Era uma vez um menino muito envergonhado. Tão envergonhado que corava dos pés á cabeça.
As suas bochechas pareciam que iam rebentar de tão vermelho que ficava quando a professora lhe perguntava alguma coisa.
E o mais triste é que o menino sabia responder, e muitas vezes queria mesmo perguntar muitas coisas, mas por ter tanta vergonha e tanto medo, nunca perguntava.
Todos os outros meninos da sala, faziam perguntas à professora, quando não percebiam alguma coisa, ou quando queriam saber mais sobre o que se estava a falar na aula.
Um dia, numa aula, o menino viu um ponto de interrogação no caderno, e não sabia o que era aquilo.
Perguntou baixinho ao ponto de interrogação:
- O que é isto?
O ponto de interrogação riu. O menino arregala os olhos, muito surpreso, pois nunca tinha visto um ponto de interrogação a rir no caderno dele.
– Estás a rir – te? - pergunta o menino, baixinho
– Sim, porquê não posso?
– Podes, mas quero saber porque é que te estás a rir?
– Estou a rir-me da tua cara.
– E isso é coisa que se faça?
– Sim, pode faze-se.
– Não. Não, se pode fazer…
– Porque não? - pergunta o ponto de interrogação
– Porque isso é gozar com os outros, e é mau.
– Não tem de ser gozar com os outros.
– O que é que fazes no meu caderno?
– A tua professora pôs-me aqui.
– Porquê?
– Pergunta – lhe! - ri o ponto de interrogação
– Óh, não…não posso perguntar-lhe. - diz o menino nervoso
– O quê? Mas porque não?
– Porque não posso…
– Não podes porquê? Que disparate. Toda a gente pode perguntar, e deve perguntar, quando não sabe alguma coisa. Não te vão bater por causa disso.
– Óh, é uma vergonha perguntar…toda a gente pensa que somos burros, se não sabemos, ou se respondemos mal.
– Burros…? (p.c) E onde estão eles…?
– Andam lá fora, claro.
– Por momentos pensei que andassem na escola…que susto!
– Não, não estou a falar desses burros…a quem pergunta, e a quem não sabe responder é que chamam burros, e riem, e gozam. - ri o menino
– Mas que palermice! Quem é que disse isso?
– É o que todos os grandes dizem.
– Que coisa mais irreal. - comenta o ponto de interrogação
– O que é isso?
– Isso o quê?
– Isso que disseste…!
– Irreal?
– Sim.
– Pergunta à tua professora.
– Ai, não. - diz o menino a tremer
– Não o quê?
– Não vou perguntar…diz-me tu.
– Não digo.
– Vá lá…!
– Pergunta tu. A professora está aqui é para vos responder ao que querem saber, e ao que não percebem.
– Não sejas mauzinho…!
– Tu é que estás a ser mauzinho, ao não saberes, e ao não perguntares à tua professora.
– É que…eu tenho muita vergonha de perguntar. - confessa o menino, envergonhado
– Mas qual é a vergonha…? Não estou a perceber…
– Eu não quero que os outros percebam que eu não percebo ou que não sei muitas coisas.
– E estás preocupado com os outros?
– Sim, porque eles gozam-me.
– Olha, e eles sabem tudo é?
– Não sei…talvez.
– Achas mesmo?
– Acho…
– Ai, eles não fazem perguntas à professora?
– Fazem.
– E então…o que é que lhes acontece ao perguntar?
– Nada.
– Enganas-te…ao perguntarem, estão a aprender…e isso é muito bom! É o que te vai acontecer quando perguntares.
– Mas eu tenho muita vergonha.
– Não entendo porquê.
– Porque, porque…olha porque…sou muito envergonhado.
– Mas não tens que ser envergonhado. Queres perguntar, pergunta…a professora não te vai morder, nem ralhar…aliás até vai ficar muito feliz, se perguntares.
– Feliz, por eu não saber nada…?
– Sim, claro. Porque ao perguntares-lhe, ela vai ensinar-te alguma coisa, vai explicar-te alguma coisa que não entendas, estás a dar-lhe valor, e trabalho…aliás essa é a sua função…ensinar! Mas para os meninos aprenderem têm de perguntar muitas coisas…se não perguntam, a professora também não sabe se estão a aprender, e a perceber o que ela está a dizer. (p.c) É por isso que ela às vezes também vos faz perguntas, para ver se estão interessados, e se estão atentos a aprender.
– Ai é?
– Sim, claro. Achavas que a professora estava aqui só para enfeitar a sala…? Para isso punham bonecos ou plantas. (Os dois riem). Ela está aqui para vos ensinar…e como é que aprendem…? A fazer perguntas, quando não sabem, ou quando querem saber alguma coisa mais sobre o que estão a falar
– Mas…e os outros?
– Os outros não têm de se pronunciar…querem perguntar, perguntam…não querem, não perguntam. Mas tu queres perguntar, pergunta. Esquece os outros. (p.c) Experimenta. Tenho a certeza que a professora vai ficar muito orgulhosa de ti.
– Aaaaiii…que vergonha.
– Vai…deixa-te de coisas. Vergonha é querer perguntar, e não perguntar por vergonha…! Entendeste?
– Ááááhhh…acho que não.
– Queres que eu repita?
– Sim, se faz favor…!
– Pergunta à tua professora…ih, ih, ih…! Sem vergonha.
– Ai…!
– O que foi, dói-te alguma coisa?
– Ai, não…mas estou nervoso e envergonhado.
– Deixa-te de coisas, e pergunta de uma vez…!
– Vou tentar…
– Não. Tu vais perguntar.
– Está bem…vou perguntar.
– Pergunta.
– Vou perguntar…
– Pergunta o que é que estou aqui a fazer no teu caderno.
– Está bem.
– O menino, enche-se de coragem e levanta o dedo.
– Sim, querido…?! - diz a professora a sorrir
– Desculpe, professora. - diz o menino envergonhado
– Diz…!
– Posso – lhe perguntar uma coisa…?
– Óh, filho…quantas quiseres…! Pergunta…! - ri a professora
– Boa…pergunta. - incentiva o ponto de interrogação
– Porque é que a professora pôs aqui…um ponto de interrogação no meu caderno?
(O Ponto de Interrogação aplaude, feliz e sorridente)
– Porque não percebi o que tu escreveste aí. (A professora aproxima-se dele) Ora lê para mim. (O menino lê) Muito bem. Eu entendi que fosse isso, mas fiquei na dúvida.
– A professora também tem dúvidas…? - pergunta o menino, surpreso
– Óh, óh querido, claro que tenho dúvidas, e muitas. Todos os dias. - diz a professora a rir
– Áh, pensei que eram só os meninos.
– Isso é que era bom…Toda a gente tem milhares de dúvidas, todos os dias, e olha que algumas dúvidas são mesmo muito difíceis. - ri a professora
– E a professora também faz perguntas?
– Claro que faço…! Todos fazemos.
– E porque é que a professora faz perguntas?
– Para encontrar uma resposta para as minhas dúvidas. E vocês, meninos, também me fazem perguntas para tirar as vossas dúvidas, não é? Quando não percebem alguma coisa, ou quando não sabem.
– A professora não tem vergonha de ter dúvidas?
– Claro que não, meu amor…não é vergonha nenhuma ter dúvidas, nem perguntar. - ri a professora
– A quem é que a professora faz as perguntas para tirar as suas dúvidas?
– Olha…a muita gente que está à minha volta…aos meus amigos, aos meus pais, aos meus avós, aos meus irmãos…ao meu marido…e a colegas…a muita gente.
– Áh…! Não sabia…pensei que os professores não tinham dúvidas, e que sabiam tudo. - diz o menino a sorrir
– Não…não sabemos nada…sabemos algumas coisas…mas também temos muitas dúvidas, e fazemos muitas perguntas. E olha, às vezes as respostas às nossas perguntas só aparecem nos livros. - ri a professora
– Eu pensei que quem fizesse perguntas, era porque não sabia nada…! E que era burro.
– Não, meu filho…os burrinhos estão nos campos. - ri a professora
– Desculpe tanta pergunta. - diz o menino a sorrir
– Não tens que pedir desculpa…pergunta o que quiseres, quantas vezes quiseres…gostei muito que me tivesses perguntado!
– Está bem.
– Não fiques com as dúvidas…se eu não te souber responder logo…procuramos juntos, ou trago-te no dia seguinte, está bem?
– Está bem, professora.
– É assim que aprendemos. A perguntar. (p.c) Tens mais alguma pergunta a fazer-me?
– Não, professora, para já não. Obrigado.
– De nada…! Eu fico sempre muito contente que me façam perguntas…é sinal que estão interessados na aula, e que querem saber mais.
– Pois é.
(A professora vira costas)
– Muito bem, estás a ver como não custou nada?! - comenta o ponto de interrogação, feliz
– Pois…tinhas razão. - confirma o menino a sorrir
– E viste como ela ficou feliz por teres perguntado?
– Sim, pois foi. - diz o menino sorridente
– Como viste…ela é professora, tem muitas dúvidas, e faz muitas perguntas…não sabe tudo.
– Sim, pensei que os grandes sabiam tudo.
– Claro que não sabem tudo…é por isso que eu existo…e sou muito requisitado. Felizmente! - ri o ponto de interrogação
– Boa…consegui deixar de ter vergonha e perguntar uma coisa que eu não sabia. - diz o menino orgulhoso
– Boa. Parabéns!
– E os outros não me gozaram.
– Claro que não, nem tinham que gozar…também não sabem nada…! Eles gozavam-te era por não perguntares.
(Os dois falam mais um pouco)
É isso mesmo…a partir deste dia, o menino que era muito tímido, que tinha medo de fazer perguntas, e ficava muito envergonhado, tornou-se capaz de fazer perguntas, sem vergonha, e sem ficar nervoso…e aprendeu muita coisa!
Os outros meninos passaram a admirá-lo e a ajudá-lo, quando sabiam as respostas. Lembrem-se, meninos…todos nós, eu…vocês…os vossos pais, os avós…e os professores…todos temos muitas dúvidas.
Todos fazemos muitas perguntas uns aos outros, e só assim é que ficamos a saber muitas, muitas coisas importantes.
Quando não souberem alguma coisa, quando não perceberem, ou quando quiserem saber mais…perguntem, e não se preocupem se os outros se rirem…se o fizerem são porque estão felizes por vocês perguntarem como eles, e não estão a gozar convosco.
Vocês também fazem perguntas ou têm vergonha de fazer perguntas? Vergonha…é não perguntar!
FIM
Lara Rocha
(2/Fevereiro/2013)
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