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terça-feira, 30 de junho de 2015

Os castelos de areia

Era uma vez quatro famílias de pais, mães, e filhos, amigas umas das outras, que foram para a praia de manhã bem cedo, num dia que prometia ser muito quente.
Sentaram-se à beira do mar, que estava baixinho, cheio de possecas, e construíram com baldes e pás dois enormes castelos, tão perfeitos e com tantos pormenores que pareciam verdadeiros.
Tinham várias torres, janelas e portas, tão bem feitas, que se podia andar lá dentro, quer dizer, os humanos não, mas os animais cabiam à vontade. Os adultos estavam tão divertidos como as crianças, e faziam competições para ver quem construía melhor.
Os castelos estavam umas verdadeiras obras de arte, por isso mereceram centenas de fotografias, muitas gargalhadas e diálogos inventados como numa história ou numa peça de teatro. O sol estava a ver tudo de cima, e até ele ficou espantado, encantado.
Na hora de mais calor, todos saem da praia e os castelos ficam inteiros. O sol ficou a arder de curiosidade, e como não podia ir lá ele, lançou um raio muito fino e comprido, para que este lhe contasse tudo.
O raio passeou por todo o castelo e descreveu ao sol todos os pormenores que existiam no interior dos castelos. Enquanto ouvia as descrições, também começou a sonhar acordado e a imaginar-se nesse castelo com a Sol dos seus sonhos ou a Lua ou uma estrela…e fez questão de transformar a areia quase em pedra, para que os castelos aguentassem mais tempo.
Ele tinha a certeza que mais alguém que bem conhecia também ia adorar, e o seu raio tratou do resto: disse às fadas do mar, às sereias e às estrelas-do-mar que aquela noite traria uma prenda muito especial para elas. Elas estavam ruídas de curiosidade, e ansiosas que chegasse a noite para verem a surpresa. Não era todos os dias que tinham surpresas, muito menos vindas do sol.
O mar continuou longe dos castelos, e nessa noite, estava uma lua cheia gigante, luminosa, parecia quase dia. Umas fadas que viviam nas rochas da praia voaram e repararam naquelas obras de arte…aqueles castelos enormes, feitos em areia e tão perfeitos.
- Áh! Que lindos castelos… - Dizem todas as fadas
- Quem fez isto? – Pergunta uma fada
- Estão maravilhosos. – Comenta outra fada
- Esperem aí. O sol disse que teríamos uma surpresa esta noite, será que é esta? – Lembra outra fada
- Claro! – Respondem todas
            E ouve-se a voz do sol no espaço:
- Sim, é mesmo essa a surpresa…estes enormes e belos castelos feitos de areia.
- Ááááááhhhh… - Exclamam todas
- Maravilhosos. – Comenta outra fada
- Obrigada sol! – Dizem em coro
- Eu sabia que iam adorar. Agora o resto é convosco! Divirtam-se, e aproveitem enquanto o mar está longe. – Diz o sol a rir
- É isso. Muito obrigada…
            Elas chamam as fadas da luz, que rapidamente aparecem e iluminam todo o castelo com o seu rasto, não precisam de muita luz porque a lua já tem bastante, mas dentro dos castelos era preciso.
E mesmo sem esperarem pelas fadas da praia, as sereias e as estrelas-do-mar vão à praia e ao ver aquelas luzes todas gritam em coro:
- Castelos…? Uau! Áh, que lindos…
            E nadam rapidamente até lá, cumprimentam alegremente as fadas.
- Então era esta a surpresa? – Perguntam as sereias e as estrelas-do-mar em coro
- Isso mesmo! – Respondem as fadas a sorrir
- O sol é mesmo querido. – Comentam todas
            As fadas cozinheiras aparecem com tabuleiros recheados de pequenos petiscos como os que só elas sabem fazer.
- Não há festa com esse nome, sem petiscos, não é verdade…? – Diz a fada cozinheira chefe
            Todas ficam surpresas e aplaudem. Não sobra nem uma migalha. Os cavalos-marinhos perguntam se podem participar na festa, e também ficaram. Chegam as fadas da música que são adoradas por todos os animais da praia e a festa começa a sério, enche-se de alegria, muita dança, muitas entradas e saídas dos castelos, muitos risos e conversas cruzadas, e amizade. Parece que estão ligados à corrente eléctrica, nessa noite ninguém dormiu, até que com os primeiros raios de sol estavam finalmente muito cansados, e adormeceram onde pararam.
Quando os humanos chegaram tiveram uma bela surpresa: os castelos ainda estavam de pé, tudo direitinho, e pela área dos castelos, viram dezenas de estrelas-do-mar, pequeninas fadas a dormir nas varandas dos castelos, caranguejos e sereias a dormir à fresca, dentro dos castelos, cavalos-marinhos a dormir em sítios que nunca pensaram que seria possível, e búzios por todo o lado.
Os adultos começam a fazer muito barulho com a alegria da surpresa, tiram centenas de fotografias, que as fadas, as sereias, as estrelas-do-mar e os cavalos-marinhos acordam e desatam a fugir assustados.
De um momento para o outro, o mar sobe, fica muito agitado e destrói os castelos num abrir e fechar de olhos, e ainda dá uma bela banhoca aos humanos, que fogem mais para cima, muito zangados.
- Pelo menos ficaram as fotografias. – Comenta um dos pais
Nesse dia não houve possecas…só houve mar revolto. Será que o mar ficou com ciúmes? Uns dias depois, gostaram tanto da experiência que quando o mar voltou a descer, os humanos construíram outros castelos, e os animais fizeram outras festas.
E vocês já construíram castelos na areia quando foram à praia?
Esses castelos foram visitados por fadas, sereias e cavalos-marinhos ou estrelas-do-mar?
Gostavam que isso acontecesse?
Quem gostariam que invadisse o vosso castelo de areia?

FIM
Lálá
(29/Junho/2015)

     

domingo, 21 de junho de 2015

Mergulho


Era uma vez uma tartaruga jovem que vivia num aquário de uma casa, e hibernou. Os seus donos cansaram-se de a ver dentro da sua carapaça e levaram-na ainda a dormir para um monte.
Abriram a janela do carro e atiraram-na como se fosse uma pedra ou lixo, sem dó nem piedade de cima do monte. A tartaruga resvalou monte abaixo e pelo caminho acordou sobressaltada, estremeceu, sentiu tudo a andar a roda e ficou muito assustada. Só parou quando bateu contra o portão de uma casa. Abriu os olhos, saiu da sua casca, respirou, e olhou em volta.
- Onde estou? O que aconteceu? (boceja) Que acordar tão estranho…Ui…quer dizer… nem sei se já acordei ou se estive a dormir, nem quanto tempo estive a dormir. Óh…estou perdida. Não conheço este sítio! Ou conheço?
E caminha um pouco para reconhecer o sítio. Está confusa, anda à procura de alguma coisa familiar, ou até de água.
- Ai! Tenho as patas todas empenadas! Devo ter dormido mesmo muito…espera aí, onde estão os meus donos? Esta não é a minha casa! (Inspira e expira) Agora tenho a certeza que não estou onde estava. Na outra casa estava dentro de água, num sítio pequeno, até nem tinha grande luz…aqui…tenho muito espaço e não tenho água. Mas os meus donos? Onde estão? Onde foram? Foram eles que me mandaram para aqui? Mas porquê?
De repente ouve uma buzina de um carro. Dá um grito, fica gelada, arregala os olhos, e anda de um lado para o outro, sem saber o que é aquilo, ou para onde fugir.
São os donos da casa do portão onde ela bateu que chegaram com os filhotes das compras. O cão da família sente alguma coisa diferente, e logo que lhe abrem a porta, ele salta e vai atrás da tartaruga.
- Só faltava este também…ai…socorro!
O cão detecta a tartaruga e cheira.
- Áh, que nojo. Vai-te embora! Xô. – Ordena a tartaruga cheia de medo
Mas o cão insiste, e começa a ladrar sem parar.
- Cala-te! Estás a irritar-me! – Pede a tartaruga
Os pequenos vão ver o que se passa, porque é que o cão ladra sem parar. Quando chegam ao pé dele gritam em coro:
- Uma tartaruga!
- Áh! Que gira… - Diz a menina
- Como é que ela veio ter aqui? – Pergunta o menino
- Óh mãe…óh pai… - Gritam os meninos
O cão vai ter com os donos a ladrar. Os adultos vão ver.
- Olhem…uma tartaruga. – Diz o pai
- Hum…é muito estranho, uma tartaruga por aqui. - Comenta a mãe
- Se calhar fugiu de alguma casa.
- Ou foi largada…deitada fora. Às tantas ela estava a hibernar, e pensaram que ela estaria doente ou algo assim. – Diz o pai
- Coitadinha! – Diz a menina
- Óh mãe…vamos levá-la connosco! – Pedem os dois
- Não me parece boa ideia. – Diz a mãe
- Isto não dá trabalho nenhum nem suja a casa. – Diz o pai
-E onde a vais pôr? Tens que a alimentar, sabes o que é que ela come…? – Pergunta a mãe
- Vá lá, mamã…não a deixes aqui fora. – Diz a menina
- Pomo-la na piscina e num aquário. – Sugere o menino
- Isso mesmo. – Diz o pai
A mãe não quer, o pai e os filhos começam todos a protestar e a arranjar argumentos para acolherem a tartaruga. Discutem, negoceiam, resmungam, e tentam de todas as maneiras convencer a mãe a autorizar que levassem a tartaruga para casa.  
- Acho que é melhor fugir daqui…já está muita confusão! Antes que dêem cabo de mim! – Murmura a tartaruga.
A mãe para não se chatear mais autoriza a que levem a tartaruga para casa.
- Mas porque é que vocês ganham sempre! – Resmunga a mãe
- Porque tu és a melhor… - Dizem as crianças em coro
- Tu também gostas de animais. – Comenta o filho
- Vocês é que vão ter essa responsabilidade de tomar conta dela, eu já tenho muito que fazer. – Lembra a mãe
- Sim! – Dizem todos
Por isto, eles enchem a mãe de mimos.
- Boa! Estou salva…obrigada miúdos, obrigada senhor. - Diz a tartaruga aliviada e feliz.
Em casa, metem a tartaruga na piscina, e ela nada feliz, livre, enquanto o pai vai comprar um aquário e comida para ela.
- Áh! Este sim, é o meu meio…o meu mundo! Uau! Está fresquinha a água. Valeu a pena ter batido contra o portão, e ainda bem que aquele farrusco veio atrás de mim. Já nem sabia o que era água. Áh! Tanto espaço…
As crianças deliciam-se a ver a tartaruga na piscina, entram na piscina e brincam com ela felizes. O pai chega e mudam-na para o aquário com um cenário de fundo do mar e água. Ela fica encantada.
- Isto sim…é um aquário. Aqui não me importo de ficar! Gosto deste sítio. (ri) Parece que estou no fundo do mar…um sítio onde gostava de ir com certeza! Pode ser que estes donos vão à praia um dia destes e que me levem.
E o sonho da tartaruga realizou-se! Uns dias depois de se ter instalado na casa, os donos levaram-na no aquário para a praia, onde passaram uns belos dias, e a tartaruga teve a grande felicidade de experimentar com a sua família de humanos, a praia, o mar, e o mergulho.
A diferença é que a tartaruga não precisava de máscara de oxigénio para mergulhar como os seus donos, mas nunca se afastou deles…e quando eles voltavam à superfície, ela também voltava e instalava-se no seu aquário.
A tartaruga estava mesmo feliz, teve muita sorte, e sentia-se como se fosse mesmo parte da sua nova família. Davam-lhe carinho, atenção, e levavam-na para todo o lado onde fossem.
FIM
Lálá
(21/Junho/2015)

      

sexta-feira, 12 de junho de 2015

As casinhas à beira do rio

Desenhado por Lara Rocha 


Era uma vez um pequeno bairro de casinhas construídas quase na berma de um rio com muita água e cascatas. 
Cada casinha era feita de pedra, com janelinhas pequenas, pintadas de cores diferentes, portas, e jardins pequeninos, cheios de flores. 
As casinhas estavam desabitadas, e vazias, mas ninguém sabia quem as tinha construído, nem quem tinha plantado as flores. 
Num dia de chuva torrencial numa montanha muito alta, um pobre urso caiu na água gelada do lago, depois do gelo onde ele tinha pousado, ter partido. Como a água corria muito forte, o urso foi levado para esse cantinho da floresta.
Depois de muitos trambolhões, e tentativas de se agarrar para sair da água, o urso só parou quando chocou com uma rocha. Não sabia onde estava, mas achava que já tinha andado muito. Olhou à sua volta e gostou do sítio. Saiu da água cansado, e viu as casinhas. Espreitou. Estava tudo vazio.

- Acho que não está habitada…vou instalar-me aqui para descansar. Se aparecer o dono, peço desculpa, explico o que aconteceu e saio.

Instalou-se e dormiu o resto do dia, e de noite. Sentiu-se tão bem naquela casinha que decidiu ficar por lá. Foi à procura de coisas para a sua casa e encontrou, inventou, construiu e montou troncos de árvores, raminhos, rolinhos e tudo o que encontrou.

- Está ótimo!

O urso era grande em tamanho mas muito bondoso e às vezes preguiçoso. Adorava estar sentado ou deitado à sombra num barco de madeira que encontrou abandonado. Só quando a fome apertava é que ele despertava e ia pescar no rio.
Uns dias depois o urso ganhou novos vizinhos: uma família enorme de macacos que faziam muito barulho, principalmente quando se zangavam uns com os outros, e ocuparam quatro casas que estavam vazias.
Foram logo simpáticos com o urso, pois sabiam que era melhor para eles serem amigos de um urso, apesar do seu tamanho assustador. Tão simpáticos que quando encontraram fruta, guardaram para si e dividiram com o urso… Para agradecer, o urso em troca, ofereceu-lhes mel.
Fizeram várias festas de convívio e tornaram-se grandes amigos. Uns dias depois, apareceram na floresta duas panteras artistas, cantoras de ópera, à procura de uma casa. Perguntaram aos animais onde poderiam encontrar, e eles disseram que a casa ao lado dos macacos estava livre, ou as outras.
O urso e os macacos ajudaram como puderam as duas panteras a mobilar a casa, ofereceram algumas coisas, e elas foram buscar outras. Para agradecer, as duas cantaram e encantaram todos com a sua voz, e durante várias noites seguintes, elas cantaram.
Depois apareceram quatro casais de chitas e leopardos que se instalaram nas casas ao lado das panteras. Para agradecer aos vizinhos que os ajudaram as chitas e os leopardos foram à caça e dividiram-na com todos…até os macacos comeram e gostaram.
Nas outras casas, instalaram-se lobos e lobas, loucos por festas e músicos que se juntavam com as panteras cantoras. Eram todos amigos, gostavam de partilhar, e conviver uns com os outros.
Um dia, esse bairro onde já todos se davam como família, ganhou novos habitantes que chegaram com um atrelado, puxado por cavalos. Todos os animais ficaram a olhar para eles, um pouco assustados a olhar para eles.

- O que trazem aí? – Pergunta o urso
- A nossa casa! – Respondem todos
- Como?
- Aqui neste atrelado.

Era um bando de morcegos, que tinham encontrado uma casca de caracol abandonada, e aproveitaram-na para ser a sua casa. Quando a tiraram do atrelado, os animais ficaram todos surpresos, e os morcegos todos juntos conseguiram pôr a casinha no sítio muito bem escolhido, à beira do rio. Aí estavam frescos, no escuro e tinham humidade garantida, por isso também não lhes ia faltar alimento.
Os cavalos que transportaram a casa dos morcegos, iam embora, mas chegou um pónei e fez logo amizade com eles, depois de uma tarde cheia de brincadeira, o pónei arranjou uma casinha para os cavalos, na quinta onde vivia, que também ficava à beira do rio.
Ainda ficaram casinhas livres, mas entretanto chegou outro habitante: um palhacinho tristonho, a arrastar os pés, com a trouxa às costas a lamentar-se. Todos os animais ficaram preocupados, e perguntaram ao palhacinho se estava tudo bem, ou se precisava de alguma coisa.
O palhacinho respondeu que estava à procura de uma casinha, e todos se lembraram que essa estava vazia. Levaram-no lá, ele abriu um lindo e luminoso sorriso que encantou todos os animais, e retribuíram o sorriso.
Cada vizinho ofereceu o que podia ao palhacinho que não tinha quase nada, e num instante rechearam a casa com móveis, candeeiros, sofá, cama, mesas, cadeiras, televisão, panelas, fogão, copos, pratos…tudo o que é preciso numa casa, e roupas para ele, toalhas, almofadas, roupas de cama e comida à farta.
O palhacinho ficou tão feliz que brilhava, e não sabia como retribuir todas aquelas coisas boas. Nessa noite, foi a casa de cada um dos vizinhos e ofereceu um abraço, um por um, que deixou todos com as lágrimas nos olhos de felicidade, pelo carinho e sinceridade que sentiram naquele abraço. Gostaram tanto daquele abraço que quiseram repetir, e o palhacinho abriu sempre grandes sorrisos.
     As panteras começaram a cantar docemente, os lobos e as lobas completaram, entraram na festa e tocaram muitos dos seus instrumentos. O palhacinho gostou tanto que entrou na brincadeira com eles, e fez nascer muitas gargalhadas.
Aquele espaço encheu-se de música e alegria, todos trocaram aplausos, carinhos e gargalhadas, todos dançaram e brincaram uns com os outros…até o urso perdeu a preguiça dançou, saltou, rebolou e os morcegos também se juntaram.  
Já se deitaram quase com o nascer do sol, cansados, mas muito felizes, com os olhos brilhantes…parecia que todas as estrelas do céu nessa noite tinham entrado nos seus olhos, e sorrisos, sentiam o coração preenchido, e vão repousar.
Antes de dormir, o palhacinho sentou-se na beira do rio, e ficou em silêncio a ouvir o que ele dizia. O rio usou uma linguagem que só o palhacinho entendeu…mas com certeza disse-lhe coisas boas, porque até o rio estava mais bonito!
O palhacinho agradeceu, sorriu e num gesto de magia, fez aparecer das suas mãos, lindas e grandes flores, fechadas mas com uma surpresa lá dentro…e deixou na beira do rio, com o nome de cada vizinho.
Foi-se deitar. Quando os vizinhos acordaram, viram que aquilo era para cada um eles. Quando pegaram na flor, esta abriu-se e saiu de lá uma borboleta cheia de cor e de luz, que envolveu cada habitante e fez sentir neles um delicioso abraço caloroso, depois, das suas asas saltaram beijinhos, e as borboletas todas juntas, deram as mãozinhas, formando a palavra «obrigado». Outras tantas, formaram um sorriso…
Todos sentiram que foi o palhacinho, e encheram-se de alegria. Para retribuir, prepararam-lhe um piquenique surpresa, com as atuações das panteras e dos lobos e lobas. O palhacinho não saiu mais de lá.
O tempo passou e uns meses depois chega á floresta uma jovem rapariga com um bebé muito pequenino de colo. Vinha com frio, e fome…fraca. O palhacinho ficou cheio de pena dela e do bebé. Acolheu-os na sua casa, deu-lhes de comer, deixou-os tomar banho, e deu-lhes roupa para vestir.
Enquanto os novos habitantes se acomodavam, o palhacinho foi falar com os seus amigos, preocupado, sem saber o que fazer. Decidiram em conjunto mobilar a outra casa ao lado que ainda estava livre, à beira do rio, graciosa, mimosa, pequena, mas muito confortável. Todos ajudaram, cada um naquilo que podia e no que sabia, e num instante a casa fica completa. Até para o bebé arranjaram.
A jovem passou para essa casa com o seu bebé, mesmo ao lado da casa do palhacinho, feliz, e sempre acompanhada, os vizinhos nunca a deixaram sozinha, estavam sempre preocupados, e ajudaram-na muito.
Os dois palhacinhos foram trabalhar para os arredores da grande cidade de onde tinham saído. Lá foram sempre muito bem recebidos, muito aplaudidos, e valorizados, e o bebé ficou algumas vezes com os vizinhos.
Todos eram uma verdadeira família, faziam muitas festas e sempre muito bondosos uns com os outros. As casas que começaram por estar vazias, ficaram todas habitadas, e este sítio á beira do rio era amado, respeitado e protegido, cuidado, tal como os seus habitantes entre si.

E vocês? Se tivessem uma casinha à beira do rio, como é que ela seria?
Que outras casas haveriam, ou como seriam?
Quem gostariam de ter como vossos vizinhos?

FIM
Lálá
(11/Junho/2015)


  

domingo, 7 de junho de 2015

O susto dos póneis


















foto de Lara Rocha 

Era uma vez um grupo de póneis todos familiares. Um de pêlo preto e castanho, outro de pêlo cor-de-rosa, dois de pêlo azul e outro de pêlo branco. Estavam com vontade de passear e de ver o nascer do sol, nunca tinham visto, e queriam ver outros sítios por onde já tinham passado a caminho do sítio onde viviam, mas sempre a correr. Nunca tinham apreciado de verdade a paisagem.
Não sabiam o que iam encontrar, apenas tinham a certeza que ia ser muito diferente do que viam todos os dias, porque é sempre assim que acontece! Quando passamos com pressa por um sítio ou vários sítios, quase nunca vemos realmente nada desse sítio…só o conhecemos mesmo se formos sem pressa, para passear e com vontade de descobrir as magias que cada sítio pode oferecer.
Os seus pais deram autorização aos póneis para saírem, levantaram-se à mesma hora que eles para os ver sair, e encheram-nos de recomendações, atenções e cuidados que deviam ter.
Apesar de estarem um bocadinho preocupados por serem pais, e como todos os pais, sabiam que aquele passeio ia ser muito bom para eles e que iam adorar…já tinham feito o mesmo com a idade dos filhos e tinha sido fantástico, inesquecível.
Os pequenos estão em pulgas…e depois de ouvirem todos os conselhos dos pais, começam o passeio. Os pais pedem aos ponianjos dos seus filhos para os protegerem, com a certeza de que estão mesmo bem guardados e nada lhes acontecerá.
Começam a cavalgar devagar e olham para o céu, onde se começa a ver alguma claridade, mas ainda há milhões de estrelas. Eles nunca tinham visto tanta estrela junta, no mesmo espaço e ficam encantados, nenhum se atreve a falar, queriam era aproveitar e gravar bem na sua mente aquele céu tão bonito.
- Uau! – Suspiram todos   
- Tantas estrelas! – Comenta o pónei de pêlo branco
- Lindo! – Dizem todos
Continuam a andar devagar e a conversar alegremente, riem uns com os outros, param muitas vezes e reparam em todas as diferenças de cor do céu, até chegar ao vale onde se vê o grandioso espectáculo que é o lindo nascer do sol.
Sentam-se na relva do vale, e vêem cada passo do sol…e cada cor do céu, rendidos a tanta beleza, soltam grandes exclamações de surpresa e encanto.
Ainda com aquela imagem linda na cabeça, cheiram tudo o que há para cheirar, tocam em tudo o que podem, petiscam diferentes ervas, plantas e folhas que cheiram bem e que eles desconheciam, e descobrem que sabem ainda melhor quando as trincam, bebem água de fontes diferentes, refrescam-se em pequeninas cascatas vindas do cimo do monte.
Depois brincam uns com os outros, entre muita gargalhada, e algumas escorregadelas, espirros e muitas descobertas maravilhosas…mágicas.
Ouvem novos sons naturais muito agradáveis, de olhos fechados para sentirem melhor, e relincham com os pêlos arrepiados de felicidade.
Vêem novas flores, a cada passo que dão, e sentem diferentes temperaturas nas patas e nos pêlos, vêem águas a brilhar como cristais na erva, quando dá o sol, e até o arco-íris, e rebolam.
O passeio não podia estar a ser melhor, mas de repente…ouvem um enorme estrondo, a seguir outro, e depois mais outro…estrondos sem parar. Gritam, estremecem, arrepiam-se e correm desvairados sem saber para onde, cheios de medo, a olhar para todo o lado.
Logo que encontram uma casinha de guardar gado refugiam-se lá, felizmente está vazia. Os seus corações batem a 1000 à hora e quase nem conseguem respirar.
- Estamos todos? – Pergunta o pónei branco
- Sim! – Respondem todos
- O que foi aquilo? – Pergunta o pónei cor-de-rosa
- Não sei! – Respondem todos
- Que estrondos… - Diz um dos póneis azuis
- Pareciam tiros, ou explosões… - Diz o outro pónei azul  
- Que medo! – Respondem todos
- Será que andam aí os malvados caçadores? – Lembra o pónei preto e castanho
- Bem lembrado! – Respondem todos
- Espero que não. – Murmura o pónei branco
E os estrondos continuam, e eles encolhem-se todos. Entra lá o cão do pastor e desata a ladrar, ao ver os póneis.
- Óh não! – Murmura o pónei branco
- Só nos faltava esta! – Murmura um pónei azul
- O que é que estão aqui a fazer? – Pergunta o cão com ar de mau
- Calma…por favor…não nos faças mal. – Pede o pónei branco
- Nós podemos explicar! – Garante um pónei azul
- É…não estamos aqui para invadir…só estamos aqui para nos protegermos. – Acrescenta o outro pónei azul
- Esta é a tua casota? – Pergunta o pónei cor-de-rosa
- Não! Esta é a casota onde o meu dono guarda o gado quando chove muito, ou quando faz muito calor. Mas estão a proteger-se de quê, ou de quem? – Pergunta o cão
- Ouvimos uns estrondos…estes que ainda se ouvem. – Diz um pónei azul
- Os nossos papás dizem que podem ser tiros…ou explosões, e que se ouvíssemos esse barulho para nos escondermos onde pudéssemos. – Diz o outro pónei azul
- Estamos muito assustados. – Diz o pónei preto e castanho
O cão desata às gargalhadas:
- Áh! Estão a falar com certeza dos foguetes. Sim, este barulho que ouvem, parecido com tiros, são foguetes, que os de duas patas fazem estourar quando há uma festa. – Explica o cão
- Festa? – Perguntam todos
- Sim. O meu dono está para lá. Mas não se preocupem, eles não magoam…estão longe daqui! – Explica o cão
- A sério? – Perguntam todos
- Sim. Às vezes pegam fogo às matas com essas coisas que estouram, mas não é o caso. Eu não gosto nada deste barulho, mas já estou habituado e já não me assusto, como das primeiras vezes, e como vocês também se assustaram. Mas tentem não ir para a confusão da cidade. Explica o cão e propõe - Como andam a passear e a conhecer, se quiserem eu mostro-vos mais coisas bonitas, aqui neste sítio.
- A sério? Boa! – Dizem todos
- Acompanhem-me!
Eles saem da toca, e já recompostos do susto, vão passear com o cão pastor, que lhes mostra muitas mais coisas bonitas que nunca antes tinham visto.
À hora de almoço, e depois de um grande passeio, tanta descoberta, tanta coisa bonita, os póneis voltam para o parque onde vivem, e contam aos pais, tudo o que viram. Os pais já conheciam tudo.
E vocês? Já experimentaram passear devagar nos sítios por onde passam sempre a correr, e descobrir tudo o que eles têm? Viram coisas diferentes? O que viram?

FIM
Lálá
(6/Junho/2015)



sábado, 6 de junho de 2015

No jardim do moinho

foto de Lara Rocha 

Era uma vez uma casa num recanto escondido de uma floresta, um antigo moinho de uma família muito rica. Dessa família só uma rapariga ainda jovem quis ficar com o moinho, que todos os mais velhos diziam não servir para nada…achavam que esse moinho não passava de um molho de pedras.
Para essa jovem passou a ser a sua casa, pois ficava muito perto do seu local de trabalho, e assim poupava dinheiro. Mobilou o moinho, com a ajuda dos amigos que lhe deram muitos móveis de que já não precisavam ou não gostavam.
Uns restauraram umas coisas, e reconstruíram outras, outros concertaram cadeiras, mesas, sofás e montaram a cozinha, a luz elétrica, água, lareira, fogão, frigorífico, tinha tudo! O moinho não tinha divisões, como outra casa qualquer, mas ela conseguiu que tudo o que precisava coubesse no espaço que tinha disponível, e ficou maravilhosa.
O moinho tinha um anexo, e outro andar por cima, com um grande e agradável terraço onde a jovem adorava estar, ver a paisagem, descontrair e meditar, ou apanhar sol. Sentia-se muito bem no seu moinho, tinha jardim e horta onde não faltavam quase todos os alimentos que se podem cozinhar e comer, por isso, quase não fazia compras. Os seus pais iam muitas vezes visitá-la ao moinho, almoçavam, passeavam e jantavam e ajudavam-na sempre.
Uma noite ela foi ao terraço porque viu da janela de baixo algo diferente no jardim. No inicio teve medo, mas também não ficava descansada se não fosse ver o que era, e saber se estava em segurança.
De cima, teve a certeza que havia algo de diferente…umas flores que brilhavam no escuro, como os pirilampos.
- Será que estão pirilampos presos ou fechados naquelas flores? Nunca vi…se calhar, como vem chuva amanhã abrigaram-se ali, talvez não consigam voar…! Mas…estão muito quietas e as suas luzes estão acesas.
Viu a sombra dos gatos vadios que ela alimenta, cheirarem as flores de onde se viam as luzes iguais às dos pirilampos mas que não mexiam. Os gatos começam a miar…estão desconfiados.
Antes que ela perguntasse mais alguma coisa, uma bela surpresa acontece…as flores abrem uma por uma, e de cada uma sai uma bailarina pequenina, graciosa e levezinha, com asinhas finas, que se assustam quando veem os enormes olhos dos gatos.
Quando percebem que são os gatos respiram de alívio e mudam de cor a cada pequenino movimento que fazem. A jovem assiste completamente rendida.
- Áh! Mas o que é isto? Estarei a ver bem?
Desce as escadas do terraço e vai para o jardim, junto das flores. Sim…está a ver mesmo bem! As pequeninas bailarinas são mesmo mágicas…de cada flor de onde elas aparecem, ouve-se uma música diferente, e cada bailarina dança ao som dessa música.
Elas fazem lindas danças, espalham luz e cor por todo o jardim, voam de flor em flor e dançam a música de cada uma. A jovem aplaude, e segue todos os movimentos encantadores das pequenas, com um enorme sorriso, toda enternecida e com os olhos muito brilhantes.
São pequeninas fadas que foram enviadas a pedido das crianças com quem a jovem trabalha, que a adoram, e que lhe retribuem todos os dias todo o carinho e atenção que ela lhes dá, com beijos, abraços, desenhos, flores, mimos e mais mimos. Desta vez, o mimo foi enviar fadinhas bailarinas, cheias de luz, para alegrar e fazer companhia à jovem.
A fadinha chefe diz-lhe:
- Olá, boa noite! Viemos alegrar a tua noite e fazer-te companhia, a pedido de umas crianças que conheces muito bem e que querem mostrar-te o quanto te adoram…
E a outra fadinha acrescenta:
- O quanto te adoram e o quanto te agradecem tudo o que lhes dás.
- Já sei quem são! Óh! Que queridas, e queridos…todos os dias dão-me mimos. Dou-lhes o meu melhor e eles merecem…retribuem.
- Verdade! – Dizem todas
- Eles acham que nunca é demais… - Diz outra fadinha
- Obrigada! Tão lindas que vocês são. Adorei ver-vos dançar. Se estiverem com eles, dêem-lhes um beijinho muito repenicadinho como aqueles que lhes dou, com desejos de boa noite e bons sonhos. Adorei a surpresa.
- Daremos o recado! – Garante uma fadinha
- Vamos para lá agora. – Diz outra
- Tomem conta deles e dos seus sonhos. – Pede a jovem
- Fica descansada! – Dizem todas
- Serão sempre muito bem-vindas à minha casa! – Diz a jovem sorridente
- Voltaremos! – Garantem
- Aqui tens flores que adoramos. – Diz outra fada
- São vossas! – Diz a jovem a sorrir
- Até já. – Dizem todas
- Até já. – Responde a jovem
E as fadinhas bailarinas voltam para o quarto das meninas e dos meninos, dão-lhes o recado, e eles até dormem melhor nessa noite. Gostam tanto do jardim à volta do moinho que nessa mesma noite vão lá dormir, outras dormem nas beiradas das janelas do moinho e outras no terraço.
Todas as noites elas dançam para a jovem que as aplaude e segue todos os seus movimentos, às vezes até dança com elas. Elas trazem uma nova luz ao jardim e ao moinho, e uma nova cor e alegria às noites da jovem.

                                                           FIM
                                                           Lálá
                                                     (6/Junho/2015)