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sábado, 28 de março de 2015

Os coelhos e o chocolate

           

             Era uma vez um coelhinho que vivia numa floresta com a sua enorme família. Um dia, ele e os primos foram à caça aos ovos. Iam tão distraídos no seu caminho que nem reparam que tinham entrado num caminho muito diferente, onde não havia ovos mas cheirava a chocolate.
            Seguiram o cheiro, cheios de vontade de atacar os ovos de chocolate que esperavam encontrar. Mas não encontraram um ovo sequer. O cheiro a chocolate estava cada vez mais forte, e quando levantaram os olhos à sua frente…viram um portão feito de chocolate. Todos pararam.
- Huummm…que cheirinho! – Suspira um coelho já com água na boca
- O cheiro aqui é mais forte. – Diz outro coelho
- Então os ovos estão por aqui, de certeza! – Diz uma coelhinha
            De repente um coelho dá uma cabeçada no portão. Quando olha para a sua frente…
- Um portão de chocolate? – Pergunta um coelho
- O quê? – Perguntam todos
- Dei uma cabeçada aqui… Estão a ver a mesma coisa que eu?
- Sim. – Respondem todos
- Então não foi da cabeçada!
- Não!
- Estou mais descansado. Como é que eu não vi isto?
- Estavas concentrado no cheiro…
- Pois…eu estava à espera de encontrar aqui ovos de chocolate.
- Esperem aí…! – Alerta uma coelhinha
- O que foi? – Perguntam todos preocupados
- Isto não existia aqui pois não? – Pergunta a coelhinha
- Não! – Respondem todos
- Eh…ooooohhhh… Acho que nos enganamos no caminho! Eu não estou a conhecer nada disto.
- Nem eu! – Respondem todos
- Ou então… montaram uma armadilha para nos apanhar.
- Quem?
- Os humanos!
- Será?
- Huummm… - Dizem todos
- Talvez não.
- Uma bruxa?
- Não! - Respondem todos
- Entramos?
- Sim.
- Já que viemos por aqui…
- Vamos ver.
- Eu nunca vi nenhum portão de chocolate.
- Nem eu! – Respondem todos
            E entram, com muito medo.
- Bem – vindos à aldeia de chocolate. – Soa uma voz
            Todos procuram a voz
- Entrem…não tenham medo! – Diz outra voz
            Eles estremecem, e caminham levezinho, de olhos bem abertos, e ouvem gargalhadas. Os coelhos param, e parece que de repente ficam congelados.
- Que gargalhada arrepiante! – Diz uma coelhinha
 - Acho que isto é mesmo uma armadilha… - Comenta outro coelho muito assustado
            Continuam a caminhar devagar e tudo à volta deles é feito de chocolate. As pessoas, as casas, os animais, os transportes, as árvores, as flores, e até o sol, a lua, as estrelas, o mar, os rios, e as montanhas. Eles estavam encantados, e cheirava a chocolate por todos o lado.
De repente, ficou um calor muito abafado e forte, e tudo ia começar a derreter, mas logo a seguir formaram-se muitas nuvens e ficou um frio cortante.
- Óhhh…o que é que está a acontecer? – Pergunta um coelho
- Ainda há poucos minutos estava um calor que quase não se respirava, agora…este frio cortante, e o céu cheio de nuvens…
- As alterações climáticas chegaram aqui ao mundo do chocolate?
- Mas aqui não há poluição.
- Pois não, mas o clima está todo alterado…aqui também pode estar.
- Isto parece-me cada vez mais uma armadilha.
- Será?
- Sim…
- Ai…que medo!
            E uma voz de um coelho grita:
- Saiam daí!
- É a voz do meu pai…
- Sim!
- Será que estamos em perigo?
            Duas vozes chamam por eles, e ralham, agora mesmo atrás deles:
- O que é que estão a fazer no frigorífico?
- Saiam já daí.
- Não vêem que isso está a refrescar?
- Não podem estar sempre a abrir e a fechar…
- Vão brincar para outro lado.
            Os coelhos não estão a perceber nada:
- O quê? – Perguntam todos
- Mas…onde estamos? – Pergunta uma coelhinha
- O que é que vos deu para estarem metidos no frigorífico? – Pergunta uma mãe coelha
Frigorífico? – Perguntam todos assustados
- Sim. – Respondem os adultos
- Nós entramos num portão… muito diferente dos nossos. – Explica um coelhinho
- Foi! – Respondem todos
- Porque nos cheirou muito bem a chocolate! – Acrescenta uma coelhinha
- Pois! – Dizem todos
- Íamos à procura dos ovos de chocolate e acho que nos enganamos no caminho! – Explica outro coelhinho
- Sim! – Respondem todos
- E duas vozes convidaram-nos a entrar no portão de chocolate. – Continua outra coelhinha
- Pois foi. – Dizem todos
- Depois entramos, e tudo era feito de chocolate…
- As casas…
- As pessoas…
- As árvores…
- Até o sol e a lua, as fontes, as montanhas… era tudo de chocolate!
- Sim…! – Dizem todos  
- Depois…começou a derreter…
- E… de repente sentimos muito frio.
- Pensamos que eram as alterações do clima, como na nossa floresta.
- Pensamos que estava sol e calor, e depois, que ficou o céu cheio de nuvens e muito frio.
- Que disparate! – Riem todos os adultos
- Não repararam que entraram no frigorífico onde guardamos tudo para a festa? – Diz uma coelha a rir
- É claro que ia tudo derreter se ficasse cá fora. – Acrescenta outra adulta
- Sentiram frio porque estão no frigorífico. – Explica outra coelhinha
- Então…? – Perguntam os coelhinhos muito surpresos
- Isto não é uma aldeia de chocolate?
-É uma aldeia de bombons de chocolate, que vão ser comidos na festa, mas tem de estar no frigorífico quietinhos…por isso fora daí. – Resmunga outra coelha adulta
- E não voltem a abrir tão cedo a porta do frigorífico. – Recomenda outra coelha adulta
- Seus gulosos! – Dizem todas a rir
- Iam ficar mesmo jeitosos aí no frigorífico com os bombons… - Ri-se um coelho
- Iam ser comidos como os bombons! – Diz outra coelha adulta a rir
            Os coelhinhos ficam tristes, e envergonhados.
- Ai…que vergonha! – Dizem todos
- Mas então…onde estão os ovos? – Pergunta um coelhinho
- Ainda não vimos nenhum. – Acrescenta outro
- Ainda não estão por aí… - Responde outra coelha adulta
- Quando vão estar? – Pergunta outro coelhinho
- Um dia destes. Não falta muito. – Responde um coelho adulto
- É que cheirava mesmo bem a chocolate… - Conclui mais outro pequeno
- Agora vão brincar para outro lado.
          E vão. Uns dias depois, chegam os tão desejados ovos de chocolate, que se encontram por toda a floresta. Os coelhinhos comem-nos até não poder mais, e muito felizes. Comem tantos, e ficam tão felizes que parecem ligados às tomadas…não param de saltar, rir, rebolar, brincar, correr e inventar outras brincadeiras.
    Os bombons que eles pensavam que era uma nova floresta, feita de chocolate, desapareceram num instante. Mas depois de tanto chocolate…todos ficam mal-dispostos, muito mais pesados, muito cansados e doentes. Passam vários dias a comer comida de dieta, sopas brancas, e chás, até ficarem outra vez bem.
       O chocolate dá energia e alegria, mas quando exageramos a comê-lo, depois de tanta energia que ele nos dá, ficamos cansados!
        Esta é a única altura do ano em que estes coelhinhos comem chocolate. E nós também podemos comer, mas nada de exageros…não devemos comer chocolate até ficarmos doentes. Só uns bocadinhos de cada vez.

E vocês? Gostam de chocolate? Comem muito chocolate?
Comam com juízo!

FIM
Lálá
(28/Março/2015)




quinta-feira, 26 de março de 2015

O ABRAÇO ÀS ÁRVORES

foto de Lara Rocha 

             Era uma vez uma aldeia com algumas casas, onde viviam famílias numerosas, e muitas árvores por todo o lado. Algumas árvores já estavam secas e velhas, já não produziam nada, e segundo os lenhadores, estas deveriam ser abatidas porque só estavam a ocupar espaço. Contrataram uns lenhadores, e uma criança de 8 anos, ouviu tudo. Ficou muito triste, e foi logo a correr contar aos outros.
- Não…não pode ser…não podem fazer isso. Amigos, já sabem uma coisa?
- O quê? – Perguntam em coro
- Aqueles grandes mal encarados querem cortar estas árvores, velhas e secas, e os nossos pais autorizam…
- O quê? – Perguntam todos assustados
- Isso mesmo. Dizem que só estão a ocupar espaço!
- Mas que grande lata!
- Eles é que estão a ocupar espaço…
- Só têm espaços naquela cabeça, sem nada.
- Não pode ser!
- É verdade. Eu ouvi tudo…eles estão na minha casa.
- Que horror.
- Uma árvore é um ser vivo, mesmo que já esteja velhinha e seca…acontece o mesmo com os seres humanos.
- Claro! – Respondem todos
- Uma árvore não é um pedaço de madeira…é muito mais que isso.
- Claro. - Respondem todos
- Temos de os impedir. – Sugere uma menina de 10 anos
- Estás maluca? – Perguntam todos
- Achas que nós, pequenos temos alguma influência? – Pergunta um menino da mesma idade
- Claro que não. – Responde outra menina da mesma idade
- Isso era bom…o mundo seria bem melhor se mandássemos alguma coisa.
- Pois era. – Concordam todos
- Eles fazem tudo o que querem.
- Pois! Tem dinheiro…
- A minha mãe e a minha avó dizem que o dinheiro controla tudo. E é bem verdade. – Diz um menino mais novo
- Pois é! - Concordam todos
- Esperem aí…é claro que podemos impedir. – Garante a menina de 10 anos.
- Como? – Perguntam todos
- Não temos super-poderes, lembras-te?
- Pois…nem somos crescidos.
- Os crescidos não fazem nada, e vamos fazer nós, tão pequenos?
- Mas amamos a natureza, certo?
- Claro! – Respondem todos
- Juntos, podemos! – Garante a menina
- Acho que estás a sonhar acordada. – Diz um menino
- Como é que vamos enfrentar aqueles grandalhões, mal encarados, cheios de coisas que cortam? – Pergunta um menino mais novo
- É. E como é que vamos mudar aquelas cabeçorras que só devem ter porcaria lá dentro?
- Pois! – Dizem todos
- Estamos unidos ou não estamos? – Pergunta a menina de 10 anos
- Estamos! – Respondem todos
- Queremos defender as árvores ou não?
- Queremos! – Dizem em coro
- Então! Não temos medo! Vamos.
- Vamos! – Gritam todos
- Mas qual é o teu plano?
- Ao chegarmos lá, cada um abraça uma árvore.
            E põem pés ao caminho. Mesmo cheios de medo, sabiam que estavam juntos, e acreditavam que iriam conseguir alguma coisa. Ao chegar lá, cada menino abraça uma árvore.
- Não vamos deixar que vos cortem. – Diz a menina de 10 anos à sua árvore
- O que fazemos a seguir? – Pergunta outro menino de 10 anos
- Deixem-se estar.
            Chegam os homens com serras e serrotes, e o pai de um deles, grita:
- Saiam daí.
            Eles não respondem, e continuam no mesmo sítio, abraçados às árvores.
- Saiam! – Gritam todos os homens
- Não! – Gritam as crianças
- Olha agora o raio da canalha…metida a gente grande… - R           esmunga um homem
- Vamos. Saiam…- Ordena outro pai
- O que estão a fazer aí? – Pergunta outro pai, nervoso
- A defender o que é nosso! – Diz outra menina de 10 anos
- Não saímos. Vocês é que têm de sair. – Diz a menina que teve a ideia
- Esta agora! – Resmunga outro senhor
- Vão levar uma tareia! – Ameaça outro pai nervoso  
- Não faz mal…afinal é mesmo isso que tu sabes fazer não é, pai? Dar tareias…mas dói menos do que ver estas árvores a ser cortadas. – Resmunga a menina
            O pai fica embaraçado e ainda mais nervoso, prepara-se para bater na filha, mas os outros impedem-no.
- Bandido! – Dizem todos
- Fica quieto. – Ordena outro pai
- Estes pedaços de madeira vão ser cortados, não servem para nada, estão secos. – Informa outro lenhador
- Vocês é que não servem para nada. Só pensam no dinheiro…mas o dinheiro compra o ar que respiram? Compra a saúde? – Desafia a menina de 10 anos
- Não sejas mal-educada. – Grita o pai dela
- Saiam imediatamente daí. Ou saem a bem ou saem a mal. – Gritam todos os homens
- Para cortar estas árvores, terão que nos cortar também! – Grita a rapariga que teve a ideia
- O quê? – Perguntam todos os homens
- Isso mesmo! – Gritam todas as crianças
            Os homens tentam agredir as crianças, mas elas não cedem, e não largam as árvores, elas dão as mãos umas às outras, e fazem uma espécie de barreira. Os homens tentam dar sapatadas nas mãos para que se separem, mas elas não deixam, não largam as mãos nem por um segundo.
De repente, por magia, as árvores ganham vida! Saem umas raízes da terra, grossas e volumosas, e desatam a dar pontapés nos homens, outras raízes dão nas mãos deles.
Uns troncos fininhos que aparecem mais acima no topo do tronco dão uns valentes estalos, e puxam cabelos, outras pegam nos homens, sacodem-nos e atiram-nos ao chão, outras pisam-nos já no chão. Eles nunca viram aquilo, e estavam incrédulos.
            Parecia que as árvores tinham sentido que iam ser cortadas, e defenderam-se. Despejaram toda a raiva em cima deles, principalmente porque ouviram que uma das meninas e a sua mãe que costuma ir para os pés dessa árvore desabafar, e ganhar força, eram maltratadas pela figura masculina. Até as crianças estavam de boca aberta e desataram
às gargalhadas. Abraçaram ainda mais as árvores e dizem em coro:
- Obrigada, árvores.
            As árvores sorriem, e ganham uns troncos como se fossem braços, envolvem as crianças num abraço carinhoso.
- Nós é que temos de vos agradecer… - Diz uma árvore
- Mas o que foi isto…? – Pergunta um homem bastante mal tratado como todos os outros
- Acho que…
- Não sei…
- Não percebi nada!
- Tiveram o que mereceram. – Diz a menina de 10 anos que teve a ideia
- Parece que os pedaços de madeira que não serviam para nada, só ocupavam espaço, e estavam secas e velhas, afinal, tinham vida. – Diz a outra menina de 10 anos.
- Graças aos vossos abraços… - Diz uma árvore
            E as árvores ficam como novas, nascem centenas de ramos fortes, e folhas viçosas, verdes, e frondosas.
- Cortem-nos agora! – Diz outra árvore irónica
- Vocês têm armas, mas nós temos ainda mais…- Diz outra árvore
- Ou querem experimentar mais? – Diz outra a rir
            Os homens não respondem.
- Vamos embora, antes que eu me arrependa. – Resmunga outro homem
- E tu, óh minha grande besta, ai de ti que assentes mais essa mão podre em cima da menina e da tua mulher. Acabo com a tua raça…tu não sabes do que sou capaz. – Ameaça a árvore que servia de confidente
- Maldita! – Grita o homem nervoso
- É. Vais ver quem é a maldita… ou o que é que é maldita… - Diz a árvore
- Rua…! – Gritam as árvores em coro
- Ou querem mais? – Pergunta outra árvore
- Que lindos que estão… - Diz outra árvore a gozar
- Fantásticos… - Dizem todas as árvores
- Que artistas que nós somos… - Diz outra árvore a rir
            E todas começam a gozar. Os homens antes de sair ainda ameaçam:
- Voltaremos!
- Olhem…parece que gostaram.
            Todas riem
- Nós fazemos mais, não temos qualquer problema…e pomos-vos ainda mais bonitos… - Ri outra árvore
- Melhor que uma massagem chinesa… Éh, Éh, Éh…
            Todas riem e dizem:  
- Verdade.
            As árvores ficam a gozar, e as crianças brincam livres e felizes naquela zona. Conseguiram o que queriam…as árvores não foram cortadas.
- Afinal, o que elas precisavam era só de um abraço, para nascerem de novo, e ficarem ainda mais bonitas! – Diz a menina que teve a ideia
- Isso mesmo! – Dizem todos
- Pois claro! – Respondem as árvores em coro
            Chega a mãe da menina, muito feliz, e fica encantada com as árvores.
- Lindo, meus amores…como é que isto aconteceu? O teu pai foi levado para a esquadra!
- Finalmente! – Sorri a menina que era maltratada
- Agora vai pagar cêntimo, por cêntimo o mal que nos fez.
- A árvore também já cobrou.
- Temos poder ou não temos? - Pergunta a outra menina de dez anos
- Conseguimos! - Dizem todos felizes 
- Somos pequenos, mas juntos conseguimos, e os adultos conseguiriam ainda mais se também se juntassem pelo que querem lutar. 
- Tens toda a razão! Foste muito corajosa. Obrigada. - Diz a mãe da menina 
            A árvore ri-se, e a mãe também a abraça.
- Obrigada, querida árvore. Obrigada, obrigada, obrigada. – Diz a mãe da menina
            E os homens nunca mais lá voltaram para cortar as árvores. A paz e a natureza em estado puro, voltaram a esse lugar onde o abraço das crianças, às árvores fez verdadeiros milagres.
As árvores, mesmo secas e velhas servem para abrigo de alguns animais. Todos precisamos muito de árvores…e de abraços…de gente que ame, que defenda, que proteja…

FIM
Lálá
(26/Março/2015)




quarta-feira, 25 de março de 2015

OS PINTAINHOS





























   Era uma vez uma família de pintainhos que viviam num galinheiro com as suas famílias, numa grande quinta habitada por pessoas que tratavam deles.
  Numa tarde cheia de sol e calor, sentia-se muito movimento e agitação: todos andavam de um lado para o outro, limpavam e arejavam as casas a fundo, felizes, as costureiras da casa não paravam um minuto e estavam sempre pessoas desconhecidas a entrar e a sair, com roupas para fazer concertos e mudanças.
    Os animais que já viviam na quinta há mais tempo, já sabiam o porquê daquele movimento todo. Mas os que tinham chegado recentemente: os pintainhos e outros pequenos não sabiam e começavam a ficar também agitados, e nervosos. Os cães ladram constantemente.
- Que agitação! – Murmura um pónei
- Será que vai haver alguma tempestade ou tremor de terra? – Pergunta uma galinha
- Não! Porquê? – Pergunta o galo
- Está tudo tão estranho…parecem baratas tontas…até eu já estou a ficar tonta de tanta entrada e saída, barulho…gente… - Diz uma égua
- Tanto movimento, aqui! – Repara um pintainho
- Pois é! Também nunca vi… - Diz outro pintainho
- Está sempre gente estranha a entrar e a sair…a casa toda aberta… - diz outro pintainho
- Porque será?
- Se calhar vai haver alguma festa!
- Mamã…o que é que está a acontecer? – Pergunta um pintainho
- Estão a preparar uma festa! – Responde a galinha
- Uma festa? – Perguntam todos os pintainhos
- Sim! – Confirma a galinha
- Estão a falar de festa? Quem faz anos? – Pergunta uma gatinha
- Ninguém! – Respondem todos
- Os pequenos estão a reparar que há muito movimento, muita agitação, e não sabem porquê! Eu disse-lhes que estão a preparar uma festa.
- Eu diria mais que se preparava uma tempestade, ou um tremor de terra. – Comenta outra galinha
- Não! É apenas uma festa… a Páscoa! – Acrescenta uma gatinha
- Áh! – Respondem todos
- Aquela festa onde se junta muita gente, come-se ovos, e trocam uns com os outros… - Diz a gatinha
- Ovos? Os nossos? – Perguntam os pintainhos
- Não. Ovos de chocolate! – Diz a gatinha
   Os pintainhos trocam olhares entre si, estão a tramá-las. Eles querem ver e até se possível provar esses ovos de chocolate. A gatinha explica tudo.
De noite, quando todos dormem, os pintainhos juntam-se, saem silenciosamente, tão silenciosos que ninguém dá pela sua saída, e passam no buraco da porta. Sempre a olhar para trás, a ver se nenhum acordou.
Já no jardim, veem um enorme ovo por trás de uma árvore, e embrulhado num papel todo colorido, com laço e tudo.
- Boa…conseguimos! – Dizem todos os pintainhos a sorrir, e chocam as patinhas
- Este ovo, não deve ser para eles… - Diz um pintainho
- É. Acho que não, está cá fora… - diz outro pintainho
- Então, não vamos perder tempo….
- Vamos abrir.
     Quando os pintainhos se preparavam para abrir e atacar o delicioso e atraente ovo, ouvem uma voz:
- O que é que estão aqui a fazer? – Pergunta uma galinha
   Afinal foram vistos! A galinha já devia estar à espera que eles fizessem alguma, por isso fez de conta que estava a dormir e viu-os sair. Eles encolhem-se, estremecem.
- Óh não! – Dizem todos
- Então? – Pergunta a galinha
- Viemos aqui ver este ovo! – Diz um pintainho muito inocente
- E quem vos deu autorização? – Pergunta a galinha
- Nós! – Diz outro pintainho
- Muito engraçadinho… lá para dentro, já. Esse ovo não vos pertence… 1…2…3…à minha frente…e vão ficar de castigo. – Diz a galinha autoritária e zangada
- Óh não…! – Dizem os pintainhos
- À minha frente. – Ordena a galinha
    E os pintainhos seguem à frente da galinha, tristes, e a tremer, porque já sabiam que ia haver ralhete. A galinha entra com eles, e todos os outros animais estão acordados. Começa com um enorme sermão, todos apoiam, e ralham também. Os pintainhos ficam envergonhados, e pedem desculpa. Mas não desistem do ovo.
- Não saem mais daqui. E esqueçam aquele ovo. Não é para vocês…é para os meninos. Vocês são amostras de galinhas e galos, só tem que nos obedecer.
    Naquela noite, passou, e todos voltam a dormir. No dia seguinte, de dia, apanharam todos distraídos e os malandrecos pintainhos conseguiram escapar. Desta vez, desembrulharam mesmo o ovo, e cada um comeu um pedaço.
- Huuuummmm…! – Dizem todos
- Que delícia!
- Nunca tinha provado uma coisa destas…
- Tem um sabor…
- Huummm…
- Gostei muito.
- Vou comer só mais um bocadinho….
Adoraram, por isso, comeram mais outro, depois mais um pedacinho e mais outro…comeram distraídos, e foram apanhados pelos meninos, que começaram a gritar e a chorar.
- Mamã…papá…eles estão a comer o ovo…! – Grita e chora a menina
Os pintainhos estavam quase que nem podiam andar, de terem comido tanto chocolate, e ficaram volumosos no bandulho, e por estarem muito pesados, não conseguiram andar. 
As galinhas e os galos, dão sapatadas aos pequenos pintainhos e bicadas brutas para eles saberem que tinham feito asneira.
- Espera aí…vamos pô-los a trabalhar… - Sugere a tia dos meninos
- Isto para não os meter na panela. – Comenta a mãe dos meninos
- Que atrevidos… - Comenta a menina
- Malvados. – Diz o menino
- A comer chocolate…isso não é para vocês! – Lembra a menina
- Desculpem! – Dizem os pintainhos em coro envergonhados
- Onde já se viu…ai…que vergonha! – Diz uma galinha
- Safados… - Comenta um galo
- Tinham que fazer asneiras. – Diz outra galinha
- Apanharam-nos distraídos. – Reconhece outro galo
- Isso não se faz! Cobiçar o que não é nosso, e ainda por cima, comer o que não é para nós! – Diz outra galinha
    E a mãe dos meninos manda os pintainhos pintar os ovos que vão ser oferecidos, marcando lá as patinhas, e fazendo outros desenhos decorativos. Que lindas pinturas. 
    Todos lhes aplaudem, e no fim, ajudam os meninos e os adultos a distribuir os ovos. Os pintainhos gulosos receberam um ovo pequenino de chocolate, cada um, como prémio. No fim, as galinhas até ficam orgulhosas, e os pintainhos gostaram muito de ajudar.  
- Mesmo assim, não voltem a fazer essa asneira! – Diz uma galinha
- Não! – Prometem os pintainhos 
Os pintainhos não voltaram a comer chocolate, só quando lhes ofereciam para provar, e ajudaram os meninos na distribuição dos ovos.

FIM
Lara Rocha 
(25/Março/2015)