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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

GATINHA E COMPANHIA

            
Era uma vez uma gatinha ainda jovem que se chamava ESTRELA. Saiu de casa bem cedo, e foi passear. Vivia sozinha num tronco de uma árvore, na mesma floresta que os seus pais, uns troncos mais à frente. Antes de sair, passou na casa dos pais e disse-lhes que ia estar todo o dia fora, porque ia dar um passeio.
            Seguiu pela floresta, a cantarolar, e na fonte amarela estava uma amiga sua, outra gatinha, que se chamava MIZA e era uma excelente cozinheira. Estava a encher uma garrafa de água. As duas cumprimentaram-se:
- Olá MIZA! Queres ajuda?
- Olá ESTRELA, não obrigada. Estou a encher água para os meus cozinhados. Mas já tenho mais água lá.
- Áh! Está bem. Eu vou passear.
- Fazes muito bem. Aproveita porque não falta muito para vir a chuva!
- A sério?
- Sim. Ouvi a Dona Mariana a dizer.
- Bem, então se foi a Dona Mariana a dizer, acredito!
- Pois.
- E quando é que ela se queixou?
- Já ontem se queixou!
- Áh…então vem já amanhã.
- Sim, é o mais certo.
- Até logo, então!
- Até logo. Bom passeio.
- Obrigada.
            A ESTRELA segue o seu passeio, e a MIZA vai para o seu restaurante. A gata Mariana é uma gata velhinha que sente nas suas patas as mudanças de tempo. Quando lhe doem, já todos ficam a saber que vai haver chuva ou frio. E nunca falha, é mais certo do que um boletim meteorológico.
Nem de propósito, quando a ESTRELA passa, estava a gata Mariana estava ao sol, com a cabeça coberta, a gemer um pouco.
- Bom Dia, Dona Mariana.
- Bom Dia, filha. Estás boa?
- Sim, obrigada, e a Dona Mariana?
- Ai, eu estou cheia de dores nas minhas patas. É por isso que estou a apanhar sol, porque faz-me muito bem.
- Alivia as dores?
- Sim, bastante. Mas prepara-te, porque vem aí uma mudança daquelas que está capaz de nos levar pelos ares.
- Ui…vento?
- Vento, frio e chuva. E olha que pela minha experiência de vida, que já é muita, será já amanhã.
- Que medo! Então vou mesmo aproveitar hoje.
- Isso mesmo. E queres um conselho? Não te afastes muito, porque vai piorar ainda hoje.
- Onde ouviu isso?
- Os meus ossos disseram-me.
- Áh! Realmente, já está mais fresco…
- Está. Vai, filha, não percas mais tempo.
- Não precisa de nada?
- Não, muito obrigada.
- Até logo, então.
- Até logo.
            A gata Mariana fica a apanhar sol, e a gata ESTRELA segue caminho, pensativa.
- Está um sol tão bom, que até custa a acreditar que vai piorar.
            Encontra três gatinhas: a DÁRA, a CLARA e a LUA. Amigas desde a infância. Abraçam-se alegremente, e vão passear as quatro juntas. Pelo caminho apanham flores, conversam, riem, brincam, e nem se apercebem que está uma armadilha montada no chão. Tem um buraco não muito fundo, tapado com folhas. Lá dentro está um lobo.
            Elas caem ao buraco, a gritar, e gritam ainda mais quando vêem o lobo. O lobo grita com elas, porque também se assustou. Elas pensaram que o lobo lhes ia fazer mal. Mas estavam enganadas.
            Depois do primeiro susto, o lobo pergunta:
- Estão bem? Magoaram-se?
            Elas ficam muito surpresas com aquela pergunta.
- Vais-nos comer? – Pergunta a gata Clara
- Óh não! – Dizem todas.
- Não! – Diz o lobo.
- É por isso que estás a fazer-te de preocupado? – Pergunta a gata Dára
- Não! Calma…peço desculpa. – Diz o lobo
- Ãh? – Exclamam todas
- Um lobo a pedir desculpa…? – Pergunta a gata Lua
- Muito estranho! – Diz a gata Estrela
- Posso explicar, por favor? – Pede o lobo
- Foste que fizeste esta armadilha? – Pergunta a gata Dára
- Para nos caçares? – Acrescenta a gata Lua
- Não! Não é uma armadilha, muito menos para vos caçar. – Garante o lobo
- Não? – Perguntam todas
- Não. Eu é que tive de me esconder aqui, de um maldito cão. – Disse o lobo
- O quê? – Perguntam todas
- Sim! Isso mesmo. Eu estava muito sossegado, a dar o meu passeio, e esse cão, deve ter pensado que eu ia comer as ovelhas, começou a correr atrás de mim, a ladrar, e a mostrar os dentes…que medo! Comecei a correr, e vi este buraco aqui, que já é desviado do campo, para me esconder daquele cão maluco. Pus as folhas por cima. Ia sair daqui a bocado, mas fiquei cansado do medo. Eu ai ser comido! – Conta o lobo
- Ááááááhhhh…!
- Mas dizem que os lobos é que comem outros animais. – Diz a Lua
- Sim, isso é fantasia dos homens. Quer dizer…pode haver alguns da minha espécie, que com a fome, não tendo mais nada atacam…mas a maior parte, agora, já não tem de fazer isso. Felizmente! Eu…sempre tive que comer, nunca precisei de atacar…só para me defender. E mesmo assim, antes de atacar, tento conversar. Quando vêem um lobo, acham logo que é mau. Os lobos também têm medo de outros animais, principalmente daquele de duas patas. – Explica o lobo
- Duas patas? – Perguntam as gatinhas
- Sim…o homem! – Diz o lobo
- Áh! – Respondem em coro
- Então és um lobo bom. – Diz a Lua
- Sim. – Garante o lobo
- Será que podemos confiar nessa tua bondade? – Pergunta a Clara
- Podem. Não acreditem em tudo o que vos dizem, principalmente sobre nós. – Garante o lobo
- Podes ajudar-nos a sair daqui? – Pede a Estrela
- Claro que sim. Subam para as minhas costas. – Diz o lobo
            Elas sobem para as costas do lobo, e ele sai do buraco com elas, num salto. Já em terra firme, fora do buraco, respiram todos de alívio.
- Obrigada! – Sorriem as gatinhas
- De nada…foi um gosto. – Diz o lobo
- E agora, vais embora? – Pergunta a Dára
- Sim. Vou para casa. – Diz o lobo
- Queres fazer-nos companhia? – Pergunta a Estrela
- Por onde vão? – Pergunta o lobo
- Por aqui…sem nenhum sítio específico. – Diz Estrela
- Está bem. Posso levar-vos a sítios fantásticos que tenho a certeza que não conhecem. – Sugere o lobo
            E o lobo acompanha as gatinhas, numa conversa muito animada. Afinal este lobo é mesmo bom, simpático, e brincalhão. Elas riem muito e brincam com ele. Ele leva-as a cantinhos da floresta que as gatinhas nem faziam ideia que existiam.
Passam por cascatas entre rochas, campos muito verdes cheios de cavalos a correr livremente, pequenas praias selvagens de areias brancas, e águas muito limpas, cheias de pássaros raros, coloridos.
Provam algumas frutas que cheiram bem e sabem ainda melhor, e elas nem sabiam que existiam, almoçam juntos num restaurante de sonho que o lobo conhecia muito bem, e comem maravilhosamente.
De tarde, visitam umas grutas com candeeiros feitos de estalactites brilhantes, e luzes de várias cores, lagos com cristais e pedras preciosas, e uma feira com divertimentos para gatos.
Na feira, elas experimentam todos os brinquedos, e jogos, felizes, riem, e fazem novas amizades com novos gatos e gatas. Trocam contactos uns com os outros, e prometeram voltar a encontrar-se em breve, porque adoraram conhecer-se e brincar juntos.
Quando saem, de repente, olham para o céu, e reparam que está cheio de nuvens carregadas, escuras.
- Ááááááhhhh… - Exclamam todos surpresos
- Olha que escuro que está! – Repara o lobo
- Ainda de manhã estava sol… - Diz a Lua
- Pois estava. Mas a Dona Mariana bem tinha dito que ia haver uma mudança daquelas de nos levar pelo ar… - Lembra a Estrela
- A sério? – Perguntam todas
- Sim.
- Acho melhor voltarmos para casa…não? – Sugere o lobo  
- Claro que sim.
- Óh…eu estava a gostar tanto de estar aqui… - Diz Lua
- Eu também! – Acrescentam todas
            E voltam para casa, com o lobo. Afinal não se desviaram muito, só que nunca tinham andado por aqueles lados. Conversam alegremente, e riem bastante.
            Mas que sorte…quando elas iam quase a chegar a casa, começam a cair as primeiras pingas. O lobo fica com o contacto delas, para se encontrarem outra vez, e segue para a sua toca, e as gatinhas para as suas casas.
Desata a chover torrencialmente, com um forte vento. Felizmente estão todos recolhidos. A gata estrela liga aos pais, para ficarem descansados que já está em casa, e que passou um dia fantástico, conheceu novos amigos, e viu sítios mais que bonitos…prometeu levá-los lá quando estivesse bom tempo.  
            Este foi o passeio da gatinha Estrela, das suas amigas, e do lobo bom.

FIM
Lálá
(30/Janeiro/2015)


  


segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O DOM PÂNICO

O Dom Pânico, é um ser minúsculo, e consegue tornar-se invisível aos olhos das suas presas, para que o deixem entrar na cabeça e fazer o que ele quiser.
        Ele deixa o cérebro completamente louco, e tudo começa a funcionar muito mal. É como os vírus que entram nos computadores e descontrolam tudo.
        Mesmo minúsculo, acha-se enorme, sente-se poderoso, mau, mas na verdade é um pobre solitário que ataca pessoas de todas as idades, geralmente quando lhe apetece, sem ser convidado, só para fazer amizades. Coitado! Mas é mesmo muito ignorante não achas? Não sabe que essa não é maneira de conquistar e fazer amigos!
        Este ser minorca, insignificante, tem mil formas, cada uma mais feia, nojenta e asquerosa que a outra. Como não se vê, as pessoas só o sentem…como qualquer outro vírus pelos seus estragos.
Às vezes durante vários dias, várias semanas, ou meses e anos, vai tentando sempre conquistar o teu coração. De certeza que já sentiste a sua indesejada presença alguma vez: quando em certas situações que te pareciam iguais todos os dias e inofensivas para ti, sentes um medo inesperado, ou grande desconforto. Tanto de dia, como de noite.
Talvez essa visita do Dom Pânico tenha durado até 10 minutos ou mais, ou menos, mas de certeza que nesses dez minutos, ele fez o que quis com a tua cabeça e o teu corpo.
Como não percebe nada de computadores, mexeu à sorte nos botões do teu cérebro, e transmitiu informações erradas ao teu corpo.
O teu coração disparou e sentiste palpitações, e os batimentos e ritmo cardíaco ficaram acelerados, mesmo quieto. Como se tivesses feito uma maratona a correr não foi? Mas afinal…não estavas a fazer desporto ou esforço intenso pois não?
E porque o teu coração disparou, deves ter ficado a suar muito, como acontece quando fazes um grande esforço físico, e talvez até tenhas sentido muita dificuldade em respirar, ou ficaste com a sensação de que ias sufocar.
        Esta asneira que ele fez, provoca muitas vezes desconforto ou for no peito, náuseas ou mal-estar abdominal; a tua cabeça começa a andar à roda o que te deixa com a sensação de tontura, desequilíbrio, cabeça oca, ou com a sensação de desmaio, entorpecimento ou formigueiros pelo corpo, sensação de frio ou calor.
        Até parece que te sentiste de repente como se estivesses fora de ti, ou numa outra realidade que não a tua não é? Que filme de terror, tão real não? Deve ser mesmo muito desagradável e assustador.
        O Dom Pânico faz de ti um objecto de diversão! Mas que descarado! Isso não se faz, brincar com a pessoa desta maneira! Como ele é um ser invisível, minúsculo, e malvado, não tem sentimentos como nós.
O que ele quer mesmo é divertir-se com o teu mal-estar, e sofrer com todas as reacções que ele provoca em ti. Adora ver-te com medo de perder o controlo, faz-te pensar que estás a enlouquecer ou que vais morrer, e faz-te acreditar mesmo nisso. 
        Tenho um segredo para te contar! Agora…ele pode parecer gigante, assustador, que te domina completamente. Mas sabes uma coisa…? Nem tudo o que parece é, na realidade!
        E a realidade é que o DOM PÂNICO, não passa de um ser insignificante com a mania que é muito grande. Já viste que grande que ele é? Precisa de fazer mal aos outros para pensar que é gente…e que vale alguma coisa. Até parece uma piada, sem piada nenhuma.
        Tu é que és o verdadeiro gigante, que não precisas de fazer mal aos outros, nem a ti próprio para te sentires gente, verdade? Vais agora tornar-se no Super Poderoso destruidor do Dom Pânico.  
        Estás preparado?
        É muito fácil. Segue os passos…
       

                                       A mensageira: Lara Rocha 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

OS GATINHOS E AS LUZINHAS

      pintado a aguarela por Lara Rocha 


      Era uma vez um gatinho que vivia numa a com uma grande família. Era muito bem tratado e também tratava muito bem dos seres humanos. 
    Uma noite de Verão, quando todos já dormiam, o gatinho ficou na sala, e acordou com um reflexo de luz no seu focinho. Ele acorda assustado:
- O quê? Já é dia? Não pode ser…passou tão rápido a noite…
             Espreguiça-se, boceja, mastiga em seco, e olha para a sua frente.
- Afinal…acho que estava a sonhar.
             Levanta-se e gatinha com as suas patinhas levemente pela sala. Quando olha para a varanda vê uma luz forte redonda. Aproxima-se dos vidros.
- Áh! Será que os donos se esqueceram da luz acesa…? Não! o candeeiro está apagado. Mas…há uma coisa muito estranha a acontecer aqui. Aquela bola de luz está a…pairar? Só pode…como é que eles conseguiam segurar aquela bola? Que luz tão linda…! Áh!
              Ele sai para a varanda e está outro gato deitado no muro.
- Mas que calor! Ufa! Éh lá…um visitante indesejado? Olha aquele a fazer-se de convidado…! Mas que atrevido. Ei…óh…o que é que estás aí a fazer. Esta casa não é tua.
- Desculpa! És tu o dono da casa?
- Sou.
- Isso querias tu. Eu sei quem mora aqui. Eles já me alimentaram muitas vezes, porque eu sou vadio…e às vezes passo muita fome. Dão-me mimos.
- A sério, ou era o que tu querias?
- A sério! Eles deixam-me estar aqui.
- Vê lá o que fazes.
- Eu estou sossegado. Respeito os donos.
- Eu também.
- Eu sou da paz! Já moras aqui há muito tempo?
- Sim.
- Como é que eu nunca te vi antes.
- Não sei. Deverias andar a dormir ou a vaguear por aí.
- Olha, que luz é aquela?
- São todas as luzes da cidade, das casas, das ruas…
- Sim, está bem, mas…aquela ali…redonda, enorme… que está a pairar.
                O gato vadio dá uma gargalhada.
- O que foi? Disse alguma piada?
- Sim! – Ri outra vez – Essa luz não está a pairar, nem é uma lâmpada. É a Lua cheia. Está muito longe.
- Áh! Como é que sabes?
- Ora…eu sou vadio mas estudo, e convivo com seres humanos e outros gatos…toda a gente sabe que é a Lua.
- Olha, eu não sabia, e sou gato.
- És um gato chique…de casa…nunca ouviste os teus donos a falar dela?
- Não. Por esse nome, não me lembro.
- Tu deves ser muito distraído. Ninguém resiste a esta luz! Nem seres humanos, nem gatos…todos se rendem aos seus encantos. Ainda és muito novo. E os teus donos quase não abrem as portas nem as janelas…por isso nunca viste esta luz.
- Uau! É mesmo bonita.
- Sim! As pessoas dizem que essa luz inspira…
- Tem pulmões?
- (ri) Que disparate…claro que não tem pulmões. Mas a sua luz é tão especial que as pessoas ficam com mais ideias. Os artistas que pintam e escrevem…! Ela às vezes tem formatos diferentes.
- Áh! E…aquelas luzinhas todas, tão pequeninas a piscarem perto, e à volta dela, naquele espaço todo, o que são?
- Mosquitos, queres ver? – Desata a rir – São as estrelas.
- Áh! Estrelas já ouvi falar.
- Pois. Os meninos pedem-lhes desejos.
- Sim, é isso mesmo…é daí que conheço.
- Mas também estão muito longe.
- Áhhh…!
- Ninguém lhes pode tocar.
- Então?
- São só para ver.
- E quem é que as pôs lá?
- Isso…ouvi dizer que ainda é um grande mistério para ser descoberto. Eu, não fui de certeza!
- Nem eu.
- Mas gostava de ter uma luzinha daquelas só para mim.
- Para quê?
- Porque sou um gato solitário. Pelo menos se eu tivesse uma luzinha daquelas sempre comigo, estava mais acompanhado, e ela aquecia-me.
- Elas aquecem?
- Dizem que sim.
 - Os meus donos tinham uma luz pequena no quarto, quando eram pequenotes, e diziam que era para não ter medo.
- Pois.
- Mas não acredito muito que elas tirem o medo.
- Claro que tiram.
- Tu nunca tens medo?
- Tenho muitas vezes medo…claro, sou vadio…mas sei que as estrelas, e a Lua olham por mim.
- Quem te disse?
- A minha experiência e já conheço mais pessoas a dizer o mesmo.
- E tu acreditas nisso?
- Acredito.
                Os dois ficam um pouco a olhar para a luz da enorme lua, e para as estrelas, a sorrir.
- Gostava de ir lá mais perto.
- Eu também.
- E gostava de andar de baloiço na lua.
- Eu fazia da lua uma rede…
                Os dois gatos começam a imaginar, e a sonhar acordados. Têm uma longa e divertida conversa, passeiam juntos, e vêem que o céu onde estava a enorme bola de luz, a Lua, tinha mudado de cor. Estava a clarear, e os tons eram em roxo, rosa, amarelo, azul escuro, e azul claro noutros pontos. A Lua ficou mais clara e mais distante.
- Olha…está a nascer o dia.
- Já?
- Sim.
- Como passou tão depressa…!
- Pois foi.
- Que lindas cores! Onde está o sol?
- Vem aí…daqui a pouquinho a Lua desaparece, e aparece o sol.
- Áh. E para onde vai a Lua?
- Para…não sei…outros sítios onde é noite. Aqui está a começar o dia, mas noutros sítios a começar a noite.
- Ela aparece todos os dias?
- Sim. Aparece e desaparece…
- E o sol e as estrelas, a mesma coisa.
- Áh! Que lindo!
- É.
                E quase sem darem por isso, aparece o sol e desaparece a Lua. Nessa noite, o gato da casa, aprendeu muitas coisas com o gato vadio. Viu o que nem imaginava existir, as luzes que tanto o intrigaram, afinal já estavam lá desde sempre, ele é que nunca tinha reparado…as cores do céu, as estrelas e o nascer do sol. Além disso, arranjou mais um amigo para o resto da vida.  
                Desde essa noite, os dois nunca mais se separaram, passearam felizes e aprenderam muito um com o outro.

FIM
Lálá

(23/Janeiro/2015)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O ÍNDIO DA FLORESTA

                                              
Era uma vez um índio que comandava toda uma enorme comunidade de famílias de índios. Todos tinham bons corações, viviam em paz e em comunhão com a natureza.
     Um dia, um dragão com penas enormes, muito belas e cheias de cor atraiu os índios, que ficaram hipnotizados com a beleza e os movimentos misteriosos desse dragão.
      O que eles não sabiam é que esse dragão tão bonito tinha sido criado por uma bruxa malvada que vivia na caverna de um vulcão adormecido. Essa bruxa criou o dragão para tornar os índios muito frios entre si, e para que andassem sempre zangados.
        Como os índios não sabiam isso, aconteceu mesmo. O dragão sobrevoou durante muito tempo a comunidade, e de um dia para o outro os índios começaram a relacionar-se muito mal!
Deixaram de se respeitar, estavam sempre a provocar-se e a implicar uns com os outros, parecia que se tinham esquecido de como se sorria, e que de repente não se conheciam, todos gritavam uns com os outros, lutavam, agrediam-se, chutavam-se.
A bruxa estava disfarçada entre as penas coloridas do dragão, e via tudo o que estava a acontecer. Estava a ficar realmente muito satisfeita e feliz, por ter conseguido o que queria. Por isso, sentia-se muito poderosa e ria às gargalhadas.
O índio não gostou nada do que viu. Começou a achar tudo muito estranho, e que talvez fosse mesmo um feitiço, mas não tinha a certeza, por isso, decidiu reunir a comunidade, muito preocupado.
Até nesta reunião não se entenderam. Em vez de se cumprimentarem. Peguinharam uns com os outros, até a escolha do lugar onde cada um ia ficar, provocou discussão. Nunca outra tinha acontecido antes.
O Índio grita:

- Silêncio!

        Todos obedecem.

- Mas o que é que se passa convosco? Não estou a perceber! Nós, que éramos uma família, que nos dávamos todos muito bem, e vivíamos em paz…éramos simpáticos e carinhosos…e agora…andamos à luta, discutimos…por tudo e por nada?! Não estão a cumprir as nossas leis! Um dia destes teremos as consequências dos nossos antepassados. Eles estão com certeza muito desiludidos. E os vossos olhos, que estranhos que estão…

        Faz-se silêncio. Ninguém responde.

- Então? Alguém vos ofereceu alguma bebida estranha?

- Não! – Respondem todos os índios

- Então, porque mudaram tanto?

- Não sei! – Respondem todos

- Como não sabem?

Ele olha para cima e vê o dragão

- Óh não…-Suspira o dragão.

- Acho que fomos descobertos! Maldição! – Diz a bruxa.

- Estava tudo a correr tão bem… - Murmura o dragão  

– Até eu, estou fora de mim! Acho que este dragão tem alguma coisa a ver com isto.

- Eu não! Não tenho nada a ver com isto. – Grita o dragão

- Mas eu sim! – Grita e ri a bruxa às gargalhadas

        O dragão aterra.

- Claro…só podias ser tu! Maldita! – Comenta o índio

- Olá! Estava com saudades tuas…! – Diz a bruxa com gozo fininho

- Cala-te! Não sabes o que é ter saudades. Porque não deixas a minha comunidade em paz…? – Pergunta o Índio

- Já disse…porque tinha saudades tuas. – Insiste a bruxa

- Mas estás louca? Quer dizer…sempre foste…

- Não estás a ser simpático comigo…

- Nem tenho de ser… tu não mereces.

- Ai…

- Ai…digo eu! Foste tu que puseste a minha comunidade assim, não foste?

- Fui!

- O que pretendes com isso?

- Adoro vê-los a dar-se mal…odeio como vocês se entendem.

- O quê?

- Claro é horrível aquela meladice deles…que seca! Que monotonia…assim estão muito melhores.

- Para ti, minha monstra. Claro, como não estás bem, nunca soubeste o que é uma família, nem o que é o amor…achas que ninguém tem direito a ter… sabes uma coisa…no fundo tenho pena de ti! Sentes falta de alguém que te ame, que te mostre como é bom ser amado, e amar…! Mas não sou eu quem te vai mostrar.

- Tantas palavras horríveis! Nunca precisei dessas porcarias.

- Mete essa língua nojenta e poluída no saco, quando falas sobre o bem, e sobre o amor…porcaria és tu!

- Ai, até fiquei vaidosa, agora! Obrigada! – Diz a bruxa

- Não te fiz nenhum elogio.

- Para mim, é um elogio, chamares-me porcaria!  

- És uma infeliz… Põe-te a andar para a tua toca…deixa-nos em paz.

- Mas eu não quero.

- Mas eu não quero saber o que é que tu queres, ou não. Já sei que só queres o mal, mas nós queremos o bem…por isso, aqui não és bem-vinda.

- Estás a expulsar-me?

- Sim, estou.

- Não pode ser…estou destroçada. – Ri a bruxa

- Cala-te…e põe-te bem longe daqui…fizeste algum feitiço com o meu povo?

- Fiz. Não gostaste?

- Não. Desfaz imediatamente, antes que tenhamos mais problemas.

- Óh…que ingrato…eu ofereci-te uma prenda com tanto carinho, e agora estás a escorraçar-me? – Diz a bruxa com ar de gozo

- Não sabes o que dizes…desaparece…!

- Não sejas assim…

- Espero que um dia, alguém te ensine e te mostre o que é o bem, e o que é amar.

- Só nos meus maiores pesadelos.

- Tens medo das coisas boas…claro!

- Não preciso de nada dessas coisas.

        Um antepassado em forma de águia voa, dá um sonoro grito, e atira setas à bruxa e ao dragão, que gritam e desaparecem, e o povo desperta, voltando ao normal.

- Mas o que é que aconteceu? – Pergunta um índio

- O dragão cheio de cor que viram, com as penas cheias de cor, afinal era uma armadilha da bruxa! Era ela que estava a fazer com que se tornassem uns autênticos primitivos selvagens. Para a próxima tenham muito cuidado com as belezas que vêem os vossos olhos. A beleza é perigosa.

- Fomos enfeitiçados? – Pergunta uma Índia

- Sim! Mas já passou.

        Os índios fazem uma roda à volta de uma fonte e deixam-se molhar pelos jactos de água potentes, de vários pontos da fonte. Depois, mergulham num mar paradisíaco, com águas muito limpas, serenas, de mãos dadas. Largam as mãos, e nadam livremente.
No fim, secam-se ao sol, na areia e por cima voam lindas fadas que espalham pós de amizade, amor, carinho, respeito e felicidade. É um ritual de purificação, quando são invadidos por más energias.  
Aparece também a fada da família que envolve toda a comunidade numa luz brilhante que os vai defender da maldade. Pedem desculpa uns aos outros, abraçam-se e tudo volta à paz de sempre.
        Fazem um belo jantar, onde antes de comer e beber, agradecem aos antepassados e pedem protecção contra as maldades da bruxa invejosa…e a festa dura até de manhã, com muita alegria, risos, trocas de carinhos, danças e brincadeiras.
        Toda a comunidade volta a viver como uma grande e verdadeira família, amiga, unida e feliz. o chefe índio está realmente orgulhoso.

FIM
Lálá
                                         (15/Janeiro/2015)