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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

AS BOLINHAS NA ÁGUA

(foto tirada por Lara Rocha) 

Era uma vez uma praia que tinha areia, e mar. No mar viviam muitas espécies de peixes e algas. Um dia, um ser muito estranho entrou no mar. Nunca ninguém o tinha visto por ali, nem sabiam quem era.
Era uma mistura de peixe, com elfo, tinha escamas nas enormes orelhas bicudas, e salpicos de cores brilhantes por toda a cauda. Os cabelos eram compridos e pareciam algas. Trazia alguma coisa às costas…um saco grande.
Nadou debaixo da água à procura de um espaço. Olhou para todo o lado, e cruzou-se com uma sereia. A sereia ficou assustada com o seu aspecto.
- Menina, desculpe… - Diz a criatura estranha
            A sereia responde a medo:
- Diz…
- Estou à procura de um espaço! Sabe dizer-me onde posso ficar?
- Um espaço, para quê?
- Para dormir, e tocar.
- Dormir e tocar? Mas, vai dormir ou vai tocar…?
- As duas coisas.
- Então quer um espaço para viver?
- Sim, isso mesmo!
- O que aqui não falta é espaço, agora depende do que quiser…dos seus gostos…
- Posso ficar em qualquer sítio destes?
- Sim, claro. Onde gostar mais.
- Áh! Que bom! Obrigada.
- De nada.
            Ela dá uns passos, e pára pensativa.
- Mas que criatura tão…estranha!
- Sim, sou estranho! – Responde o misterioso ser
            A sereia encolhe-se assustada
- Lê os meus pensamentos? – Pergunta a sereia
- Não. Sinto as tuas vibrações dos pensamentos que estás a ter. Eu sei que estás a pensar que sou uma criatura muito estranha. Não te preocupes… toda a gente pensa isso. Sim, sou estranho…eu sei. Mas podes ficar descansada, que não faço mal.
- (ela sorri embaraçada) É que… nunca o tinha visto por aqui antes.
- Claro que não. Nem eu a ti. Vim de outro sítio.
- Áh! Por isso é que não nos conhecemos.
- Exactamente. Mas olha, aproveito para te convidar, se gostas de música, para assistires ao meu concerto esta noite…na praia.
- És músico?
- Sim! Bem…não sei se sou, sei que vivo da música e adoro música. É assim que ganho a vida. Faço muitas coisas.
- Então se eu puder, apareço.
- Isso. Até logo.
- Até logo.
            A sereia volta atrás:
- Vais fazer-me uma pergunta…! – Diz a criatura
- Sim…se não se importar.
- Não, não me importo nada! Eu sei qual é, mas manda…
- Eu queria saber, de onde veio?
- Eu sabia! (ri) Vim de um mar onde já quase não se respirava. As bolinhas de água eram de cor branca e preta, e não subiam para a superfície. Por sinal, muito mal cheirosas.
- Lhec. Onde era?
- Longe daqui, não sei a quantos quilómetros, mas era muito longe! Aqui respira-se, lá não. Já não havia espaço com tanto lixo debaixo da água.
- Ui. Que filme de terror.
- Não era um filme, era a vida real.
- E que bolas eram essas de cor preta e branca…que não subiam para a superfície?
- Não eram coisa boa.
- Então?
- Era…petróleo, tintas, detergentes…
- Ai…acho que estou mal-disposta só de ouvir.
- Imagina se estivesses mesmo lá! Eu estava a ficar intoxicado, foi por isso que saí.
- Fez bem, aqui é tudo limpo.
- Para já!
- Acha que essa porcaria pode chegar cá?
- Bem…espero muito sinceramente que não! Mas nada é garantido!
- Aqui vai sentir-se muito bem.
- Tenho a certeza que sim!
- Bem…se precisar de alguma coisa de nós, estamos sempre por aqui. Passa sempre aqui algum ser bondoso.
- Muito obrigado.
- Até logo.
- Até logo.
            A sereia segue o seu caminho ainda um pouco assustada com aquele misterioso ser. Ele experimenta vários cantos, instala-se no que gosta mais, e onde se sente melhor.
            Tira do grande saco vários instrumentos musicais, e começa a ensaiar para o espectáculo da noite. Debaixo da água e à sua volta formam-se milhares de bolinhas de água, umas maiores outras mais pequenas, conforme a intensidade com que toca.
            De noite, o jovem vai para a superfície, e começa a tocar na água. Centenas de pessoas invadem a praia, e passado algum tempo, ele sai da água com pernas, em vez da cauda.
Fica sentado num palco que tem um grande tanque de água. Ele entra para o tanque, e ganha novamente cauda, sempre a tocar os instrumentos. A sua cauda brilhante dá luz, e todos aplaudem maravilhados.
Todas as sereias assistem ao concerto dentro da água. O jovem atira-se para o mar, e toca dentro da água. À volta dele formam-se milhares de bolinhas de água, que voam como bolas de sabão para o público, à medida que ele vai tocando. Os sons é que fazem as bolas.
O público aplaude, e vibra, agarram as bolinhas e sopram. O rapaz toca músicas de todo o tipo, o público salta, canta e dança com ele. Ele anda de um lado para o outro, em cima do palco, sempre a tocar e a cantar, depois salta para o tanque, e para o mar, tanto aparece com pernas, como com cauda.
No final do concerto, dá muitos autógrafos, e tira fotografias com os admiradores. E repousa feliz, adormecendo logo que se deita. Enquanto dorme, uns peixinhos pequeninos, quiseram experimentar os instrumentos, e tocam sem ele se aperceber. Formam-se mais centenas de bolinhas na água.
Uma sereia vê tantas bolinhas na água que se aproxima e vê que são os marotos dos peixinhos a tocar sem autorização. Ela chuta-os, e eles desatam a fugir.
O ser estranho acorda.
- Quem mexeu nos meus instrumentos? – Pergunta ele
- Desculpe…foram uns peixinhos traquinas. Mas já os mandei embora. Fizeram barulho para si? – Responde e pergunta a sereia
- Não! Não te preocupes.
- Estava a dormir?
- Sim, mas senti a vibração deles a mexer nos meus instrumentos…mas sabia que não estavam a estragá-los, e que não era por mal. São curiosos, é normal. Foi por isso que também não lhes disse nada.
- Áh!
- A água ainda está cheia de bolinhas…tocaram forte!
- É.
- Não, não leio pensamentos…sinto vibrações. Sou um ser estranho não sou? 
            A sereia sorri.
- Não. É diferente.
- Somos todos.
            Os dois conversam alegremente, e nos dias seguintes, sempre que viam bolinhas na água, já sabiam que era ele que estava a tocar. Sentia-se tão bem naquele sítio, que nunca mais foi para outro.
Todos os habitantes se conheciam e ajudavam-se sempre que precisavam, faziam muitas festas e bailes, eram amigos, e cuidavam muito bem do seu espaço. Não se via um único sinal de poluição de águas, nem lixo. Era por isso que as bolinhas na água, dos instrumentos, flutuavam. Toda a gente gostava muito dele e das suas músicas.
            A sereia e o ser misterioso tinham toda a razão! Ali naquele mar, respirava-se bem, a água era limpa, e todos eram saudáveis. Muito diferente do sítio de onde ele tinha vindo.
E vocês? Já viram algum ser estranho como este? Se vivessem no mar, esse mar era limpo ou cheio de lixo como o nosso? Limpavam-no? Como? E as praias perto de vocês, como são?
                                                          
                                                           FIM
                                                           Lálá

                                               (23/Fevereiro/2015) 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Os cisnes



Era uma vez uma montanha com neves eternas. Nessa montanha havia um vale que se transformava conforme as estações do ano, excepto a montanha que permanecia silenciosa e carregada de neve.
No vale, sempre que mudavam as estações do ano aconteciam lindas magias. Uma delas era a passagem do Inverno para a Primavera: dois enormes e belos cisnes desfilavam pelo grande lago, com o príncipe Inverno e a princesa Primavera nas suas asas.
Os dois cisnes cruzavam-se e acendia-se entre eles a faísca da paixão, do encantamento. Essa paixão entre os cisnes, contagiava o príncipe e a princesa, que despertavam e reencontravam-se depois de tantos meses sem se verem, também apaixonados e encantados um com o outro.
A paixão deles era tão intensa que os dois cumprimentavam-se, abraçavam-se, davam as mãos e dançavam. A cada movimento que faziam, toda a paisagem ia-se transformando. Debaixo do gelo, começavam a aparecer pequeninas folhinhas verdes, todo o gelo derretia a cada batida do coração dos príncipes, um pouco acelerado por estarem apaixonados.
O gelo dos troncos ficava tão encantado com o bailado que derretia, e formava pequeninas gotinhas de água, que brilhavam ao sol e nelas podia ver-se o arco-íris, pareciam diamantes ou cristais.
As flores queriam logo apreciar esse amor, e saiam rapidamente da terra, lindas, frescas, coloridas, sorridentes.
Os animais que tinham hibernado sentiam um perfume muito especial à superfície e subiam. Todos apareciam, e corriam para desentorpecer as patas, mas principalmente para ver os dois a dançar. O reencontro entre todos era emocionante, e feliz.
Os pássaros gostavam tanto de ver aquele casal e os cisnes que chilreavam docemente, e dançavam juntamente com eles. O branco gelado dava lugar a uma explosão de cores, e o silêncio do Inverno transformava-se numa bela orquestra de sons, sorrisos e alegria.
A luz do amor entre os príncipes, tão forte e tão bonita, era levada para a cidade, sem pressa, nas asas dos cisnes que brilhavam e davam luz. Os dois príncipes aproveitavam para namorar. Pelo caminho, tudo o que era natureza acordava, e todos sabiam que a princesa estava a chegar.
O sol era mais quente, e brilhava mais, o vento uma brisa agradável e às vezes fria. Quando a princesa Primavera tinha saudades do seu amor Inverno, apareciam muitas nuvens no céu e chovia, sempre que isso acontecia, os dois voltavam a encontrar-se e a viver o seu intenso amor. O Príncipe ia para um lado, a princesa para outro. Os cisnes desfilam por onde querem.
Até que no Verão, os dois príncipes vivem juntos, o seu amor, de forma secreta, num local só deles…há quem diga que é na montanha das neves eternas, ou numa gruta. Só eles sabem, e não dizem, para não serem incomodados.
Este amor é uma das muitas prendas que o Planeta Terra nos dá, para apreciarmos. As estações do ano, e os amores, cada uma com as suas belezas particulares. Todas são especiais. Mas dá-nos muitas outras prendas! Vejam lá se conseguem descobrir. Cuidem bem dele, e de tudo o que ele nos dá de bom.
FIM
Lálá
(19/Fevereiro/2015)




terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

SOPINHAS AMIGAS

Foto de Lara Rocha 

         Era uma vez uma gata que adorava comer. Comia muito, o dia todo, e só alimentos deliciosos, mas não se podem comer todos os dias porque engordam e não fazem muito bem à saúde. Comer, fazia-a muito feliz.
            Toda a gente avisava a gatinha que o que ela comia não fazia bem à saúde, e que ela podia ficar doente.
- Não comas isso!
- Vai fazer-te mal.
- Pára de comer essas porcarias…
- Olha que vais ficar uma bola!
- Vais ficar doente.
- Gatinha, come coisas saudáveis.
- Isso não é bom para ti.
            Ela respondia-lhes que eles também gostavam e também comiam. Não ligava, e respondia com toda a certeza:
- Eu não engordo. Mexo-me muito.
            Começou mesmo a engordar muito, e muito rápido, quase sem dar por isso:
- Mas o que é que se passa comigo? Sinto-me um balão! Acho que vou…rebentar! Óh não! As roupas já não me servem! – Diz a gatinha triste e assustada
            Ficou muitas vezes mal-disposta, quase não conseguia andar, e teve de ir ao médico:
- Ai…que eu não estou nada bem!
            O médico anunciou-lhe:
- Gatinha pequena…sei que gostas muito de comer, e ainda mais, tudo o que faz mal. Mas vais ter de mudar a tua alimentação. Caso contrário, a tua saúde ficará muito prejudicada.
            O médico mandou-a fazer dieta: substituiu-lhe os fritos que ela tanto gostava, e todos gostamos: rissóis, croquetes, panados, batatas fritas, doces, por alimentos muito bons, que fazem bem à saúde e são deliciosos.
            Mandou-a comer…sopas, cheias de legumes, saladas, massas, e peixe, água, fruta, algum pão, e por uns tempos não comer fritos. Tudo ficou registado num calendário, que a mãe gata ouve atentamente e que promete cumprir.
            A mãe aplaudiu e agradeceu ao médico, mas a gatinha não gostou nada e chorou, muito zangada:
- E agora?
- Agora…fazes o que o DR. Te mandou fazer.
- Não gosto de nada disso! – Resmunga a gatinha
- É claro que gostas. Nunca comeste como deve ser…toda a gente te dizia para não comeres aquelas porcarias, todos os dias, mas tu não querias saber…
- Não são porcarias…são coisas deliciosas…e tu também gostas!
- Gosto. Mas não me vês a comer aquilo várias vezes ao dia, todos os dias como tu, pois não?
- Não!
- Claro que não. Porque eu sei que é muito bom de sabor, mas não é para comer todos os dias.
- E agora?
- Agora, vais comer coisas boas e tudo vai voltar a ser o que era antes!
            A gatinha não gostou nada da ideia de ter de deixar de comer todas as coisas saborosas que ela queria e gostava. Foi com a mãe à praça, e a mãe sabia muito bem quais os melhores e mais frescos legumes para a sua filha. Comprou uma grande variedade de legumes para fazer uma bela sopa, arroz de legumes, saladas, e outras coisas que a gatinha não estava habituada, e achava que não gostava.
- Eu não gosto de nada disso! – Resmunga a gatinha
- Nunca provaste! – Diz a mãe
- Eu sei que não gosto!
- Quando comeres a primeira vez, não vais querer outra coisa! Olha que há muitos animais que gostariam de ter isto tudo para comer, e não tem. Até devias agradecer.
- Não gosto das cores!
- Também não são os olhos que vão comer, nem vais comê-los assim!
            Chegam a casa, e a gatinha ajuda a sua mãe a descascar e a preparar os legumes.
- Óh mamã, como é que tu gostas disto?
- Gosto muitíssimo, e tu também vais gostar.
            A gatinha resmunga sempre. Torce o nariz a tudo. A mãe faz uma sopa requintada, um creme de legumes, todo passado, espesso, e cheira maravilhosamente bem.
- Anda comer! – Chama a mãe
            A gatinha lá vai encolhida, quase arrastada, devagar e com ar de nojo. Mas a fome apertava. Ao entrar na cozinha sente um cheirinho delicioso:
- Humm…que cheirinho é este? – Pergunta a gatinha
- É delicioso, não é? – Sorri a mãe
- É.
- É dos nossos pratos. – Diz a mãe
            As duas sentam-se à mesa.
- Tem uma cor bonita! – Diz a gatinha
- Pois tem! E o sabor ainda é melhor.
            A gatinha está mesmo certa de que não vai gostar. Mas decide provar:
- Eu sei que não vou gostar. Mas vou provar só porque gosto muito de ti, mamã. E só porque há muitos animais abandonados…
- Está bem! Eu também gosto muito de ti…e sei que vais adorar.
            A gatinha mete uma colher, encolhida e de nariz torcido, mas saboreia.
- Huummm….não gosto. – Mete outra colher – não gosto! – Mete outra colher – Acho que…não gosto…gosto…não gosto… afinal… gosto. Óh, não pode ser…eu não posso gostar de tudo.
- Claro que podes gostar de tudo, e comer de tudo. Mas tens de comer primeiro o que te faz bem.
            A gatinha come a sopa toda deliciada.
- Hum…está muito…lhec…não! Está muito boa. – Diz a gatinha a sorrir
- Eu disse que ias gostar! – Diz a mãe a rir
- Tens sempre razão, mamã.
            Chega o pai gato a casa, e fica muito surpreso ao ver a filha a comer a sopa.
- Pai…olha, estou a comer um creme com montes de legumes.
- Que milagre foi esse? Fazes tu muito bem.
- Teve de ir ao médico, o Dr. Mandou-a comer muitos legumes, muitas sopas, saladas, massa, fruta…e não comer fritos durante uns tempos. – Explica a mãe
- Áh! Muito bem. Apoiadíssimo. – Acrescenta o pai
- Tem a mania que não gosta de nada, olha como comeu. – Repara a mãe
- Só comi porque cheirava bem, e porque foste tu que fizeste, e porque gosto muito de ti, e porque há muitos animais que têm fome, e porque…eu também tenho fome.
            Os três desatam a rir. A mãe serve o resto da comida, com saladas, legumes, e a conversar alegremente. A gatinha come tudo. Ao fim de alguns dias, já se sentia melhor, e estava a começar a ficar mais na linha. A mãe fez-lhe sopas todos os dias, pratos de peixe, e saladas e massas.
            A gatinha cumpriu tudo, e voltou a ficar elegante, com mais energia, mais saúde, sem nunca deixar de comer. O importante foi mesmo ela ter deixado de comer fritos todos os dias. Às vezes comia do que gostava mais, mas lembrava-se logo de uns dias depois comer coisas saudáveis.
            As sopinhas da mamã são mesmo boas, e são feitas com tantos legumes que nos fazem tão bem…com tanto carinho, que são mesmo nossas amigas.
Com as sopinhas, a gatinha não teve mais problemas de saúde.

ACTIVIDADE:
E vocês? Comem sopa?
Que legumes conhecem?
O que leva a vossa sopa?
Quantos legumes?
Quais?
Vamos todos comer sopinha daqui para a frente, para termos mais saúde?
Que comidas e, ou alimentos fazem bem à nossa saúde?
Que comidas e, ou alimentos fazem menos bem, ou mal à nossa saúde?
Quais são os que sabem melhor? Os alimentos saudáveis, ou os que não são tão saudáveis? Ou os dois?
            As sopinhas são nossas amigas!

                                               FIM
                                               Lálá

                                   (10/Fevereiro/2015)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O DUENDE DOS PÓLENS

    

     Era uma vez um pequeno duende em tamanho, mas enorme por dentro, com um mega coração, cheio de bondade. Gostava muito de brincar e também trabalhava muito. Era um pouco distraído, mas muito engraçado e sempre pronto a ajudar.
     Na floresta onde vivia quase não tinha descanso. Parecia eléctrico. Quando conseguia parar uns minutos, uma das suas actividades preferidas era sentar-se na berma de um rio a ouvir a água a cair. Respirava fundo, e recuperava novamente a energia.
         O seu trabalho era recolher pólen das flores. Percorria quilómetros pela floresta, e parava em cada flor que via. Dizia bom dia, tinha sempre um sorriso que encantava, e falava com elas. Pedia autorização e às vezes eram elas que escolhiam o pólen mais adequado para o que ele precisava. No fim, agradecia e acariciava-as.
Uns saquinhos eram para a fábrica de transformação, onde o pólen servia para rebuçados, sabonetes, cremes, xaropes, almofadas perfumadas, mel, velas e outras aplicações. Outros saquinhos eram para ele.
Um dia, a fábrica foi obrigada a fechar, pelo menos enquanto não surgiam novas ideias. Precisavam de inventar outras utilidades para o pólen, pois todos os produtos começaram a ser pouco vendidos.
O duende ficou um pouco triste, mas não desistiu. Aproveitou para conhecer um pouco mais a floresta, e descansar. Inicialmente até estava a gostar dessa folga, mas passados uns dias ficou impaciente.
Isolou-se numa pequena gruta, cheia de mimos da natureza, que ele adorava. Perguntou ao rio o que fazer. Não teve resposta. O rio seguia o seu curso normal, e ele ficou sem resposta.
Saiu, e foi pegar nos seus instrumentos musicais. Colocou uns pozinhos de pólen e tocou. Dos instrumentos começaram a sair notas musicais feitas de pólen, que dançaram à sua frente, como belas fadas, e outras com caras de bebés sorridentes e davam risadinhas. Algumas tinham um cheiro delicioso, e pareciam bolas de sabão. Ele dá uma gargalhada:

- O que é isto?

       As notas musicais feitas de pólen, continuam a sair dos instrumentos aos milhares, e quando se juntam ou cruzam, fazem sons diferentes. Ele dança com elas, feliz, e foi quando lhe surgiu uma nova ideia: levar música e a magia do pólen a quem precisava, por exemplo, os que estavam doentes.
          Pôs pés ao caminho, e dirigiu-se ao hospital da cidade. Levou os instrumentos, e começa a tocar na sala de espera. Aconteceu o mesmo: as notas musicais voam em forma de pólen, por toda a sala, e fazem belas melodias quando se juntam. Todos ficam boquiabertos, aplaudem, riem, e todo o ambiente, todos os doentes fica contagiado por uma energia leve, deliciosa, perfumada, e saudável. Mesmo os que estavam mais doentes, ganham novamente saúde, ao ver aquele espectáculo, e as notas musicais desafiam-nos a dançar.
            Ele segue pelos corredores, e em cada quarto faz o mesmo espectáculo…quase magicamente, todos ficam curados, com o seu sorriso, e as suas músicas.
            No final desse dia ficou com o coração cheio de alegria e no dia seguinte, volta a trabalhar na fábrica que reabriu. Contou o que aconteceu, e o director da fábrica cria mais um produto novo. Flores musicais, onde estão armazenadas as notas musicais que o duende toca e que saem dos instrumentos. Vende-se aos milhares por dia.
            O duende ganhou agora mais outro trabalho: além de recolher o pólen das flores, ainda toca instrumentos para as suas notas musicais preencherem as flores, e curarem. São lindas, e tocam melodias muito doces.
            Mesmo com tanto sucesso, o duende do pólen continua a ser o menino simples, simpático e mágico que era antes.

FIM
Lálá
(6/Fevereiro/2015)



quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A PANTERA PINTORA


     Era uma vez uma pantera grande, corpulenta, de pêlo preto, lustroso, brilhante, e olhos verdes. Todos os seus amigos e vizinhos a achavam misteriosa, mas muito bondosa, e respeitavam-na muito, pelo seu tamanho e pelo seu valor.
            Um dia, a pobre pantera sofreu uma depressão no Inverno que foi muito rigoroso: isolou-se, não falou com ninguém, comeu pouco, chorou muito. Todos os animais andavam tristes, mas iam conseguindo sobreviver com a amizade e o apoio uns dos outros.
            Na sua toca, um dia, quase no fim do inverno, apareceu uma fada de roupa muito colorida, asas salpicadas de cores, e numa mão trazia pincéis, tintas e uma palete. Na outra mão tinha um bloco de folhas. A pantera assusta-se.
- Nunca vi um bicho deste tamanho, neste estado! – Diz a fada
- Estás a insultar-me! Eu sou uma pantera. Não sou bicho. – Responde a pantera
- Eu conheço-te muito bem.  
- Quem és tu? Já chegamos ao Carnaval?
- Não! Porquê? É a época do ano que mais gostas?
- Não propriamente…mas vi-te assim vestida.
- O que tem a minha roupa? É gira, não é?
- É sim. A minha é mais.
- Cada uma tem a sua beleza.
- Pois claro. Mas quem és tu?
- Sou a tua salvação!
- O quê? Salvação de quê?
- Para te tirar da tua depressão.
- Não sei o que estás a dizer.
- Estás aqui metida, não vais lá para fora…estás triste…não quero ver-te assim.
- Deixa-me estar. Só estou um bocadinho triste, no Inverno todos ficamos.
- Mas eu não quero que fiques assim.
- Quem te chamou?
- Eu mesma!
- Mas eu não quero a tua salvação. Eu própria, quando a primavera começar, já fico como nova. Não preciso de ninguém. Quero ficar aqui na minha toca.
- Mas eu não posso deixar-te assim. Quero que pintes!
- Ora essa… - ri – Pinta tu, se não tens mais nada para fazer.
- Por favor…pinta!
- Não trabalho de graça!
- Gostas de pintar, não gostas?
- Gosto…quer dizer…já não pinto há muito tempo.
- Pinta agora…por favor!
- Mas pinto o quê? E para quê?
- Pinta o que tu quiseres…com estas tintas e estes pincéis, e estas cores. As cores fazem bem.
- Mas que chata! Eu não quero desenhar, nem pintar…nem sequer sei fazer tal coisa.
- Mas é claro que sabes! Conheci as tuas obras de arte há pouco tempo…é cada qual a mais bonita!
            A pantera ri-se.
- Obrigada.
            A fada pousa as folhas no cavalete, os pincéis e as tintas.
- Levanta-te e pinta! – Diz a fada
            A pantera fica nervosa.
- Já estou a ficar irritada…
- Boa! É sinal que estás a acordar! – Ri a fada
- Queres ver-me irritada?
- Não… quer dizer…podes ficar irritada, eu não tenho medo. Sei que debaixo desse pêlo todo…há um bom coração!
- Só para quem merece.
- Vá lá. Pinta!
- Ai…que chata! Só porque estás a insistir, e já que elogiaste os meus quadros, vou ver se consigo pintar. Só para te calares, e contra a minha vontade.
- Obrigada por fazeres isso por mim! Eu sei que quando começares, não vais querer outra coisa.
            A pantera olha para a folha, para as tintas, abana a cauda de um lado para o outro, bate com ela no chão. Pega num pincel, e molha numa cor…desenha uns rabiscos.
- Ei…eu…afinal…gosto disto! – Comenta a pantera a sorrir
- Claro que gostas.
            A pantera entusiasma-se e começa a rabiscar, a misturar cores. Passado um bocado ri-se, muda de folha, e desenha uma coisa concreta, que gosta.
- Áh! Há quanto tempo que eu não pintava! – Suspira a pantera
- Que linda que está essa pintura! – Comenta a fada
            A pantera abre um grande sorriso, e brinca com as cores, pinta quadros lindíssimos e sente-se cheia de energia, fica feliz, como já não ficava há muito tempo.
- Vou lá para fora! Estou como nova! – Diz a pantera a sorrir
            A fada aplaude e segue-a. A pantera cumprimenta todos os amigos, saltita, corre, espreguiça-se, deita-se e rebola na relva, visita os seus sítios preferidos onde já não ia há muito tempo, bebe nas fontes, brinca com as amigas. Todos ficam muito felizes por ela.
            Quando volta para a toca, volta a pintar, e a divertir-se com as cores. A fada desafia-a, e até pinta com ela. Fica surpresa consigo mesma, e maravilhada com as suas obras. A pantera volta a ser muito feliz.
            E vocês? Gostam de pintar? E de cores? Quais são as vossas cores preferidas?

                                                           FIM
                                                           Lálá

                                               (4/Fevereiro/2015)