeza, encheu-se de
coragem, e saiu de casa, foi ter com ela, e perguntou preocupado:
- Boa
tarde! Está tudo bem?
A senhora sentou-se no chão, e o
porquinho ampara-a.
- Ai…não
estou nada bem. Nem sei onde estou! Acho que…estou perdida, e…
O porquinho sentiu-a fraca e muito
quente:
- Acho que
está doente. Não se preocupe, vamos cuidar de si, e depois tentamos levá-la a
casa.
O porquinho assobia e aparecem todos
os outros que estavam de olho, surpresos e preocupados.
- O que
foi, amigo? – Perguntam todos em coro
- Acho que
esta senhora está doente…!
- Vamos
cuidar dela.
- Isso.
- Podemos
levá-la para minha casa! – Oferece outro porquinho
E todos ajudam a pegar na senhora,
levando-a para casa do porquinho que se ofereceu.
- É melhor
chamarmos o médico. – Diz outro porquinho, ligando imediatamente para o médico
da aldeia vizinha que conhecia muito bem.
Um porquinho dá um copo de água à
senhora que tosse sem parar. A senhora bebe e agradece. Pouco depois chega o
médico que a ausculta, todos os porquinhos estão muito atentos.
- Não é
nada grave. É gripe. – Diz o médico
Os porquinhos respiram de alívio, e
enchem o médico de perguntas, sobre como cuidar da senhora. Ela não quer ficar,
para não incomodar, mas os porquinhos não a deixam sair, e enquanto uns
cozinham, outros conversam com a senhora. Dão-lhe de comer, e no final depois
de muita conversa, a senhora descansa um pouco.
Os
porquinhos passam o resto da tarde de volta dela, a olhar para ela ao mais
pequeno movimento, ou barulho. Cumprem todas as ordens do médico, e tratam-na
com muito carinho, cobrem-na, dão-lhe água, dão-lhe medicamentos, medem-lhe a
temperatura, põem-lhe mais almofadas e mais cobertores, e conversam com ela.
À
noite, depois do jantar, um dos porquinhos tem uma ideia:
- Amigos,
acho que chegou a hora de reaparecermos…
- Como? –
Perguntam todos
- Vamos
animar a senhora.
- Como? –
Perguntam todos
- Então…? O
que é que nós fazíamos antes?
Olham uns para os outros, suspiram,
tristes…
- Achas
que vamos conseguir? – Pergunta um porquinho com as lágrimas quase a cair dos
olhos
- Claro
que vamos conseguir! – Garante o porquinho
- Acho que
já nem me lembro como se faz…! – Comenta outro porquinho triste
- Essas
coisas nunca se esquecem!
- Pois
não.
- Vá…toca
a acordar. A senhora precisa de nós.
- Tenho
tantas saudades… - Lamenta outro porquinho
- Por isso
mesmo. Eu também tenho muitas saudades.
- Boa! –
Gritam todos
Chocam as patas, abrem um grande
sorriso, reviram os caixotes dos disfarces, vestem roupas coloridas, pintam-se,
e a brincadeira começa. A senhora fica muito surpresa, olha para eles, e os
amigos atuam como se estivessem na rua, arrancando sonoras, saudáveis e
luminosas gargalhadas à velhinha.
Ela
ri e aplaude, interage com eles, participa das brincadeiras mesmo sentada, eles
dão-lhe carinho, oferecem-lhe flores, e os seus olhos ganham um brilho nunca
antes visto, de felicidade. Até fica boa mais depressa. Os porquinhos não
cabiam neles próprios com tanta felicidade, pelas reações da velhinha, e por
voltarem a fazer o que mais gostavam, até a senhora ficar bem.
Quando
fica totalmente recuperada, lembra-se onde é a sua casa, mas fica triste, e os
porquinhos também, porque vão separar-se, e estavam tão felizes, a gostar tanto
de estar juntos…eles levaram a velhinha a casa, e esta convida-os a entrar. Combinaram
e prometerem que voltariam à cidade, à casa da senhora, todos os dias, para ver
e ouvir o seu riso, e fazer o que eles mais gostavam.
Voltaram
para casa, completos, e a senhora dormiu feliz, ansiosa que o dia seguinte
surgisse para ter os seus amigos lá em casa. Prometeram e cumpriram. Depois a
senhora chamou as suas amigas e amigos lá para casa, para se rirem e divertirem
com os porquinhos, e que felizes que estavam.
Uns
dias depois, a senhora e os amigos foram resmungar com quem os tinha despedido.
Explicaram-lhes a grandeza dos seus corações, o que o riso que eles provocavam
fazia à saúde, disseram-lhes que eles eram muito importantes, muito generosos e
que faziam muita falta à sociedade, pois esta estava a tornar-se cada vez mais
apressada, fria e indiferente.
A
senhora e os amigos disseram tantas coisas boas e bonitas sobre os porquinhos,
que a Diretora voltou a contratá-los para animar as ruas. Todos os dias
apresentavam coisas diferentes, distribuíam abraços, beijinhos, sorrisos por quem
passava.
As
pessoas voltaram a parar, apreciar, rir e participar nos espetáculos,
encantados, aplaudiam, tiravam fotos, e brincavam. Até davam dinheiro. Depois,
gostaram tanto deles que as pessoas mais velhas lhes pediam para irem às suas
casas, atuar, e claro, eles iam com todo o gosto. O que mais os preenchia era
ver o riso e o olhar brilhante das pessoas, e receber as palmas.
Os
porquinhos não voltaram a ficar à janela, mergulhados na tristeza, e com isso
fizeram muitas pessoas esquecer as tristezas, mesmo que por instantes, pelo
menos enquanto os viam atuar, e enquanto riam.
FIM
Lálá
(16/Março/2017)
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