Era
uma vez uma senhora de meia-idade, com uma grande família de filhos, que vivia sem
o marido, pois este deixou-a com os 8 filhos e foi para o estrangeiro viver com
outra senhora, ter outra família, sem nunca mais querer saber desta.
A
senhora não se sentia sozinha, era corajosa, sorridente, embora às vezes à
noite ficasse triste, e até lhe fugissem umas lágrimas dos seus lindos olhos
azuis. Mas não se entregou à tristeza, e conseguiu juntar sempre, trabalhar,
brincar e rir. Não lhes faltava nada.
Num
dia de muita chuva, a senhora estava sozinha em casa, sentada a fazer malha, e
de repente, quando olha para a janela vê um brilho diferente no vidro. Pensou que
era impressão sua.
Mas
algo bateu no vidro, e fez muito barulho. Era uma tempestade de saraiva,
pensou. Só que uma coisa muito estranha aconteceu: quando abriu a porta, as
bolas que estavam no chão não lhe pareciam gelo. E não eram mesmo.
Quando
pegou numa bola que pensava ser de gelo, esta era mole, de gelatina. Pegou noutra
e sentiu que não era gelo, mas sim de borracha. Outra bola era de vidro, outra
de pedra, outras de cristal de várias cores e outras de gelo transparentes com
água.
Ficou
muito surpresa e maravilhada com o que viu. As surpresas não acabaram aqui…levanta-se
um vento muito forte, e com ele vem uma linda mulher que ela nunca tinha visto,
que lhe diz para ela usar aquelas bolas todas, porque eram especiais.
A
senhora quis saber mais, mas a mulher tinha desaparecido, deixando um rasto de
arco-íris com as cores a cintilar.
- Mas…o que é que
acabou de acontecer aqui? Quem era ela? Quem mandou estas bolas? Como é que eu
as vou usar? Para quê? Porque é que ela desapareceu…ei…volta! – Diz a senhora
assustada
A linda mulher
aparece novamente com uma caixa de linhas, agulhas e fios.
- Áh! Voltaste…obrigada.
Podes explicar-me o que aconteceu aqui? Quem mandou isto?
A mulher sorri.
- Claro…desculpa!
- Não caiu
granizo?
- Caiu granizo.
- Mas onde estão
as pedras de granizo?
- Estão lá fora.
- Estas não são
pedras de granizo. Eu não pedi nada!
- Mas sempre
agradeceste o que tinhas, e não tinhas muito.
- Pois não, mas
acho que tinha o suficiente: saúde, os meus filhos que agora estão na vida
deles, mais longe, mas continuam a passar por aqui, a visitar-me e tenho muito
orgulho neles, que mesmo crescendo sem pai presente, sempre foram muito bons
meninos, e nunca pediram nada.
- É verdade,
sempre foram e são muito educados, respeitadores, trabalhadores, simpáticos. E tu
sempre foste uma mãe exemplar, lutadora, generosa, protetora.
- Eu só queria
que eles viessem para mais perto de mim, mas compreendo-os, e o que interessa é
que eles não se esquecem de mim.
- Claro que não
se esquecem. Nem nós nos esquecemos de ti! Foi por isso que te trouxemos isto!
- Mas quem são
vocês?
- Somos os seres
nos quais acreditas!
- Anjos?
- Sim!
- Fadas?
- Sim.
- Universo?
- Sim, todos
fazemos parte do Universo, e tu também.
- Áh! Muito obrigada.
Então isto é um prémio?
- Isso mesmo! Um prémio
pela pessoa que és, pelas tuas lutas, pelas tuas conquistas, e por tudo o que
fazes pelos teus filhos, pela tua coragem. Tudo isto é para te ajudar. Essas bolas
são especiais. Tu tens umas mãos maravilhosas, faz tudo o que quiseres, e
vende. São bolas da sorte. Tens linhas, agulhas, fios, podes fazer muita coisa
bonita.
- Mas vou vender,
onde? Agora ninguém compra nada.
- Compram. Quando
as coisas são feitas com amor. Não te preocupes com nada…apenas faz! E gosta do
que fazes.
- Está bem…
- O que
precisares estou aqui. Estamos!
A mulher desaparece. A senhora põe
mãos à obra: apanha todas as bolinhas, volta para casa e começa a imaginar o
que pode fazer com aquelas bolas todas. Começa por fazer uma manta de gotas de
gelatina, a seguir camisolas, casacos e almofadas com gotas de gelatina, como
se fosse renda, e umas fadas pequeninas constroem a manta.
Depois
faz uma boneca de pano e olhos brilhantes. Faz brincos, fios, anéis e pulseiras
com cristais e pedras de várias cores, pedras transparentes com água, bolas de
vidro, para decoração, com bolas de gelatina a boiar.
Quando
já tinha muitas coisas, foi para a cidade tentar vender, e para sua grande surpresa,
quem passava ficava maravilhada. Num instante, em poucas horas tudo foi vendido
e encheram a senhora de encomendas.
As
fadas deram uma ajuda, elas próprias, inventaram outros objetos com bolas de
madeira muito leve, muito coloridas de formatos diferentes, bolas de vidro
transparentes com flores e pétalas e gotinhas dentro, criaram vestidos floridos,
coloridos, chinelos de croché que algumas faziam, bordados de cristais,
candeeiros de pedras que também desapareceram num instante.
Estavam
sempre a inventar coisas novas. A senhora estava mesmo feliz, e passados alguns
meses, os filhos voltaram a ficar mais perto dela, encheram-lhe a casa com os
netos, com amigos deles e dos filhos, que também compraram muitas coisas e
todos os dias, agradecia. Quanto mais agradecia, mais boas ideias tinha, e mais
vendia.
É
mesmo isso que acontece…quanto mais damos, quanto mais boas pessoas somos, mais
coisas boas e especiais recebemos, mais cedo ou mais tarde, às vezes não da
maneira que gostaríamos ou como estaríamos a pensar, mas de outras formas.
FIM
Lálá
(27/Março/2017)