Monólogo/ texto para
dramatização
Olha,
filha…olha a tua mãe aqui, quando era mais pequena! (ri) Que diferença!
Lembro-me muito bem da minha turma da escola primária. (p.c) A professora foi
das melhores que tive…era como se fosse uma mãezinha para todos nós! (p.c)
Muito meiga, paciente, simpática…adorava-nos! Nós sentíamos isso! (p.c) Era uma
turma de meninos e meninas, com trinta alunos! Muitos alunos…! (p.c) Quando
penso nisso, admiro ainda mais a professora que tive, pois, se fosse eu, não
aguentava tantos! (p.c) Quer dizer, se os alunos fossem como nós até era fácil,
mas se fossem como os de agora…ai…enlouquecia! (p.c) Os professores de agora
sofrem muito, e com poucos alunos, o que fará com muitos! (p.c) Além de sermos
muitos, o mais interessante é que quase todos de diferentes raças e
nacionalidades. (p.c) Havia…Angolanos, Cabo Verdianos, Brasileiros, Russos,
Indianos, um ou dois chineses, meninos que vinham de França, e Portugueses.
(p.c) As aulas eram interessantes, pois todos tinham hábitos parecidos e outros
muito diferentes, mas quando se falava de qualquer parte da matéria havia
muitas trocas de informação e todos aprendiam uns com os outros. (p.c) No
geral, a turma era bem comportada, e nunca houve muitos problemas! Mas havia um
menino português, que tinha a mania que era engraçadinho, e muito inteligente.
(p.c) Coitadinho…esse era dos piores, pois gozava com todos, com risinhos
estúpidos sempre que outro menino falava, insultava, e humilhava os outros,
para mim era defeito de educação e necessidade de chamar a atenção, pois a
professora uma vez disse-nos que devíamos perdoá-lo porque tinha problemas em
casa, e era maltratado pelos pais. (p.c) Ninguém podia compreender como perdoar
aquele menino mau com os outros…porque é que tínhamos de o tratar de forma
diferente? (p.c) A nós sempre nos tinham ensinado a tratar todos por igual.
(p.c) Não conseguíamos perceber. (p.c) Na verdade isso ainda há hoje em todas
as turmas, mas na altura foi uma coisa nova. (p.c) Ninguém queria brincar com
ele, nem ficar perto dele, porque ele começava logo a bater e a provocar. (p.c)
Nós bem tentávamos gostar dele, mas não conseguíamos. A professora bem tentava,
e chamava-o à atenção, mas era o mesmo que falar para as paredes. (p.c) Todos
os dias fazíamos queixa dele! Ele era racista…para ele, todos os que não fossem
portugueses, não prestavam. (p.c) Mas isto durou pouco tempo porque…numa tarde,
depois de ele ter cansado a professora, no recreio, com uma brincadeira maluca
que inventou, deu uma série de trambolhões e rolou pelo chão depois de ter
caído de um brinquedo bem alto. (p.c) A professora não estava nessa altura,
tinha ido fazer um recado. (p.c) No momento em que o vimos a cair fomos todos a
correr ter com ele, para o socorrer. Ele gritava de dores, tinha várias feridas
enormes, ficamos todos em pânico…mas lembramo-nos do que tínhamos aprendido
sobre primeiros socorros, e enquanto um menino foi chamar a professora ao lado,
começamos todos a tentar acalmá-lo; as meninas faziam-lhe carinho, e
animavam-no, mas mesmo bastante ferido, ele tentava ser mau, e insultou
gravemente quem tentava ajudá-lo. Apesar disso, nós aguentamos a maldade dele e
ficamos ao pé dele. Uma menina angolana fez um primeiro curativo na perna dele,
e ele ainda deu pontapés…talvez de dores ou de ardência…! (p.c) Mas a menina
suportou os pontapés dele e disse para ele parar, que era para o bem dele.
(p.c) outras meninas brasileiras deram-lhe a mão e fizeram carinhos. (p.c)
Chegou a professora e muito preocupada observou-o e fez-lhe várias perguntas.
Ele só gritava e chorava. (p.c) Pelo sim pelo não, a professora chamou uma
ambulância e foi com ele. E ainda bem que foi porque afinal tinha um braço, uma
perna e um pé partidos. (p.c) Ficamos todos preocupados, porque o tombo foi
grande, e ele estava bastante ferido. (p.c) Como eramos mais humanos e mais
sensíveis que ele, esquecemos que ele era mau connosco e socorremo-lo. (p.c) A
professora chegou e trouxe-nos as novidades. (p.c) Uma menina Cabo Verdiana teve
uma ideia: irmos visitar o menino, e levar-lhe umas pequenas ofertas. (p.c) Ela
tinha esquecido completamente os insultos e as humilhações, e tinha sido uma
verdadeira amiga para o menino. (p.c) A professora ficou sensibilizada com esse
gesto e apoiou de imediato. (p.c) Então, fizemos uma série de pequenas coisas,
com muito carinho, com a ajuda da professora: poemas, desenhos, trabalhos
manuais…e todos assinamos. (p.c) Depois dos trabalhos feitos, fomos ao hospital
visitá-lo. Ele estava muito triste. (p.c) Quando nos viu entrar ficou muito
surpreso e um pouco envergonhado, porque estavam lá todos os que ele menos
gostava, e que ele tinha humilhado. (p.c) A professora informou-o que tínhamos
umas surpresas para ele, e que desejávamos as melhoras. (p.c) O menino ficou
muito feliz, abriu um grande sorriso, e a professora deu-lhe o que tínhamos
feito. (p.c) Adorou. Agradeceu-nos muito, e pediu-nos desculpa por ter sido tão
mau connosco todas aquelas vezes. (p.c) De facto, quando ele caiu, quem foi
logo ter com ele foram aqueles a quem ele humilhava e com quem não gostava.
(p.c) Nós perdoamos todas as ofensas, e o menino engoliu um grande sapo como se
costuma dizer. (p.c) todos os dias fomos visitar o menino ao hospital enquanto
ele lá esteve, e o menino adorava a nossa visita, ria muito, ficava mesmo
feliz, e brincava, falava…A partir desse dia o menino nunca mais foi o
mesmo…passou a ser um rapaz meigo, simpático, delicado, e amigo. (p.c) Depois
de ele sair, e estar a melhorar, todos lhe emprestávamos os cadernos,
explicávamos o que tínhamos aprendido, e ajudávamo-lo a fazer os trabalhos de
casa e nos outros trabalhos. (p.c) E todos passamos a ser acolhidos por ele,
tornou-se muito mais humano, agradecia-nos sempre, independentemente da nossa
raça. (p.c) Nunca mais nos gozou, nem humilhou. (p.c) Aprendeu uma verdadeira
lição! (p.c) Às vezes é preciso assim uns acontecimentos para abrir os olhos e
os corações. (p.c) Independentemente da raça ou origem, todos precisamos uns
dos outros por alguma razão. E às vezes, a ajuda vem de quem não estamos à
espera, ou de quem achamos que jamais nos ajudaria. (p.c) Lá porque temos uma
cor diferente, não deixamos de ser humanos e de ter bons sentimentos! (p.c) Na
verdade, independentemente da cor, todos somos diferentes, por dentro, na
maneira de ser, mas acima de tudo, somos seres humanos, de carne e osso!
FIM
(Lálá)
(28/Dezembro/2012)
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