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quarta-feira, 22 de abril de 2015

AS MAGIAS DAS TULIPAS



                                        (fotos de Lara Rocha) 

Era uma vez uma casa que tinha um jardim. Nesse jardim havia muitas flores, e entre elas lindas tulipas de muitas cores, que abriam e fechavam.
A menina da casa ficava muitas vezes pensativa, e a perguntar-se porque é que ela umas vezes via as tulipas abertas, e outras vezes, estavam fechadas.
Um dia, choveu muito, e as tulipas estavam abertas, por isso, as gotas da chuva entraram…milhares delas para cada copo de tulipa. A menina continua a ver chover, e a tentar imaginar o que teriam as flores, e porque estariam abertas.
Ela pensava: se estava a chover tanto, as flores deviam estar fechadas, como fazemos nas nossas casas com as janelas e com as portas…mas estão abertas…e…para onde irá a água…?
Parou de chover, e volta a brilhar o sol. A menina sai de casa e vai ver se descobre porque é que umas flores estavam abertas e outras fechadas, e se tinham afogado com tanta água.
A água via-se através das flores que estavam fechadas, onde dava o sol, e parecia que tinham alguma coisa lá dentro…Nas pétalas de algumas delas estava pousado o arco-íris, e noutras viam-se milhares de bolas de sabão a sair, pareciam vir de dentro das flores.
Mas como é que isso podia ser? Vinham mesmo de dentro das flores, eram as fadas feitas de gotas de água que estavam a tocar os seus instrumentos, para não terem medo da tempestade que se aproximava, e não demorava muito. A menina não ouvia música.   
Ela toca numa flor fechada, e de repente, a flor abre-se, saltando de lá uma borboleta feita de gostas de água, e voa. A menina nunca tinha visto aquilo, e abre um enorme sorriso.
- Áh! Uma borboleta de cristal? Que linda…não conhecia esta espécie.
- Não sou de cristal…sou de água! – Diz a borboleta
- De água?
- Sim.
- Mas…não sabia que existiam borboletas feitas de água.
- Existem, borboletas e muitas outras coisas.
- O quê?
- Espera para ver! Até já! – Diz a borboleta
E vai passear. Noutra flor, fechada, as gotas estão por cima, nas pétalas, a menina sopra, e a flor abre-se. De lá saem várias fadas com instrumentos musicais, todos diferentes, e tudo feito de gostas de água. As fadas começam a tocar nos instrumentos, e brilham com o sol.
- Áh! As bolas de sabão vinham daqui.
- Olá…estamos a fazer muito barulho para ti? – Pergunta a fada de água
- Não! És feita de água? – Pergunta a menina
- Sim! Eu e o meu instrumento musical
        A fada mostra uma bela viola à menina, toda feita de gostas de água.
- Uau! Que lindo, e faz música?
- Faz.
        A fada começa a toca, e corre todo o jardim, sempre a tocar. Com a sua música, desperta todas as outras flores que estavam fechadas, e abrem-se, ao som dos diferentes instrumentos…aparecem meninas bailarinas, pequenas índias, pássaros, mais borboletas, sereias, focas, pinguins, pequeninos ursinhos, joaninhas, gatinhos, ovelhas, princesas, fadas e dragões…tudo feito de gotas de água. Caminham felizes pelo jardim, e desafiam a menina para dançar.
As fadas tocam, e os outros dançam alegremente, com a menina. Com o sol a dar-lhes, pareciam todos feitos de vidro ou de cristais. Que lindo! Pareciam transparentes e muito delicados, levezinhos… A mãe vê a menina em movimento, e pequeninos brilhantes a voar.
Mas o sol é de pouca dura…porque aproxima-se rapidamente uma enorme tempestade. As borboletas e as fadas começam a voas desajeitadas, e a mexer-se de forma estranha com a forte ventania que se levantou.
Os instrumentos começam a falhar, e os outros seres começam aos gritos muitos assustados:
- Vem aí uma tempestade.
- Vai para casa…vem aí uma tempestade… demora menos de cinco minutos. – Avisa uma borboletinha
- Óh, não vão embora, por favor… - Pede a menina
- Voltamos quando a tempestade passar. – Promete uma fada
        E todos se refugiam, escondem-se em todas as tocas que vêem e as que estão mais próximas…uns, numa velha árvore cheia de buracos que havia no jardim, outros dentro das tulipas que se fecham rapidamente, e outros, debaixo das flores.
        A menina corre para casa, assustada. Mal ela entra a porta… chega a tempestade, com muitos raios e trovões, vento muito forte, muita chuva. As tulipas também serviam de casa e abrigo para estes seres mágicos.
        Como tinham prometido, não foram embora. Muito pelo contrário…Desde esse dia, até levaram mais amigos! A menina recebeu a visita dos amigos feitos de gotas de água que brincavam com ela, e traziam outros.
        Todos os dias, aquelas tulipas abriam com novas surpresas e transformavam todo o jardim num espaço muito mágico.

                                                   FIM 
                                                   Lálá 
                                             (22/Abril/2015) 

Desafio:
E vocês? Já viram tulipas mágicas?
Gostavam de ter tulipas mágicas no vosso jardim, ou num vasinho? De que cor seria a tulipa, ou seriam as tulipas?
Se as conhecessem, que cores teriam?
E que magias é que elas vos mostravam?










terça-feira, 21 de abril de 2015

OS MANOS QUERIAM SER…

     

         A Maria Luísa e o Gonçalo são dois irmãos gémeos. Às vezes nas suas brincadeiras, ou enquanto ouviam histórias que os pais ou os avós lhes contavam, ficavam muito curiosos e até imaginavam como seriam, o que sentiam se fossem algumas maravilhas da natureza: a lua, o sol, as estrelas, as nuvens, o mar e as ondas e outras coisas.
        Querem saber o que eles queriam ser?  
        A Maria Luísa queria poder transformar-se numa nuvem para saber como se sentem as nuvens, e ser muito leve como elas, ser soprada pelo vento, e ser muito pesada, como aquelas escuras que estão cheias de gotas de água.
Queria poder transformar-se em sol, e em lua, para ser quente e fria, aquecer ou derreter ou gelar ou arrefecer tudo o que ela quisesse.
Queria ser uma linda estrela brilhante para saber se as estrelas a vêem na terra, se elas ouvem o que os meninos dizem, e como é que elas vêem a terra.
Queria ser vento para ver os sítios por onde ele passa, em que toca, e sentir o que sente quando toca por exemplo nas flores ou na relva.
Queria ser água da nascente para experimentar escorregar pelas pedras, fazer-lhes mimos, para sentir se eram lisas ou com rugas, e matar a sede ou refrescar.
Queria ser uma sereia ou um peixinho para conhecer o fundo do mar; queria ser flor, borboleta, joaninha, ave, loba e gata.
Até que por fim, só queria isso a fingir, ou por um bocadinho, porque o que ela queria mesmo de verdade, era ser a menina Maria Luísa, para conhecer tudo o que queria, mesmo que fosse só pelos livros.
O Gonçalo queria ser o rei dos mares, ter a forma de uma onda e mudar de tamanho. Queria ser marinheiro de um grande navio e mergulhador, para descobrir tesouros, espécies raras e muito mais.
Queria ser águia ou dragão para voar sobre vulcões e montanhas misteriosas, ver de cima o interior da terra a ferver, sem perigo.
Queria ir de foguetão ao espaço e ver de perto ou tocar na lua, nas estrelas, brincar e fazer peripécias, equilibrismo nos anéis dos planetas, e saltitar no solo da lua, ver o sol ao longe ou descobrir novos planetas, e ver a terra de cima.
Queria ser muita coisa que ele gostava de experimentar ou ser só por um bocadinho, ou fingir que era tudo isso, enquanto ouvia as histórias, ou via as imagens.
Porque o que ele queria mesmo era ser sempre o menino Gonçalo, mano da Maria Luísa, e estar com os seus pais, avós, tios, primos, na sua bela casa, e ir ao seu colégio aprender muitas coisas novas, brincar com os amigos.
Os manos queriam ser cavalinhos, ou póneis para cavalgar, correr pelos campos, sentir as cócegas nos pés, nas patas, para ver se é igual, quando andam descalços pelo campo.
O que a Maria Luísa e o Gonçalo queriam era ser sempre o que são. Uns meninos de bom coração!
E vocês? O que queriam ser? Só de vez em quando? O que acham que iam gostar de ver se fossem outra coisa…como fizeram os manos?

                               FIM
                               Lálá

                        (21/Abril/2015)   

segunda-feira, 20 de abril de 2015

A TREPADEIRA

            
                                                    foto de Lara Rocha 

 Era uma vez uma casa numa floresta onde vivia uma senhora velhinha, isolada. Apesar de já ter muita idade, ela não se rendia, e saia todos os dias de casa, para ir à cidade. Muitas vezes ia visitar amigas aos lares, e creches. Todos a adoravam, porque ela era mesmo amorosa e muito carinhosa.
            Na sua casa havia dezenas de cães e gatos, que lhe faziam companhia, e com quem ela conversava longas horas, até cantava para eles. Eles adoravam, e enroscavam-se nela para mimos.  
            Um dia, uma menina da cidade pediu aos seus avós para irem ao parque da cidade, onde viviam muitos pássaros. Os avós fizeram-lhe a vontade, e ela chamou um pequeno pássaro que pousou numa flor. O pássaro mais bonito.
- Olha…queria pedir-te uma coisa…leva sementes de flores de muitas cores, e planta-as no jardim da Avó que vai ao meu colégio. Ela vive isolada na floresta ali…na montanha. É que eu gosto muito dela, e queria agradecer-lhe todas as coisas boas e bonitas que ela nos ensina todos os dias, e eu ensino aos meus avós…eles também me ensinam.
- Sei bem quem é! – Diz o passarinho
- Também a conheces? – Perguntou a menina
- Claro que sim, e muito bem. Vou lá muitas vezes beber à fonte das flores, e debicar umas migalhas que ela deixa sempre para nós. Às vezes são migalhas de pão, outras vezes são de bolo!
- Áh! A sério?
- Sim. E os bichos que estão lá, também gostam muito dela. Ela tem cães e gatos que nunca mais acabam… (Os dois riem) Fica descansada…nascerão lindas flores. Até já sei onde as vou pôr.
- Boa! Obrigada. Mas não lhe digas nada…é surpresa.
- Está bem. Até já.
- Até já.
            E o passarinho escolhe muitas sementes de flores, e leva-as para a terra da velhinha. Planta-as discretamente junto de uma trepadeira de ferro em círculo, onde não havia nada. Nessa noite, o passarinho sacode as suas asas e solta pequeninas estrelinhas cintilantes, sobre a terra. Os cães e os gatos sentem alguma coisa de estranho, e ficam muito agitados.
- Intruso…algo estranho! – Comunica um cão aos outros e aos gatos.
            Todos os animais circundam o passarinho:
- Fora daí… - Diz um cão com ar ameaçador
- Xiu…amigos, não ladrem…não façam barulho. – Diz o passarinho
- Amigos? – Perguntam todos a miar e a rosnar
- Sim, sou eu. O do costume.
            O passarinho dá luz, como os pirilampos.
- Áhhh! – Dizem todos mais descansados
- Desculpa…não te estávamos a conhecer. – Diz um cão
- O que fazes aqui a esta hora? – Pergunta uma gata
- Realmente…já é muito tarde para andares por estes lados. – Acrescenta uma cadela
- Vim fazer uma surpresa, que uma menina pediu. – Explica o pássaro
- Surpresa? – Perguntam todos
- Ela faz anos, e nós nem sabemos? – Pergunta outro cão
- Costuma haver bolo…e mais gente aqui em casa… - Comenta outra cadela
- Não me apercebi de nada! – Diz outro cão
- Nem eu! – Diz outro gato
- Não…ela não faz anos! É uma menina que quer agradecer tudo o que a mãe…a Avó…ou…lá como ela chama… que também é nossa… ensina! – Revela o pássaro
- Óhhh…que lindo! – Suspiram os animais sorridentes
- Que menina querida. – Comenta uma gata encantada com o gesto
- É. Não é preciso as pessoas fazerem anos, para receberem prendas ou para lhes fazerem surpresas! – Diz o pássaro
- Isso é verdade… - Concorda uma gatinha
- Pois. Eu também ofereço muitas surpresas ao meu querido focinho metade! – Diz um cão
- Pois claro! – Confirma a cadela
- É um gesto mesmo amoroso como ela. – Comenta outra gatinha
- É. Condiz com ela… - Diz o pássaro
- Mas qual vai ser a surpresa? – Pergunta outra cadela
- Muitas flores que vão subir por esta trepadeira e preencher todo o espaço. Logo verão como são lindas…Mas não lhe contem nada. - Conta o pássaro
- Está bem…- Dizem todos
Uns dias depois, as florinhas começam a espreitar na terra. Os animais não dizem nada, e a senhora ainda não se apercebeu. Todos os dias, elas crescem mais um bocadinho, e o pássaro e os outros animais, estão sempre atentos, para que mais nenhum outro bicho destrua as flores. À medida que elas crescem, começa a sentir-se um cheirinho delicioso no ar.
Com tanto carinho e dedicação, as flores começam a aparecer em botões. A senhora sente o cheirinho, mas não sabe de onde. Segue o cheiro e vai ter à trepadeira. Fica muito surpresa:
- Áhhh…o cheirinho é daqui? Mas…o que será? (Vê as cabecinhas a espreitar) Flores novas? Que engraçado…não me lembro de haver aqui flores…se calhar foram sementinhas espalhadas e nasceram! A natureza é mesmo maravilhosa…será que vai vingar? De que cores serão? Que forma terão? Bom…até logo, amores…filhos…!
            Os cães e os gatos ladram e miam, acompanham-na cheios de mimo até à porta, e ela sai. Uns dias depois, numa bela noite de lua cheia, as flores abrem…o passarinho, os cães e os gatos, acompanham o desenrolar do aparecer das flores, parecem hipnotizados, quase não piscam os olhos. Querem ver tudo. Já sabem que é um momento único e inesquecível, de rara beleza.
            As flores abrem uma por uma…umas com pétalas mais pequenas, outras maiores, e outras enormes, abrem por todo o lado ao longo da trepadeira, cada qual a mais bonita, de cor única, e cores misturadas. Outras flores parecem de veludo nas pétalas, e com cores surpreendentes. A trepadeira fica cheia de flores.
- Ááááááááhhhhhh…! Uaaaaaauuuu… – Exclamam todos
- Que lindo! – Diz o passarinho orgulhoso e feliz
- Incrível…a menina caprichou! – Comenta um gato
- A nossa mãe vai adorar, tenho a certeza… - Comenta a gatinha
- Até estou arrepiada! – Diz uma cadela a sorrir
- Eu também… - Diz outra cadela a sorrir
- Óhhh… (funga discretamente) É emocionante! – Comenta outra gatinha
- É! – Concordam todos
- Obrigada…obrigado…! – Dizem todos os animais
- De nada…foi com todo o gosto e carinho. – Diz o passarinho
            E mais nenhum animal dorme nessa noite, com o entusiasmo e aquele momento tão bonito. De manhã, a velhinha nem quer acreditar no que está a ver.
- Ááááhhh…eu estou a ver bem? A trepadeira não tinha nada…e agora está cheia de flores…?
            Os cães ladram e os gatos miam em coro, felizes. A velhinha sorri.
- Vocês estão a ver o mesmo…já percebi. Só não sei é como isto apareceu assim…aqui há dias…cheirava maravilhosamente bem, depois…aquelas cabecinhas…agora…cheia de flores a toda a volta! Que bela surpresa…quem terá feito isto?
            E a menina aparece com os seus avós.
- Avó…gostaste da surpresa que te fiz?
- Óh! Foste tu minha querida?
- Sim! Para te agradecer tudo o que me ensinas, e para dizer que te adoro…como se fosses mesmo uma avó…como a minha avó.
            As duas riem, abraçam-se, trocam beijos e sorrisos.
- Adoro-te, Avó. Obrigada…
- Eu também te agradeço…e adoro-te, minha princesa! Obrigada…fiquei mesmo muito feliz.
- Eu também fiquei muito feliz, de te ter oferecido as flores. São lindas! Obrigada, passarinho.
            O passarinho aparece e sorri, chilreia doce e alegremente. A menina apresenta os seus avós, e tornam-se grandes amigos da velhinha. E as flores da trepadeira continuam lindas. Ela já estava rodeada de flores, e adorava todas, mas aquelas da trepadeira eram especiais, porque tinham todo o carinho da menina que lhas ofereceu.
O passarinho tem toda a razão…as pessoas não precisam de fazer anos para receber os nossos mimos, e pequenos presentes. Pode ser só para agradecermos, ou dizermos que gostamos de alguém. E tornar alguém mais feliz.
E vocês? Oferecem mimos e pequeninos presentes às pessoas de quem gostam só quando elas fazem anos, ou em qualquer dia, que vos apeteça agradecer, ou dizer que gostam muito dela? Já ofereceram? O que é que já ofereceram a alguém, mesmo quando essa pessoa não fez anos? Acham que a pessoa gostou e ficou feliz? E vocês, como ficaram?

FIM
Lálá
(20/Abril/2015)

  

    

sábado, 18 de abril de 2015

O GONÇALO E A MARIA LUÍSA NO VALE DO SOL

                                                                bonecos de Lara Rocha 

Os dois irmãos: Gonçalo e Maria Luísa, que vivem com os pais numa grande cidade, todos os Sábados, e às vezes às sextas-feiras à noite, vão dormir a casa dos Avós. Os Avós não vivem com eles na cidade, vivem num bairro de um vale que se chama o Vale do Sol. A viagem até lá não é muito longa, e eles adoram ir para lá.
No vale, vivem muitos dos seus primos, e tios, além dos avós. Quando se juntam é sempre uma enorme festa. Os meninos brincam e correm, andam a cavalo, de pónei e de burro, alimentam os animais com carinho, e ajudam os mais velhos na colheita dos alimentos.
E por falar em alimentos…estes meninos só comem aqueles que lhes fazem bem à saúde. Aqueles alimentos que são nossos amigos, dão força aos nossos ossos, e fazem-nos crescer, oferecidos pela terra.
Os produtos que colhem dos belos campos verdes são: brócolos, beringelas, couve-galega, couve-flor, couve-roxa, cenouras, rúculas, ervilhas, espargos, nabos, alho francês, aipo, feijão branco, feijão vermelho, feijão verde, feijão preto, feijão manteiga, salsa, batatas, beterrabas, rabanetes, courgettes, pepinos, pimentos, tomates, azeitonas, alfaces, grelos, espinafres, milho, trigo, centeio, cabaças, cebolas, abóboras.
Não falta: leite de vaca, que usamos para beber, para fazer iogurtes caseiros, manteiga, queijo… ovos de galinha, e às vezes carne. Fazem pão caseiro, no forno a lenha, broa e bolinhas de pão, enchidos que fazemos com carne dos nossos animais, bolas de carne caseira, pão com chouriço.
Frutos secos, como as nozes, castanhas, amêndoas…frutos como: amoras vermelhas, amoras pretas, nêsperas, romãs, maçãs, laranjas, peras, uvas, figos, e melancia.
E também…flores para chá e para alegrar as nossas casas: girassóis, rosas vermelhas, rosas brancas, rosas cor-de-rosa, rosas de todas as cores, malmequeres brancos e amarelos, alfazema, alecrim, e muitas outras…lenha, sementes!
            Graças aos produtos da terra, todos tinham uma saúde maravilhosa, fantástica, óptimas defesas, muito raramente ficavam doentes, mesmo junto de outras pessoas ou meninos que ficavam doentes. Os médicos davam-lhes sempre os parabéns pelo corpo deles funcionar tão bem, e diziam que era da alimentação que faziam.
Um dia, apareceu nesse bairro, uma mãe desesperada, e um menino muito gordinho, com pouca saúde, que tinha vindo do médico por causa de vários problemas de saúde.
Só comia e mexia-se muito pouco, estava a ficar demasiado pesado, a roupa já quase nenhuma lhe servia, e tinha muitas dores de barriga, ficava muitas vezes mal-disposto.
            A mãe procurava dar-lhe comida saudável, como ela comia, mas o menino não gostava de nada, só de coisas com um óptimo sabor, mas que nos fazem mal.
Batatas fritas, panados, rissóis, croquetes, doces, sumos, leite com chocolate, bolachas de chocolate, e muitas outras delicias…só podem ser comidas de vez em quando. Mas este menino, como muitos outros, comia todos os dias.
Detestava sopa, provava e deitava fora, detestava arroz de feijão, detestava legumes e cozidos…vinha muito zangado porque o médico disse-lhe que ele tinha que mudar a sua alimentação, caso contrário, ia continuar a engordar cada vez mais, e a ficar muito doente.
O médico mandou-o fazer dieta: substituiu-lhe os fritos que ele tanto gostava, e todos gostamos: rissóis, croquetes, panados, batatas fritas, doces, por alimentos muito bons, que fazem bem à saúde e são deliciosos.
            Mandou-o comer…sopas, cheias de legumes, saladas, massas, e peixe, água, fruta, algum pão, e por uns tempos não comer fritos. Tudo ficou registado num calendário, e a mãe ouviu atentamente e promete cumprir.
            A mãe aplaudiu e agradeceu ao médico, mas o menino não gostou nada e chorou, muito zangado. Ele não queria ter de deixar de comer todas as coisas boas que tanto gostava, e comer coisas que achava horríveis.
            Os dois foram ao vale do sol, porque sabiam que lá havia produtos da terra muito bons, frescos, e saudáveis. O menino estava muito zangado.
- Boa tarde, peço desculpa…mas aqui tem legumes não tem? – Pergunta a mãe
- Sim! Muitos. – Respondem todos
- E vendem?
- Vendemos!
- Estou à procura de produtos da terra saudáveis para o meu filho que está com muitos problemas de saúde. Só gosta de coisas que fazem mal, e não é capaz de comer alimentos bons, ou sopa. Torce o nariz a tudo, e come que é um exagero. Vai fazer dieta pela saúde dele. O médico cortou-lhe tudo o que é frito…que ele comia aos quilos por semana… rissóis, croquetes, panados, batatas fritas, doces e mandou-o comer legumes, peixe, sopas, saladas, frutas…- Diz a mãe
- Detesto isso tudo. – Grita o menino zangado
- Mas isso faz mesmo mal. – Diz um senhor, tio dos meninos
- Pois claro que faz. – Concorda a mãe
- Veio ao sítio certo! – Diz uma Avó
- Aqui vai ganhar saúde. – Diz outra Avó
- Venha connosco. – Diz outra Avó
            E a mãe segue as senhoras. Os meninos acompanham as Avós, e ajudam a recolher os melhores alimentos para o menino. Ainda lhe dão algumas ideias para pratos, e sopas.
            A mãe ouve atentamente, mas o menino resmunga sempre. Torce o nariz a tudo. Voltam para casa, e a mãe começa logo a preparar uma bela sopa cheia de legumes frescos. O menino insiste que não gosta, mas o cheiro que fica no ar, deixa-o com água na boca, e a fome aperta.
- Eu detesto aquilo…mas…tem um cheiro tão bom…Huummm…será que o sabor também é bom? Óh…que tristeza não poder comer mais aquelas coisas deliciosas. – Murmura o menino.
A mãe faz uma sopa requintada, um creme de legumes, todo passado, espesso, e cheira maravilhosamente bem.
- Anda comer! – Chama a mãe
            O menino lá vai encolhido, quase arrastado, devagar e com ar de nojo. Mas a fome apertava. Ao entrar na cozinha sente um cheirinho delicioso:
- Huummm…que cheirinho é este? – Pergunta ele
- É delicioso, não é? – Sorri a mãe
- É.
- É dos nossos pratos. – Diz a mãe
            Os dois sentam-se à mesa.
- Tem uma cor bonita! Mas eu não gosto! – Diz o menino
- Pois tem! E o sabor ainda é melhor. Só podes dizer que não gostas, quando provares. E olha que há muitos meninos que passam fome, e adorariam comer isto. – Lembra a mãe
- Isso é triste! – Diz o menino
- Pois é! Mas acontece mesmo, por isso deixa-te de esquisitices e come. – Diz a mãe
            O menino está mesmo certo de que não vai gostar. Mas decide provar:
- Eu sei que não vou gostar. Mas vou provar só porque gosto muito de ti, mamã. E só porque há muitos meninos que passam fome.
- Está bem! Eu também gosto muito de ti…e sei que vais adorar.
            O menino mete uma colher, encolhido e de nariz torcido, mas saboreia.
- Huummm….não gosto. – Mete outra colher – não gosto! – Mete outra colher – Acho que…não gosto…gosto…não gosto… afinal… gosto. Óh, não pode ser…eu não posso gostar disto.
- Claro que podes gostar disto, e deves gostar de tudo, comer de tudo. Mas tens de comer primeiro o que te faz bem.
            Ele come a sopa toda, deliciado.
- Hum…está muito…lhec…não! Está muito boa. – Diz o menino a sorrir
- Eu disse que ias gostar! – Diz a mãe a rir
- Tens sempre razão, mamã.
            Chega o pai a casa, e fica muito surpreso ao ver o filho a comer a sopa.
- Pai…olha…estou a comer um creme com montes de legumes.
- Que milagre foi esse? Fazes tu muito bem.
- Teve de ir ao médico, o Dr. Mandou-o comer muitos legumes, muitas sopas, saladas, massa, fruta…e não comer fritos durante uns tempos. – Explica a mãe
- Áh! Muito bem. Apoiadíssimo. – Acrescenta o pai
- Tem a mania que não gosta de nada, olha como comeu. – Repara a mãe
- Só comi porque cheirava bem, e porque foste tu que fizeste, e porque gosto muito de ti, e porque há muitos meninos que têm fome, e porque…eu também tenho fome.
            Os três desatam a rir. A mãe serve o resto da comida, com saladas, legumes, e a conversar alegremente. O menino come tudo. Ao fim de alguns dias, já se sentia melhor, e estava a começar a ficar mais na linha. A mãe fez-lhe sopas todos os dias, pratos de peixe, saladas e massas tal como o Dr. Tinha indicado.
            O menino aprendeu a comer de tudo, mesmo que não gostasse tanto de uns alimentos, como de outros, mas comeu todos, cumpriu tudo, e voltou a ficar elegante, com mais energia, mais saúde, sem nunca deixar de comer.
O importante foi mesmo ele ter deixado de comer fritos todos os dias. Às vezes comia do que gostava mais, mas lembrava-se logo de uns dias depois comer coisas saudáveis.
            As sopinhas da mamã são mesmo boas, e são feitas com tantos legumes que nos fazem tão bem…com tanto carinho, que são mesmo nossas amigas.
Com as sopinhas, o menino não teve mais problemas de saúde. Uns tempos depois, mãe e filho voltaram ao vale do sol para agradecer os legumes. Todos aplaudiram o menino que estava agora muito mais elegante, e saudável.
            Ganharam mais um amigo…e até o convidaram muitas vezes para ir ao vale brincar com eles, e comer coisas deliciosas, mas saudáveis, e ele foi. Todos ficaram orgulhosos.

FIM
Lara Rocha 
(18/Abril/2015)




quarta-feira, 15 de abril de 2015

MARIANA E OS PRODUTOS DA TERRA (A saúde, as refeições, e os produtos da terra, a natureza)

            

Foto e objetos  de Lara Rocha 



Olá! Sou a Mariana…tenho 5 anos, e agora que vos apresentei o meu bairro, vou falar-vos dos alimentos que comemos aqui. De certeza que também conhecem muitos deles.
            Lembram-se de vos ter dito que eu e os meus vizinhos fazemos muitas festas? Pois é! O nosso dia começa com o pequeno-almoço, muito importante para crescermos e termos força nas pernas e braços para correr, brincar, saltar, pensar no colégio, e até abraçar ou pegar no colo os nossos bichos.
Não nos podemos esquecer de tomar esta refeição, porque passamos muito tempo a dormir, e quando acordamos, precisamos de energia. Para isso, temos de comer.
Eu tomo leite simples, das nossas vaquinhas que já está fervido e é guardado em garrafas no frigorífico. Sempre que nos servimos de leite, deitamos nos copos ou nas tigelas, aquecemos o que queremos e voltamos a guardar no frigorífico.
A minha mãe mistura cevada no leite, o meu pai põe café para ele, os manos comem iogurtes. Às vezes eles também tomam leite, mas é à noite, antes de ir para a cama, porque ainda são pequenos.
Às vezes ponho cereais, outras vezes como iogurtes naturais, feitos na nossa casa. São óptimos. E como sempre um delicioso pão que a minha Avó faz no forno, porque levanta-se muito cedo, para ir para o campo com o meu avô.
Os meus avós cozem o pão, com os nossos cereais: trigo, aveia, nozes, centeio e milho, todos os dias, para toda a família. São muito generosos e queridos. E fazem com tanto carinho que o pão fica com outro sabor.  
Umas vezes ponho queijo feito do leite das nossas vaquinhas, ou fiambre, muito poucas vezes, e outras vezes, manteiga que também fazemos em casa. Os meus pais e os meus avós também tomam o leite com cevada, e comem pão.
E levamos sempre alguma coisa para comer a meio da manhã. Vamos para o colégio, e lá, comemos muitas coisas apetitosas. Começamos com uma bela sopinha, cremosa, com um sabor sempre diferente. São feitas com legumes que nos fazem muito bem à saúde.
Batata, cenoura, cebola que nem se sente, e às vezes nem põem, abóbora, cabaço, couves de várias qualidades, brócolos, nabo, alho francês, courgettes, feijão verde, espinafres, espargos. Umas vezes misturados, que não conseguimos distinguir os sabores, outras vezes, com menos legumes de cada vez.
Todos os legumes são nossos amigos, por isso podemos comê-los à vontade. Depois da sopa, comemos muitas vezes arroz, ou massa, acompanhadas de ervilhas, ou carne, ou peixe. E fruta variada no fim.
Brincamos muito, fazemos os trabalhos divertidos, e depois lanchamos…quase sempre um copo de leite, com chocolate, ou simples, e um pãozinho pequenino.
Voltamos para casa, e jantamos. O meu jantar tem sempre uma sopa, cheia de legumes, porque a minha mãe põe todos os que estão na nossa horta, e bebemos água ou sumos caseiros.
Ao fim-de-semana, às vezes comemos arroz de feijão, arroz de frango, carne assada, peru, pato e frango, ou vitela, de vez em quando, massa, saladas, ovos, fruta e às vezes bolos caseiros.
Vou recordar-vos os alimentos que tenho no meu bairro, uns nos meus campos, outros nos campos dos vizinhos que nos dão. Brócolos, beringelas, couve-galega, couve-flor, couve-roxa, cenouras, rúculas, ervilhas, espargos, nabos, alho francês, aipo, feijão branco, feijão vermelho, feijão verde, feijão preto, feijão manteiga, salsa, batatas, beterrabas, rabanetes, courgettes, pepinos, pimentos, tomates, azeitonas, alfaces, grelos, espinafres, milho, trigo, centeio, cabaças, cebolas, abóboras.
Frutos secos, como as nozes, castanhas, amêndoas…frutos como: amoras vermelhas, amoras pretas, nêsperas, romãs, maçãs, laranjas, peras, uvas, figos, melancias…
Felizmente temos boa saúde, porque comemos coisas saudáveis, boas, e frescas, naturais. É muito bonito o meu bairro. Adoro viver aqui. Comemos de tudo! Às vezes também comemos coisas que são deliciosas, mas não fazem muito bem à saúde como as batatas fritas e outros petiscos fritos, pizzas, gelados, rebuçados…mas pouco.
Alguns legumes são comidos cozinhados, outros crus, e os animais também comem alguns dos nossos legumes. Uns legumes têm um sabor meio doce, outros sabem mais a ácidos, mas todos são precisos para crescermos fortes, termos mais saúde, mais defesas contra doenças e micróbios, e alegria.

Actividade:

E vocês o que comem a cada refeição?

Comem só os que gostam, ou comem de tudo, até os que não gostam tanto, mas porque vos faz bem à saúde?

Quais são os vossos alimentos preferidos?


                                               FIM
                                               Lálá
                                    (14/Abril/2015)


domingo, 12 de abril de 2015

A lenda do jardim adormecido

                                    
Foto tirada por Lara Rocha 

      Era uma vez um jardim cheio de flores, animais e árvores, onde não havia barulho nem movimentos, nem sons, nem cores. Só havia silêncio, um silêncio que arrepiava e dava medo. Até o vento quando passava por lá, muito raramente, corria o mais depressa que podia para sair rápido, pois aquele sítio não era saúde para ninguém. Até ele que às vezes é frio, sentia frio nesse jardim.
Além disto, era um jardim muito escuro, parecia ser sempre noite, aquelas noites sem estrelas, nem lua. O sol já não entrava lá há muitos anos, por isso, em muitos sítios até havia nevoeiro, humidade e vapores mal cheirosos.
Muito pouco gente sabia da existência do jardim, só os habitantes mais velhos dessa pequenina vila que só tinham ido lá quando eram ainda muito pequenos, depois ficaram com tanto medo que nunca mais voltaram.
Quando as crianças se portavam mal eram ameaçadas que iam para lá. Elas não conheciam o local, só sabiam que era parecido com o quarto escuro que os pais falavam, e por ser tão escuro, tinham medo.
Um dia, esse vale é visitado por uma fada que transportava consigo uma harpa, e ia montada num lindo unicórnio branco, brilhante, de olhos azuis. Era tão branco que iluminava o caminho porque a luz da lua reflectia nele e tornava-se mais forte. Ela gostava muito de passear à noite com o seu amigo, para se inspirar e construir novas músicas, descansar da confusão e da agitação do dia-a-dia.
De repente o unicórnio pára.
- O que foi amigo? Estás cansado?
- Não.
- Então, porque paraste?
- Sinto algum mistério no ar… as vibrações não são boas.
- Estás com medo?
- Não, mas desconfortável.
- Onde será aquele jardim adormecido?
- Pois…não sei.
- Se calhar estamos perto.
- Mas tu queres ir lá?
- Quero.
- Para quê?
- Para conhecer.
- Desculpa, acho que não é boa ideia.
- Porque não?
- Não sei explicar, só sei que não gosto das vibrações.
- Eu já venho.
- Vais entrar ali?
- Vou só ver…fica descansado.
- Se precisares chama-me.
- Está bem.
        O unicórnio fica inquieto, nervoso e preocupado…muito atento a todos os movimentos da fada. Ela voa e de cima vê o jardim.
- Acho que encontrei! – Grita ela para o unicórnio
        O unicórnio encontra uma entrada, muito escura, e entra. Ilumina o caminho.
- Isto parece um jardim. – Comenta a fada
- É… Mas eu não gosto deste jardim. Já percebi, as vibrações vinham daqui. - Diz o unicórnio
- Eu quero conhecer.
- Mas como vais conhecer? Não tem nada…só se vê escuro.
- De certeza que tem alguma coisa.
- Não me parece.
- A lenda diz que era um jardim, e ficou adormecido com o feitiço daquela duende muito ciumenta e solitária, que foi abandonada pelo seu elfo que se apaixonou por outra duende.
- Óh, mas que injustiça.
- Acontece!
- Eu acho que ela não devia ter ficado assim tão triste…haveriam muitos mais elfos disponíveis para ela.
- Ela devia amá-lo mesmo.
- Óh, não gosto dessa lenda. É triste.
- Tem o seu lado bonito…
- A lenda devia ter terminado com eles a voltarem um para o outro, porque era sinal que o amor era mais forte…
        A fada ri-se.
- És mesmo romântico.
- Sim, sou. Eu não abandonava a minha apaixonada.
- Isso eras tu, mas a ti também pode acontecer…podes apaixonar-te por outra unicórnia ou ela por outro.
- Óh, não…não quero isso.
- Às vezes não depende da vontade. Acontece.
        De repente ouve-se alguém que manda calar:
- Xiiiiiuuuuuu…
        A fada estremece. O unicórnio encolhe-se e estica-se. Os dois ficam quase estáticos.
- Acho que está aqui mais alguém… - Diz a fada baixinho
        Ela dá um pequenino acorde, suave na harpa. Ouve-se um grito:
- Ááááááhhhh…pouco barulho…vão-se embora.
        A fada baixa mais um pouco, e liga a sua lanterna.
- Quem está aí? – Pergunta a fada
        Ninguém responde. Ela continua a tocar a sua harpa. Todo o jardim fica encantado com o som da harpa, e muito devagar, começa a despertar…as árvores…uma de cada vez, depois as flores, uma por uma, e depois os animais. Estão um pouco assustados e perdidos.
A duende da lenda aparece sentada na berma de uma fonte que também começou a deitar água, e despertou todas as outras. Agora o jardim tem sons e movimentos: sons das árvores e das flores a bocejar, a espreguiçar-se, e a reconhecer o espaço, o som e o movimento dos animais que saem das tocas e dos troncos, chilreiam, guincham, e correm de um lado para o outro, e o leve som da água.
- Como é que entraste aqui? – Pergunta a duende da lenda
- Olá…és a duende da lenda?
- Lenda? Que lenda? Sou só uma duende. Eu quero saber como é que entraste aqui?
- Toda a gente me tinha falado de um jardim adormecido…e ao passear por aqui, percebi que havia alguma coisa de diferente.
- Que interessante…! É sinal que vês bem. E porque é que entraste?
- Porque quis ver como era, de perto.
- E o que é que diziam deste jardim?
- Diziam que este jardim ficou adormecido por causa da tristeza de uma duende que foi abandonada pelo seu elfo que se apaixonou por uma outra duende.
- Sim, foi verdade…não foi lenda. Essa de quem falam era eu.
- Áh! Deve ter sido muito triste…
- Claro! O jardim adormeceu com a minha tristeza…viveu comigo a tristeza, e adormeceu quando eu me cansei de chorar e de ficar triste. Eu também adormeci. Acordei agora com a tua harpa.
- Este jardim é muito escuro…
- Claro. Quando há tristeza, não há luz. A tua harpa despertou todos nós.
- Há quanto tempo estavam a dormir?
- Não faço a mais pequena ideia. Quando vim para aqui, perdi a noção do tempo, e de tudo. Deixei de existir, tal como este jardim.
        A luz da lua entra no jardim, e o unicórnio também, muito preocupado.
- Há quanto tempo não via a luz da lua! Que linda que é! Lembro-me que adorava ver a Lua. Vais ficar aí a pairar? Desce e senta-te aqui…! – Diz a duende
- Obrigada.
        As duas sentam-se, olham-se e sorriem:
- Que linda que és. E adoro esse instrumento que tocas.
- Harpa.
- Sim.
- Obrigada.
- Obrigada eu, por nos despertares.
        A duende conta tudo à fada. A fada e o unicórnio ouvem atentamente, umas vezes ficam tristes como a duende, outras vezes suspiram e sorriem.
- Que linda, mas triste história de amor. – Diz o unicórnio
- Foi feliz e linda enquanto durou, depois acabou. Já não sei há quanto tempo. – Diz a duende
- Dizem que vai mesmo há muito tempo. – Acrescenta a fada
        E de manhã bem cedo, o sol começa a entrar nesse jardim. A duende fecha os olhos.
- É o sol… - Diz ela
- Sim!
- O sol faz-nos muito bem! – Diz o unicórnio
- Estás habituada ao escuro, faz-te impressão. – Diz a fada
- Pois é. Mas passa já.
        Todo o jardim acorda, e transforma-se num lugar cheio de cores, além dos movimentos e sons que já se iam ouvindo.
- Não quero mais ficar triste, nem viver no escuro. Quero rir outra vez, brincar como fazia antes, e começar tudo de novo. – Diz a duende, feliz
        E a fada aplaude. O jardim festeja.
- Posso ir contigo? – Pergunta a fada
- Claro que sim…
        E as duas saem do jardim, montadas no unicórnio. No jardim, todos cantam, dançam, correm, trocam carinhos e elogios, conversam, refrescam-se nas fontes, saltitam, rirem muito. Até as fontes ganham mais força. Há milhares de cores e flores, árvores de todo o tipo, aves enormes, e outros pássaros de espécies raras.
O unicórnio corre com elas livremente, salta, depois vão a pé, exploram todo o jardim, e os campos, rebolam na relva, riem muito, não param um segundo. Os habitantes ainda não sabem o que aconteceu, mas vêem muita luz naquele jardim que avistavam sempre escuro.
- Áh! Olhem…há luz, ali. – Comenta uma senhora
- Ui, no jardim adormecido? – Pergunta outra senhora
- Sim!
- O que terá acontecido?
- Se calhar, o feitiço quebrou-se… - Diz uma menina
- Ou ele voltou para ela. – Diz outra menina
- E agora vão ser muito felizes… - acrescenta outra senhora
- Vamos lá visitar… - sugere um senhor
        E todos saem de casa. Vão visitar esse espaço…que agradável surpresa. Vêem o sol a dar nas flores e na água, parece que até dão luz. Afinal não tinha nada a ver com a lenda que contavam.
Andaram à procura da duende, na esperança que ela ainda estivesse lá, para que confirmasse a lenda, mas não tiveram essa sorte, porque ela andava a divertir-se e a reconhecer o espaço, depois de tanto tempo que dormiu e que viveu no escuro. A duende nunca mais parou…acompanhou a fada nos seus trabalhos, e como estava feliz. Adorava ajudá-la, e às vezes voltava ao jardim onde esteve muito tempo a dormir, só para visitar os amigos que viveram com ela a tristeza, e também dormiram.
Todos no jardim estavam muito felizes por ela. Agora, este jardim, que ficou adormecido, era um lugar muito visitado e apreciado.
        E vocês? O que acham?
Terá sido uma lenda, ou realidade?
Que personagem gostariam de ser? A fada, a duende, ou o unicórnio? O que faziam?  
        Se estivermos muito tempo na tristeza, ficamos adormecidos para tudo o que há de bonito à nossa volta, como a duende no jardim adormecido. A tristeza faz parte de nós, e da vida, mas é melhor não ficarmos muito tempo com ela. Precisamos de sol, e de luz.

                                       FIM
                                       Lálá
                                (12/Abril/2015)